Todos os dias, todas as horas, em algum lugar do mundo, ou em vários lugares ao mesmo tempo, ou em tempos diferentes, nasce uma criança, ou duas, ou três. Uma criança que veio ao mundo para viver, para respirar do mesmo ar que nossos pais, nossos avós e bisavós já respiraram. Que todos os nossos antepassados já respiraram. Mas será que essa criança terá oportunidade de viver, de fato, como nós vivemos, e como tantos antes de nós?
Para gerar vida, é necessário a existência de uma vida antes dela. Ou melhor, de duas vidas, no caso do ser humano. O bebê não é trazido no bico pela cegonha e vem pousar no berço certo da família escolhida, como alguns pais ainda ensinam para alguns filhos. Ele tem um pai e uma mãe. Ponto final. Não interessa se o pai abandonou a criança logo que ela nasceu ou, o que é pior, antes mesmo dela nascer. Pouco importa se foi inseminação artificial, se a mãe foi até um banco de sêmen e escolheu a criança a dedo: cor dos olhos, do cabelo, da pele. Não faz diferença alguma. O novo ser que acabou de ser gerado (quer seja do sexo masculino, quer feminino) tem o material genético do homem e da mulher que o geraram em seu próprio material genético. E isso faz com que o “ser vivente”, mais comumente chamado de neném, bebê, etc., é um filho, antes de tudo. É um filho porque tem pais, não somente mãe, não somente pai.
Contudo, nem sempre os pais se dão conta de o serem. As crianças que nascem não são criadas como filhos, ou, na melhor das hipóteses, são criadas como “filhos só de mãe”. Existem “filhos só de pai”, mas são mais raros. As mães, que abrigaram a semente humana, o brotinho, por nove meses, muitas vezes são encarregadas de regarem sozinha a muda, para que ela cresça. E os pais, só porque “não engravidaram”, só plantaram a semente, acham que não têm obrigação alguma de acompanhar o desenvolvimento da arvorezinha.
Na atualidade, é comum ver moças solteiras, novas, adolescentes ou recém-saídas da adolescência, com uma criança no colo. O que mais espanta: na maioria dos casos, essas jovens estão desacompanhadas. Só elas e seus filhos recém-nascidos, sem um homem ao lado. A falta não é só de um marido, mas principalmente, de um pai. Desde o início da vida, essa criança não terá um pai. Ou pior, terá um pai (como dito no início, toda criança tem um pai e uma mãe), só que será um pai que não existirá na realidade do filho.
É indigno e vergonhoso abandonar uma mulher, quanto mais uma mulher jovem, numa hora de tamanha necessidade, de tamanha importância. Excetuando-se os casos em que a mulher faz uma inseminação (nos casos em que ela conhece o “pai”), todo homem que engravida uma mulher, por meios naturais ou não, engravida junto. E, da mesma forma que a mãe que aborta tira uma vida, um pai que foge da responsabilidade de pai “aborta” essa responsabilidade, e as conseqüências disso vão para o resto da vida, se não para ele, para a mulher e para a criança abandonada.
Não tem nada mais bonito do que ver um “papai coruja” desesperado no corredor do hospital esperando ansioso o médico sair da sala de parto para dizer: “Nasceu!”. Vê-se que esse tipo de pai foi um “gestante” por nove meses, junto com a esposa, namorada, ou o que for. E, saídos mãe e filho do hospital, não tem quem babe mais que o papai felizardo. Essa criança, que teve tal recepção paterna, tem suas chances de ter um futuro promissor duplicadas ou triplicadas. Não que um “filho só de mãe” não possa ter um futuro promissor, mas quando se recebe o amor de pai e mãe, tudo funciona melhor.
Falaremos não só da criança, mas da mãe, que é o ponto principal. A grande maioria das jovens gestantes, ainda com seus quinze anos, ou até menos, não têm o apoio de que necessitam. Nem dos pais dela, nem do menino que a engravidou. Lembrando que o ato de engravidar não depende somente de uma parte, mas de duas. De um homem e de uma mulher. Então, por que os jovenzinhos, por sua vez, se desprendem de tudo e dão no pé, normalmente quando a menina anuncia que o exame deu positivo? Nem esperam a barriga crescer, já abortam de uma vez da cabeça deles a idéia de serem pais. Pior ainda, aconselham a menina a abortar o “embrião”, ou o feto, quando este já está mais desenvolvido.
Ótimo, então. Os adolescentes (que, definitivamente, não são o que podemos chamar de “papais corujas”) não medem esforços, que na verdade não são esforços deles, para não ter que enfrentar a realidade. Não pensam eles em tudo por que a garota, sua namorada, ou ex-namorada, irá passar. O sofrimento de mãe (porque, desde a fecundação, ela é mãe, mesmo que ele não se considere pai), o sofrimento do corpo físico (dependendo da forma como é feito o aborto ou o estágio da gravidez em que ele é feito, a mulher pode ficar estéril para o resto da vida), o sofrimento emocional e psicológico.
Há, ainda, os casos em que a garota opta por não abortar. Nesse caso, é permitido que uma nova vida venha ao mundo. Mas, para essa vida, não haverá um “papai coruja” esperando no corredor do hospital o médico sair da sala de parto e dizer: “Nasceu!”. Para essa vida, não haverá papai felizardo babando. Para a mãe que esperou nove meses, teve enjôos, contrações, essa coisa toda que só a mamãe sente, não haverá um homem responsável esperando por ela quando sair do leito. Para ela, não haverá um companheiro para ajudá-la, caminhar junto dela na criação do filho deles. Isso tudo é muito triste e, também, infelizmente, muito real.
Em suma, os meninos e homens também engravidam, mas nem sempre se dão conta disso, nem sempre estão dispostos a isso. Muitas crianças nascidas no mundo inteiro, todos os dias, todas as horas, acabam crescendo sem pai, pelo simples fato de que o pai resolveu renunciar a elas e abortar. Por todo o mundo, as mães desses recém-nascidos ficam sozinhas com o filho nos braços, desamparadas. Isso não é justo, nem certo.