E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

domingo, 28 de outubro de 2012

A Chave do Coração de Miyuki


Jun e Caroline estavam sentados juntos. Ele com a corrente e o pingente de coração dentro da mão direita fechada em punho. Ela, da mesma forma, porém na mão esquerda, guardava a chave. Sentados lado a lado no sofá, de mãos dadas, esperavam pacientemente que Miyuki, a filha de 18 anos dos dois, chegasse com o resultado do exame para entrada na Universidade de Tóquio.

Eles haviam decidido que chegara a hora de dar à filha aqueles pingentes para ela entregar a chave de seu coração para quem lhe aprouvesse. Foi o que dona Marta fizera quando Carol era ainda criança. Contudo, depois de os dois conversarem, chegaram à conclusão de que seria melhor dar os colares à Miyuki quando ela tivesse maior conhecimento de mundo, maturidade e logo entendesse o significado tão profundo deles.

Durante duas décadas, Jun e Caroline usaram ininterruptamente aqueles colares e, até mesmo antes, no Brasil, Caroline usou o coração por anos. Os dois se casaram em abril de 2016, mês em que Tóquio fica florida com as Sakuras aqui e ali, e a cerimônia foi realizada no mesmo salão onde acontecera o casamento de Nino e Débora no ano anterior.

Por falar neles, os dois viviam uma união feliz e estável. Tinham três filhos, sendo Hiromi a mais velha, e também prestara exame para entrar na Toudai. Os dois mais novos, Yuri e Akio, eram gêmeos e tinham 9 anos.

Hiromi era a melhor amiga de Miyuki e ambas tinham ido juntas à universidade. Os pais de Hiromi iriam preparar o almoço para os membros do Arashi e suas famílias, mas como o Jun e a Carol pediram para Miyuki ir para casa depois de ver o resultado, as duas se separaram.

- Estarei em casa te esperando. – disse Hiromi – Tenho certeza que o ojisan e a obasan vão entender.

- Arigatou, Hiro-chan. A gente se vê depois. Jya ne. E mais uma vez, omedetou.

- Arigatou. Jya, Miyu-chan.

Cada uma seguiu seu caminho. A casa de Miyuki era mais ou menos perto dali. Ela optou por ir a pé, assim demoraria no mínimo meia hora para encarar seus pais. Poderia, então, pensar bem e encontrar as palavras adequadas para falar a eles.

Obviamente, àquela altura, eles já sabiam. A lista com os nomes dos aprovados há anos corria pela internet assim que era divulgada. Então, o que ela tinha para dizer já não seria novidade. Talvez fosse melhor chegar e falar logo, “na lata”, do que enrolar muito, se eles tinham visto o resultado com os próprios olhos.

Sinceramente, Miyuki estava muito mais preocupada com eles do que consigo mesma. Afinal, a Toudai era a universidade mais famosa e bem conceituada do Japão. Eles esperavam que ela fosse para lá, e o mais importante era a felicidades deles.

Mas ela mesma não se importava tanto, sabia que aquele resultado era o mais correto, pois se ela tivesse estudado um pouco mais, sabia que teria sido aprovada. Porém, no próximo ano passaria com certeza!

***

Quando faltavam 20 minutos para o meio dia, Miyuki entrou em casa. Carol deitara no colo do marido e este lhe acariciava os cabelos. Ao som dos Beatles, Carol assobiava e Jun batia compassadamente o pé no chão, de leve para não incomodar a esposa deitada.

- Tadaima. – disse Miyuki, ao tirar os sapatos e calçar os chinelos.

- Okaeri. – Carol se levantou – Demorou, Miyu-chan.

- É que eu vim a pé, okaasan. – ela caminhou e se sentou aos pés dos pais.

- Nande? – Jun se manifestou – Podia ter pegado um táxi, ou me ligasse que eu ia te buscar.

- Daijoubu, otousan. – e de repente ela se pôs de joelhos e abaixou a cabeça até o tapete – Eu não passei! Hontou ni gomen nasai!

Jun e Carol se olharam por um momento, espantados, afinal a filha era muito dedicada. Depois, olharam para ela que, prostrada, prosseguiu:

- Eu prometo para vocês! Vou estudar mais e ano que vem eu vou entrar na Universidade de Tóquio. Eu sei que vocês queriam... – sua voz embargou e seus olhos encheram d’água - ... queriam que eu passasse. Gomen, hontou ni gomen.

Jun deu o coração à Carol, que sorriu e concordou com um ligeiro movimento de cabeça. Então, ele segurou nos dois ombros da filha e a ergueu, ficando ele também em pé.

- Miyu-chan, o que é isso? – ele secou as lágrimas dela com as pontas dos dedos e a abraçou – Por que se desculpou?

- Porque eu falhei com vocês, otousan. Vocês já sabiam que eu não tinha passado, né?

- Não sabíamos. – Jun a soltou e Miyuki o viu e sua mãe negando com a cabeça e sorrindo carinhosamente.

Vendo-os com tamanha ternura e compreensão no olhar, Miyuki voltou a chorar.

 - Como assim? O resultado foi divulgado às 10h. Vocês não viram no site? Eu... eu não consegui...

- Calma, Miyu-chan – dessa vez, quem a abraçou foi a Carol – Não chore. Você não falhou conosco.

- Mas... mas... eu não passei, okaasan.

- Tudo bem, ano que vem você tenta de novo.

- Isso mesmo, minha linda – Jun falou, dando tapinhas carinhosos na cabeça da filha, que chorava nos braços da mãe – Eu mesmo não fiz faculdade até hoje. – deu um sorriso maroto, Miyuki olhou para ele e também sorriu, já mais animadinha.

- Você não conta, otousan.

- É, querido, não conta, hahaha. – Caroline riu com os dois.

- Por que não? Que discriminação é essa? Minha filha e minha mulher... quem diria...

- Ah, Jun, para de drama! – Carol riu ainda mais e Miyuki a acompanhou, soltando-se do abraço e ficando ereta – Você foi escolhido por Kitagawa-san ainda no início da adolescência, sempre foi elite dentro da JE e nunca precisou se preocupar com isso.

- Demo... ahhh, mudando de assunto – Jun estava ficando sem graça, sempre que aquele assunto era levantado, ele se sentia tímido – Miyu-chan, sua mãe começou a faculdade com 21 anos.

- Eu sei disso.

- Então, chega de choro! – ele bagunçou os longos cabelos dela e os três se sentaram juntinhos no sofá, Jun entre as duas mulheres de sua vida.

Ela era tão linda, a sua filha! Tal como Caroline, Miyuki era baixinha, tinha 1.58m, mas seus cabelos eram bem cumpridos, ao contrário da mãe, que os mantinha curtos. Ela era uma bela mestiça, com olhos levemente puxados, pele clara, cabelos e olhos negros como uma oriental genuína, mas com a constituição física semelhante a da mãe, o que a tornava perfeita aos olhos de Matsumoto Jun. Ele sabia que mais dia menos dia algum outro homem ia compartilhar dessa mesma opinião. E era para esse homem que ela entregaria a chave de seu coração.

Essa sequência de pensamentos o fez recordar do propósito de terem pedido para que Miyuki fosse para casa antes de ir para a casa de Nino e Débora com Hiromi. As correntes.

Dar à filha as correntes foi uma decisão que ele e Caroline tomaram em conjunto, independente dela passar ou não no vestibular. Eles sabiam que ela era uma garota esforçada, e mesmo quando ia mal no colégio, nunca simplesmente desistiu de estudar, então não colocaram essa condição. Os pingentes não eram uma recompensa. Eram um presente.

Recompensa é quando alguém “faz por merecer” e ganha algo em troca. Presente é algo que você ganha, mas não é em troca de nada, não é uma “troca de favores”. Presente a gente dá mesmo quando a outra pessoa não precisa, mas mesmo assim queremos presenteá-la. Sem condições, simplesmente porque a amamos.

Foi assim que Jun e Caroline chegaram à conclusão de que dariam a chave e o coração a ela naquele dia. Para evidenciar que não importava se ela entrasse ou não na Toudai, isso não era uma determinante para que ela ganhasse aqueles presentes. E, por algum motivo, ambos até esperavam que ela não passasse, sabiam que quem não estudava ao máximo (Miyuki não tinha estudado tanto assim).

Mas... Afinal, ela ainda tinha 18 anos, poderia tentar novamente no próximo ano. O que ambos não entendiam é por que ela ficara tão visivelmente preocupada com o fato de tê-los desapontado.

- Princesa, me desculpe se alguma vez eu fiz parecer que... – ele começou, e se interrompeu no meio da frase, sem saber como prosseguir.

Carol entendeu seu raciocínio e continuou por ele:

- Desculpe se nós fizemos parecer alguma vez que era essencial que você passasse.

Miyuki olhou para os dois e sorriu, já com os olhos sem lágrimas:

- Daijoubu, okaasan, otousan. Ano que vem eu passarei, com certeza!

Caroline esticou a mão sem os colares sobre as pernas de Jun, segurou a mão de Miyuki e Jun beijou a filha na bochecha.

- É assim que se fala! – ele disse, com olhar cúmplice voltando-se para a esposa. – Karoru, acho que chegou a hora de dar a ela.

- Também acho, meu amor.

Caroline soltou a mão da garota e abriu a palma onde estavam os colares. Jun pegou o coração e olhou nos olhos da filha, estendendo a mão em sua direção. Carol fez o mesmo.

- Miyu-chan, eu e seu pai conversamos. Vamos dar isso a você.

- Os dois, okaasan?

- Sim, Miyu, – foi o pai que respondeu – os dois. O coração é seu e a chave do seu coração também é sua, para dar a quem quiser.

Novamente naquele dia, os olhos de Miyuki encheram-se de lágrimas. Mas desta vez, não eram lágrimas de tristeza, e sim de emoção e gratidão.

Ela conhecia a história de amor de seus pais, da qual os pingentes eram elemento essencial. No coração, gravado com entalhes delicados, a frase em português: “aqui só entra quem tem a chave”. E o vazado da fechadura, onde a chave se encaixava perfeitamente. Aquelas correntes permaneceram em volta dos pescoços de seus pais por anos, e agora eles as estavam dando a ela.

- Arigatou, okaasan. – ela esticou a mão e Carol entregou-lhe a chave.

- Miyuki, vire-se um pouco, onegai. – Jun pediu, e delicadamente afastou os longos cabelos da garota e fechou-lhe o colar ao redor do pescoço, com o coração pendendo sobre o peito.

- Arigatou, otousan. - Miyuki voltou-se para eles. – Eu amo vocês! Vocês são os melhores pais do mundo!

Ela então ficou em pé, em frente a eles, e os abraçou, com algumas lágrimas escorrendo em sua face.

- Nós também te amamos, Miyuki! – os dois falaram em uníssono, e Jun completou – Você é a melhor filha que um pai podia querer.

- A melhor filha que um pai e uma mãe podiam querer, né Jun?? – Carol fez voz de brava e logo caiu na risada, sendo imediatamente acompanhada pelos dois.

A Chave de um Coração - Capítulo 41 (Final)


Débora fez menção de ir atrás da amiga, mas Ninomiya se aproximou dela e colocou gentilmente a mão em seu ombro e sussurrou em seu ouvido: “Fique, amor. Temos os nossos convidados e tenho certeza que o Jun-pon vai cuidar dela”. Ela ficou em dúvida por uns cinco segundos e por fim, deu um meio sorriso e concordou com o marido.
Em contra-partida, Jun também quis ir atrás de Caroline, mas Johnny Kitagawa o impediu.
- Matsumoto-san, eu quero que você me explique direitinho o que houve aqui e que raios de garota é essa. – indicando com a cabeça Carol, que já saíra pela porta.
Matsumoto Jun puxou o braço que Kitagawa segurava, a fim de seguir Carol, mas este pressionou os dedos, o mantendo ali.
- O senhor não vai a lugar algum antes de dizer o que quero saber, Matsumoto!
- Ok. – voltando-se e olhando o chefe nos olhos. – O que o senhor quer saber?
- Quem é essa garota? É gaijin, como a esposa do Ninomiya, e muito próxima de você também, como ficou evidente, já que a Uemura Yui chegou ao ponto de fazer esse escândalo na festa de casamento. Quem é ela?
- Ano... – Jun hesitou um pouco, mas ao ouvir em sua mente as últimas palavras de Caroline antes de sair, “Ele vai contar ao senhor quem sou eu. E se não contar, é porque eu não sou ninguém importante”, ele falou, convicto: - Ela é Karorine, melhor amiga de Débora, esposa do Nino aqui. – olhando para o amigo, que sorriu e olhou para ele de volta, incentivando-o - Além disso, é a mulher que eu amo e não posso deixá-la assim. Agora, solte meu braço, onegai – puxando novamente o braço que Kitagawa segurava – Shitsurei shimasu.
Quando ele saía, Fábio e Marcela se aproximavam querendo saber o que tinha acontecido, mas ele não viu os dois.
Jun deu um leve cumprimento de cabeça e saiu correndo. Logo estava pedindo desesperadamente um táxi, pois Caroline já sumira de vista, mas então se lembrou que fora de carro e correu até o fim da rua, onde o deixara estacionado. Onde será que ela foi?, pensou, pegando o celular no bolso da calça e discando o número dela enquanto ia até o carro. Mas chamou várias vezes até cair e ela não atendeu. Ele deu a partida e saiu em direção ao hotel onde ela estava hospedada.

***

Caroline não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Não bastava aquela Yui ter feito o que fez, o Johnny Kitagawa ainda veio querer encrencar com ela bem naquela noite e o Matsumoto Jun não disse nada para defendê-la! Isso era o cúmulo. Seu coração batia descompassado e as lágrimas corriam por seus olhos enquanto ela se dirigia de volta ao hotel num táxi.
Assim que chegou, pegou um punhado de notas, sem nem olhar o valor, e deu na mão do motorista, e saiu do veículo em seguida.
- Ojyou-san, o troco! – o motorista gritou, mas como sua cliente sumiu de vista dentro do hotel, ele esperou uns cinco minutos e então, vendo que ela não voltaria, foi embora.
Assim que Carol entrou em seu quarto, ela se lançou na cama, aos prantos, chutando longe os sapatos.
Se o problema tivesse sido apenas Uemura Yui, ela nem teria se indignado tanto. Mas, quando foi abordada por Kitagawa, sentiu o peso da solidão ao ver que Jun nada tinha feito para ficar ao seu favor. Mesmo que sua melhor amiga estivesse do seu lado, mesmo que ela tivesse no Brasil uma família que a amava, mesmo tendo um trabalho, sendo estudante, enfim... mesmo sabendo de tudo isso, ela se sentiu completamente sozinha.
Olhou para trás mais de uma vez, ao sair da festa, enquanto pedia desesperadamente por um táxi, a caminho do hotel, mas nem sinal dele. Ela esperava que Jun ao menos tivesse ido atrás dela, mas ao que parecia, nem mesmo isso ele fizera. É, infelizmente o medo de BIG BOSS ainda regia MUITO a vida dele! Até quando eles iam se deixar dominar pelas decisões de um senhor de idade totalmente avançada, já beirando os noventa anos, ao invés de tomarem suas próprias decisões? Sortuda foi Débora, que achou um cara como o Kazunari, que foi determinado ao falar dela para o chefe.
Quando ela recebeu o presente de Jun quase um mês antes, Carol realmente acreditou que o melhor a fazer era ficar com ele, que antes ela estava redondamente enganada ao abandoná-lo. O amor que ardia em sua peito, mas que estava enjaulado, foi enfim liberado e ela decidiu que queria ficar com ele de qualquer jeito. Contudo, a falta de atitude dele aquela noite foi a pior decepção que poderia ter tido.
Falara para ele que teria que voltar ao Brasil para concluir a faculdade, e não podia simplesmente deixar os pais na mão sem mais nem menos. Jun concordara com isso. A distância não representou impedimento a nenhum deles, e ambos sentiam que estavam realmente destinados a ficar juntos, independente de todos os quilômetros que os separassem. Claro que essa separação iria doer em ambos, mas a saudade serviria para fortalecer ainda mais os laços que os unia, até o dia em que pudessem finalmente ficar sempre juntos. Depois de todos esses planos, Carol se sentiu desmoronar quando saiu da festa de casamento e Jun não a seguiu.
- Por quê? – ela chorava e dava socos no travesseiro – Por que você ficou quieto? Por que você não retrucou quando ele te perguntou quem eu sou? Droga, Jun, eu te amo tanto... Por que você fez isso?
Nesse momento, ela ouviu algumas batidas fortes na porta e uma voz chamando por ela:
- Karoru-chan, você está aí dentro, né?- ela reconheceu a voz dele – Abra a porta! Quero entrar, preciso entrar!
- Sai daqui. – ela disse entre soluços, com a voz meio alta – Onegai.
Ele estava ali, afinal. Ele foi atrás dela, não a deixou sozinha. Carol não estava mais só. Mas... bom, ela também, como qualquer ser humano, tinha sua dose de orgulho, que não permitia que ela simplesmente se levantasse para abrir a porta, embora seu coração gritasse por isso. 
- Precisamos conversar! Eu sei que você está brava, que a Yui...
- Não é a Yui!
- É o Johnny-san, Karoru-chan? Esqueça… me deixe entrar!
- Esquecer que você nem sequer me defendeu para o seu querido chefe? Ah, Jun, por favor, vá EMBORA!!
- YADA! Não saio daqui até você me deixar entrar.

***

Johnny Kitagawa olhava atônito em direção à saída do salão, por onde Matsumoto Jun acabara de passar.
- Alguém, por favor – voltando-se para trás e olhando para Nino – quer me explicar melhor quem é essa garota que causou essa confusão toda?
- Ano... quem causou a confusão foi a Uemura-san, senhor – disse Débora.
- Isso não importa – fazendo um gesto de pouco caso com a mão – Quero saber quem é aquela mulher de quem o Matsumoto Jun foi atrás, e exijo uma resposta melhor que “é a mulher que eu amo”, Ninomiya-san!
Marcela cutucou o braço de Débora e sussurrou em seu ouvido:
- Quem é esse velho?
- É o poderoso Johnny Kitagawa. É uma espécie de empresário do Arashi e dos outros grupos que trabalham para ele.
- Ah! Entendi. – Marcela coçou a cabeça, ainda cochichando – E o que ele disse pra Carol sair daquele jeito?
- Na verdade, acho que o problema não foi ele ter dito algo, mas o Matsu...
- Shhh, meninas! – fez Fábio – O marido da Débora tá falando... a Dé precisa ouvir pra traduzir pra gente, né? – piscando de um jeito cúmplice.
Nem Nino nem Johnny ouviram ou prestaram atenção aos cochichos. De qualquer forma, nada teriam entendido do português falado, a não ser uma ou outra palavra. Respondendo ao chefe, Nino respondeu:
- Senhor, ela se chama Karorine Berazu e é a melhor amiga de Débora, também burajirujin. E... ela é amiga do Matsujun há anos já.
- Anos?? Que história é essa? Ele é uma gaijin... como pode ser amiga do Matsumoto há anos?
- Bom, isso quem tem que te contar é o próprio Matsumoto Jun senhor. Ela é a melhor amiga da minha Débora aqui – olhou para a esposa e esta caminhou calmamente até ele, sendo envolvida na cintura pelo abraço de Kazunari – Na mesma época que eu conheci a mulher com quem casei hoje, o Jun conheceu a Karorine e...
- Demo... você não disse que essa moça e o Matsumoto são amigos há anos?
- Hai. De qualquer forma, eles só se conheceram de verdade quando ela e Débora vieram fazer uma viagem turística aqui ao Nihon. E... os dois se apaixonaram, Kitagawa-san.
- Foi por ela que ele deixou de namorar a jornalista Uemura Yui?
- Hai!
- Por isso que a Uemura-san invadiu desse jeito a festa, toda bêbada, e deu aquele vexame?
- Sim, senhor!
- Eu acho que... – Johnny coçou o queixo, puxando uma cadeira e sentando-se à mesa - ... eu preciso conversar com Matsumoto-san.

***

- Deixa-me entrar, Karoru! – Jun disse de novo, para a porta do quarto do hotel, depois de cinco minutos esperando; para ele, esses minutos pareceram horas.
Não suportava a ideia de ser ignorado novamente pela pessoa que amava, nem queria que houvesse mal-entendidos entre eles, mas ela nem ao menos o deixava entrar para explicar. Se eles conversassem, logo ela entenderia que aquela confusão toda não tivera importância alguma para ele.
Por alguns minutos, ela não respondeu nada. Quando Jun já estava pronto para chamar por Caroline outra vez, ela abriu a porta. Simplesmente a abriu, sem dizer nada, e voltou para dentro do quarto. Ele achou que fosse para seguí-la e entrou depois dela, fechando a porta atrás de si. Quando chegou ao centro do cômodo, a viu sentada no meio da cama, com as pernas encolhidas, abraçando os joelhos e olhando para baixo. Devagar, se aproximou da cama e se sentou na borda.
- Ano... Karoru-chan, precisamos conversar. – ele disse, olhando para ela, que permaneceu imóvel - Por que você saiu daquele jeito da festa?
Depois de alguns segundos, Caroline levantou os olhos e, já sem chorar, mas com a voz rouca e olhos inchados, respondeu:
- Dakara... dakara... oras, é simples. Eu fui empurrada ao chão por uma lunática que apareceu do nada, mas que VOCÊ tinha me dito que tinha ido embora...
- Ela realmente foi embora, mas em nenhum momento eu disse que ela tinha ido embora da cidade. Ela só sumiu de vista, saiu do prédio, desde que terminamos nunca mais a vi.
Caroline não soube o que dizer. Ficou pensando por alguns segundos. Realmente, no vídeo Jun não dissera que Yui saíra da cidade ou algo assim. Mas, de qualquer forma, ela aparecera no casamento de surpresa, era evidente que estava bêbada e fora agressiva, proferindo ofensas a torto e a direito.
- Demo... – ela disse, por fim - ... como você acha que eu me senti com ela dizendo todas aquelas coisas sobre mim?
- Bem...
- E depois, quando os seguranças tiraram-na de lá e eu estava bem abalada, quem me amparou foi a Dé e...
- Karoru, foi você quem não me deixou ajudá-la a se levantar.
Isso era verdade, mas quando Yui a empurrou ao chão, ela ficou surpresa por ela estar ali e, por algum motivo, ficara um pouco irritada com Jun também. Como se ele tivesse alguma culpa no cartório por aquilo ter acontecido. Então, quando ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, ela recusou a ajuda dele e ficou em pé sozinha.
- ... e ainda... bem, você não respondeu nada quando o Kitagawa-san...
- Minha linda – se aproximando mais um pouco dela, mas sem tocá-la – você não esperou para ouvir minha resposta.
- ... e você nem veio atrás de mim...
- Eu queria ter saído correndo atrás de você, mas o Kitagawa-san me segurou e perguntou pra mim quem é você. E sabe o que eu respondi?
Caroline somente negou com a cabeça, com os olhos novamente cheios de água.
- Eu disse “ele é a mulher que eu amo e não posso deixá-la assim”. Soltei-me dele e vim atrás de você. Queria te alcançar, mas você já tinha sumido de vista. Então, tentei ligar, mas você não atendeu, e eu resolvi vir aqui.
Ele se aproximou um pouco mais e estendeu a mão para tocar o rosto de Carol, mas ela afastou-se, não se dando por vencida. Embora seu coração tenha se enternecido completamente quando ele falou como respondera ao Johnny Kitagawa e estivesse gritando dentro do peito para ela deixar aquele orgulho idiota, que mais parecia teimosia, ela resistiu.
- Demo... – fez uma pausa para pensar no que diria a seguir. Simplesmente ele acabara com todos os seus argumentos - ... como você sabia que eu estava aqui? – disse, por fim.
- Karoru-chan, para com isso! – Jun sorriu e pegou a mão dela que pendia no colchão – Você vai embora amanhã e não temos tempo pra ficar implicando um com o outro. 
Dessa vez ela não resistiu ao toque suave dele ao segurar sua mão. As lágrimas caíram das pálpebras e ela sorriu de volta para ele.
- Não chore. Você fica melhor quando sorri. – Jun secou uma lágrima da bochecha de Caroline, puxando-a para si num abraço.
- Bobo... – ela se aconchegou no peito de Jun.

***

Na manhã seguinte, Matsumoto Jun foi despertado pelo toque de seu celular. Ele estendeu a mão para o criado-mudo do lado da cama e atendeu, ainda meio dormindo:
- Moshi-moshi.
- Ohayo gozaimasu! – ele reconheceu a voz de Caroline.
- Ah, ohayo Karoru-chan!! – ele se sentou e esfregou os olhos, já mais desperto - Como passou a noite?
- Depois que você foi embora eu só dormi. Dormi como uma pedra.
- Que bom!
- Jun, você já viu que horas são?
- Uhm... não – ele já procurava o relógio com os olhos e se espantou quando viu que eram quase 11h. – Karoru, gomen. Eu já estou indo!
- Daijoubu – ela riu do outro lado da linha – Não precisa ficar apavorado, afinal o voo é só às 2h da tarde.
- Mesmo assim... gomen, eu acho que dormi demais, né?
- Sem problemas, ontem já eram mais de 2h quando você foi embora, é normal dormir um pouco mais.
- É normal, mas você já está acordada. – Jun revirou os olhos, já em pé – Eu vou tomar uma ducha... caí na cama do mesmo jeito que cheguei em casa, de smoking e tudo, nem os sapatos tirei.
- Hahaha.
- Você ri, é? Agora vou desligar, até o meio dia to aí.

***

Débora ligou para Carol na noite anterior, logo quepois que ela e Jun se acertaram.
- Hai.
- Carol? Onde você tá? – a voz da amiga era aflita.
- To no hotel, vim direto pra cá depois que saí da festa.
- E como você tá?
- Eu to bem, não se preocupe. O Jun veio aqui e...
- Ele foi até o hotel então? Que bom! – ela suspirou, com algum alívio.
- Sim, ele veio, e ainda está aqui – Caroline lançou um olhar carinhoso para ele, que estava deitado na cama.
- Mas vocês estão bem?
- Não se preocupe, estamos bem sim. Agora, volte pra festa do seu casamento e aproveite!
- Você vai embora amanhã, né?
- Hai.
- Tudo bem mesmo?
- Uhum... vou desligar, Dé. Volte para seu marido e não fique se preocupando comigo numa hora dessas! Beijo e até mais!
Caroline desligou o celular antes que Débora pudesse responder e voltou a deitar ao lado de Jun, enquanto era abraçada por ele.
Lembrando se disso agora, enquanto terminava de guardar suas coisas, para descer até a recepção, fazer check-out e esperar por Jun, ela riu involuntariamente. Débora era mesmo uma figura!!! Milagre que ela não quis saber os detalhes da noite anterior, já que ela sempre queria saber tudo, mesmo quando não tinha nada pra saber. Mas, quem não deu oportunidade para a pergunta foi a própria Carol, que desligou a ligação sem que a amiga tivesse tempo para pensar. Afinal, era a festa do casamento dela, né? Débora devia se importar somente com isso e com mais nada.
Quando tudo já estava pronto e ela já esperava por Jun, sentada no sofá de sempre, meio dia em ponto ele chegou, e dessa vez desceu do carro e foi até ela, já que estava com uma roupa casual e com a cabeça coberta com o capuz do casaco.

***

Ao chegarem ao aeroporto, já eram quase 12h30. Carol fizera o check-in pela internet, então eles tinham algum tempo para passear por lá e aproveitarem a companhia um do outro enquanto ainda tinham um tempo juntos. Nenhum dos dois ainda parara pra pensar nas reais consequências de se separarem ali e agora, ou em quando se veriam de novo, ou como de fato ficariam juntos. Contudo, ao se aproximar a hora de Caroline partir, Jun começou a refletir um pouco e sentir uma certa ansiedade, um egoísmo de quem não quer ficar longe do amor de sua vida tomando conta de si.
- Karoru-chan. - ele a chamou, enquanto andavam de mãos dadas, e ela olhou e sorriu.
- Oi.
- Eu estou começando a ficar angustiado.
- Doushita no? - parando de andar, fazendo com que Jun parasse também.
- Ah, porque... nem sabemos quando vamos nos ver de novo.
Caroline, que ficara atrás dele, foi até sua frente e o abraçou.
- Não sei como também... mas aqui dentro, ó... - ela se afastou um pouco e apontou para o próprio coração -... eu sei que vamos nos ver outra vez e ficaremos juntos a vida toda. Já é um milagre, - pegando novamente a mão dele e voltando a andar - um milagre, veja bem, estarmos juntos aqui e agora. Eu tenho a chave do seu coração, esqueceu? Aí – ela colocou o dedo no peito dele, onde ficava o coração de carne, e o pingente de coração balançou com o toque dela – só entra quem tem a chave.
Ao se separarem e Caroline se dirigir à sala de embarque, ela se lembrou:
- Ahhhh, hoje é aniversário do Sho-chan!!! - dando um tapa na própria testa. - Jun, você pode dar parabéns a ele por mim?
- Claro!
- Diz que ele é muito especial, que eu o amo e...
- Oe oe oe! Que história é essa, dona Karorine?? - Jun pôs as mãos na cintura e completou, imitando a voz dela e fazendo careta: - "Diz que ele é muito especial e eu o amo".
- Hahaha! Seu bobinho - ela ficou na ponta dos pés e o abraçou pelo pescoço - É diferente. Eu sou fã do Arashi antes mesmo de te conhecer, esqueceu? Amo todos vocês, como fã.
- Uhm - ele envolveu a cintura dela com os braços - Sei. É bom ser só isso mesmo.
- E é.

***

Fazia uma semana que Caroline voltara para o Brasil e os pais, parentes e amigos de Débora que vieram para o casamento tinham vindo embora no dia anterior. Débora e Nino voltaram da lua-de-mel e já tiveram que ir novamente ao aeroporto deixar todos lá para pegar o avião às 7h da noite.
Matsumoto Jun recebera um telefonema de Rirasawa Ryuchi alguns dias depois do casamento, se desculpando pelo comportamento completamente inadequado e indesculpável de Yui.
- Como você conseguiu meu telefone? - Jun se surpreendeu quando ele disse quem era - Aliás, como você soube do que aconteceu??
- Calma, Matsumoto. Seu telefone quem me deu foi a própria Yui, calma. Nós nos separamos e eu voltei para Chiba...
- Você é de Chiba?
- Hai. Etto ne... eu liguei lá onde ela trabalha e eles me disseram que ela não ia trabalhar já há alguns dias. Daí eu liguei para a mãe dela e ela me contou o que aconteceu.
- Uhm. Entendi. Mas você não tem que se desculpar.
- De qualquer forma, achei melhor ligar. Bom, é só isso. Jya.
- Uhm... jya.
Ambos desligaram ao mesmo tempo. Esse foi o único contato que Jun recebeu sobre o acontecido no dia do casamento.
Ele foi convocado para uma reunião com Johnny Kitagawa no dia seguinte à partida de Caroline, segunda-feira de manhã. Ele sabia que isso ia acontecer, e já estava preparado para lidar com a situação.
Quando ele o pressionou para saber como ele conhecera aquela estrangeira, Jun contou a verdade ao BIG BOSS, na verdade nem passou pela sua cabeça mentir. Amava Caroline e assumiria isso até o último segundo de sua vida.
- E o senhor, Matsumoto-san, com essa sua atitude, não achou que poderia estar pondo todo o Arashi em risco de extinção? – Johnny falou de maneira ameaçadora.
Claro que Matsumoto refletira sobre isso. Até mesmo foi procurar a opinião de Sakurai Sho a respeito na noite anterior.

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Pequeno flashback [10]

Sakurai Sho abriu a porta de seu apartamento às 8h da noite para que Matsumoto Jun entrasse.
- Jun-chan! Olá! – Sho abriu um sorriso.
- Olá! Otanjyoubi omedetou, Sho-chan! Desculpe não poder ter ido almoçar com vocês.
- Daijoubu, eu sei que você estava com a Karorine. Ela foi mesmo embora?
- Hai. Ela te desejou feliz aniversário antes de ir.
- Ah, arigatou. Vem, vamos sentar.
Os dois foram até a sala e cada um sentou em um dos sofás. Jun estendeu a sacola com o presente que comprara para Sho. Um livro.
- Jun-chan, não precisava se preocupar! Hontou ni arigatou! To querendo ler esse livro já faz tempo...
Jun olhava para o amigo meio abatido, e Sho notou que algo o preocupava.
- Você não veio aqui só para me dar os parabéns, né?
- Não. Gomen ne, Sho-chan. Eu preciso ouvir alguém, e ninguém melhor que você para dar bons conselhos, né?
- Hahaha! E o Oh-chan? Ele também é muito bom nisso.
- Eu sei, mas queria vir te ver por causa do seu aniversário, e aproveitei a viagem.
- Hahaha. – Sho jogou a cabeça para trás, rindo. – Você é esperto, Matsujun.
- Eu sei.
- E humilde também – completou em meio aos risos e Jun teve que rir também. – Mas me diz. Em que posso ser útil?
- É sobre a conversa que com certeza amanhã ou depois terei com Kitagawa-san. Ele vai querer saber da Karoru, sem dúvida.
- Ano... Matsujun... – Sho parou de rir e ficou refletindo por alguns minutos antes de proferir qualquer palavra – Eu acho que... o que exatamente te preocupa?
Jun relatou a ele o que acontecera na festa e Sho disse que tanto ele quanto Aiba e Ohno tinham visto a confusão se armar, mas não se meteram, para não aumentá-la ainda mais. Depois, quando perguntou para Nino, ele explicou tudo que realmente acontecera. E quando Jun disse das dúvidas sobre Johnny possivelmente proibir a relação dele com a Caroline e tudo mais, o medo dele enfrenter o chefão e ele ameaçar acabar com o grupo dos cinco, enfim, Sho soube exatamente o que dizer:
- Olhe, Matsujun, o Arashi é a nossa vida, mas você não pode desistir agora, não depois de tanto sofrimento e do amor de vocês ter sido posto à prova mais de uma vez. Eu disse uma vez e repito, sem medo de mentir, que nós cinco somos amigos acima de tudo, mais que companheiros de um grupo. E se... e isso é só uma hipótese muito remota, pois todos sabemos que o Arashi é uma banda de sucesso mas do que qualquer outra na atualidade... e se por acaso o Johhny-san nos derrubar, a gente não vai ficar caído no chão. A gente vai se reerguer. Afinal, somos somente cinco seres humanos, mas quem faz de nós pessoas especiais são os fãs. Com certeza eles vão estender as mãos para nos ajudar a levantar. E lembre-se – ele fez uma pausa, para causar impacto – a Karorine-san e a Débora-san são fãs antes de mais nada. Com certeza elas estenderão suas mãos também.  
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- Eu sei... que existe essa possibilidade. Mas eu amo a Karorine e isso não vai mudar. – Jun respondeu para Johnny Kitagawa. – Posso voltar ao trabalho agora?
Johnny fez uma cara de insatisfação. Não esperava que Matsumoto fosse tão firme com relação a essa estrangeira. Ele precisava pensar no que fazer. Ergueu os olhos que encaravam as mãos sobre a mesa e fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Agora, já uma semana depois, Jun ainda não fora novamente contatado por Johnny Kitagawa. Cada membro veio até ele e praticamente repetiu as palavras que Sho já dissera. Eles eram amigos... o Arashi era realmente muito importante, mas se eles queriam ter uma vida normal como qualquer ser humano, casar e ter filhos, um dia ou outro teriam que ter coragem suficiente para enfrentar o chefão.
Ele sentia falta de Caroline, muita. Seus dias passavam compromisso após compromisso como sua rotina ordenava, e ele já não estava agindo “como um robô”, mas seu coração chorava pela falta que ela fazia. Contudo, não era como antes, quando ela fora embora pela primeira vez, que eles estavam... na verdade, eles não estavam. Pelo menos agora, ele sabia que tinha um compromisso com ela. O coração dele agora pertencia a ela; só ela tinha a chave de acesso a ele.
Os dois se correspondiam por email todos os dias, e a primeira carta dela chegou no dia 13 de fevereiro e obvimente ele respondeu.

*** 

No fim de duas semanas após o casamento, Jun foi novamente convocado por Johnny Kitagawa.
- Shitsurei shimasu – Jun deu alguns passos dentro da sala.
- Sente-se, Matsumoto-san. – indicando com a mão a cadeira que ficava a sua frente, à mesa. – Vou direto ao ponto. Essa tal... Karorine Berrazu... ela já voltou para o país dela. Não sei como vocês farão, só exijo uma coisa: discrição! O Arashi não pode acabar e eu não vou admitir que vocês caiam na boca do povo e apareçam escândalos.
Jun ficou em silêncio por um tempo, tentando processar o que acabara de ouvir. Estava preparado para ouvir o Kitagawa-san esbravejando e proibindo que os dois ficassem juntos, expulsando-o da JE e claro que se isso acontecesse, ele tinha as palavras na ponta da língua para manter-se firme na decisão de ser fiel à Karoru-chan, mas o chefe não fez nada disso. Ao contrário, por suas palavras Jun só podia crer que ele estava disposto a aceitar o amor dos dois.
- Ano... – coçando a cabeça – Kitagawa-san, o senhor aceita que eu e a Karorine-san fiquemos juntos?
- Matsumoto-san, eu não tinha outra opção, tinha?
- Na verdade, não senhor.
- Você ficaria com ela de qualquer jeito, né? – Johnny ficou em pé. - Só peço... melhor, e.xi.jo a mais absoluta discrição de vocês. Siga o exemplo de Ninomiya, que soube ser discreto e casou sem alarde, ok? Demo... você não está se casando, está?
- Não senhor.
- Ótimo. Não seria bom para a imagem da empresa ou minha, ou do Arashi, que dois membros se casassem tão repentinamente.
Johnny fez um gesto com as mãos que indicava que a reunião estava encerrada e Jun se dirigiu à porta.

***

Caroline acordava cedo todos os dias para trabalhar, e à noite estudava. Todos os dias, ela revia à noite antes de dormir o vídeo que Jun mandara para ela e todas as manhãs, assim que acordava, mandava um email contanto como fora o dia anterior; esse email, Jun respondia à tarde, à noite ou de madrugada, conforme sua agenda permitia. Quando ficara sabendo que Johnny Kitagawa aprovara o namoro dos dois, ela ficou verdadeiramente feliz.
 A rotina de troca de cartas que se repetiu por quatro anos prosseguiu, chegando uma carta dele todo mês, e ela enviava outra. Depois de quatro meses assim, mantendo contato direto e administrando a saudade e a distância da melhor forma possível, ela foi abordada por sua mãe, ao receber mais uma carta:
- Carol, o que está havendo? Desde que você voltou do Japão, você está diferente.
- Diferente como, mãe? Não estou diferente. – Vamos, Carol, até quando você pretende manter esse segredo?, ela refletiu.
- Carol, por favor, não se faça de boba, minha filha, pois sei que você não é. Eu tenho visto você chegar da faculdade, se trancar no quarto e muitas vezes eu vou deitar e vejo que sua luz ainda está acessa. Além disso, muitas vezes eu te peguei chorando por aí e você sempre inventa uma desculpa. Todos os meses chegam cartas pra você e, a cada vez, você fica toda feliz ao recebê-las e seu humor muda completamente nos dias que se seguem. Você fica toda sorrisos.
Chegou a hora, Caroline pensou, de eu finalmente abrir o jogo. Não podia esconder uma coisa dessas da minha mãe a vida toda, não é? Só espero que ela compreenda e aceite.
- Mãe – ela disse, depois de respirar fundo e contar até dez – Sabe o Arashi, né? O Matsujun, enfim...
- Claro que sei! Você trocou cartas com esse cara por anos! No início até achei meio absurdo você se corresponder com alguém do outro lado do mundo que nem conhecia...
- Então... – silenciando, se perdendo nas palavras e sem conseguir dizer nada.
- Então...?
- Vamos sentar – Carol arrastou dona Marta até sua cama.
- É tão grave assim? – dona Marta levou a mão a boca, assustada.
- Não é grave, mas é uma longa história.
Então Caroline contou tudo para sua mãe, tudo mesmo, desde a ideia infantil de mandar o pingente de chave junto com a primeira carta, até o momento em que recebeu pelo correio o DVD, o coração de pelúcia e a chave que primeiramente mandara. Contou sobre as brigas com Yui, sobre todos os altos e baixos, o momento em que se confessou, e sua mãe não interrompeu por um momento sequer, embora sua expressão tivesse variado muito durante todo o relatório e agora, por fim, ela tinha um olhar preocupado.
- Carol... – dona Marta segurou as duas mãos da filha entre as suas.
- Mamãe, eu não vou desistir dele, - puxando as mãos, mas a mãe as manteve firmes entre as dela - mesmo se a senhora me pedir isso.
- Não vou pedir. Disse há muito tempo, quando te dei a corrente com os dois pingentes, que ia chegar o dia em que você saberia para quem entregar a chave de seu coração, e parece que esse dia chegou, não é? Mas eu fico preocupada, Carol...
- Não precisa ficar mãe. – Carol, que já ficara na defensiva, relaxou um pouco.
- Claro que preciso. Você decidiu que ama um astro japonês. Ouviu o que eu disse? Ele mora no Japão. Como vocês vão fazer pra ficar juntos? Você ainda tem meio ano de faculdade.
- Eu sei.
- Então filha... é com isso que me preocupo. Não vou tentar separar vocês ou coisa assim. Só acho que é meio loucura isso tudo! Deus do céu... isso não é um namoro à distância qualquer, é meio mundo e vários países que separam vocês dois.
- Mamãe, pode ter demorado um pouco, mas eu confio totalmente no amor dele. Acredito nele.
- E o que seu pai vai dizer sobre isso, hein?
- Ele vai entender. E eu já tenho quase 25 anos, né? Não sou mais criança... e você vai ficar do meu lado, não vai?
- Claro que vou, minha linda – dona Marta a abraçou – Pra mim, você sempre será uma criança, mas sei que você cresceu e já pode decidir sozinha sobre seus sentimentos. Não acho que seu pai vá pegar no seu pé por isso. Mas acho sim que ele ficará tão preocupado quanto eu. Afinal, você pretende o quê? Morar no Japão? E se você vai pra lá e ele já arranjou outra namorada pra ocupar seu lugar?
- Mamãe, o Jun não é assim. Ele até terminou com a namorada dele para ficar comigo.
- Não sei. Ele está tão longe, né?
- Mas mamãe, eu já disse. Eu acredito nele.

***

Já fazia sete meses desde que Caroline partira para o Brasil e agora, Jun não recebia mais os emails diários dela, mas as cartas continuavam a chegar fielmente todos os meses. Ela explicou que, por esse ser o último ano da faculdade, tudo ficara cada vez mais corrido e puxado e até escrever as cartas ficava difícil, mas era questão de honra para ela escrevê-las sempre.
Débora e Nino permaneciam felizes e se amavam como recém-casados que eram. Via-se no semblante dele que o casamento estava lhe fazendo muito bem. Estava mais bem humorado e tinha um ar mais jovial enquanto prosseguia fazendo seu trabalho dia a dia. 
Jun chegara num ponto que era difícil manter o sorriso natural no rosto, e até seus hábitos DoS estavam ficando fadados ao esquecimento. Não que ele estivesse triste, não estava, mas a cada dia sentia a saudade – palavra que aprendera com Caroline e descobrira que seu sigificado era muito mais profundo do que simplesmente “sentir falta” – aumentar. Não mudara seu comportamento nem ficara abatido, e tinha todo o gás necessário para fazer seu trabalho, gravar os CM’s, programas de TV, doramas e tudo o mais e arrancar suspiros das fãs, mas sentia o coração mais frágil e também estava mais sentimental. Sempre que passava o dia sem que um email chegasse, seu coração apertava ainda mais.
Ela contara da conversa que tivera com sua mãe, e posteriormente, com seu pai sobre os dois, e que ambos aceitaram aquele relacionamento, mas ficaram preocupados na mesma proporção devido à distância e tal. Mas ela fora firme ao dizer para eles que confiava em Jun e sabia que de alguma forma eles iam ficar juntos, pois eles estavam destinados um ao outro.
Quando chegaram ao fim de novembro e só havia mais os dois shows em Nagoya para concluírem a nova turnê, Ohno, que notava o estado de espírito do amigo – na verdade, todos os quatro notaram, mas incubiram o mais velho da tarefa de falar com ele -, resolveu ir à casa dele numa quinta-feira à noite.
- Oh-chan, o que faz aqui? – perguntou o mais novo, abrindo a porta.
- Nossa, Matsujun, isso é jeito de receber uma visita?   
- Gomen. – Jun deu um meio sorriso de desculpas – Mas venha, vamos entrando. – puxando o outro pela mão.
Os dois se sentaram no sofá e o mais velho deu dois tapinhas nas pernas e abriu a boca para falar:
- Matsujun, vou direto ao assunto: você está sentindo muita falta da Karorine-san, não é?
- Saudade, Oh-chan.
- Como?
- O sentimento certo é saudade. É uma palavra em português, que quer dizer que sentimos muita, mas muuuuita falta mesmo.
- Tá certo. Demo... deixa eu falar...
Jun concordou com a cabeça e ele prosseguiu:
- Nós quatro, que te conhecemos tão bem, sabemos que essa... ano... saudade... está te corroendo por dentro.
- É verdade. Vocês sempre sabem de tudo, né?
- Embora a gente não perceba aquela mudança negativa em sua personalidade como no fim do ano passado. Demo, o que quero dizer... nós quatro conversamos. Johnny-san vai nos liberar por uma semana depois do Natal. Vá, Matsujun!
- Não estou entendendo, Oh-chan.
- Então deixa eu explicar. Vá para o Burajiru. Desde que ninguém fique sabendo de sua viagem... você pode conseguir que o Johnny-san concorde com isso.

***

Já era véspera de Natal e em sua última carta, enviada uma semana antes para Jun, Caroline parabenizou Aiba e mandou para ele pelo correio alguns bichinhos de pelúcia de espécies tipicamente brasileiras. Ela achava que essa carta ainda não chegara, mas estava aproveitando que as aulas da faculdade já acabaram e voltara a escrever emails diários, já que tinha mais tempo livre agora.
Ela concluira a graduação com louvor e conseguira nota máxima na monografia. Seu diploma já estava garantido. Agora, podia começar a pensar seriamente em como faria para ficar junto de Jun. A única solução que conseguia enxergar seria ir para o Japão, morar lá, como sua mãe sugerira há alguns meses.
Para ela, estava sendo tão insuportável quanto para Jun. Às vezes, a saudade era tanta que ela achava que não ia aguentar. Mas a cada carta, a cada email recebido, sentia o coração ficar um pouquinho mais leve. Contudo, essa leveza não durava mais que um dia.
Nessa véspera de Natal, chegou uma carta dele. Carta esta datada de 14 de dezembro de 2015. Ela ficou eufórica como sempre, ainda mais porque ele mandara duas revistas com reportagens e fotos dele e dos outros, que tinham sido lançadas em edições comemorativas para o Natal.
Na carta, Jun escrevera que tinha uma surpresa para ela, mas não deu nenhuma pista de qual era essa surpresa.
O Natal passou, e no dia 28 de dezembro, Carol estava fechada em seu quarto, ouvindo o último CD do Arashi e vendo as fotos que Jun mandara para ela, quando a campainha de sua casa tocou. Era novamente tempo de férias coletivas na empresa onde ela trabalhava e ela estava sozinha em casa, seus pais tinham saído para algum lugar.
Ouviu somente no terceiro toque e ficou em pé às pressas. Quem será bem agora?, pensou, colocando os chinelos. Usava um vestido florido, simples, que ela só usava para ficar em casa. Desceu as escadas correndo, nem deu tempo de pausar a música. Quando estava alcançando a porta, a campainha tocou uma quarta vez. Que insistente!
- Já vai! – gritou para a porta – Quem é?
Ninguém respondeu e não tinha olho mágico na porta da casa que ela pudesse espiar. Perguntou novamente:
- Quem é?
Ninguém respondeu outra vez, mas ela pôde ouvir o som da respiração meio ofegante de uma pessoa do lado de fora. Por algum motivo que ela não sabia qual era, seu coração disparou. Mais uma vez ela perguntou:
- Quem é?
Como novamente ninguém respondeu, ela achou que não deveria ser nada importante e já ia se virando para voltar para seu quarto quando ouviu uma voz vinda lá de fora:
- Karoru-chan!
Ela se voltou bruscamente. Ouvira direito? Aquela voz só podia ser do... mas não é possível! Ou é?
- Karoru-chan!
Ela destrancou a porta e a abriu violentamente. Seus olhos não acreditaram no que viram: Matsumoto Jun, de tênis, jeans e camisa pólo, com um boné, parado bem na sua frente, como um completo desconhecido.
- Eu. Não. Acredito. – ela disse, ainda em português.
No peito dele, o pingente de coração brilhava, assim como no dela, repousava a chave.
- Nani? – ele perguntou, sem entender o que ela dissera.
- É você mesmo? – agora em japonês.
- Hai! Eu vim te dar... meu presente de Natal – estendendo um enorme buquê de rosas vermelhas que ele trazia escondido atrás de si.
Sem se importar com as rosas, Caroline somente deu um grito e pulou no colo de Jun, que soltou o buquê no chão e a segurou.
- Aishiteru yo.
- Eu também te amo.

xxx

Fim