Ryuchi não gostou do tom
de voz que Matsumoto Jun usou, como se ele fosse uma pessoa qualquer. Ia abrir
a boca para responder para aquele homenzinho abusado, quando Yui soltou sua mão
e deu alguns passos à frente.
- Matsumoto, ohayou! Este é o Ryu, um antigo amigo
meu. – sorriu de maneira pouco natural e com alguma ironia na voz, se virou
para o amigo: - Ryu, este é Jun, meu namorado. Ou devo dizer ex-namorado?
- Como queira – Jun deu
de ombros, fingindo pouco caso, mas estava com a pulga atrás da orelha; não
gostara do homem que viera com Yui nem deixara de notar como ela o tratara com
tanta intimidade, chamando-o apenas de “Ryu”.
- Ei! Não a trate assim!
- Oras, quem você pensa
que é para falar comigo desse jeito?!
- Ryuchi, não vale a pena.
E você – encostou a ponta do dedo em riste no peito de Jun – Não grita com ele!
- Oe oe oe! Eu grito SIM SENHORA!
- Não grita não. E agora
– pegando novamente a mão de Ryu – você estava de saída, não é? Eu só passei
aqui para deixar o Ryu acomodado e vou para a revista, que já estou há muitos
dias sem trabalhar. Depois a gente conversa. Eu e você temos MUITAS contas a
acertar!
- Por que quer acertar
contas comigo? Você mesma disse que somos EX-namorados e agora quer conversar?
E por que está de mão dada com esse aí? Por acaso vocês estão juntos?
- Você vai ver quem é esse...
- Ryu, deixa ele.
Matsumoto, precisamos conversar sim, você não acha? E eu e o Ryuchi somos
amigos de infância, ok? Pare de me importunar! Que horas você volta?
- Ahh, que saco você!
Umas 7h da noite, acho. Mas tinha planos de jantar fora.
- Com aquela lá?
Você escolheu mesmo ficar com ela?
- Não é da SUA CONTA!!!
- É isso então? – Yui
sentia o sangue esquentar.
A mão de Ryu que segurava
a sua se repuxou toda e ela pôde sentir que ele se segurava para não falar
nada.
- Não é nada! De qualquer
forma, eu venho para casa quando sair do trabalho, tá legal? Daí a gente
conversa.
- Ok. Etto, sai da frente por favor.
Jun se afastou da frente
da porta, ela pegou a chave do apartamento no bolso, abriu e sem olhar para
ele, Yui marchou para dentro, com Ryuchi atrás dela.
***
Essa é boa!,
Matsumoto Jun pensou enquato dava a partida no carro, Então ela tem um amigo
de infância e nunca me disse nada!
Enquanto manobrava para
sair da garagem do prédio, ele repassava mentalmente palavra por palavra do que
fora dito momentos antes, quando Yui apareceu com aquele seu amigo grandão com
pinta de quem queria ser mais que amigo. Jun, que conhecia bem o olhar de um
homem quando estava apaixonado, pois já vira esse mesmo olhar no espelho e nos
olhos de seus amigos, soube na hora que o tal Ryuchi estava caidinho por Yui.
Ela brincara – ou não –
que ela e Jun eram ex-namorados. Usara certa dose de ironia em todas as frases
que falou naqueles poucos minutos. Eles ainda não tinham de fato terminado, mas
pelo jeito ela estava decidida a tal e ele também. Quer dizer, ele achava que
também estava decidido.
Afinal, desde que ele e
Caroline se acertaram naquela maravilhosa noite de quarta-feira, confessando
seu amor um pelo outro, ele não tinha dúvidas que a amava. Nem tinha dúvidas
ali, naquele momento. Amava-a e sabia disso, mas ver Yui assim, tão
repetinamente, e ainda por cima acompanhada, mexeu com seus brios.
Ele se sentiu ofendido,
era isso. Orgulho ferido. Ele e Yui ainda eram oficialmente um casal, como ela
podia esfregar um homem assim, nas suas fuças, e dizer somos apenas amigos??
“Yui, sua baka, é claro que ele não
quer ser apenas seu amigo!”, disse em voz alta para o volante, enquanto
avançava para o prédio da JE.
Então, Matsumoto Jun foi
atingido por um raio! O que ele fizera... não fora o mesmo? Ele não traíra a
namorada enquanto ela estava fora? Não se apoveitara da ausência dela para
confessar seu amor por outra?
Chegando em frente ao
portão do estacionamento, enquanto ele abria automaticamente, seu pensamento
ainda estava congelado. Ele traiu primeiro, então por que se sentia tão
inexplicavelmente irritado com Yui e Ryu? Inconscientemente, acabou mantendo o
veículo parado, só se dando conta quando ouviu uma série de buzinadas
consecutivas atrás de seu carro. Olhando pelo retrovisor, viu que era Sakurai
Sho.
- Ei, Matsujun! – gritou
Sho pela janela – Aqui não é lugar de parar para observar a paisagem. Eu quero
entrar no estacionamento!
- Ok, ok! Saindo. - Jun
respondeu em voz baixa, arrancando novamente.
Sua vaga habitual era ao
lado da vaga de Sho e assim que Jun desligou o carro, o outro estacionou.
- O que você tem? Eu
buzinei algumas vezes antes de você escutar – Sho abria a porta e saía do
veículo.
- Hontou? Gomen.
- Jun-kun, diz pra mim. Doushita no? Você está com uma cara
péssima!
- Ah, Sho-chan... podemos
conversar um poquinho, antes de subir?
- Ano... – ele olhou as horas no relógio de pulso – A reunião é às
11h, faltam só dez minutos.
- Não faz mal a gente
atrasar um pouquinho.
- Você dizendo isso,
Matsujun? Tá com febre? – aproximando-se do amigo e pondo a mão espalmada sobre
a testa deste.
- Yamete! Baka! – Jun
afastou a mão de Sho. – Só quero conversar, o que tem demais nisso?
- Não é do seu feitio se
atrasar propositalmente para uma reunião. Demo... etto ne... vamos
conversar então.
Sho abriu novamente a
porta do carro, se sentando atrás do volante com os pés na calçada, de lado, e
Jun fez o mesmo, mas do lado do passageiro. As portas dos dois carros
encostavam uma na outra e os dois estavam parcialmente escondidos atrás delas.
- E aí, qual é o
problema?
- Sho-chan, a Yui voltou
hoje.
- Nani?
- Encontrei com ela quando
saía de casa agora há pouco.
- Ela voltou assim do
nada? Pra onde ela foi afinal?
- Não sei, a gente não
conversou direito. Eu estava saindo, e ela só passou lá para deixar o amigo
que ela trouxe junto e ia pro trabalho.
- Tomodachi?
- É. O cara é um monstro,
gigante, deve ter perto de 2 metros. Yui disse que são amigos de infância.
- Você tá com ciúmes,
Matsujun? – Sho deu uma piscadela para o amigo, tentando descontrair um pouco o
clima, pois Jun estava com o semblante carregadíssimo.
- Ciúmes? NUNCA! Eu amo a
Karoru-chan, entendeu? – Jun socava a coxa da perna esquerda com o punho
fechado e batia o pé direito no chão.
- Calma! – Sho notou que
sua tentativa de aliviar o ambiente foi infrutífera e sorriu de um modo tranquilizador
– Eu sei qe você ama a Karorine-san,
mas é normal sentir um pouco de ciúmes, afinal é tudo muito recente.
- Eu não estou com
ciúmes, Sho-chan. Nem eu sei direito o que to sentindo. – Jun pousou as mãos
nos joelhos e olhou para baixo, desanimado.
- Demo, você precisa descobrir logo, meu amigo. Pense um pouco com a
cabeça. Não estou dizendo para você desistir da Karorine-san, só acho que você precisa pensar melhor. Ela vai
embora amanhã e você ficará aqui, e ainda tem um nome pra preservar e uma
carreira para fazer prosperar. Não se esqueça disso.
- Hai! Eu sei de tudo isso. Você acha que não tenho pensado a cada
segundo que sábado se aproxima cada vez mais e ela vai embora? Mas quanto a
isso, eu já sabia o que fazer. Ia terminar com a Yui e assumir a Karoru-chan
logo, falar com o Johnny, como o Nino fez, com ousadia.
- Matsujun – Sho cruzou
os braços sobre o peito e olhou para o mais novo com olhar concentrado – Então
me explica: por que você usou esses verbos? Todos num tempo estranho, você não
acha? Você sabia o que ia fazer, não sabe mais. Nande?
- Eu não sei. Sho-chan,
quando você buzinou e eu não ouvi, eu estava pensando em algo.
- Nani, nani?
- Eu estava pensando...
eu traí a Yui, não foi?
- O que você está
dizendo, Matsujun? – Sho jogou a cabeça para trás e deu uma boa gargalhada –
Quantas doses de sake você tomou hoje no café da manhã?
- Não estou brincando! –
Jun olhou para o amigo de uma maneira feroz, pois se sentia irritado com os
próprios pensamentos e sentimentos. E ainda por cima o Sakurai ri de uma
coisa séria dessas?!, pensou.
- Repete o que você
acabou de dizer – Sho disse, retomando o fôlego.
- Eu acabei traindo a
Yui.
- Que loucura é essa,
Matsujun? Quando você traiu a Uemura Yui? Só se foi quando você foi gravar em
Shizuoka e ficou duas semanas lá. Deu uns pegas e nem contou pra gente?
- Baka!! O que você está dizendo? – Jun sentou na beiradinha do
banco, esticou o braço até alcançar Sho e socou, sem muita força, o braço do
mais velho. – Claro que eu nunca fiz isso!
- Se não foi lá, então
quando foi?
- Anteontem, quando
beijei a Karoru-chan.
- Deixa de ser bobo!
Jun-kun, você já decidira terminar o namoro, não foi? Naquele bilhete, ela
praticamente já tinha terminado tudo, só faltou dizer – fazendo gesto de aspas
com a mão – “acabou”.
Nesse momento, Ohno
Satoshi estacionou seu carro algumas vagas pra frente. As vagas de Aiba Masaki
e Ninomiya Kazunari ainda estavam vazias. O resto do estacionamento estava
praticamente lotado, com os carros dos funcionários, staff’s e os artistas
de outros grupos da Johnny’s.
O líder do Arashi saiu do
veículo estacionado sem notá-los, mas quando passou em frente aos dois, indo em
direção ao elevador do prédio, percebeu que as duas portas estavam abertas e
foi verificar. Espiando por cima das portas, viu Sho e Jun ali sentados nos
bancos.
- O que vocês estão
fazendo aí? Já são 11h05. Estamos cinco minutos atrasados para a reunião.
Normalmente sou eu que me atraso, mas vocês estão confortavelmente sentados aí.
É, e parece que o Kazu-chan e o Masaki ainda não chegaram também – olhando em
direção às vagas vazias.
- Ohayou gozaimasu, Riida!
– cumprimentou Sho com um sorriso.
- Ohayou – Ohno respondeu e voltou os olhos para Jun.
O mais novo estava em
silêncio, e parecia desanimado. Coçando a cabeça, perguntou:
- Matsujun, doushita no?
- Ah, oi Oh-chan. –
disse, com um sorriso meio abatido – Não foi nada não, eu acho. Demo...
- Ih, lá vem! Deixa-me
passar, vocês dois. – Ohno empurrou as duas portas e encostou-se à lateral do
carro de Jun, na porta de trás, cruzando os braços.
- Você vai ficar aqui
também, Riida? – Sho perguntou.
- Hai. Agora me diz, Matsujun, o que tá rolando? – encostando a
cabeça no vidro e fechando os olhos.
- Oh-chan, a Yui voltou
hoje.
- Isso é um problema? Achei
que você estava decidido a terminar com ela.
- Eu estou... eu estava.
Ela trouxe um... amigo junto.
- Amigo? Jun, você está
com ciúmes?
- Não! Por que você dois
têm que me perguntar isso? – olhando do Ohno ao Sho.
- Você também achou isso,
Sho-chan? – Ohno olhou para o outro, sentado a sua frente.
- Uhum. Também, do jeito
que ele fala, fica parecendo mesmo isso, né? – sorrindo meio brincalhão.
- É – Ohno também ri.
- Não é ciúme! Eu não a
amo mais... quer dizer, como eu amo a Karoru-chan, acho que nunca amei a
Yui.
- Não estou entendo.
- Quando você chegou, Riida – Sho explicou – ele tinha acabado
de dizer que traiu a Uemura Yui.
- Majide?! – Ohno olhou para Jun de olhos arregalos – E nunca contou
nada? Quando foi isso?
Novamente, foi Sakurai
Sho quem falou:
- Ele acha que traiu
quando beijou a Karorine-san, se
confessou para ela e tal.
- So desu ka? – Ohno piscou os olhos várias vezes, ainda encarando o
mais novo, que olhava para baixo – Isso aí não é traição Jun, você já estava
pronto para terminar tudo com a Yui, e ela meio que fez isso por conta própria
quando foi viajar. Demo, nande? Por
que esse papo de traição? O que o fato de a Yui ter voltado e ter
trazido um amigo tem a ver com traição?
Jun ergueu a cabeça e
olhou no relógio no painel do carro. Já estavam dez minutos trasados para a
reunião, e o diretor artístico da tour com certeza ia reclamar para
Johnny Kitagawa se eles se atrasassem muito mais. De qualquer forma, ele ainda
não estava com cabeça para discutir sobre os shows de Fukuoka.
Não conseguia entender
porque se sentiu tão mal ao ver Yui de mãos dadas com Ryuchi. Aquilo não era
ciúme, não podia ser, pois ele já não gostava mais dela e agora, mais do que
nunca, sabia absolutamente o que queria. Queria a Caroline, amava a Caroline. E
mesmo assim, aquilo o incomodava. A visão de Ryu tão próximo de Yui não saía de
sua cabeça. Além disso, a ideia de ter traído Yui com a Karoru-chan, ter
ficado com ela antes de terminar o namoro, o deixava ainda mais confuso.
Como se tudo isso já não
estivesse fundindo seu cérebro, tinha a volta iminente de Caroline para o
Brasil no sábado à noite. Saber que depois de sábado, estariam novamente
separados por quilômetros de distância, fazia seu coração fraquejar. Até então,
ele não parara para pensar muito nisso, mas agora que Sho-chan tocara no
assunto, a realidade atingiu sua mente e coração com tamanha força que, unido a
tudo mais, ele sentia que poderia ter um colapso nervoso.
- Ano... minha cabeça dói. Que tal vocês dois subirem para a reunião
poder começar logo? Daí você falam para o Watanabe-san...
- Não, Matsujun – o líder
interrompeu – Até porque ainda faltam dois de nós. Vamos esperar o Nino e o
Aiba chegarem e subiremos todos juntos. Agora me responde o que eu perguntei,
porque eu definitivamente não consigo enxergar a lógica desse seu pensamento.
- Né? Eu tembém não vejo
lógica nenhuma nisso – comentou Sho.
- Simples – respondeu
Matsumoto Jun – Por que eu to aqui todo preocupado com a hipótese da Yui ter me
traído durante todo esse tempo com o amigo de infância dela...
- Você está preocupado
com isso, Matsujun? Nande? Você nem
gosta mais dela, não é?
- Não sei, Oh-chan – Jun
passou a mão pelos cabelos e suspirou – Não estou preocupado com o fato de que
ela pode ter me traído nem fiquei com ciúmes, o que me irrita é se ela
realmente me traiu enquanto namorávamos. Isso pra mim é uma atitude mesquinha,
um ultraje.
- Agora eu entendo,
Matsujun – Ohno olhou para o mais novo com um sorriso no rosto – É sua cara
isso. Orgulho ferido.
- Ahh! – Sho olhou como
se tivesse enxergado a luz naquele instante – É mesmo, né? Jun-kun, é verdade,
hahaha!
- Parem de rir vocês
dois! Não é uma piada!
- Ah, Matsujun, não seja
tão rabugento – pediu Ohno.
- De qualquer forma, não
importa mais, porque eu acabei fazendo o mesmo que ela, não foi? Fiquei com a
Karorine-san enquanto namorava a Yui, né?
- Yamete! – Ohno se colocou entre Jun e Sho e, encurvando-se um
pouco, segurou nos dois ombros do caçula do Arashi – Matsujun, isso é um
absurdo! Se é só esse o problema, esquece, cara! Termina logo com a Yui e deixe-a
ficar com o amigo, se ela quiser. Você tem a Karorine-san! Agora, se você está com alguma dúvida com relação aos
seus sentimentos em relação à Yui e à Karorine, é melhor então repensar.
Jun não respondeu tão
rápido, ele somente ficou olhando com cara de bobo perdido no espaço para o Riida, que ainda segurava seus ombros e
o encarava sério. Sho ficara em pé e se colocara atrás de Ohno, também
encarando-o.
Ele até pensou em fingir
pouco caso, fazer cara de bravo e dizer palavras ferinas para os dois. Era a
melhor forma de se defender. Contudo, não conseguiu fazer isso. Só conseguiu
baixar os olhos e deixar cair os ombros. Com voz baixa, sem muita firmeza,
respondeu, depois de alguns minutos de silêncio:
- Eu... não sei o que
dizer.
Nesse instante, o carro
de Nino, com Aiba no banco do passageiro, passou por eles e estacionou na vaga
ao lado de Sho. Já eram 11h15 e Watanabe-san, que não gostava de atrasos,
deveria estar de cabelo em pé, esperando impaciente.
Os dois desceram do
veículo e logo notaram os três reunidos ali entre os carros de Jun e Sho.
- Ei, vocês ainda estão
aqui? – Nino perguntou, se aproximando.
- É. Estamos dando uns
conselhos para esse cabeça-dura – Sho sorriu e deu um soquinho na cabeça de
Jun.
- Ohayou minna! – Aiba chegou atrás de Nino – O que aconteceu? Por
que estão aqui fora? Esqueceram-se da reunião?
- É algo com o Jun-pon. O
que foi, Jun?
- Nandemonai Nino! – Jun fez menção de levantar-se e Ohno, que ainda
segurava seus ombros, o largou e ficou ereto.
- Sem mentir, Jun-pon!
- Depois da reunião eu
explico pra vocês dois então. A propósito, onde vocês estavam?
- Meu carro não quis
pegar hoje e eu liguei pro Nino ir me buscar.
- Por que não chamou um
táxi, Aiba-chan?
- Sabe o que é Sho-chan,
ele quis economizar o dinheiro do táxi e me fez gastar a minha gasolina!
- Nino, não fale assim.
Você podia ter dito que não queria me buscar. – Aiba olhou para os pés.
- É brincadeira! Hahaha!
Eu fui buscar o Aiba – olhando para cada um – e passei no hotel para dar bom
dia para a Deb.
- E por isso se atrasou,
Kazu? – Ohno deu um tapinha carinhoso no braço do amigo e olhou-o complacente;
depois, sorriu brincalhão.
- Bom, a ideia era dar só
um beijo de bom dia, mas não consegui ficar só em um.
- Sei, hahaha.
- Ah, Jun, a Karorine te mandou um beijo e desejou
bom trabalho.
- Uhm. – Jun pensou em
acresentar algo, mas não soube o que podia expressar.
Nino notou a hesitação do
amigo e já ia abrir a boa para perguntar algo, quando foi impedido por Sho.
- Já que já chegamos
todos, vamos subir, senão o Watanabe-san come nosso fígado – disse, com um
sorriso.
- Ou serve para o
Johnny-san no almoço. – sugeriu Nino.
- Ai, minna! – Aiba fez uma careta – Como
vocês estão estranhos hoje, credo.
Todos riram do
comentário. Jun esqueceu por um momento as preocupações, pôs-se de pé e, depois
de fechar a porta do carro, disse:
- Yosh! Ikimasho!
***
Caroline soubera por Jun
que ele e os meninos estariam ocupados durante todo o dia, a partir das 11h da
manhã, quando teriam a primeira reunião naquela sexta-feira. Ele perguntou se
ela queria que ele fosse vê-la pela manhã, antes de ir para a JE, mas Carol
queria ficar dormindo, e sabia que ele também, já que eram raras as manhãs em
que o Arashi não era cheio de compromissos desde cedo. Então, antes de ir
embora na noite anterior, ele chamou-a para jantarem juntos e que ligaria
quando tivesse acabado o trabalho, provavelmente só depois das 7h da noite.
Quando Ninomiya Kazunari
foi até elas pela manhã, antes da reunião, para ver Débora, ela mandou um
cumprimento e um beijo a Jun por ele.
- Você não quer que eu o
beije por você, quer, Karoru? – Nino perguntou, rindo, enquanto
permanecia abraçado com Débora, já no saguão do hotel, pronto para ir embora.
Aiba Masaki, que fora até
o hotel junto com Nino, e Débora, também riram. Carol apenas sorriu
timidamente.
- Não, não! - ela fez um
gesto negativo com as mãos – Basta dizer a ele que fui eu que mandei.
Agora, já no fim da
tarde, ela estranhava que ele não respondera nenhuma de suas mensagens. Ligar
ela não ligou, pois não queria atrapalhá-lo no trabalho, mas achou que ao menos
uma ou duas mensagens Jun poderia responder.
Débora tinha ido comprar
biscoito e refrigente na loja de conveniência perto do hotel e ela preferira
ficar. Desde que mandara o primeiro sms logo depois do almoço e ele não
respondeu, mesmo a celular acusando que a mensagem fora recebida, ela começou a
ficar temerosa. Aos poucos foi ficando calada e distante, e mesmo com toda a
falação da amiga sobre o casamento e seu pai que ligara aquela manhã e isso e
aquilo, Caroline conseguia dar apenas respostas monosilábicas.
Sabia que era idiota de
sua parte, mas ela ficou um pouco cismada com a ausência dele. Ela ia embora no
da seguinte e por isso achava que os dois tinham que aproveitar o máximo um do
outro, já que não sabiam quando voltariam a se ver.
Um namoro à distância
sempre a assustou, mas esse namoro à distância a assustava ainda mais e
queria poder conversar com o Jun sobre isso. Como eles fariam? Continuariam se
correspondendo por cartas? Ou se falariam via internet? Ligariam um para o
outro? Namorariam mesmo tão longe um do outro? E Yui? Será que ela ia mesmo
desistir de Jun? Carol conseguiria lidar bem com a situação, sabendo que sua
rival estava tão perto dele, enquanto ela estaria tão longe?
Essas perguntas invadiram
sua mente e atormentaram-na o dia todo, e a falta de resposta de Jun aumentava
ainda mais sua tensão. De todas as perguntas, a mais cruel era: “será que
ele ainda gosta de mim, ou eu fui só um passatempo enquanto a namorada viajou?”
Ela tentava com todas as
forças evitar pensar nisso, mas a cada movimento do ponteiro do relógio que
indicava que a noite se aproximava, ela sentia essas mesmas forças indo embora.
Às 6h, quando o sol já
estava quase indo embora, Débora chegou e a encontrou pensativa sentada na
cama.
- O que foi, Carol?
- Nandemonai.
- Eu te conheço, o que
houve? – caminhando até o frigobar para guardar as latinhas.
- Nada. Você está
imaginando coisas.
- Não mesmo. – Débora se
sentou ao seu lado – Há muito tempo que você não me engana. Qual o problema?
- Não dá pra esconder
nada de você né, Dé?
- Não mesmo. – sorrindo.
- É por isso que você é
minha melhor amiga! Você me conhece tão bem...
- Ok. Eu adoro ser a sua
melhor amiga, Carol! Agora fala.
- É, não tem outro jeito
– dando um sorriso torto – Eu estava pensando. Acho que sou mesmo uma idiota
completa!
- Tá, por que isso agora?
– Débora encostou-se à parede.
- Ele não deu sequer um
sinal de vida hoje.
- Ah, é isso? Sim, você é
idiota. Sabe por quê? Porque ele está vivo, bobinha – tocando o nariz da amiga
com a ponta do dedo indicador – Todas as vezes que falei com o Kazu, ele me
garantiu que o Jun está bem.
- Sim, quanto a isso não
duvido. Só que...
- Só que...?
- Só que eu vou embora
nesse sábado, já é amanhã! Ele não vai querer manter um namoro sério com alguém
que mora em outro continente, do outro lado do mundo!
- Isso que te preocupa?
Carol, o Jun ama você, a gente vê isso nos olhos dele. E, pelo que soubemos,
com nosso conhecimento de fã, durante esses anos todos, e pelo que você soube
pelas cartas (e eu também, consequentemente), ele não é volúvel desse jeito. Se
disse que te ama, é porque é verdade, ele não ia mudar de ideia, mesmo a Yui
tendo voltado.
- Ela voltou?
- Ops, falei demais... –
Débora levou a mão à boca e deu três tapinhas – Desculpa Carol, era melhor ele
ter dito, né? Sim, ela voltou, pelo que o Kazu me disse. Mas não se preocupe, é
com você que ele quer ficar.
- Mas... somos de mundos
tão diferentes...
- Não se importe com
isso. Se é o Matsujun, com certeza ele vai dar um jeito. Vai unir esses dois
mundos.
Quando Débora parou de
falar e Caroline ia responder, seu celular tocou. Ela viu no visor que era o
Jun.
- É ele! – sussurrou.
- Não disse? – Dé
sussurrou de volta.
- Moshi-moshi.
- Ano… Karoru-chan. Gomen ne, não poderemos jantar hoje. A
Yui voltou e quer conversar.
- Hontou? – instantaneamente, o semblante de Caroline se entristeceu
e Débora pegou sua mão que não segurava o aparelho.
- Hontou ni gomen nasai! Ficou chateada?
- Iie. A gente se vê amanhã então.
- Sim, amanhã. Durma
bem, oyasumi.
Ela olhou pela janela do
quarto. Ainda não era completamente noite, o céu ainda tinha um tom
crepuscular. Mas com isso, evidentemente, ele quis dizer que não ligaria mais
aquele dia.
- Uhm. Oyasumi.
E ambos desligaram.
Carol largou o aparelho
na mesinha de cabeceira e, já com os olhos marejados, abraçou a amiga.
- Ah, Dé, eu sou mesmo
uma idiota, né?
Débora,
sem saber o que dizer, nem o que acontecera, simplesmente retribuiu o abraço.
Era claro que algo acontecera, mas no momento, mesmo que ela perguntasse, Carol
não conseguiria responder.
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