E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 13 de outubro de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 34


Ryuchi não gostou do tom de voz que Matsumoto Jun usou, como se ele fosse uma pessoa qualquer. Ia abrir a boca para responder para aquele homenzinho abusado, quando Yui soltou sua mão e deu alguns passos à frente.
- Matsumoto, ohayou! Este é o Ryu, um antigo amigo meu. – sorriu de maneira pouco natural e com alguma ironia na voz, se virou para o amigo: - Ryu, este é Jun, meu namorado. Ou devo dizer ex-namorado?
- Como queira – Jun deu de ombros, fingindo pouco caso, mas estava com a pulga atrás da orelha; não gostara do homem que viera com Yui nem deixara de notar como ela o tratara com tanta intimidade, chamando-o apenas de “Ryu”.
- Ei! Não a trate assim!
- Oras, quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?!
- Ryuchi, não vale a pena. E você – encostou a ponta do dedo em riste no peito de Jun – Não grita com ele!
- Oe oe oe! Eu grito SIM SENHORA!
- Não grita não. E agora – pegando novamente a mão de Ryu – você estava de saída, não é? Eu só passei aqui para deixar o Ryu acomodado e vou para a revista, que já estou há muitos dias sem trabalhar. Depois a gente conversa. Eu e você temos MUITAS contas a acertar!
- Por que quer acertar contas comigo? Você mesma disse que somos EX-namorados e agora quer conversar? E por que está de mão dada com esse aí? Por acaso vocês estão juntos?
- Você vai ver quem é esse...
- Ryu, deixa ele. Matsumoto, precisamos conversar sim, você não acha? E eu e o Ryuchi somos amigos de infância, ok? Pare de me importunar! Que horas você volta?
- Ahh, que saco você! Umas 7h da noite, acho. Mas tinha planos de jantar fora.
- Com aquela lá? Você escolheu mesmo ficar com ela?
- Não é da SUA CONTA!!!
- É isso então? – Yui sentia o sangue esquentar.
A mão de Ryu que segurava a sua se repuxou toda e ela pôde sentir que ele se segurava para não falar nada.
- Não é nada! De qualquer forma, eu venho para casa quando sair do trabalho, tá legal? Daí a gente conversa.
- Ok. Etto, sai da frente por favor.
Jun se afastou da frente da porta, ela pegou a chave do apartamento no bolso, abriu e sem olhar para ele, Yui marchou para dentro, com Ryuchi atrás dela.    

***

Essa é boa!, Matsumoto Jun pensou enquato dava a partida no carro, Então ela tem um amigo de infância e nunca me disse nada!
Enquanto manobrava para sair da garagem do prédio, ele repassava mentalmente palavra por palavra do que fora dito momentos antes, quando Yui apareceu com aquele seu amigo grandão com pinta de quem queria ser mais que amigo. Jun, que conhecia bem o olhar de um homem quando estava apaixonado, pois já vira esse mesmo olhar no espelho e nos olhos de seus amigos, soube na hora que o tal Ryuchi estava caidinho por Yui.
Ela brincara – ou não – que ela e Jun eram ex-namorados. Usara certa dose de ironia em todas as frases que falou naqueles poucos minutos. Eles ainda não tinham de fato terminado, mas pelo jeito ela estava decidida a tal e ele também. Quer dizer, ele achava que também estava decidido.
Afinal, desde que ele e Caroline se acertaram naquela maravilhosa noite de quarta-feira, confessando seu amor um pelo outro, ele não tinha dúvidas que a amava. Nem tinha dúvidas ali, naquele momento. Amava-a e sabia disso, mas ver Yui assim, tão repetinamente, e ainda por cima acompanhada, mexeu com seus brios.
Ele se sentiu ofendido, era isso. Orgulho ferido. Ele e Yui ainda eram oficialmente um casal, como ela podia esfregar um homem assim, nas suas fuças, e dizer somos apenas amigos?? “Yui, sua baka, é claro que ele não quer ser apenas seu amigo!”, disse em voz alta para o volante, enquanto avançava para o prédio da JE.
Então, Matsumoto Jun foi atingido por um raio! O que ele fizera... não fora o mesmo? Ele não traíra a namorada enquanto ela estava fora? Não se apoveitara da ausência dela para confessar seu amor por outra?
Chegando em frente ao portão do estacionamento, enquanto ele abria automaticamente, seu pensamento ainda estava congelado. Ele traiu primeiro, então por que se sentia tão inexplicavelmente irritado com Yui e Ryu? Inconscientemente, acabou mantendo o veículo parado, só se dando conta quando ouviu uma série de buzinadas consecutivas atrás de seu carro. Olhando pelo retrovisor, viu que era Sakurai Sho.
- Ei, Matsujun! – gritou Sho pela janela – Aqui não é lugar de parar para observar a paisagem. Eu quero entrar no estacionamento!
- Ok, ok! Saindo. - Jun respondeu em voz baixa, arrancando novamente.
Sua vaga habitual era ao lado da vaga de Sho e assim que Jun desligou o carro, o outro estacionou.
- O que você tem? Eu buzinei algumas vezes antes de você escutar – Sho abria a porta e saía do veículo.
- Hontou? Gomen.
- Jun-kun, diz pra mim. Doushita no? Você está com uma cara péssima!
- Ah, Sho-chan... podemos conversar um poquinho, antes de subir?
- Ano... – ele olhou as horas no relógio de pulso – A reunião é às 11h, faltam só dez minutos.
- Não faz mal a gente atrasar um pouquinho.
- Você dizendo isso, Matsujun? Tá com febre? – aproximando-se do amigo e pondo a mão espalmada sobre a testa deste.
- Yamete! Baka! – Jun afastou a mão de Sho. – Só quero conversar, o que tem demais nisso?
- Não é do seu feitio se atrasar propositalmente para uma reunião. Demo... etto ne... vamos conversar então.
Sho abriu novamente a porta do carro, se sentando atrás do volante com os pés na calçada, de lado, e Jun fez o mesmo, mas do lado do passageiro. As portas dos dois carros encostavam uma na outra e os dois estavam parcialmente escondidos atrás delas.
- E aí, qual é o problema?
- Sho-chan, a Yui voltou hoje.
- Nani?
- Encontrei com ela quando saía de casa agora há pouco.
- Ela voltou assim do nada? Pra onde ela foi afinal?
- Não sei, a gente não conversou direito. Eu estava saindo, e ela só passou lá para deixar o amigo que ela trouxe junto e ia pro trabalho.
- Tomodachi?
- É. O cara é um monstro, gigante, deve ter perto de 2 metros. Yui disse que são amigos de infância.
- Você tá com ciúmes, Matsujun? – Sho deu uma piscadela para o amigo, tentando descontrair um pouco o clima, pois Jun estava com o semblante carregadíssimo.
- Ciúmes? NUNCA! Eu amo a Karoru-chan, entendeu? – Jun socava a coxa da perna esquerda com o punho fechado e batia o pé direito no chão.
- Calma! – Sho notou que sua tentativa de aliviar o ambiente foi infrutífera e sorriu de um modo tranquilizador – Eu sei qe você ama a Karorine-san, mas é normal sentir um pouco de ciúmes, afinal é tudo muito recente.
- Eu não estou com ciúmes, Sho-chan. Nem eu sei direito o que to sentindo. – Jun pousou as mãos nos joelhos e olhou para baixo, desanimado.
- Demo, você precisa descobrir logo, meu amigo. Pense um pouco com a cabeça. Não estou dizendo para você desistir da Karorine-san, só acho que você precisa pensar melhor. Ela vai embora amanhã e você ficará aqui, e ainda tem um nome pra preservar e uma carreira para fazer prosperar. Não se esqueça disso.
- Hai! Eu sei de tudo isso. Você acha que não tenho pensado a cada segundo que sábado se aproxima cada vez mais e ela vai embora? Mas quanto a isso, eu já sabia o que fazer. Ia terminar com a Yui e assumir a Karoru-chan logo, falar com o Johnny, como o Nino fez, com ousadia.
- Matsujun – Sho cruzou os braços sobre o peito e olhou para o mais novo com olhar concentrado – Então me explica: por que você usou esses verbos? Todos num tempo estranho, você não acha? Você sabia o que ia fazer, não sabe mais. Nande?
- Eu não sei. Sho-chan, quando você buzinou e eu não ouvi, eu estava pensando em algo.
- Nani, nani?
- Eu estava pensando... eu traí a Yui, não foi?
- O que você está dizendo, Matsujun? – Sho jogou a cabeça para trás e deu uma boa gargalhada – Quantas doses de sake você tomou hoje no café da manhã?
- Não estou brincando! – Jun olhou para o amigo de uma maneira feroz, pois se sentia irritado com os próprios pensamentos e sentimentos. E ainda por cima o Sakurai ri de uma coisa séria dessas?!, pensou.
- Repete o que você acabou de dizer – Sho disse, retomando o fôlego.
- Eu acabei traindo a Yui.
- Que loucura é essa, Matsujun? Quando você traiu a Uemura Yui? Só se foi quando você foi gravar em Shizuoka e ficou duas semanas lá. Deu uns pegas e nem contou pra gente?
- Baka!! O que você está dizendo? – Jun sentou na beiradinha do banco, esticou o braço até alcançar Sho e socou, sem muita força, o braço do mais velho. – Claro que eu nunca fiz isso!
- Se não foi lá, então quando foi?
- Anteontem, quando beijei a Karoru-chan.
- Deixa de ser bobo! Jun-kun, você já decidira terminar o namoro, não foi? Naquele bilhete, ela praticamente já tinha terminado tudo, só faltou dizer – fazendo gesto de aspas com a mão – “acabou”.
Nesse momento, Ohno Satoshi estacionou seu carro algumas vagas pra frente. As vagas de Aiba Masaki e Ninomiya Kazunari ainda estavam vazias. O resto do estacionamento estava praticamente lotado, com os carros dos funcionários, staff’s e os artistas de outros grupos da Johnny’s.
O líder do Arashi saiu do veículo estacionado sem notá-los, mas quando passou em frente aos dois, indo em direção ao elevador do prédio, percebeu que as duas portas estavam abertas e foi verificar. Espiando por cima das portas, viu Sho e Jun ali sentados nos bancos.
- O que vocês estão fazendo aí? Já são 11h05. Estamos cinco minutos atrasados para a reunião. Normalmente sou eu que me atraso, mas vocês estão confortavelmente sentados aí. É, e parece que o Kazu-chan e o Masaki ainda não chegaram também – olhando em direção às vagas vazias.
- Ohayou gozaimasu, Riida! – cumprimentou Sho com um sorriso.
- Ohayou – Ohno respondeu e voltou os olhos para Jun.
O mais novo estava em silêncio, e parecia desanimado. Coçando a cabeça, perguntou:
- Matsujun, doushita no?
- Ah, oi Oh-chan. – disse, com um sorriso meio abatido – Não foi nada não, eu acho. Demo...
- Ih, lá vem! Deixa-me passar, vocês dois. – Ohno empurrou as duas portas e encostou-se à lateral do carro de Jun, na porta de trás, cruzando os braços.
- Você vai ficar aqui também, Riida? – Sho perguntou.
- Hai. Agora me diz, Matsujun, o que tá rolando? – encostando a cabeça no vidro e fechando os olhos.
- Oh-chan, a Yui voltou hoje.
- Isso é um problema? Achei que você estava decidido a terminar com ela.
- Eu estou... eu estava. Ela trouxe um... amigo junto.
- Amigo? Jun, você está com ciúmes?
- Não! Por que você dois têm que me perguntar isso? – olhando do Ohno ao Sho.
- Você também achou isso, Sho-chan? – Ohno olhou para o outro, sentado a sua frente.
- Uhum. Também, do jeito que ele fala, fica parecendo mesmo isso, né? – sorrindo meio brincalhão.
- É – Ohno também ri.
- Não é ciúme! Eu não a amo mais... quer dizer, como eu amo a Karoru-chan, acho que nunca amei a Yui.
- Não estou entendo.
- Quando você chegou, Riida – Sho explicou – ele tinha acabado de dizer que traiu a Uemura Yui. 
- Majide?! – Ohno olhou para Jun de olhos arregalos – E nunca contou nada? Quando foi isso?
Novamente, foi Sakurai Sho quem falou:
- Ele acha que traiu quando beijou a Karorine-san, se confessou para ela e tal.
- So desu ka? – Ohno piscou os olhos várias vezes, ainda encarando o mais novo, que olhava para baixo – Isso aí não é traição Jun, você já estava pronto para terminar tudo com a Yui, e ela meio que fez isso por conta própria quando foi viajar. Demo, nande? Por que esse papo de traição? O que o fato de a Yui ter voltado e ter trazido um amigo tem a ver com traição?
Jun ergueu a cabeça e olhou no relógio no painel do carro. Já estavam dez minutos trasados para a reunião, e o diretor artístico da tour com certeza ia reclamar para Johnny Kitagawa se eles se atrasassem muito mais. De qualquer forma, ele ainda não estava com cabeça para discutir sobre os shows de Fukuoka.
Não conseguia entender porque se sentiu tão mal ao ver Yui de mãos dadas com Ryuchi. Aquilo não era ciúme, não podia ser, pois ele já não gostava mais dela e agora, mais do que nunca, sabia absolutamente o que queria. Queria a Caroline, amava a Caroline. E mesmo assim, aquilo o incomodava. A visão de Ryu tão próximo de Yui não saía de sua cabeça. Além disso, a ideia de ter traído Yui com a Karoru-chan, ter ficado com ela antes de terminar o namoro, o deixava ainda mais confuso.
Como se tudo isso já não estivesse fundindo seu cérebro, tinha a volta iminente de Caroline para o Brasil no sábado à noite. Saber que depois de sábado, estariam novamente separados por quilômetros de distância, fazia seu coração fraquejar. Até então, ele não parara para pensar muito nisso, mas agora que Sho-chan tocara no assunto, a realidade atingiu sua mente e coração com tamanha força que, unido a tudo mais, ele sentia que poderia ter um colapso nervoso.
- Ano... minha cabeça dói. Que tal vocês dois subirem para a reunião poder começar logo? Daí você falam para o Watanabe-san...
- Não, Matsujun – o líder interrompeu – Até porque ainda faltam dois de nós. Vamos esperar o Nino e o Aiba chegarem e subiremos todos juntos. Agora me responde o que eu perguntei, porque eu definitivamente não consigo enxergar a lógica desse seu pensamento.
- Né? Eu tembém não vejo lógica nenhuma nisso – comentou Sho.
- Simples – respondeu Matsumoto Jun – Por que eu to aqui todo preocupado com a hipótese da Yui ter me traído durante todo esse tempo com o amigo de infância dela...
- Você está preocupado com isso, Matsujun? Nande? Você nem gosta mais dela, não é?
- Não sei, Oh-chan – Jun passou a mão pelos cabelos e suspirou – Não estou preocupado com o fato de que ela pode ter me traído nem fiquei com ciúmes, o que me irrita é se ela realmente me traiu enquanto namorávamos. Isso pra mim é uma atitude mesquinha, um ultraje.
-  Agora eu entendo, Matsujun – Ohno olhou para o mais novo com um sorriso no rosto – É sua cara isso. Orgulho ferido.
- Ahh! – Sho olhou como se tivesse enxergado a luz naquele instante – É mesmo, né? Jun-kun, é verdade, hahaha!
- Parem de rir vocês dois! Não é uma piada!
- Ah, Matsujun, não seja tão rabugento – pediu Ohno.
- De qualquer forma, não importa mais, porque eu acabei fazendo o mesmo que ela, não foi? Fiquei com a Karorine-san enquanto namorava a Yui, né?
- Yamete! – Ohno se colocou entre Jun e Sho e, encurvando-se um pouco, segurou nos dois ombros do caçula do Arashi – Matsujun, isso é um absurdo! Se é só esse o problema, esquece, cara! Termina logo com a Yui e deixe-a ficar com o amigo, se ela quiser. Você tem a Karorine-san! Agora, se você está com alguma dúvida com relação aos seus sentimentos em relação à Yui e à Karorine, é melhor então repensar.
Jun não respondeu tão rápido, ele somente ficou olhando com cara de bobo perdido no espaço para o Riida, que ainda segurava seus ombros e o encarava sério. Sho ficara em pé e se colocara atrás de Ohno, também encarando-o.
Ele até pensou em fingir pouco caso, fazer cara de bravo e dizer palavras ferinas para os dois. Era a melhor forma de se defender. Contudo, não conseguiu fazer isso. Só conseguiu baixar os olhos e deixar cair os ombros. Com voz baixa, sem muita firmeza, respondeu, depois de alguns minutos de silêncio:
- Eu... não sei o que dizer.
Nesse instante, o carro de Nino, com Aiba no banco do passageiro, passou por eles e estacionou na vaga ao lado de Sho. Já eram 11h15 e Watanabe-san, que não gostava de atrasos, deveria estar de cabelo em pé, esperando impaciente.
Os dois desceram do veículo e logo notaram os três reunidos ali entre os carros de Jun e Sho.
- Ei, vocês ainda estão aqui? – Nino perguntou, se aproximando.
- É. Estamos dando uns conselhos para esse cabeça-dura – Sho sorriu e deu um soquinho na cabeça de Jun.
- Ohayou minna! – Aiba chegou atrás de Nino – O que aconteceu? Por que estão aqui fora? Esqueceram-se da reunião?
- É algo com o Jun-pon. O que foi, Jun?
- Nandemonai Nino! – Jun fez menção de levantar-se e Ohno, que ainda segurava seus ombros, o largou e ficou ereto.
- Sem mentir, Jun-pon!
- Depois da reunião eu explico pra vocês dois então. A propósito, onde vocês estavam?
- Meu carro não quis pegar hoje e eu liguei pro Nino ir me buscar.
- Por que não chamou um táxi, Aiba-chan?
- Sabe o que é Sho-chan, ele quis economizar o dinheiro do táxi e me fez gastar a minha gasolina!
- Nino, não fale assim. Você podia ter dito que não queria me buscar. – Aiba olhou para os pés.
- É brincadeira! Hahaha! Eu fui buscar o Aiba – olhando para cada um – e passei no hotel para dar bom dia para a Deb.
- E por isso se atrasou, Kazu? – Ohno deu um tapinha carinhoso no braço do amigo e olhou-o complacente; depois, sorriu brincalhão.
- Bom, a ideia era dar só um beijo de bom dia, mas não consegui ficar só em um.
- Sei, hahaha.
- Ah, Jun, a Karorine te mandou um beijo e desejou bom trabalho.
- Uhm. – Jun pensou em acresentar algo, mas não soube o que podia expressar.
Nino notou a hesitação do amigo e já ia abrir a boa para perguntar algo, quando foi impedido por Sho.
- Já que já chegamos todos, vamos subir, senão o Watanabe-san come nosso fígado – disse, com um sorriso.
- Ou serve para o Johnny-san no almoço. – sugeriu Nino.
- Ai, minna! – Aiba fez uma careta – Como vocês estão estranhos hoje, credo.
Todos riram do comentário. Jun esqueceu por um momento as preocupações, pôs-se de pé e, depois de fechar a porta do carro, disse:
- Yosh! Ikimasho!

***

Caroline soubera por Jun que ele e os meninos estariam ocupados durante todo o dia, a partir das 11h da manhã, quando teriam a primeira reunião naquela sexta-feira. Ele perguntou se ela queria que ele fosse vê-la pela manhã, antes de ir para a JE, mas Carol queria ficar dormindo, e sabia que ele também, já que eram raras as manhãs em que o Arashi não era cheio de compromissos desde cedo. Então, antes de ir embora na noite anterior, ele chamou-a para jantarem juntos e que ligaria quando tivesse acabado o trabalho, provavelmente só depois das 7h da noite.
Quando Ninomiya Kazunari foi até elas pela manhã, antes da reunião, para ver Débora, ela mandou um cumprimento e um beijo a Jun por ele.
- Você não quer que eu o beije por você, quer, Karoru? – Nino perguntou, rindo, enquanto permanecia abraçado com Débora, já no saguão do hotel, pronto para ir embora.
Aiba Masaki, que fora até o hotel junto com Nino, e Débora, também riram. Carol apenas sorriu timidamente.
- Não, não! - ela fez um gesto negativo com as mãos – Basta dizer a ele que fui eu que mandei.
Agora, já no fim da tarde, ela estranhava que ele não respondera nenhuma de suas mensagens. Ligar ela não ligou, pois não queria atrapalhá-lo no trabalho, mas achou que ao menos uma ou duas mensagens Jun poderia responder.
Débora tinha ido comprar biscoito e refrigente na loja de conveniência perto do hotel e ela preferira ficar. Desde que mandara o primeiro sms logo depois do almoço e ele não respondeu, mesmo a celular acusando que a mensagem fora recebida, ela começou a ficar temerosa. Aos poucos foi ficando calada e distante, e mesmo com toda a falação da amiga sobre o casamento e seu pai que ligara aquela manhã e isso e aquilo, Caroline conseguia dar apenas respostas monosilábicas.
Sabia que era idiota de sua parte, mas ela ficou um pouco cismada com a ausência dele. Ela ia embora no da seguinte e por isso achava que os dois tinham que aproveitar o máximo um do outro, já que não sabiam quando voltariam a se ver.
Um namoro à distância sempre a assustou, mas esse namoro à distância a assustava ainda mais e queria poder conversar com o Jun sobre isso. Como eles fariam? Continuariam se correspondendo por cartas? Ou se falariam via internet? Ligariam um para o outro? Namorariam mesmo tão longe um do outro? E Yui? Será que ela ia mesmo desistir de Jun? Carol conseguiria lidar bem com a situação, sabendo que sua rival estava tão perto dele, enquanto ela estaria tão longe?
Essas perguntas invadiram sua mente e atormentaram-na o dia todo, e a falta de resposta de Jun aumentava ainda mais sua tensão. De todas as perguntas, a mais cruel era: “será que ele ainda gosta de mim, ou eu fui só um passatempo enquanto a namorada viajou?”
Ela tentava com todas as forças evitar pensar nisso, mas a cada movimento do ponteiro do relógio que indicava que a noite se aproximava, ela sentia essas mesmas forças indo embora.
Às 6h, quando o sol já estava quase indo embora, Débora chegou e a encontrou pensativa sentada na cama.
- O que foi, Carol?
- Nandemonai.
- Eu te conheço, o que houve? – caminhando até o frigobar para guardar as latinhas.
- Nada. Você está imaginando coisas.
- Não mesmo. – Débora se sentou ao seu lado – Há muito tempo que você não me engana. Qual o problema?
- Não dá pra esconder nada de você né, Dé?
- Não mesmo. – sorrindo.
- É por isso que você é minha melhor amiga! Você me conhece tão bem...
- Ok. Eu adoro ser a sua melhor amiga, Carol! Agora fala.
- É, não tem outro jeito – dando um sorriso torto – Eu estava pensando. Acho que sou mesmo uma idiota completa!
- Tá, por que isso agora? – Débora encostou-se à parede.
- Ele não deu sequer um sinal de vida hoje.
- Ah, é isso? Sim, você é idiota. Sabe por quê? Porque ele está vivo, bobinha – tocando o nariz da amiga com a ponta do dedo indicador – Todas as vezes que falei com o Kazu, ele me garantiu que o Jun está bem.
- Sim, quanto a isso não duvido. Só que...
- Só que...?
- Só que eu vou embora nesse sábado, já é amanhã! Ele não vai querer manter um namoro sério com alguém que mora em outro continente, do outro lado do mundo!
- Isso que te preocupa? Carol, o Jun ama você, a gente vê isso nos olhos dele. E, pelo que soubemos, com nosso conhecimento de fã, durante esses anos todos, e pelo que você soube pelas cartas (e eu também, consequentemente), ele não é volúvel desse jeito. Se disse que te ama, é porque é verdade, ele não ia mudar de ideia, mesmo a Yui tendo voltado.
- Ela voltou?
- Ops, falei demais... – Débora levou a mão à boca e deu três tapinhas – Desculpa Carol, era melhor ele ter dito, né? Sim, ela voltou, pelo que o Kazu me disse. Mas não se preocupe, é com você que ele quer ficar.
- Mas... somos de mundos tão diferentes...
- Não se importe com isso. Se é o Matsujun, com certeza ele vai dar um jeito. Vai unir esses dois mundos.
Quando Débora parou de falar e Caroline ia responder, seu celular tocou. Ela viu no visor que era o Jun.
- É ele! – sussurrou.
- Não disse? – Dé sussurrou de volta.
- Moshi-moshi.
- Ano Karoru-chan. Gomen ne, não poderemos jantar hoje. A Yui voltou e quer conversar.   
- Hontou? – instantaneamente, o semblante de Caroline se entristeceu e Débora pegou sua mão que não segurava o aparelho.
- Hontou ni gomen nasai! Ficou chateada?
- Iie. A gente se vê amanhã então.
- Sim, amanhã. Durma bem, oyasumi.
Ela olhou pela janela do quarto. Ainda não era completamente noite, o céu ainda tinha um tom crepuscular. Mas com isso, evidentemente, ele quis dizer que não ligaria mais aquele dia.
- Uhm. Oyasumi.
E ambos desligaram.
Carol largou o aparelho na mesinha de cabeceira e, já com os olhos marejados, abraçou a amiga.
- Ah, Dé, eu sou mesmo uma idiota, né?
Débora, sem saber o que dizer, nem o que acontecera, simplesmente retribuiu o abraço. Era claro que algo acontecera, mas no momento, mesmo que ela perguntasse, Carol não conseguiria responder.

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