E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 38


Jun sentiu-se completamente impotente ao saber que o avião já levantara vôo e Caroline fora realmente embora daquele jeito, como se eles nunca tivessem se conhecido.
Ele saiu da sala de embarque cabisbaixo. Ao passar pelo guarda na entrada, este o olhou de cima a baixo:
- Ei! O que o senhor está fazendo aí? Como conseguiu passar? Não te prenderam?
Ele simplesmente o ignorou e continuou caminhando calmamente. Sem levantar a cabeça, somente identificando as indicações pelo olhar periférico, foi até o toillet masculino. Entrou em uma das saletinhas e fechou a porta. Ficou ali por quase meia hora, sem derramar uma lágrima, somente se culpando, pois se tivesse conseguido chegar cinco minutos mais cedo, quem sabe teria conseguido falar com Carol antes de ela partir.  Pegou a corrente no bolso e fechou a mão em volta dela. Karoru-chan...
Despertou de seus devaneios quando o celular em seu bolso tocou alto e vibrou, fazendo escândalo e assustando-o.
- Jun-chan – Aiba disse assim que ele atendeu – onde você está? Conseguiu chegar ao aeroporto a tempo? Você precisa voltar logo, são mais de 5h30 já!
- Oi pra você também, Masaki. Estou indo.
E desligou o aparelho. Não estava a fim de muito papo e estava ficando realmente frustrado. Queria poder voltar logo para casa, mas tinha que trabalhar. Não quis ser mal educado nem nada assim, mas a cada minuto se sentia mais irritado e cada vez mais sem paciência.
Quinze minutos depois, já estava junto aos outros na JE.
- Jun-chan, eu não falei por mal. – Aiba se justificou, quando Jun entrou na sala.
- É, Matsujun, o Aiba não falou nada demais. Se você está bravo, não precisa descontar nele. – Ohno disse.
- Do que vocês estão falando?
- Você desligou na cara dele, Jun-kun – informou Sho.
- Ah, aquilo – Jun, parado no centro do camarim, pôs a mão espalmada na testa ao se lembrar de como fora seco ao desligar o telefone. – Gomen ne, Aiba-chan.
- Iie – Aiba fez um gesto de pouco caso com a mão – Não importa. Mais importante que isso: você conseguiu falar com a Karoru-chan antes de ela ir?
- Não cheguei a tempo.
Nisso, um assistente apareceu novamente na porta chamando-os para mais um compromisso. A história de Jun teria que esperar.

***

Quando chegou em casa aquela noite, Jun novamente sentiu a frustração e toda a dor contidas desde que voltara do aeroporto de mãos vazias, virem à tona novamente. Cresceu dentro de si, junto a toda tristeza, também alguma raiva e um sentimento de impotência por não ter podido fazer nada.
Sentia-se o homem mais infeliz do mundo, e não conseguia entender a lógica que Caroline vira ao deixá-lo de lado assim, sem nenhuma explicação convincente.
Mesmo com raiva, a lembrança do momento em que trocaram aquele doce beijo, menos de uma semana antes, não saía de sua cabeça, e ele sentiu novamente naquele dia os olhos se encherem d’água.
Escapava de sua compreensão humana como alguém podia ter arrebatado tão completamente seu coração assim, de uma hora pra outra, a ponto de fazê-lo terminar seu namoro de mais de ano. Amava Caroline de uma forma muito profunda, esse amor chegava a doer, e ainda sentia nas mãos a maciez da pele dela.
Contudo, as lembranças felizes dos poucos momentos bons que tiveram foram dando espaço para uma “reprise” do encontro que ele e Carol tiveram aquela manhã e da lágrima dela, tão quente, que caiu sobre seus dedos.
Lembrou-se então do coração que ela largara pra trás e da chave em seu pescoço. Sentiu a raiva crescer, por não tê-la impedido de ir daquele modo, por não tê-la feito enchergar e acreditar em seu amor por ela. Com os olhos vermelhos, as lágrimas sendo contidas a todo custo, ele colocou a mão no bolso, pegou o coração, tirou a corrente com a chave, jogou os dois com força no chão e foi para seu quarto. 

***

O avião pousou às 8h da manhã do dia 02 no Aeroporto Internacional de Guarulhos e o coração de Caroline deu uma fraquejada ao pisar novamente em solo brasileiro. Naquele momento, pareceu a ela que tudo o que vivera no Nihon fora um sonho. Um sonho bom, mas ruim ao mesmo tempo. Um sonho que ela queria esquecer.
Seus pais, junto de Marcela e Fábio, estavam-na esperando no saguão de desembarque. Quando Fábio a viu caminhando sozinha, arregalou os olhos e gritou quando Carol ainda estava se aproximando deles:
- Cadê a Dé?
Pela mesma cara de dúvida de Marcela, Caroline deduziu que ambos não ficaram sabendo do casamento até então. Ouviu dona Marta dizer aos dois:
- Ela ficou. Vai se casar com Nino... miya alguma coisa. Com é mesmo Carol? – perguntou elevando um pouco a voz e olhando em sua direção.
- Kazunari, mamãe. Ninomiya Kazunari. E espero que ninguém tenha te ouvido nem tenha alguma arashian por aqui.
- Não tem filha. Aqui o povo gosta de outro tipo de música.
- Mas, mesmo assim... há muitos fãs do Arashi espalhados no Brasil – Carol sorriu, soltando o carrinho com as malas (precisou comprar uma outra, menor, para trazer as bugigangas que ela comprara em Tóquio) e indo até a mãe, abraçando-a.
- Eu sei, eu sei – retribuindo o abraço. – Senti saudades, mocinha.
- Eu também. Papai! Venha cá pra eu abraçar o senhor e a mamãe juntos!
Depois que Caroline abraçou os pais e os dois amigos, Fábio disse:
- Agora você vai explicar. É brincadeira de mal gosto, não é? Não tem como a Débora casar com esse cara aí.
- É, Carol, conta isso direito – Marcela completou – Ela vai mesmo se casar? Ela ficou mesmo lá do outro lado do mundo?
Caroline se sentia grata por estar ali entre seus pais e amigos que nada sabiam de seu sofrimento e poderiam ajudá-la a esquecer. Não estava completamente feliz, mas sentia certo coforto e tranquilidade por poder estar de volta.
Sorriu e pôs-se a responder as dúvidas de Fábio e Marcela.

***

- Você tem que ir mesmo? – Yui perguntava para Ryuchi pela quarta ou quinta vez em menos de uma hora.
- Sim, você sabe, eu já expliquei – sorrindo para ela – Ficaria aqui com você, mas preciso voltar que amanhã cedo tenho que trabalhar. Tem certeza que não quer ir comigo?
- Eu também já expliquei para você – ela o abraçou, ambos sentados lado a lado no banco.
Eram quase 8h da noite no domingo e os dois estavam na estação. Ele ia pegar o último trem de volta para Chiba, mas ela choramingava o tempo todo pedindo que ele não fosse. Seu estado de espírito melhorara muito, mas Ryu temia que quando ela estivesse sozinha, sendo vizinha de Matsumoto Jun e por isso, sendo inevitável trombar com ele no prédio uma hora ou outra, tivesse uma recaída.
Doía ter que deixá-la depois de terem ficado anos separados. Por culpa dela, é verdade, que nunca mais fora à Chiba, mas ele também não estava isento de culpa, pois nunca se dera ao trabalho de ir atrás dela.
Eles viram o trem se aproximando e ficaram em pé.
Ryuchi e Yui trocaram um último abraço e ele ficou muito próximo de seus lábios, tendo que resistir à forte tentação de beijar-lhe a boca, já que não queria que o relacionamento deles fosse prejudicado.
- Você não vai esquecer de mim dessa vez, né? – Ryu disse, bagunçando os cabelos dela.
- Iie. E você também, não se esqueça de mim.
- Nunca! – beijando a testa dela pela última vez e entrando no trem.
Tomara mesmo, pensou, que você não se esqueça de mim. Para mim, é impossível te esquecer.

***

Débora já fizera o check-out e esperava Kazunari chegar, sentada no sofá onde ele se confessara a ela uma semana e meia antes. Suas duas malas estavam encostadas nos pés do sofá e ela folheava aleatoriamente uma revista, sem prestar atenção.
Desde o dia anterior, quando vira a amiga embarcar, pensou muito no Brasil. Sua terra natal, que ela deixara para trás em nome de um amor que, com certeza, para muitos era irracional. Se todas as arashians brasileiras sequer suspeitassem que Ninomiya Kazunari iria se casar com uma fã brasileira como elas, todo mundo por lá que ela conhecia corria o risco de ser assediado por todas aquelas ninetes alucinadas que Débora sabia que existiam.
Não pensou só nisso, mas sentia saudades dos pais, que só veria na época do casamento, e sentia falta também de Fábio e Marcela. Mesmo Fábio sendo apaixonado por ela, ele nunca interferiu em sua vida amorosa. Gostava de quando ela, Carol, Fábio e Marcela se juntavam para conversar ou saiam para se divertir juntos.
Mas não estava triste, nem se arrependia de ter ficado. Amava realmente o Kazu e ele a amava também, embora isso pudesse parecer impossível a menos de meio mês atrás. Estava indo para a casa dele e logo, se desse tudo certo, antes de janeiro de 2015 chegar ao fim, estariam casados.
A única coisa que a incomodava era que sua melhor amiga não estaria na união deles, e por um motivo tão idiota que Débora chegara mesmo a duvidar que era Carol quem o inventara mesmo, logo ela, uma mulher tão inteligente. Sabia que ela estava sofrendo quando deixou o Japão, e sabia também que além dela, Matsumoto Jun não encarara a situação tão bem. Segundo Nino, ele ficara bem deprimido, e mesmo tentando disfarçar, colocando um sorriso forçado nos lábios, eles percebiam que o amigo mais novo estava péssimo, dava para ver em seus olhos.
Seus pensamentos foram interrompidos por Kazu, que chegou sem alarde, disfarçado é claro (mas ela o reconheceria até mesmo no escuro). Ele sentou-se a seu lado e pousou um beijo leve em seua bochecha. Ficou em pé em seguida, pegando as malas na mão. Sorrindo, disse:
- Deb linda, ikimacho ka?
- Hai! – ficando em pé e acompanhando-o.
 
***

Matsumoto-san já saíra para o trabalho e Haruno Mika estava varrendo o apartamento para depois tirar pó dos móveis e passar pano em tudo. Depois, tinha alguma louça na pia para lavar e deixaria um bolo pronto para quando ele voltasse.
Era assim toda segunda-feira. Ela sempre fazia um agrado para Matsumoto-san.
Como seu patrão nunca vinha almoçar em casa, eles mal se viam, já que Mika chegava 8h30 da manhã e ia embora por volta das 5h da tarde. Então, ela preparava somente alguma refeição simples para si, comia algum prato pronto e voltava ao serviço rapidamente, pois o quanto antes acabasse, melhor, pois tinha que buscar o filho na creche.
Ela trabalhava para ele três dias por semana como emprega doméstica desde que ele se mudara para aquele apartamento. Antes, era sua irmã que cuidava da casa do Matsumoto-san, mas desde que ela se mudara, Hiromi não pudera mais fazer os serviços, pois o prédio era muito longe para ela, mas Mika morava ali perto com seu marido e filho e ganhou a vaga.
Enquanto varria atrás do rack, alguma coisa se prendeu na vassoura e fazia barulho ao ser arrastado no chão. Ela espiou atrás do móvel e viu o brilho das correntes e dos pingentes, os puxando com o cabo da vassoura.
Aquilo devia pertencer a Matsumoto-san, mas ela não sabia o que aquelas duas correntes que, pelo jeito se encaixavam perfeitamente, estavam fazendo jogadas ali. Não devia estar ali há muito tempo, pois ela varrera na sexta-feira e não estavam ali então, nem estavam muito sujas.
Deu uma polida nos pingentes de chave e coração com uma flanela e deixou-as em cima da cômoda do patrão, com um pequeno bilhete escrito: “Senhor, encontrei isso aqui jogado atrás do rack e recolhi. Haruno Mika”.

***

Jun encontrou o bilhete em sua cômoda quando voltou para casa às 10h da noite, depois de um dia cheio de trabalho e um jantar com os amigos.
No sábado, chorara bastante fechado no quarto, mas quando, algumas horas depois, resolveu tomar banho, decidiu evitar ao máximo pensar em Caroline. Afinal, fora ela quem não o quisera. A única conclusão a que chegou foi que ela não o amava verdadeiramente e o que dissera era uma mentira. Ele não ia ficar chorando pelos cantos por isso.
Lembrou-se que tinha jogado longe os pingentes ao chegar em casa. Pensou em juntá-los e dar um fim neles, quem sabe a cesta de lixo fosse o mais indicado. Mas, ao correr os olhos pela sala e avistar o brilho do coração que vinha de trás do rack, soube que não conseguiria jogá-los fora. Então, simplesmente deixou lá e tentou, com todas as forças, esquecer Caroline.
Contudo, ele se esqueceu de Haruno-san ao pretender deixar as correntes com os pingentes jogados por ali. Com certeza, ela iria encontrar quando estivesse limpando. E de fato encontrara, deixando ambas em cima de sua cômoda.
Quando olhou para a chave, que por acaso estava em posição de ser encaixada na fechadura do coração, sentiu um aperto no peito e novamente a imagem de Carol chorando e daquela lágrima quente veio com força, fazendo-o se desequilibrar e tendo que se apoiar no móvel.
Com alguma ferocidade, não por raiva, mas por querer evitar essas lembranças dolorosas, Jun pegou as duas correntes e jogou de qualquer jeito na primeira gaveta.

***

Fazia quase um mês que Caroline saíra do Japão e as provas finais do penúltimo ano de faculdade já haviam começado. As aulas terminariam dentro de apenas algumas semanas e as ruas e lojas na cidade já estavam todas enfeitadas para o Natal que se aproximava.
Ela fazia contagem regressiva para que as férias chegassem logo, pois estava esgotada. Perto do fim do ano, não importa onde você trabalhasse, o trabalho sempre dobrava. Além disso, tinha os trabalhos finais, precisava estudar para as provas e ainda ajudava a mãe no serviço doméstico. Não tinha tempo nem de respirar, mais de uma vez ligou um dia no outro, pois teve que passar toda a madrugada estudando, sendo este o único tempo que lhe restara.
Mas, em toda essa correria, existia uma vantagem. Não sobrava tempo para ela ficar pensando em Matsumoto Jun. É claro que volta e meia, quando ela estava preenchendo algum documento no computador, ou resolvendo algum exercício da faculdade, ou debruçada sobre os livros, a imagem dele surgia em sua mente, e junto dela vinha uma pontada de dor. Contudo, ela logo afastava a lembrança.
Não contara para ninguém o que acontecera no Japão, e sempre que alguém perguntava demais, ela desviava o assunto, dando respostas neutras.
- Ah, o Matsujun? – ela disse, som um sorriso meio superficial, quando Marcela a interrogou sobre como era o “cara das cartas” pessoalmente – Ele é muito lindo, e muito legal também, gente boa de verdade, como os outros do Arashi.
Quando questionada por que só tirara foto “com aquele”, e não com o Jun Matsumoto, ela disse:
- Essa foto eu tirei num dia que eu fui almoçar fora, pois a Dé saíra com o noivo, e encontrei o Sakurai Sho por acaso. Daí pedi e ele aceitou tirar essa foto, mas em geral eles não tiram fotos com fãs.
Tocava a vida e fazia de tudo para que Jun não fizesse mais parte dela nem em seus pensamentos nem em suas memórias. Sempre que ele vinha a sua mente, ela o afastava imediatamente. Entretanto, ninguém tem total controle sobre a mente e à noite, enquanto Carol dormia, ele invadia seus sonhos e muitas vezes ela acordou aos prantos.

***

- E a Karoru-chan? – perguntou Ohno Satoshi um dia, já no início de dezembro.
Ele andara observando o mais novo desde que Caroline fora embora e pôde notar que Jun mudara muito. Quase nunca falava, não externava opinião, simplesmente concordava com o que os outros diziam, não saía muito com eles e ficava bastante tempo fechado em seu apartamento, sempre que tinham alguma folga no tempo apertado.
Ninomiya Kazunari também não saía muito com eles ultimamente, devido a seu casamento que se aproximava. Nas horas vagas, estava sempre com a noiva cuidando dos preparativos. Até onde Ohno sabia, ele ainda não conversara com o pai dele, embora tenha prometidoa Débora-san que o faria. Mais de uma vez ele aconselhara: “Nino, fale logo com seu pai!”. A data que tinham marcado era no final de janeiro, dia 24, véspera do aniversário do Sakurai.  
A turnê dos 15 anos chegara ao fim, os shows em Fukuoka foram um sucesso, como sempre. Contudo, até mesmo os fãs notaram que o mais novo do grupo não estava sendo tão espontâneo ao cantar, dançar, rir e brincar. 
- Oi? – Jun olhou para o líder do Arashi com cara de quem realmente não ouvira nada.
Ambos estavam no apartamento de Jun, Ohno fora até lá para tentar arrancar algo do outro, já que ele não saía da toca. Estavam sentados no sofá da sala, ambos com um copo de chá na mão.
- Você nunca mais falou com ela, mesmo?
- Ela quem Oh-chan?
- A Karorine-san. Jun, presta um pouco de atenção quando eu to falando com você, poxa vida!
- Gomen – soltando o copo já vazio sobre a mesinha de vidro e passando a mão nos cabelos – Não, nunca mais falei com ela.
- E os... colares? A chave que ela te deu e o coração?
- Ah, estão guardados em algum lugar!
- Você não sabe onde estão?
- Não.
Na verdade, ela sabia muito bem. Estava decidido a esquecê-la, então escondera os pingentes na caixa de cartas no fundo da gaveta, mas não conseguira se desfazer de nada e nem obtivera sucesso no intuito de apagar Karoru-chan de sua memória. Mesmo tentando deixar o amor que sentia por ela de lado, tudo o que conseguia era vê-lo crescer dia a dia dentro do peito.
- Jun, não minta pra mim. Eu te conheço cara. Você mudou muito desde que ela foi embora.
- Mudei? Mudei como?
- Mudou, Matsujun! Só você que não notou. Saiu até nos jornais depois de Fukuoka, não lembra? “E em alguns momentos do show, principalmente no MC e no seu solo, Matsumoto Jun, o integrante mais novo do famoso grupo Arashi, parecia um robô.” – fazendo gesto de aspas com as mãos.
- Eu, um robô?! Não fiquei sabendo de nada disso.
Ficaram em silêncio por alguns minutos. Jun pensava em como podia ter mudado tanto assim como o Riida dizia e não ter sequer notado.
- Sinceramente, eu não sei nem o que nem por que eu mudei, Oh-chan.
- Eu sei. Por causa da Karoru-chan. Cadê sua garra toda, sua força de vontade, sua determinação, Jun? Ou você está pensando em voltar com a Yui? Afinal vocês estão separados já há um mês.
- Não, nunca! Eu não amo mais a Yui!
- E quem você ama então? – Ohno lançou, tentando fazê-lo refletir um pouco.
Jun respondeu logo, não pensou muito no que diria.
- Eu amo a Ka... quer dizer... eu... ano... não amo ninguém.
- Ahhhh, tá! Conta outra, Matsujun! Hahaha – Ohno ria com a cabeça jogada para trás no sofá.
Jun não retrucou. Ele quase dissera que amava a Karoru-chan. Ainda. Seria então a primeira vez, desde que decidira esquecê-la, que admitiria isso em voz alto para alguém. E agora, quase dera com a língua nos dentes. Mas é claro que Oh-chan entendera o que ele não disse. Ou melhor, o que ele quase disse.
Depois de um tempo, ele parou de rir, suspirou e disse:
- Jun-chan, veja bem, você ainda ama sim a Karoru-chan. Não tente negar.   
Ele não respondeu.
- Quem cala consente. De qualquer jeito, sua cara fala por você.
Jun ficara vermelho, não pôde evitar, ao ser descoberto, não por estar envergonhado, mas se sentiu como uma criança que tentou esconder alguma travessura dos pais, porém tudo nela, até o jeito como falava e agia acusavam-na. Ao mesmo tempo sentiu o coração apertar e os olhos ficaram tristes. Não soube o que dizer, somente ficou encarando os pés.
- Eu tenho uma ideia!
- Uhm. – Jun resmungou.
- Por que você não tenta enviar uma carta para ela outra vez?
- Ela me disse, antes de ir embora, que não escreveria mais. Então, mesmo que eu mande, ela não vai responder.
- Não custa tentar.
- Pode ser. Ano... Oh-chan...
- Hai?
- Não to querendo te expulsar nem nada disso, mas eu preciso ficar sozinho.
- Matsumoto Jun, o que você mais tem feito nessa vida é ficar sozinho!
- Errr... é que... eu preciso pensar.
- Pensar no quê?
- Processar... uhm... que eu, ano...
- Processar que você ainda ama a Karorine-san?
- Uhm... hai. – Jun sussurrou.
Ohno riu do amigo e deu um tapinha carinhoso em seu ombro.
- Daijoubu. Eu vou pra casa. Pensa com carinho no que eu disse. Comece a reparar, Matsujun, você mudou mesmo.
Ambos ficaram em pé e se dirigiram à porta.
Jun mal conseguiu dormir naquela noite fria pensando no que o Riida dissera, sobre escrever novamente. Não queria ter que ser ele a dar o braço a torcer, afinal não fora ele quem abandonara, mas talvez, fosse o único jeito de voltar ao normal.
Depois de muito refletir, chegou à conclusão que realmente mudara. Estivera distraído, calado, fora do planeta terra. Normalmente, ele era ligado em tudo que aparecia em algum jornal sobre o Arashi, mas aquela notícia sobre o show em Fukuoka lhe passara despercebida. Sem contar que ele sequer se dera conta que nunca mais cruzou com Yui no prédio.
Foi falar com o síndico e este disse que ela deixara o apartamente no dia 03 de novembro, já há um mês, mas ele nem se dera conta disso. De certa forma, se sentiu culpado. Perguntou onde ela estava morando. Isso o síndico não soube dizer.
Depois de ter dado apenas alguns cochilos a noite toda, quando o sol iluminou o quarto (se esquecera de fechar as persianas), ele tinha decidido o que fazer. Usaria por base a ideia de Oh-chan de escrever novamente uma carta, mas aperfeiçoaria essa ideia.

***

No dia 19 de dezembro de 2014 chegou pelo correio o convite de casamento destinado à família Ferraz. Isso incluía a Caroline e os pais desta. Olhando para o convite, sentiu uma vontade tremenda de ir ao Nihon, aonde sua melhor amiga iria se casar.
Fábio, Marcela, os pais e avós de Débora já tinham recebido os convites. Caroline não achara que iria receber um também.
Junto com os convites, tinha uma carta de Débora. Nela, Dé dizia que estava com saudades e tinha esperança que Carol deixasse a idiotice de lado e fosse ao casamento. Mandava lembranças de Nino, algumas fotos e presentinhos, mas sequer tocou no nome de Jun e Carol ficou muito grata por isso.
Respondeu a carta com carinho e nela, reafirmou que não iria ao casório. Seus pais não entenderam os motivos dela, que mais pareceram desculpas esfarrapadas, mas não questionaram muito, especialmente por ela ter sido tão enfática em sua negativa.
Os dias foram passando. Caroline estava atolada de trabalho, pois depois do natal o escritório fecharia por duas semanas em férias coletivas.
Passaram as festividades de Natal e Ano Novo e 2015 chegou como todo ano novo chega, cheio de promessas e expectativa. E no dia 04 de janeiro, Carol recebeu outra encomenda pelo correio. Achou que fosse novamente de Débora, já que não tinha remetente, somente o endereço do Japão, numa embalagem do tamanho de uma caixa de sapato.
Abriu calmamente, dando leves sacudidelas para tentar descobrir o que Dé podia ter mandado, mas não teve sucesso e o jeito foi olhar. E quando viu, arregalou os olhos. Dentro da caixa, veio um coração de palúcia com mãos, pés e rosto, segurando uma plaquinha escrito 愛してるよ (aishiteru yo). Além disso, viu um CD e um envelope. Pegou o envelope e sentiu certo peso nele. Virou o conteúdo na mão e, para sua surpesa, o que surgiu foi o mesmo pingente de chave que mandara para Jun Matsumoto tantos anos antes.

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