E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 40


Os dois ficaram sentados lado a lado, Jun com o braço em volta dos ombros de Caroline e ela com a cabeça deitada em seu peito. Depois de uns cinco minutos assim, ele ficou em pé.
- Yosh!! – pegando pelas alças a mala dela que estava escorada próxima aos assentos. – Vamos então?
- Para onde o senhor quer ir? – Carol sorriu, também se pondo em pé.
- Bom, quando você ligou, eu estava chegando em casa, mas podemos ir jantar. Imagino que você esteja com fome.
- Na verdade eu estou, com fome e sono. Não consegui descansar muito bem durante o voo.
Ele segurou a mão dela com a mão livre e seguiram por entre os passantes no aeroporto. Quando saíram, lá fora estava ventando forte e Carol sem encolheu toda.
- Uhm, tá frio aqui.
- Hai.
- E pensar que eu deixei pra trás um verãozão... – ela sorriu, olhando para ele. – Por você, né?
- Que bom! – ele retribuiu o sorriso e a abraçou. – Mas duvido que foi só por mim. Afinal, o casamento tá chegando, né?
- Foi você quem me convenceu a vir. – deram-se novamente as mãos e continuaram a caminhar até o carro – Mas é verdade, né? O casamento tá super perto, será nesse sábado já. Véspera do aniversário do Sakurai Sho.
- Hai. Vamos aproveitar a festa do casamento para comemorar. Festa em dose dupla! Hahaha.

***

Na manhã seguinte, Débora esperou dar 10h30 para ligar para a amiga. Carol atendeu com voz de sono, como quem acabara de acordar.
- ACORDAAA!!! O SOL JÁ TÁ BRILHANDO ALTO NO CÉU!!!
- Oi Débora Fonseca. Bom dia pra você também. – Carol, que reconheceu a voz da outra, sussurrou, ainda de olhos meio fechados.
- OHAYOU, CAROL-CHAN!!!
- Não precisa gritar, eu não sou surda!
- Tá bom, tá bom sua chata. Menina, que saudades!
- Também senti saudades.
- Uhm. Você está no mesmo hotel que nós ficamos daquela vez? Eu vou aí almoçar com você.
- E o Kazu-chan?
- Ele ta trabalhando. O Kitagawa disse que, como terá que dar folga pra ele de uma semana... UMA SEMANA, OUVIU BEM?  
- Não grita, eu ouvi. O que tem isso?
- O que tem isso que terei só UMA SEMANA de lua-de-mel, só isso. O Kazu disse que já é muito, ele achou que o chefão não ia dar nem isso. Enfim... como ele terá uma semana de folga, não pode relaxar até sábado, né? Acredita nisso? Nem dá tempo de fazer uma viagem decente...
- Dé, não reclama, quem mandou querer casar com um superstar como o Nino? Agora tem que aguentar, hahahaha.
- Você ri porque não é com você... deixa chegar a hora de você e o Matsujun casarem.
- Quem disse que nós vamos nos casar?
- Ninguém precisa dizer – Débora revirou os olhos, deitada na cama de Kazunari olhando para o teto – É claro como o dia, Carol, que isso vai acontecer.
- Dé, é meu último ano de faculdade.
- Eu sei. De qualquer forma, levanta logo dessa cama que eu chego aí às 11h30! E daí você vai me contar direitinho como foi desde ontem, quando você chegou!
- Não aconteceu nada, por que teria acontecido?
- Tá, não aconteceu nada, ahan. Você e o Matsujun... ele foi te buscar no aeroporto, te levou aí no hotel e só??
- Hahaha! Dé, você não muda! Não aconteceu nada demais.
- Mesmo assim eu quero saber. Já, já eu chego aí e a gente conversa.

***

Quando Débora chegou ao hotel, Caroline tinha acabado de voltar para o quarto, fora tomar café-da-manhã. Dessa vez, ela estava hospedada no segundo andar. O quarto ainda não tinha sido arrumado e Carol planejava sair para almoçar fora com a amiga e deixa-lo livre para que a camareira pudesse vir. 
Chegando ao quarto, Dé nem sequer tocou a campainha e foi logo entrando, pois Carol deixara a porta destrancada. Correu até a outra, com os braços abertos, quase sufocando-a e gritando:
- EU SABIA QUE O MATSUJUN NÃO IA ME DEIXAR NA MÃO! SABIA QUE ELE IA TRAZER MINHA AMIGA DE VOLTA!!!
- Hahaha! – rindo da amiga e abraçando-a também. – Você não muda mesmo, Débora sua maluca que eu amo! Senti saudades.
- Eu também! Verdade verdadeira. Mas me conta – sentando-se na cama de casal – como foi ontem?
Caroline sentou-se ao lado dela e balançou a cabeça, com um sorriso nos lábios e um tom de reprovação falsa, disse:
- Nada, já disse. Dé, quando você vai entender?
- QUANDO VOCÊ TIVER ALGO PRA CONTAR, BAAAKA!!!
- Shhhh! – colocando a mão sobre a boca de Débora, que voltara a gritar – Isso aqui é um hotel, lembra?
- E daí? – Dé respondeu sob a mão de Carol, a voz saindo abafada – Que eu saiba, ninguém está dormindo a essa hora. – Carol tirou a mão da boca dela e ela voltou a falar normalmente, dessa vez sem gritar – Não são mais férias aqui no Nihon, e estamos no meio da semana! Agora me conta tudinho, desde que você chegou ao aeroporto ontem!
Caroline, sendo vencida pelos argumentos da amiga, cedeu e, deitando-se para trás na cama, começou a falar.
Realmente, nada de tão extraordinário acontecera depois que ela e Jun saíram do aeroporto no dia anterior. Foram jantar no delicioso restaurante de frutos do mar da outra vez, ao som de instrumentos ao vivo, um violino e um piano, que Jun informara que começaram a tocar lá no Natal.
Depois da refeição, foram ao apartamento de Jun e ficaram abraçadinhos embaixo de um cobertor vendo um belo filme de romance. E depois, quando ela já dormia no colo dele, Jun gentilmente a acordou para irem ao hotel. Claro que não sem antes perguntar se ela não queria ficar ali com ele.
- Querer eu queria – disse para Dé – Mas eu simplesmente não me aguentava mais, estava exausta depois de 23h de voo, sem contar as duas horas que fiquei plantada no aeroporto de Frankfurt. Então, infelizmente, eu tive que recusar. Além disso, eu sabia que ele tinha que trabalhar cedo hoje.
- E daí? – Débora deu um tapa no braço da amiga, que estava deitada – Você é mesmo uma boba, ok? “Tadinho, ele tem que trabalhar”. – fazendo trejeito com uma voz afetada e revirando os olhos.
- Itai! Dé, isso dói!
- É pra você parar de ser idiota. Mas agora – deitando-se ao lado de Carol na cama – Conte-me as novas do Brasil.

***

Matsumoto Jun disse que iria ao hotel assim que saísse da JE e chamou os meninos para irem junto, para verem Caroline. Todos toparam e, cada um em seu carro, chegaram lá em quinze minutos. Encontraram Carol, e Débora (que ainda estava lá, às 8h da noite), sentadas no sofá do hall, conversando. Como tinha algumas pessoas a mais por lá, os cinco encapuzaram as cabeças, colocaram óculos e desceram um por um dos veículos, não querendo chegar todos juntos para não chamar a atenção.
- Opa, você aqui! Kazu... – Débora já ficava em pé.
- Shhhh, Deb! – se aproximando dela e tocando sua mão – Você precisa aprender comigo a ser mais discreta.
- Hahaha! – Carol riu, e todos notaram que ela estava um pouco mais solta que da outra vez que estivera ali. – Isso mesmo, Nino!
Ela estava mais solta sim, mas não tão mais solta e não conseguiu se aproximar de Ninomiya Kazunari e cumprimentá-lo do jeito brasileiro, naturalmente colando uma bochecha na outra. Então, quem se aproximou dela foi ele:
- Ae, Karoru! – abraçando-lhe – Genki desu ka? Hisashiburi!
- Err... – abraçando o outro meio sem jeito – Genki, genki.
- Não, você não mudou! – ele riu e todos, inclusive Débora e Jun, riram com ele, fazendo com que Carol ficasse vermelha como um pimentão.

***

A família de Débora, pais e avós, chegaram na sexta-feira ao meio dia e ela foi buscá-los com Nino no aeroporto. Fábio e Marcela estavam lá também. Débora, com seu jeito espalhafatoso de ser, correu ao encontro deles, gritando e fazendo com que todos os olhares no aeroporto se voltassem para ela, deixando o noivo pra trás, assim que os viu sentados próximo ao portão de desembarque.
Abraçou e beijou no rosto um por um, primeiro os pais, avós, e por fim os dois amigos. Nino, que se aproximara bem no instante em que ela estava junto de Fábio, não gostou nenhum pouco da proximidade deles. Chamou a atenção para si.
- Cahan, cahan – pousando a mão no ombro de Débora.
- Ahhh, minna-san! Este...
- Calma, Dé. – falou um homem de cabelos brancos, que Nino achou que fosse avô dela – O que é “mina”? Onde tem uma mina por aqui?
- Não, vovô, não é uma mina, hahaha. Bom, de qualquer forma, este aqui é o meu noivo.
- Ninomiya Kazunari desu. Hajimemashite. – curvando-se - Ano... -  olhou meio apavorado para Débora – Como eu vou fazer para falar com eles? Não sei porutugarugo.
- Não se preocupe, eu serei a intérprete. – sorrindo – Pessoal, ele disse que se chama Ninomiya Kazunari, mas como no Brasil usamos primeiro o nome e depois o sobrenome, pra gente fica Kazunari Ninomiya, mas podem chamá-lo simplesmente de Nino.
Seguiram-se as apresentações e, quando chegou a vez de Fábio, Nino olhou para ele com um meio sorriso nos lábios e olhar de quem diz “ela é minha!” e passou o braço possessivamente sobre os ombros de Dé. Fábio somente sorriu e curvou levemente a cabeça.
Todos iam ficar no mesmo hotel onde Caroline estava hospedada. Kazunari se prontificou a guiá-los até lá, onde deixaria Débora com eles, pois tinha que voltar logo para o trabalho.
Os pais dela seguiram no carro com eles, junto à avó materna de Débora, que era viúva. Os outros pegaram um táxi, uma minivan para caber os cinco, mais as bagagens para quatro dias e três noites e o motorista. 
Assim que Nino sentou-se no banco do motorista com Débora a seu lado, ele segurou na mão dela gentilmente e sussurrou:
- Você é minha, está bem? Não vou te dividir.
- Nem eu quero ser dividida, pois sou toda sua e sempre serei seu bobo! Ele é só um amigo.
Ela sorriu e beijou-lhe o rosto. Sua mãe, do banco de trás, que não entendia nada do que falavam, sorriu ao ver como ele a olhava e como ela o beijava com carinho. Disse para o marido:
- O amor é lindo, né?
Dé, que ouvira o comentário da mãe, olhou para trás e, com um imenso sorriso no rosto, disse:
- Sim, é!

***

Como em todo o casamento, tanto Débora quanto Nino tiveram sua "despedida de solteiro". A moça foi jantar com a família e, depois seguiu com as duas amigas para um clube noturno onde beberiam um pouco e se divertiriam.
Nino também foi arrastado por Sho, Jun, Aiba e Ohno para um pub. Eles haviam contratado o grupo de meninas coreanas da banda KARA que fizeram a performance de "Mister", a mesma música que Jun dançou no Arashi ni Shiyagare anos atrás.
Depois de rirem e beberem um pouco, Nino voltou para casa e deitou-se na cama sem trocar de roupa. Não parava de pensar em seu casamento; olhou para o lado, pegou o celular e discou para Débora.
Assim que Débora sentiu o celular vibrar, começou a rir descontroladamente falando para as amigas "Meu Nininho ligando!".
Atendeu.
- Oi Amor!
- Deb? Você tá onde?
- Ah, saí com as meninas. Daqui a pouco vou embora.
- Hum, so ka. Descanse bem! Quero vê-la bem linda amanhã!
- Pode deixar.
- E Deb...
- Hum?
- Te amo.
- Ah, eu também.
- Te amo de verdade!
- Ounw.
- Oyasumi.
- Oyasumi bebê.
Nino desligou o telefone e dormiu imediatamente. Depois de dez minutos, Débora, Carol e Marcela foram embora, pois ela tinha que dormir cedo e se preparar para o grande dia.

***

Finalmente chegou o dia que todos esperavam: 24 de janeiro de 2015, dia da união conjugal de Débora Fonseca e Kazunari Ninomiya.
Débora acordou cedo. Estava um pouco cansada, mas logo foi animada por Carol e Marcela. Como presente de noiva, as duas dariam e ela um dia de beleza que seria feito no hotel. Seria no quarto dos pais de Débora e uma equipe iria cuidar da noiva.
- Estou nervosa, Carol!
-Não fique! Vai dar tudo certo.
Marcela havia lhe trazido um suco de frutas, torradas e queijo light para que Débora comesse um pouco. A comida teria que ser leve, afinal o nervosismo era tamanho que qualquer comida esquisita ou pesada a faria ter dor de barriga.
Nino foi acordado por Jun. Limpou um pouco a baba que escorria, coçou os olhos e atendeu ainda de olhos fechados.
- Acorda dorminhoco!
- Nande, Jun-pon?
- Vamos tomar café juntos!
- Ima nanji desu ka?
- Quase 10h.
- Êeee?
- O que foi?
- Preciso ver a Deb!
- Pra quê?
- Quero ver se ela precisa de algo e...
- Calma Nino! Acabei de falar com a Karoru, elas vão ter um dia de garotas hoje e disse para eu nem passar perto de lá onde elas estão!
- E onde elas estão?
- Ela não quis me dizer, pois Deb sabia que você iria me perguntar e parece que dá azar o noivo ver a noiva antes do casamento!
-Tem isso é?
- Hum, parece né? Bem, iku?
- Dez minutos?
- Contados no relógio!
- Contagem à la Jun-pon ou Sho-chan?
- Já perdeu dois minutos no meu!
- Hai, hai! Já tô indo!

***

O dia passou rápido. E já era quase noite. Débora ainda continuava nervosa. Com "bóbis" nos cabelos, maquiagem e unhas feitas e usando um roupão do hotel, não parava de andar de um lado para o outro.
- Caramba! Elas estão demorando muito!
Carol e Marcela haviam saído no início da tarde e ainda não haviam voltado. Tinham ido ver se compravam um vestido de festa para Carol usar
- Você achava o quê? – perguntou Marcela, enquanto seguia a amiga pelas ruas. - Que ia nua ao casamento?
- Na verdade, acho que não pensei nada.
- Na verdade mesmo, acho que eu sei em quem você pensou, hahaha.
Carol riu junto com Marcela. Sabia que a suposição da amiga era real. Claro que estava ali também por causa de Débora e Nino, mas a razão principal fora outra pessoa. No Brasil, a única que ficara sabendo do seu caso com Matsumoto Jun fora Marcela, para quem ela contara tudo depois de receber o presente de Natal pelo correio.
Assim que encontaram algo, seguiram para o hotel onde Débora estava.
- Que demora meninas! - indo ao encontro das duas assim que a porta se abriu.
- Calma Dé! Já chegamos. - deixando as sacolas em cima de uma poltrona no quarto.
- Quem manda a Carol decidir de última hora? Hahahaha. – Marcela comentou.
Débora não estava acostumada, mas a mãe de Nino queria que ela usasse primeiro os trajes orientais e depois poderia trocar pelo vestido de noiva tradicional.
A roupa era um pouco pesada e cheia de panos. A cor? Amarela, óbvio, com detalhes em vermelho, azul, verde e roxo.
Uma faixa branca, chamada obi, foi colocada ao redor e fazia um laço atrás como as roupas de festa em Matsuris ou usadas pelas Maikos, as gueixas. Uma meia branca e um par de gueta com alça branca (sandália japonesa). Os cabelos foram presos em um coque e uma flor com penduricalhos posta nos cabelos finalizou o visual.
A mãe de Nino havia ido ajudá-la a se vestir e, assim que terminou, Carol e Marcela ficaram boquiabertas.
- Você está linda! – disseram elas.
- Tem razão meninas! Hontou ni kirei ne! – Débora concordou, sorrindo feliz.
- Ah, minha filhinha está tão linda! – disse sua mãe.
A mãe de Nino se despediu de todos, desejou boa sorte e foi para casa se arrumar e ajudar o filho.
Carol e Marcela trataram logo de ir tomar banho e se arrumar. Afinal, já estava quase no horário do casamento.
Marcela usava um vestido preto, com detalhes em prata, que comprara para a formatura de uma prima uma semana antes. Ela não quis gastar dinheiro outra vez, sendo que aquele vestido ela só usara no baile de formatura e, de tão elegante, provavelmente ficaria mofando no guarda-roupa, já que ela não ia a festas com freqência nem usava muito aquele tipo de roupa. Era um vestido de verão, já que em São Paulo a temperatura chegava aos 32° graus, mas ela comprou um poncho preto em suas andanças com Carol naquela tarde, que ficava muito bem com o traje dela.
Já Carol estava de roxo, pois sabia que era a cor favorita de Jun, e comprara um modelo de inverno, pois se tinha algo que detestava, era passar frio.
Jun ficou de encontrá-la no hotel às 7h e seguirem direto para o local da cerimônia. Ela estava um pouco nervosa, pois nunca estivera com ele em público. Não sabia direito como as pessoas reagiriam. Evidentemente Johnny Kitagawa estaria presente também, e ela tinha medo do que ele podia fazer. Agora que assumira outra vez seus sentimentos por Matsumoto, não conseguia conceber a ideia de que eles tivessem que se separar de novo.
É lógico que no dia seguinte ela teria que voltar ao Brasil, e já conversara sobre isso com Jun, pois suas aulas voltariam na outra semana e, além disso, voltaria a trabalhar já no meio daquela mesma semana.
Entretanto, ela sabia então que o laço que os unia era forte e, mesmo se tivessem que ficar algum tempo longe um do outro, o amor resistiria. Agora, o medo de Carol era se Johnny Kitagawa criasse uma barreira, apesar de Jun ter afirmado mais de uma vez a ela, nesses dias desde que ela chegara ao Japão, que nada nem ninguém poderia separá-los – e isso incluía o BIG BOSS, é claro.
Marcela iria com Fábio, para fazer companhia a este. Ele estava triste pelo casamento da pessoa de quem gostava, mas ao mesmo tempo, se sentia aliviado, pois durante o tempo em que ela estivera no Brasil e não quis saber dele, ele sofrera por isso, mas agora que ela casaria e ficaria pra sempre ali do outro lado do globo, talvez fosse mais fácil deixá-la de lado e partir pra outra. Então, quando foi buscar Marcela, que esperava no hall, juntamente com Carol, observou-a ainda melhor e tentou notar nela a beleza que sempre fora ofuscada por Débora.
Quando o relógio marcou 7h em ponto, Matsumoto Jun parou em frente ao hotel. Em vez de descer do carro (afinal, ele estava elegantemente vestido e não havia como ficar se disfarçando e ocultando sua presença), foi Caroline quem foi ao encontro dele, tendo a porta do carro sendo aberta pelo chofer do hotel.
Seu coração quase parou quando o viu. Realmente, ele conseguia surpreendê-la mais a cada dia, sua beleza era infinita. Com um smoking preto, camisa branca, gravata borboleta e com os cabelos penteados para trás (os sapatos estavam escondidos no chão do carro), ele estava tão lindo que Caroline prendeu a respiração por um instante, para não ficar tonta, e deu um imenso suspiro ao sentar.
Da mesma forma que ela o obervara, ele ficou parado olhando estupefato aquela beldade, desde que ela se levantara do sofá no hall até chegar ao carro. Alguém no mundo poderia até dizer que ela não era tão bonita assim, mas para Jun, era a mulher mais linda e perfeita que ele já vira. Usava um belo vestido violeta longo, com mangas que se ajustavam aos braços, num tom mais claro que o corpo do vestido, e os sapatos, um belo par de scarpin (Jun conseguiu ver os sapatos) no mesmo tom das mangas do vestido com detalhes num roxo bem lilás. O penteado dos cabelos era simples, sem muitos acessórios, somente uma presilha prateada, em formato de flor, na lateral da cabeça. A maquiagem era fraca, sem muito exagero, como sempre. Um xale de linha com uma flor de crochê unindo as duas pontas fechava o conjunto, além do colar de coração qu repousava sobre seu peito. Quando ela finalmente estava acomodada no banco do passageiro, olhando para ele e sorrindo, ele suspirou e também sorriu.
- O que eu fiz pra merecer você, hein? Está lindíssima!
- Arigatou ne! – ela baixou os olhos, um pouco envergonhada – Você também está muito bem.
- Konbanwa, Karoru-chan. Ikimasho ka?
- Hai!
Ele acelerou o carro e partiu em direção ao local da cerimônia.

***

O local escolhido foi uma casa tradicional de casamentos perto de um templo. O lugar era bem rústico e com diversas plantas. Um lago artificial com carpas vermelhas e alaranjadas adornavam o jardim.
A hospitalidade do lugar era de primeira classe com funcionários exclusivos e super treinados e o preço um tanto salgado, mas apesar de Nino ser um pouco pão-duro, abriu mão desta sua característica e investiu no lugar. Afinal, seria seu casamento e deveria ser o melhor, pois seria para a vida toda.
O salão onde se daria a cerimônia já estava cheio de convidados. Sho, Aiba e Ohno já tinham chegado.
Nino estava um pouco nervoso e a todo o instante cruzava e descruzava os braços. Vestia os trajes tradicionais de noivo. Um kimono azul marinho com detalhes em branco, meias brancas e um par de sandálias japonesas masculinas de palha.
Percebendo que o amigo estava nervoso, Ohno comentou:
- Vai dar tudo certo!
- Hum.
Depois de algum tempo, a família de Débora, Marcela e Fábio, Carol e Jun chegaram. De fato Johnny Kitagawa estava lá e Jun o indicou com um sinal de cabeça quando o avistaram. “Esse é o chefão”, ele disse. Não só Kitagawa, mas muito Johnnys estavam por lá e Caroline reconheceu vários e teve o prazer de conhecer muitos deles também, pois Jun a levava junto sempre que ia cumprimentar alguém. Só o chefe que ele não a levou para que ela conhecesse. “Se ele implicar com você, Kitagawa-san não tem papas na língua e aqui não é lugar para ele ficar irritado”.
O que não havia em quantidade eram repórteres. Um ou outro na entrada da casa e só. Como a maioria dos convidados foi escoltada por seguranças particulares contratados para a ocasião, ninguém foi muito incomodado pelos flashs intrusos, mas obviamente, algumas fotos foram tiradas.
Depois de todos sentados, e Nino na porta da frente do local, Débora surgiu saindo da limosine. Ela estava divina, mas percebendo que a noiva estava tendo dificuldades em sair do veículo por conta de tanto pano naquela roupa com a qual ela não era habituada, foi até lá ajudá-la e sussurrou em seus ouvidos "Você não poderia estar mais linda!".
Ela sorriu gentilmente e os dois entraram no salão. Sentaram-se no local destinado a eles.
Os noivos haviam escolhido os quatro do Arashi como padrinhos, e claro que Jun e Carol estavam juntos. Johnny Kitagawa os notou, mas não quis criar muita especulação.
Sho estava acompanhado de Emiko, prima muito próxima de Ninomiya, Ohno estava com Akiyo, uma amiga do tempo de colégio de Nino, e Aiba com Kumi, amiga de Nino e Akiyo.
Assinaram os papéis do contrato legal de casamento, foram abençoados devidamente e, em seguida, foram se trocar para os trajes mais ocidentais. Ela usava um belo vestido de noiva dos sonhos, todo branco, de vel e grinalda. Ele estava de fraque com a camisa e a gravata brancas e uma rosa em botão também branca na lapela. Na hora dos votos, escritos pelos dois, do “sim” e do “noivo pode beijar a noiva”, ambos choravam e Jun, sem conseguir se conter, abraçou Caroline de leve, pela cintura, e sussurrou só para ela ouvir: “quer se casar comigo, Karoru?”. Sem saber como reagir, ela somente sorriu, apertou a mão dele e continuou olhando para os noivos, que já saíam pela nave.
Foi tudo muito simples, lindo, sublime e rápido ao mesmo tempo. Em menos de duas horas, Débora e Nino estavam casados.
Além deles oito, no altar montado no salão, estavam também os pais de Débora e de Nino. Sim, o pai dele apareceu faltando apenas cinco minutos para começar. O senhor Ninomiya estava muito elegante, e Kazu ficou realmente surpreso ao vê-lo chegar e postar-se ao lado de sua mãe.
- Otou-san, o senhor... – sendo interrompido por um abraço impetuoso do pai, que não se importou de estar no meio de tanta gente.
Abraçou também Débora, e logo os três estavam chorando um pouquinho. Ele disse que amava o filho e a nora e pediu perdão por ter sido um péssimo pai durante grande parte da vida de Kazunari, assim como também se desculpou por ter agido tão mal quando conheceu Débora só por ela ser uma gaijin.
- Cuide bem do meu menino – pediu.
A festa foi no salão ao lado do salão de casamentos. Os noivos, antes de irem até ele, saíram até a entrada e permitiram que fossem tiradas algumas fotos. Depois disso, os repórteres foram embora, inclusive aqueles da revista onde Uemura Yui trabalhava, mas ela não aparecera.
Nino voltou para a festa e Débora foi trocar rapidamente o vestido. Quando ela apareceu no salão, todos aplaudiram. Ela surgiu com um vestido mais básico, porém muito elegante também, bege clarinho.
Na hora da valsa, Débora e Kazunari foram para o centro do salão e dançaram ao som de Strauss, e depois deles, Débora dançou “Danúbio Azul” com seu pai e então foi a vez dos padrinhos dançarem junto dos noivos. Mas então, algo surpreendente aconteceu. A porta do salão foi violentamente aberta e nele apareceu uma Yui completamente bêbada, que caminhou até o meio da pista e puxou o braço de Caroline, fazendo com que ela se soltasse de Jun e caísse no chão. 

***
   
Matsumoto Jun olhava a cena sem acreditar, e imeditamente se interpôs entre Caroline, que estava sentada no chão, e Uemura Yui, que avançava para ela.
- Saia já daqui! Esse não é seu lugar!! – dando um empurrão nela, que bambaleou, mas não caiu, e virando-se para Carol, ainda no chão – Daijoubu?
Jun estendeu a mão para ajudá-la, mas Caroline recusou a mão dele e se levantou sozinha. Ela não acreditava naquilo. Então quer dizer que aquela mulher ainda existia? Mas Jun dissera que ela tinha se mudado... como ela sabia da data do casamento e tudo mais? Os jornais, é claro. No Brasil, as arashians não falavam de outra coisa, embora ninguém soubesse quem era a noiva. Evidentemente, as informações vieram de onde ela mesma trabalhava.
Enquanto ela observava às costas de Jun, Yui começou a esbravejar. Ela gritava e suas palavras saiam enroladas por causa do excesso de álcool.
- Não acredito que essa mulherzinha baka voltou daquele inferno de Burajiru de onde ela nunca devia ter saído!!! Matsumoto, seu cretino!!! Não acredito até hoje que você me trocou por isso aí...
- De onde você saiu?? Por favor, alguém faça alguma coisa!!! – ele olhou para Nino, que parara de dançar a apenas alguns passos deles - Chamem a segurança!
- Quem deixou essa infeliz entrar? – Débora se aproximou – É mesmo uma infeliz... como foi que você entrou aqui??
- Pela porta!! E fique quieta você também, sua IMBECIL!!! – Yui gritou – O Ninomiya é outro baka, pra casar com você!!
- Saia daqui Yui!!! – Jun estava ficando vermelho.
- Quem você pensa que é pra invadir o meu casamento e falar assim comigo?? – Débora, que também tinha o sangue quente, já queria partir para cima da outra e dar-lhe uma surra, se Jun não a tivesse segurado.
Nesse momento, Nino voltou com dois seguranças brutamontes. Cada um pegou em um braço de Yui, que começou a espernear e dar murros e chutes.
- Me soltem! Eu exijo que me coloquem no chão!! – enquanto ela era arrastada dali, continuava gritando ameaças – Não posso permitir que esse dois sejam felizes! Essa Caroline merece morrer! Volte para seu país, sua intrusa!!!! Ninguém te quer aqui.
Aos poucos, os gritos dela foram abafados pelos sussurros dos convidados. Kazunari ordenou que a música voltasse a tocar e falou ao microfone:
- Pronto, minna-san. O barraco acabou, vamos continuar com a festa. Espero que compreendam.
Débora foi para uma mesa no canto do salão com a amiga chorando baixinho. De repente, Johnny Kitagawa apareceu junto das duas.
- Menina, quem é você?
Caroline não viu que falavam com ela e continuou de cabeça baixa, as lágrimas caindo.
- Quem é você? – o senhor repetiu, e olhou para Débora – Sua amiga?
Débora fez um gesto afirmativo com a cabeça e Carol percebeu que falavam dela. Levantou os olhos devagar e levou um susto: Johnny Kitagawa estava ali. Ela quis dizer alguma coisa, mas a voz não saiu.
Foi então que Jun se achegou a eles.
- Ela está... – ele começou a dizer, mas Kitagawa interrompeu:
- Você a conhece, suponho eu, né, Matsumoto-kun?
- Hai!
- Então, será que alguém vai me dizer quem é essa menina?
Como Jun ficou sem dar uma resposta, Carol sentiu que a tristeza foi se misturando à raiva. Ela então ficou em pé de um pulo e disse, ainda com lágrimas escorrendo, mas com voz firme:
- Ele vai contar ao senhor quem sou eu. E se não contar, é porque eu não sou ninguém importante. Shitsurei shimasu. – e saiu da festa com passos apressados.

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