A crônica de Rubem Braga, que foi um grande cronista e jornalista brasileiro, "Recado ao Senhor 903", é um
retrato da vida contemporânea. Embora tenha sido escrita em 1953,
muito fala da vida que levamos, da superficialidade nos relacionamentos, da
distância entre as pessoas, mesmo entre dois vizinhos que moram no mesmo prédio.
Trata-se da carta de um vizinho a
outro, um homem que chama o outro pelo número de seu apartamento. Por isso o
título. De
fato, esse mesmo homem já havia sido primeiramente chamado por um número, o
1003, referente ao seu apartamento.
A carta é um pedido de desculpas
por ele (o 1003) ser um vizinho tão bagunceiro e causar tanto transtorno para o
(vizinho) 903, que anteriormente havia escrito uma reclamação para o zelador
referente à bagunça e ao excessivo barulho de madrugada que o 1003 causava,
além de ter reclamado verbalmente. O 1003 trata seu vizinho pelo número, assim
como também fora tratado, já que nenhum dos dois sabe o nome um do outro.
Então, o 1003 passa a discorrer sobre
as pessoas se resumirem a números: “Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e
reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro
dos limites de seus algarismos.” (grifo meu). Reparem que nesse trecho o
autor, por meio do narrador-personagem, mostra
que para muitos as pessoas já não são tratadas como seres humanos, mas tão
somente como números. São os números na empresa, na determinada repartição, no
seu devido cargo, no colégio, faculdade ou no prédio onde você mora. Poucos
conseguem manter um relacionamento mais profundo para saber o nome do morador
do apartamento 903, por exemplo, ou do 1003.
Apesar de essa pequena história
se tratar apenas do relato de um simples acontecimento do cotidiano na
realidade de duas pessoas que são vizinhas, é evidente que é feita uma grave
crítica à realidade desses relacionamentos interpessoais nos dias atuais dentro
da sociedade em que vivemos. Tanto é que Rubem Braga termina seu texto com dois
últimos parágrafos na carta do vizinho 1003 expressando o desejo deste por uma
outra vida, na qual as pessoas saibam o nome umas das outras. “E o homem
trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho
entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da
brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade
entre humanos, e o amor e a paz.” (grifo meu).
A única conclusão a que pude
chegar lendo essa crônica é que o relacionamento saudável, no qual os
envolvidos se chamam pelo nome, está cada vez mais raro. O que Rubem Braga
escreveu há quase 70 anos ainda é a triste realidade vivida atualmente. É uma
boa crônica, ótima até, sem contar que foi escrito por um autor de genuína sensibilidade.
Não é qualquer um que consegue retratar o cotidiano e fazer uma crítica tão
real e ao mesmo tempo nenhum pouco ofensiva quanto ele.
4 comentários:
Gostei da resenha! Realmente essa é a realidade de hoje também, eu não sei o nome dos meus vizinhos, só do Sr José - o português, mas os demais nem sei quem são! O.O
Mas eu sou muito tímida também, acho que isso atrapalha na socialização!! rsrs!! Mas não devemos ser assim mesmo... No meu trabalho tenho tentado trabalhar isso, nós lidamos com pessoas mais simples e humildes, e convivendo com meus "veteranos" lá percebi como é importante você personalizar o digamos "atendimento" às pessoas, é muito importante perguntar o nome delas durante a conversa, a pessoas se sente melhor, você a conquista, e demostra seu interesse em ajudá-la...
Mudando o foco, vi um dorama (tinha que voltar a esse tema!) que criticava isso de certa forma. Foi Code Blue, um dorama "médico" e lá alguns médicos tratavam os pacientes por números, ou pelo nome das doenças, e isso com certeza é algo que acontece de verdade nos hospitais por aí... triste...
Tamara! Mais uma vez, obrigada por seu coments!!!
E veja, eu vi Code Blue~ e nele, me apaixonei ainda mais pela atuação da Toda Erika e da Aragaki Yui, sem falara no Yamapi... que amo atuando. Mas pra mim, ele ainda tá melhor em Buzzer Beat, já viu?
Pois é... tratar as pessoas com essa impessoalidade, é um tanto frio. Mas infelizmente é comum npos dias de hoje, as pessoas serem somente números, letras, códigos.
Beijos!
Vi Buzzer Beat sim!! Muito bom!! Yamapi é lindo demais!! Ele e todo o time de basquete!! rsrsrs!!! Mas o Naoki é o namorado perfeito, tão fofa a cena dele todo contente em seu quarto pensando na Rika! Ai ai... rsrs!
Buzzer Beat é mara mesmo, né?? Vi duas vezes seguidas, sou muito apaixonada pelo Naoki, o namorado perfeito~ Naoki + Rika = casal nota 1000000
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