O sorriso de Matsumoto
Jun estava ainda mais radiante do que de costume. O fotógrafo e todos os
assistentes e funcionários do estúdio olharam para ele, sentado naquele sofá
para a primeira foto, e não conseguiram conter um sorriso em resposta.
Realmente, ele não
conseguia não sorrir, e mesmo quando teve que fazer uma cara séria, acabava
sorrindo e antes de bater a foto, o fotógrafo disse mais de uma vez para ele
não flexionar os lábios, deixa-los simplesmente naturais. Jun demorou mais que
o normal para conseguir fazer essas fotos mais sérias a contento. Alguém
perguntou:
- Matsumoto-san, se me
permite a ousadia, aconteceu algo bom? O senhor está com uma aura muito alegre
e não para de sorrir.
- Não aconteceu nada –
ele respondeu, tentando parecer irritado com a pergunta, mas não deu muito
certo e, no fim, seu bom humor venceu outra vez.
- Gomen. – o homem se curvou – Bem, vamos continuar?
***
- Eu dormi no apartamento
do Jun. – Carol seguiu até o interruptor e ligou a luz do quarto, enquanto a
amiga permanecia sentada imóvel na cama, olhando para ela com a cara toda
amassada de sono.
Caroline respondeu com
naturalidade. Toda a timidez que tinha na frente das pessoas em geral, toda a
sua introspecção sumia quando falava com Débora. As duas eram amigas desde os
tempos de colégio, e mesmo com alguma diferença de idade – Débora era quase
três anos mais velha que ela – elas se davam muito bem. Conheciam cada segredo
uma da outra e nunca escondiam nada.
Mesmo assim,
evidentemente, Carol notou que Dé já estava tendo pensamentos equivocados e
sabia que com aquela sua resposta muito direta de onde tinha passado a noite só
fez crescer a imaginação dela.
- Uhm… no apartamento do
Jun... e que sorrisinho é esse no seu rosto? – ainda parcialmente embaixo do
cobertor, ela fez sinal para que Carol se sentasse a seu lado.
- Sorrisinho? –
sentendo-se perto da outra.
- A-ha!! Então a noite
foi boa?
- Que noite? – Carol
passou a mão pelos cabelos e olhou para o lado, se fazendo de desentendida, mas
já sabia muito bem aonde Dé queria chegar. Deu um leve sorriso.
- Como “que noite”?! Essa
noite QUE VOCÊ DORMIU COM O MATSUMOTO JUN!!!
- Silêncio! Quer que todo
o hotel te escute? – tapando a boca de Débora com a mão.
- Então me conte. Foi
bom? – tirando a mão de sobre sua boca.
- Muito – Carol sorriu
abertamente.
- Agora que você vai ter
que me contar! – Débora ficou em pé de um pulo, colocando-se em frente da amiga
e lhe segurando os ombros. – Sem enrolação. Quero saber tudo. Tu-do.
- Ah, Dé, a gente se
beijou!
- Só isso?
- Como assim só? Pra mim
isso é muito, fiquei bastante feliz. Mas enfim... também dormi no colo dele
enquanto ele assobiava uma bela canção.
- E...?
- E não tem mais nada. E
dormi na cama dele, ele me levou para o quarto...
- Você dormiu na cama
dele? – Débora interrompeu; voltou a se sentar.
- Sim. Mas ele dormiu no
sofá.
- So ka… Nani?? No sofá?!
- Hai.
- Peraí… ele dormiu na
sala, você dormiu no quarto. E então, onde aconteceu?
- Não aconteceu nada,
tá legal? – Carol mostrou a ponta da língua para Débora e sacudiu levemente a
cabeça.
- Majide?! Nadinha, nadinha?
- Nós nos beijamos, isso
não é nada? Não quer saber como isso aconteceu?
- Sim, um beijo é muita
coisa. Só pensei que, pra você ter passado à noite fora... – Débora voltou os olhos
pela primeira vez para a calça e a blusa que Caroline segurava – De onde são
essas roupas?
- O Jun me emprestou hoje
cedo, porque o vestido estava todo amassado. São de Uemura Yui.
- Como?
- Isso mesmo que você
ouviu. Ele me emprestou. Disse que Yui foi viajar. Sinceramente, me sinto um
pouco mal, acho que realmente prejudiquei o namoro deles. Mas to tão feliz que
não consigo pensar muito nisso.
- Então me conta
direitinho. O que vocês fizeram antes, durante e depois do jantar? Por que
acabaram se beijando? Vocês se declararam ou algo assim? Por que Uemura Yui foi
viajar? Eles terminaram o namoro? E por que você dormiu lá?
- Calma, Dé. Vou contar
tudinho. Mas que tal você lavar ao menos o rosto primeiro? Seus olhos estão
cheios de remela.
- Eca! – Débora passou a
mão nos olhos, por reflexo, e seguiu em direção ao banheiro – Não fale assim,
sua nojenta!
As duas riram.
Quando Débora saiu do
banheiro 20 minutos depois, de banho tomado, trocada, cabelos penteados e
totalmente acordada, Carol sorriu para a amiga, deu um tapinha no colchão e
disse:
- Yosh! – começando a relatar todo o acontecido para sua melhor
amiga.
***
Logo depois do almoço, os
cinco se reuniram pela primeira vez aquele dia, no prédio da JE. Durante a
manhã, cada um tinha cuidado de seus compromissos pessoais e não se viram.
Na sala do Arashi, todos
se acomodaram logo. Dessa vez, quem ficou na poltrona foi o Nino, logo sacando
seu DS do bolso.
Ohno levantou calmamente
do sofá, foi até o mais novo e tomou-lhe o game das mãos, voltando a se
sentar em seguida. Guardou o DS no bolso da jaqueta.
- O que está fazendo
Oh-chan? Deixe-me jogar!
- Kazu-chan, agora você
não vai jogar. Quero que nos conte como foi ontem?
- Ah, isso! Mas eu não
posso terminar o jogo primeiro?
- Não! – responderam os
quatro em uníssono.
Todos sabiam que se Nino
ficasse com o game, facilmente ele se distrairia. E todos sabiam que
coisas muito importantes para a vida dele tinham sido decididas no dia
anterior, mas ele não quis comentar muito antes de falar com a noiva.
Ninomiya Kazunari olhou
para os amigos que o encaravam, suspirou e comentou:
- Aiai, o que vocês
querem saber? O Jun-pon aqui também tem coisas para contar, acho. – ele olhou
para o outro, que estava confortavelmente deitado em um puff.
- Oe oe oe. O que tem eu? – mais uma vez naquele dia, Matsumoto Jun
tentou disfarçar o humor.
- Nem vem fingir que ta
bravo, que eu te conheço – prosseguiu Nino – Olha só a tua cara de bobo-alegre.
Nesse momento, os outros
três, que ainda olhavam para Nino, viraram a cabeça para Jun. Ohno sorriu e
disse:
- É né, acho que o
Kazu-chan tem razão. Você está mesmo com cara de bobo, Matsujun.
- Até tu Brutus?!
[*alusão ao assassinato de Júlio César, ditador de Roma]
Todos riram, até Jun, que
não conseguiu mais esconder o sorriso, nem apagar o brilho do olhar.
- Tudo bem, eu conto vai.
- Então tem mesmo o que
contar? – Sho pisca os olhos, interessado.
- Hai. Ontem, eu e a Karoru-chan nos beijamos. Ela dormiu no
meu apartamento.
- Majide?! – os quatro agora arregalaram ainda mais os olhos, tendo a
mesma ideia que Débora tivera horas antes.
- Não aconteceu nada.
Ela... nós... só dormimos, ta legal? Ela não é desse tipo.
- Que tipo? O seu, você
quer dizer, hahaha – Aiba lançou.
- Ah, fica quieto Aibaka e deixa-me contar as coisas
direitinho que vocês vão entender!
Matsumoto Jun começou a
relatar para os amigos tudo o que se passara com ele e Caroline na noite
anterior.
***
Enquanto ouvia a voz
compassada, porém cheia de emoção e alegria, do amigo, Ninomiya Kazunari
refletia sobre sua própria sorte.
A reunião da manhã de
ontem com Johnny Kitagawa não saía de sua cabeça desde que o senhor de mais de
80 anos fora tão taxativo ao dizer as palavras: “Escute bem, Ninomiya-kun, se o
senhor levar adiante essa história de casamento no estrangeiro, saiba que nosso
contrato será cancelado imediatamente e o Arashi acaba pra você no mesmo
instante”.
Quando o BIG BOSS disse
isso, ele pensou realmente em desafiá-lo, mas quando ia abrir a boca para dizer
que estava determinado a se casar no Brasil, Johnny-san prosseguiu: “pense
muito bem nisso. Você acha mesmo que, depois de todo esse tempo, o Arashi vai
conseguir existir sem você? E o seu compromisso com os outros, comigo, com os
fãs?”. Então, nitidamente, veio a ele a lembrança de uma coisa que dissera no pub,
depois do show, na semana passada: não se preocupem, eu NUNCA vou deixar
vocês! O Arashi faz parte de mim. E vocês são meus melhores amigos.
Ele dissera aquelas
palavras olhando os amigos nos olhos. Quando disse, confiou plenamente e quis
passar essa confiança, de que NUNCA deixaria o Arashi. Não podia decepcionar
seus melhores amigos, né? Nem os fãs.
Lembrou então que
primeiramente a moça que era sua noiva era apenas uma fã. Como ela, e tantas
outras, ficariam se o Arashi acabasse? Porque, ele sabia, realmente a
“tempestade” chegaria ao fim se ele, ou qualquer um dos cinco, deixasse o
grupo. Isso era indiscutível. E com certeza ninguém, muito menos Débora,
ficaria feliz com o fim do grupo.
Quando relatou essa parte
da conversa que teve com o Johnny-san, ela realmente ameaçou terminar o noivado
se ele pensasse mesmo em deixar o Arashi por causa dela. Ele, então, pediu
desculpas por ter sido tão imprudente e ter feito uma promessa que não ia poder
cumprir. Também se desculpou por ter sido tão egoísta e querer que ela largasse
tudo para ficar ali no Nihon, com
ele. As lágrimas estavam prontas para romper a barreira de suas pálpebras
quando Débora levantou-se de sua cadeira, foi até ele e o abraçou.
- Deixa de ser bobo. Não
precisa se desculpar, eu não to casando obrigada – beijando o alto de sua
cabeça, enquanto ele permanecia sentado. – Já disse que me casarei com você,
não importa o país, porque te amo.
Nino a abraçou por trás e
ela voltou ao seu lugar em seguida. Foi então que, para “quebrar” o clima
tenso, ela falou dos avôs e dos amigos que queria que viessem para o casamento.
Falou daquele Fábio de uma maneira simpáica demais, mas quando ele estranhou,
ela logo mudou de assunto.
O resto da noite seguiu
tranquilo. Eles saíram do restaurante ainda não era 10h da noite, e foram até
uma praça para namorarem um pouco. Quando Débora começou a bocejar, ele decidiu
levá-la de volta para o hotel. Na volta para seu apartamento, só pensava em
como ele era sortudo de ter encontrado uma mulher como Débora Fonseca...
- Nino. – chamou Sho, mas
ele não ouviu.
... Ela era realmente
especial. Não era qualquer uma que ia...
- Kazu-chan! – chamou
Ohno, mas novamente ele não escutou.
... aceitar se casar
assim, tendo que abrir mão de...
- NINOMIYA KAZUNARI!!! –
Matsumoto Jun gritou, indignado.
- Oi? Falou comigo? – ele
olhou para os quatro, que novamente encaravam-no.
- O senhor não ouviu NADA
do que eu disse, não é?? – ser ignorado irritava Jun ao extremo. Ele olhava
para Nino de um jeito totalmente DoS; seu bom humor tinha sumido.
- Ah, gomen ne, Matsujun! Não ouvi.
- Como assim não ouviu?
Você foi o primeiro a me mandar falar, para evitar que nós te
perguntássemos sobre ontem. E ainda não ouviu...
- Gomen, gomen, hontou ni gomen.
- Daijoubu. Eu conto de novo, mas depois. Agora... é você que vai
falar. O que tá pegando?
Jun não conseguia ficar
irritado por muito tempo, não naquele dia. Então ele simplesmente abriu um
sorriso e, juntamente com os outros, ouviu o relato de Nino.