Jun e Caroline ficaram
abraçados até que ela parou de chorar. Então, ele a segurou pelos ombros,
ergueu sua cabeça e a olhou nos olhos.
- Karoru-chan, eu
nem acredito que você está aqui comigo.
- Eu também não acredito.
Não é muito racional de nossa parte. – ela sorriu, com os olhos ainda meio
avermelhados e as bochechas brilhando.
- Eu sei – Jun concordou,
também sorrindo. – Mas quem se importa com isso? – rindo ainda mais e brincando
com uma mecha do cabelo dela.
Eles ficaram assim por um
tempo, brincando um com o outro. Ele mexendo no cabelo dela, embaraçando-o todo
e ela dando soquinhos de leve em seu peito e pedindo para ele parar. Até que
ele parou de cutucá-la e falou novamente:
- Você quer fazer o quê?
- Fazer o quê? Você quer
que eu faça alguma coisa? – ele se endireitou no sofá, ela deitou a cabeça em
seu ombro e ele a abraçou.
- Sei lá, talvez você
queira ver um filme, ouvir uma música, algo assim.
- Não, ficar aqui está
bom pra mim. Só me dá licença um instantinho – Carol ficou de frente para Jun.
Ela pegou com carinho a
mão dele, que caíra para trás de suas costas quando ela se afastou de seu ombro
e, colocando o outro braço de Jun no encosto do sofá, ajeitou a cabeça
confortavelmente em seu colo e puxou a mão que segurava sobre sua barriga. Não
esqueceu que estava de vestido e apenas deitou-se comportadamente, olhando para
o rosto sorridente de Jun.
- Hontou ni, ficar aqui está bom para mim também. – ele comentou.
Os dois somente se admiraram
mutuamente por algum tempo, Jun alisando a face de Carol, que já secara das
lágrimas, e ela havia puxado a mão dele até os lábios e a beijava. Aquele
silêncio agradável era ideal num momento em que ambos haviam deixado a razão de
lado e focado somente no amor que existia entre eles. De quando em quando, se
ouvia a voz de um e outro sussurrando “Eu te amo!” com toda a sinceridade de
seus corações.
Tinham até se esquecido
da hora, mas devia ser tarde. Afinal, saíram do restaurante às 10h30 da noite.
Deitada no colo de Jun, Carol começou a bocejar. Depois de alguns minutos, seu
sono era tanto que, com os olhos marejados, disse baixinho:
- Matsujun, eu acho que é
melhor eu voltar para o hotel.
- Iie – ele pousou a mão sobre seus cabelos – Fica aqui mais um
pouquinho, tá tão bom!
- Demo... eu to com sono.
- Dorme.
- Demo... – ela se levantou.
- Nani?
- Dormir aqui? Não sei se
devo.
- Não seja boba. Não
vou... não vamos fazer nada. É só dormir. Depois eu te levo para a cama.
- E você?
- Não se preocupe comigo.
Deita de novo – ele deu um tapinha na perna, como um pai quando chama o filho
para deitar no colo dele – Mas antes...
Ele se adiantou e
novamente a beijou nos lábios, envolvendo sua cintura com uma mão, e com a
outra segurando sua nuca. Dessa vez, ela o retribuiu sem pudor algum.
O beijo prolongou-se até
que Carol teve que afastar-se para bocejar novamente.
- É, pelo jeito você está
mesmo com sono, hahaha! – Jun jogou a cabeça para trás, rindo.
- So, so – Carol aproximou-se
e deu um beijinho na ponta do nariz dele e depois se deitou outra vez,
ajeitando a saia com as mãos.
Jun pousou novamente um
dos braços na barriga dela e, com a outra mão, acariciava seus cabelos. Aquele
carinho estava tão relaxante que Caroline virou-se de lado, de encontro ao
peito dele, aconchegou-se e fechou os olhos, mas não dormiu de imediato. Apenas
ficou ouvindo enquanto ele assobiava baixinho uma música que ela não
reconheceu.
Ainda de olhos fechados,
perguntou:
- Que música é essa?
- Papier, de Moriyama
Ryoko.
- Uhm, acho que nunca
ouvi falar.
- Ela é muito boa.
Novamente Caroline ficou
em silêncio enquanto ele assobiava a canção e, dentro de alguns minutos, Jun
sentiu sob sua palma que a respiração dela ficara mais lenta e compassada. Ela
havia adormecido.
Ele ficou alisando os
cabelos dela por meia hora ou mais, sem assobiar, ouvindo somente a respiração
de Carol e admirando-a. Ela era tão bela e tão serena quando dormia! Tinha um
sorriso nos lábios e só de olhar para ele, soube que era sincero. Sorriu
também, pensando no tamanho da sua felicidade.
Sentir-se assim era
egoísmo, ele sabia. No fundo de suas lembranças, ainda enxergava a amargura nos
olhos de Yui no domingo pela manhã, quando foi abordado por ela antes de ir
para o hotel. E, em seus ouvidos, as palavras que lera no bilhete dela na
segunda ainda falavam alto. Mas Matsumoto Jun não conseguia ignorar o que
sentia naquele momento. Vendo a moça que conhecera tão bem por cartas e por
quem se apaixonara perdidamente naqueles poucos dias de convívio, dormindo
serenamente em seu colo, ele não conseguia pensar friamente na obrigação que
tinha de ficar com Yui ou em suas responsabilidades. Quando pensava assim,
sentia que seu egoísmo era correto e aceitável.
Olhou no relógio de
pulso. Era quase 1h e ele tinha que acordar cedo na manhã seguinte, pois tinha
uma seção de fotos para uma reportagem especial de uma revista às 8h da manhã
do dia seguinte. Teria ainda que passar no hotel para deixar Caroline, do outro
lado da cidade. Então, afagou mais um pouco a cabeça dela e gentilmente, com
todo o cuidado, a pousou sobre o sofá e se levantou.
Foi até o quarto arrumar
a cama, colocar lençóis limpos e um cobertor. Depois pegou uma troca de roupa
de cama para colocar no sofá, para si, e trocou de roupa, vestindo-se para
dormir. Fez sua higiene pessoal e voltou para a sala onde Carol ainda dormia
profundamente.
Novamente, parou para
admirá-la por um momento e refletiu o quanto era sortudo. Então, jogou por cima
dos braços nus o blazer que ela deixara na guarda do sofá e a pegou no colo,
tendo o cuidado para não deixar que suas pernas fossem descobertas, segurando o
vestido dela. Carol abriu um pouco os olhos e abraçou o pescoço de Jun,
segurando-se, deu um sorriso sonolento e voltou a dormir.
Ele a soltou na cama e a
cobriu com o sobrelençol e o cobertor. Deixara outro dobrado aos pés da cama,
para o caso dela acordar no meio da noite com frio. Beijou sua testa e voltou
para a sala, sentindo então o peso do sono.
Jun confirmou se a porta
do apartamento estava trancada e foi deitar-se. Ele nunca dormira no sofá
antes, aquela seria a primeira vez. Nas vezes que Yui ia passar a noite lá,
eles dividiam a cama. Ainda bem que aquele sofá era confortável e espaçoso.
Acomodou-se da melhor forma possível e dentro de dez minutos, estava dormindo.
***
Na manhã seguinte, seu
despertador tocaria às 6h30, mas quando os primeiros raios de sol invadiram a
sala, Jun já acordou e o máximo que conseguiu foi dar uns cochilos até que ele
gritasse alto.
Tinha separado uma troca
de roupa para si, que estava sobre a mesinha de centro, e ele se trocou em
cinco minutos e foi para a cozinha preparar o café da manhã. Não tinha muita
coisa, no meio da semana sua geladeira sempre ficava meio vazia, mas ele fez o
que pôde, e às 7h, foi acordar Caroline.
Ela estava ainda
completamente adormecida e ele deu-lhe um beijo na face, chamando-a suavemente,
ao que Carol se remexeu na cama e abriu um dos olhos. Ao identificá-lo,
rapidamente se lembrou dos acontecimentos da noite anterior e virou o rosto,
para que ele beijasse seus lábios.
Jun então se
desequilibrou, encurvado como estava, e caiu sobre ela, que riu alto. Ele
também riu, se ajeitando na cama ao seu lado, ele por cima e ela por baixo do
cobertor, e eles se abraçaram e beijaram novamente. Ficaram assim por dez
minutos, até que ele disse, enquanto brincava com uma mecha de cabelo dela:
- Eu já preparei o
desjejum. Vamos logo, que eu tenho que estar no estúdio para tirar fotos às 8h.
- Que horas são agora? –
Carol se sentou no colchão.
- Quase 7h15.
- Certo. Eu vou só...
err... eu ainda estou com a roupa de ontem. – olhando-se. – Ela está toda
amassada da noite.
- Uhm... não se preocupe.
Tem uma troca de roupa de Yui aqui, pode usá-la. – ele se levantou e pegou uma
calça jeans e uma blusa de linha no guarda-roupa.
- Tem certeza? Ela não
ficará brava?
- Iie. Demo... hoje ou
amanhã eu pego no hotel com você, está bem?
- Hai!
- Se quiser tomar uma
ducha, fique à vontade. Eu pego uma toalha para você.
- Deixa, eu faço isso
quando chegar no hotel. Não quero te atrasar. – se dirigindo ao banheiro – Vou
só lavar o rosto e escovar os dentes... demo...
– olhando para ele com o olhar de quem está precisando de algo, mas não quer
pedir.
- Hahaha! – Jun riu – Na
primeira gaveta do armário no banheiro tem uma escova ainda fechada, que não
foi usada por ninguém. Estarei na cozinha te esperando.
Ele voltou para a
cozinha, enquanto ela fechava a porta do banheiro.
***
Débora queria poder
conversar com a amiga quando voltou para o hotel às 11h da noite de
terça-feira, mas Carol não estava lá. Talvez ainda não tivesse voltado do
jantar e ela foi tomar banho, enquantos breves insights de sua conversa
com Ninomiya Kazunari surgiam em sua mente e retumbavam em seus ouvidos.
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Pequeno flashback
[7]
- Deb... ano... como posso dizer? – Kazunari
passou a mão pelos cabelos, ansioso, depois que ambos tinham terminado a
refeição e o garçom viera retirar os pratos.
- Kazu, que tal... se
você começasse do princípio? – Débora atravessou o braço sobre a mesa e tocou
carinhosamente a mão dele. – Não precisa ficar tão nervoso. Já disse que vou me
casar com você, não importa como nem onde. Mas se tiver que ser realmente aqui
no Nihon, eu preciso falar
novamente com meus pais e também, tem a passagem que eu preciso suspender.
Ele não quis falar
sobre a conversa de logo mais cedo enquanto os dois comiam. Então, durante todo
o jantar, mesmo ela tentando arrancar alguma coisa dele, algum parecer que
Johnny Kitagawa dera, ele ficou irredutível. Agora, finalmente, abrira a boca e
ela estava aliviada, pois durante todo o tempo desde que saíram do hotel, ela
notou que ele estava triste e preocupado, mas quando ela soubesse de fato o que
tinha acontecido, entenderia o porquê dele estar assim e poderia, talvez,
consolá-lo, se ela mesma não precisasse ser consolada.
- Hai, hai – ele disse, segurando a
mão dela com as pontas dos dedos. – Do começo. Acho melhor ir direto ao ponto,
né?
Ela somente concordou
com a cabeça e deu um sorriso leve, encorajador.
- Etto ne, o Kitagawa-san não permitirá que
nos casemos no Brasil. – com uma mão, segurava a dela sobre a mesa, a outra
caía sobre o colo, e ele começou a bater levemente a ponta do pé no chão. – Ele
disse que já está sendo muito complacente permitindo nossa união, mas um
casamento em outro país, outro continente, ele jamais vai
aceitar.
Os olhos dele estavam
cheio de lágrimas, mas ele não permitiu que nenhuma delas caísse. Débora sentiu
o coração apertar ao vê-lo assim.
- Você deve estar me
odiando. Eu prometi que íamos casar no Brasil.
- Daijoubu – ela sorriu novamente, querendo
passar-lhe confiança. – Isso não faz diferença alguma, você já sabe – apertando
a mão que segurava a sua.
Por mais que ela já
soubesse daquilo, pois ele a avisara assim que saiu da reunião, Débora ficou
surpresa, não podia negar. Ele estava naquele estado por causa do chefe, mas
não ficara nem um pouco abalado quando foi seu pai que se opôs ao casamento no
exterior. É, realmente Johnny Kitagawa exercia grande poder sobre os telentos
liderados por ele. Sua fama no ocidente não era tão exagerada assim.
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Quando saiu do banho,
Carol ainda não havia chegado. Débora estava casada, e tudo que ela queria era
poder conversar direito com a amiga logo para poder dormir. Já era meia noite e
ela não ia aguentar esperar por muito tempo. Decidiu que ia secar o cabelo com
o secador, não aguentava nem esperá-lo secar. Voltou ao banheiro.
Enquanto o ar quente do
aparelho esquentava sua cabeça, ela continuou lembrando.
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Pequeno flashback
[8]
- Quer dizer que devo
ligar para meus pais? – ela perguntou, depois de quase meia hora com Kazunari
relatando palavra por palavra a reunião.
- Ano... eu acredito que sim.
- Fico preocupada em
como dizer para eles que de uma hora para outra eles terão que fazer uma viagem
tão longa e tão cara.
- Eu... falei sobre
isso com o Johnny-san. Não podíamos pedir que seus pais se virassem para vir
para cá.
- E o que ele disse? –
Débora não esperava que ele tivesse se adiantado tanto e já falado com o BIG
BOSS sobre isso, nem que ele fosse se preocupar tanto assim com a família dela.
Afinal, ele não se preocupava com a dele, e nem entrara em detalhes com ela nem
ela perguntou.
- Ele disse... – Nino
segurou novamente a mão dela sobre a mesa. – Que vamos... que a agência vai
pagar as passagens.
- Majide!?
- Hai.
- Demo... nande? – ela ficara
verdadeiramente surpresa dessa vez e não entendia nada. Qual o
motivo dele querer pagar?, ela pensou,O que ele ganha com isso? Eu não
sou ninguém para Johnny Kitagawa, né?
- Não sei, quando eu
perguntei, ele simplesmente encerrou a reunião, dizendo que tinha compromissos.
Demo... eu acho, pelo jeito que
ele disse isso, que o Kitagawa-san quis prevenir que não teimássemos em casar
no Brasil, mesmo contra sua vontade, por seus pais não terem, porventura,
condições de vir para o Japão.
- So desu... – ela ficou pensativa por
alguns segundos – Mas além dos meus pais, queria que ao menos meus avós, os
pais da minha mãe que ainda são vivos, pudessem vir, e a Marcela e o Fábio.
- Quem são esses?
- Amigos meus e da Carol.
A Marcela tem a idade da Carol e o Fábio a minha. Eu e ele estudamos juntos na
faculdade.
- Ano... – ele a olhou, de repente com o
olhar preocupado novamente – Você e esse rapaz... são apenas amigos, né?
Ela riu do ciúme dele,
inesperado, mas que a fez se sentir bem.
- Hai! Somos amigos. To-mo-da-chi.
Apenas isso. Apesar de... – ela se deu conta de que ia falar algo desnecessário
e calou.
- Apesar...? – ele
insistiu que ela prosseguisse.
- Nandemonai.
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Olhando para o espelho
enquanto secava os cabelos, Débora riu novamente. Aquele bobinho lindo sentiu
ciúme dela.
Desligou o secador e o
pendurou novamente no gancho na parede. Saiu do banheiro e, como já passava da
meia noite e nem sinal de Carol, ela resolveu ligar pra a amiga. Discou para o
celular dela, mas chamou até cair na caixa postal. Tentou novamente, mas não
obteve sucesso. Como não sabia os números do telefone de Jun ou de seu celular,
ela decidiu esperar mais quinze minutos. Mas quando os minutos passaram e
Caroline não chegou, ela cansou de esperar, seus olhos já fechavam sozinhos.
No dia seguinte, logo
pela manhã, ligaria para a companhia aérea para ver o que faria com sua
passagem comprada para sábado, já que não voltaria. Tentaria transferi-la para
o nome de Carol, para que, quando ela tivesse que voltar para o casório, já
tivesse como vir. E à noite ligaria para seus pais. Possivelmente eles não
aceitariam numa boa que o casamento não seria mais no Brasil e eles teriam que
viajar, mas algo lhe dizia que, mesmo que eles ficassem de mal-humor, ainda
assim não se oporiam.
***
Quando ela acordou quinta-feira,
ouviu barulho de água corrente vindo do banheiro. Sentou-se na cama, ligou o
abajur e viu a bolsa de Caroline e o vestido preto jogado em cima da cama
desta, que evidentemente não fora sequer mexida desde o dia anterior, o que
provava que ela passara a noite fora do hotel.
Débora sorriu. Carol
danadinha, pensou. Ouviu quando a amiga desligou o chuveiro e em cinco
minutos ela saía com a toalha enrolada no corpo. Olhou o relógio sobre o
criado-mudo: 8h20.
- Muito bem dona
Caroline! Me conte tudo. Que história é essa de dormir fora, hein?? – sorrindo
marota para amiga, com olhar cúmplice.
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