E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

domingo, 2 de setembro de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 29


- Moshi-moshi – Débora atendeu o celular; era uma chamada de Ninomiya.
Caroline estava no banho. Elas tinham acabado de jantar e subiram para o quarto. Estavam exaustas de tanto caminhar, e esgotaram com a memória do cartão da câmera fotográfica de tantas fotos que tiraram, além de terem gastado o equivalente a quase mil reais. Débora não via a hora dela mesma poder tomar uma ducha e cair na cama.
- Oi amor. Konbanwa!
- Konbanwa! Já está em casa?
- Não mesmo. Quem dera! Liguei para saber como foi seu dia. Passearam muito?
- Hai! Ah, Kazu! Conhecemos o bairro comercial, entramos no meiuo da muvuca. Tóquio é linda! Tiramos muitas fotos e compramos muito.
- Muitas compras? Então você gosta de gastar, né, Deb?
- Gosto sim, hahaha. – ela riu, jogando a cabeça, caindo deitada na cama – Mas fique traquilo, que sou uma garota muito ajuizada, viu? Conheço sua fama de mão-de-vaca, Kazu!
- Mão-de-vaca, eu? Quem espalhou essa blasfêmia? – ele ria junto com ela. – Mas é bom mesmo que você tenha juízo!
- Eu tenho, te garanto! Agora, e seu dia, como foi?
- Normal. Como sempre. Reuniões, gravações, sessão de fotos...
- E pra você o dia ainda não acabou, né?
- Não. E parece que não vai acabar tão cedo. Eu e os meninos acabamos de voltar do jantar. Ano... sabe o que eu estava pensando?
- Nani?
- Nós vamos nos casar, você já falou com seus pais, eu já falei com os meus, e já conseguimos a permissão do Johnny Kitagawa. Demo... se você vai ficar aqui até nosso casamento, como ficou sua passagem? Já verificou isso?
- Ainda não. Quando você vai falar com o Johnny-san?
- Pedi uma reunião com ele amanhã de manhã.
- Então me ligue depois de falar com ele. Se o casamento for mesmo no Brasil...
- Vai ser, Deb – Nino interrompeu.
- Se for mesmo no Brasil – Débora continuou, sem ligar para a interrupção – Então eu posso transferir essa passagem para mim mesma futuramente. Se não for... bem, vejo então o que eu posso fazer.
- Vai ser mesmo no Brasil. É importante para você, foi a primeira coisa que você me pediu. Vou realizar isso pra você.
- Não, Kazu. Você é muito mais importante para mim. O local do casamento pouco importa, contanto que seja com você.
- Demo, e os seus pais?
- Se eles tiverem que vir para cá... bom, depois conversamos sobre isso.
- Etto ne... hontou ni... daijoubu desu ka?
- Hai! Daijoubu, daijoubu. Não se preocupe. Agora eu vou tomar banho, que a Carol já terminou. Jya ne.
- Jya.
Depois que Débora desligou o celular, ela foi tomar seu banho.
Caroline já saíra e penteava os cabelos. Desde a conversa delas na praça, ela temia o momento que tivesse que falar com Matsumoto Jun outra vez. Por mais que ela não fosse uma pessoa que chorava com facilidade, nos últimos dias estivera chorando demais e temia que isso acontecesse novamente ao ouvir a voz dele.
Pensava nisso enquanto penteava os cabelos molhados em frente ao espelho. Quando será que falaria com ele outra vez?
Como se lesse os pensamentos dela, seu celular tocou.  Ela atendeu esperando, por algum motivo, que fosse Jun, mesmo sabendo que era improvável, afinal ele já ligara para ela naquele dia.
- Moshi-moshi. Karoru-chan? Matsumoto Jun desu.
Era ele afinal.
- Ah! Konbanwa.
- Konbanwa. Estou ligando porque aquele Nino baka falou com a Débora-san agora mesmo, e nem comentou. Estou com planos para amanhã à noite!
- Ano... e o que você está planejando? – Carol sentou-se na cama, ainda segurando o pente, sua voz um pouco trêmula; seu coração batia descompassadamente e ela sentia tremores de ansiedade por dentro.
- Daijoubu?
- Hai!
-É que sua voz está diferente.
Diferente? Como assim ele conhece minha voz tão bem? Como ele sabe que está diferente?, Caroline se perguntou.
- Nandemonai.
- Uhm. Karoru-chan, eu pensei em convidar você e a Débora-san para jantar amanhã, comigo e com os outros.
- Demo... vocês não estarão ocupados? – ela soltou o pente na cama e passou a mão pelos cabelos, um pouco nervosa.
Carol ficou em silêncio por alguns segundos. Afinal, não planejara ter que encará-lo ao lado dos outros membros do Arashi tão rápido. Esperava poder olhar para ele, da próxima vez que o visse, sem muita gente em volta. Queria poder analisar as reações dele. De repente, algo lhe ocorreu.
- E Uemura Yui-san?
- Ela... viajou.
- Majide? Quando?
- Ontem. Mas, enfim, vocês aceitam jantar conosco? Não estaremos ocupados. Ashita, se tudo der certo, o trabalho vai terminar no meio da tarde!
- So ka. Etto... por mim ok, mas tenho que falar com a Dé.
- Fale com ela e depois confirma, ok?
- Hai! Ano...
- Karoru-chan, tenho que desligar agora. Gomen ne. Estão esperando por mim.
- Daijoubu. Acabei de sair do banho, a Débora está lá agora. Vamos jantar.
- Mata ashita ne.
- Mata.

***

A reunião que Ninomiya Kazunari marcara com Johnny seria naquela manhã. Todos estavam reunidos na sala do Arashi na JE, e ele não parava de roer as unhas.
- Calma, Kazu-chan! – disse Ohno, sentando-se a seu lado no sofá.
- Eu estou calmo Oh-chan!
- Não está não. – Aiba comentou casualmente, sentado em um puff. – Desde que você chegou, não tira esse dedo da boca. Sua unha já deve ter desaparecido!
- Hahahaha, é isso aí Aiba-chan! – Sho entrou no assunto; ele estava sentado no outro puff – Você está muito nervoso, meu amigo. Johnny-san não é nenhum monstro. Tenho certeza que você não estava assim quando falou com ele sobre seu noivado.
- Claro que não, baka! – Nino estava nervoso sim, embora não quisesse admitir, e os comentários dos amigos estavam-no irritando – Mas não é a mesma coisa, né? Eu prometi pra Deb que a gente ia se casar no Brasil, mas sei que isso é muito mais improvável de acontecer. Se ele proibir uma união fora do Nihon, eu não sei o que farei.
- Nino, não precisa ficar bravo – Jun disse, sentado na poltrona no canto da sala – Sua situação é bem melhor que a minha, que estou apaixonado e nem pude confessar ainda. A Débora-san, por acaso, disse que não se casaria se o casamento não fosse no Brasil?
- Pelo contrário, Jun-pon. Ela disse que vai se casar comigo em qualquer lugar.
- Etto ne, não vejo qual a razão de seu nervosismo, nem porque você está tão bravo.
- Não estou bravo.
Nesse momento, ouvem-se três toques consecutivos na porta e um assistente entrou, curvando-se:
- Sumimasen. Ninomiya-san, por favor, venha comigo. Kitagawa-san está te esperando.
- Hai! – Nino prontamente ficou em pé – Minna, torçam por mim, onegaishimasu!
- Hai – responderam os quatro em uníssono e Nino seguiu o assistente, fechando a porta atrás de si.
Todos ficaram em silêncio por alguns minutos. Jun foi o primeiro a voltar a falar:
- Minna, hoje nós vamos jantar com as meninas.
- A Débora-san e a Karorine-san?
- Hai!
- Gomen ne, Matsujun. Eu vou jantar na casa dos meus pais dessa vez – disse o Riida.
- Ore mo. – disse Sho - Minha mãe quer que eu vá lá já faz algum tempo, pois faz quase um mês que não visito eles, e não consigo ter tempo pra jantar com eles todo dia.
- Ano... e você, Aiba-chan?
Ele não respondeu de primeira, concentrado na leitura de um mangá. Quando Jun o chamou novamente, ele olhou e perguntou:
- É comigo? Doushita no?
- Você poderá ir jantar conosco hoje?  Eu, você, o Nino, a Débora-san e a Karoru-chan?
- Ih, Jun-chan, eu vou sobrar! Dois casais e eu no meio? O Riida e o Sho-chan também vão?
- Masaki, você não estava prestando atenção? – perguntou Sho, rindo da cara de desentendido do amigo. – Eu e o Riida não poderemos, vamos comer com nossos pais.
- Você, Oh-chan, os pais dele e os seus?
- Não, hahahaha. Cada um com seus pais.
Aiba ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para os três. Finalmente respondeu:
- Então, Jun-chan, eu não vou. Gomen, demo...
- Nande? – pergunotu Jun – Você não quer ir por qual motivo?
- E ficar sobrando, enquanto vocês quatro ficam tendo conversas de casal?
- Que casal? Cara, que eu saiba, só o Nino está junto da Débora-san aí.
- Ah, Matsujun! A gente sabe – ele fez um gesto com as mãos indicando os outros dois – que você gosta da Karoru-chan.
- Hai! – Ohno concordou – E falando nisso, já tomou alguma decisão?
Jun não respondeu de imediato. Ele realmente havia pensado muito sobre aquilo desde a conversa que ele teve com os quatro, na segunda à noite. Sabia que terminar com Yui àquela altura do campeonato não era nada muito ajuizado e provavelmente acarretaria problemas, mas ele não podia simplesmente ignorar seu coração.
Ainda não estava muito certo de que atitude tomar, nem o que seria melhor de verdade. Mas ele queria ter um momento a sós com Caroline, pelo menos mais uma vez, antes de ela ir embora.
- Uhm... não sei ainda – ele finalmente abriu a boca – Sei que eu não posso tomar nenhuma atitude insensata, e sei que qualquer besteira que eu faça pode prejudiar não só eu, mas o Arashi todo.
- Ano... Jun-kun? – Sho levantou-se do puff e foi até onde amigo estava – Eu sei, eu imagino, o quanto deve ser complicado a sua situação. Mas veja bem... nem sempre é a cabeça que tem razão, você sabe – tocando no braço dele – Nesse caso, talvez não seja, não sei. Mas você precisa decidir logo.
- Hai!
- Isso mesmo, Matsujun – o Riida também se levantou do sofá e se aproximou – seja rápido e consciente. O tempo urge, e no fim da semana ela irá embora.

***

Moshi-moshi. Matsumoto desuKaroru-chan?
Hai! Você ligou para o meu celular, hahahaha. – ela riu, mas na verdade estava um pouco tensa.
Carol estava sentada no sofá do hall do hotel, com roupas de passeio, esperando Débora terminar de se trocar e descer. Ambas iam jantar fora naquele dia, mas com pessoas diferentes. No fim, o jantar em grupo que Jun arquitetara, com todo o Arashi e as duas, não deu certo. Nem Ohno, ou Aiba, ou Sho, poderiam ir e Nino decidiu que sairia pra jantar somente com a noiva, pra contar a ela nos mínimos detalhes sobre a conversa que tivera com Johnny Kitagawa.
Ou seja: Caroline e Jun iam sair sozinhos para jantar. Yui estava viajando e isso a preocupava. Por isso estava tensa.
Às vezes ela ainda se pegava achando que era tudo um sonho. Ela e sua melhor amiga juntas no Nihon, e quem estava com elas desde a chegada na segunda-feira passada eram aqueles de quem elas eram fãs absolutas há quatro anos! Parecia mesmo impossível de ser verdade... tantas fãs no Brasil que nem sequer podiam ir a um show deles e elas não só tinham ido como ganharam, ganharam as entradas do próprio Matsumoto Jun para assistir ao show de camarote! E agora, depois de uma semana lá, tanta coisa acontecera que Carol achava que ia acabar acordando em sua casa no Brasil e descobrindo que nada daquilo era real. O medo de que isso acontecesse realmente a assustava um pouco.
Era Jun no telefone novamente. Nos últimos dois dias, ele ligara três vezes e sempre agia, ou ao menos tentava, como se tudo estivesse normal entre eles. Chamava-a de Karoru como sempre chamara nas cartas e não parecia que alguma coisa mudara desde a conversa deles no domingo.  Mas, no fundo de sua voz do outro lado da linha, ela percebia certa tensão. Ele também estava tenso por algum motivo.
Por mais que Carol tivesse decidido o que fazer a respeito de seu amor impossível, ela ainda trazia a corrente com o coração sobre o peito. Não conseguira ainda tirá-lo do pescoço, pois ela ficara ali durante tantos anos que se tornara muito importante para ela e muito especial. Até mesmo chegou a deixá-la sobre a pia do banheiro quando se arrumava, mas não conseguiu ficar sem ela e a colocou de volta. O jeito seria mesmo entregar depois.
Provavelmente também teria que relembrar Jun da exitência da chave, que ele já devia ter se esquecido. Também, ela pretendia dar uma mínima explicação, ao dizer que ele devia dá-la, ou o próprio pingente de coração, para Yui.
Cada vez que pensava nisso seu coração sangrava. Imaginar outra usando um coração que era seu a machucava muito. Carol deixara que um amor de fã, uma admiração, se tornasse um amor real. Um amor que nunca daria certo. A consciência disso pesava em seu peito. Jun já pertencia a outra mulher, isso era fato consumado.
A única justificativa para Yui ter ido viajar sem mais nem menos era ela e Jun estarem ainda meio brigados por causa do ocorrido no sábado. Carol sabia que o motivo da viagem era ela, o que a fez se sentir ainda mais culpada por estar sendo a causa da discórdia entre os dois.
Mesmo brigados, eles ainda eram namorados. Ela sabia que, apesar de pegar muito no pé dele e ser muito ciumenta, era evidente que Yui gostava mesmo de Jun. Carol sabia disso, o que ficara ainda mais claro depois do que ela lhe falara, de todas as ofensas que proferira e das ameaças que fizera. Quem não gostasse realmente, não desceria tão baixo assim por um homem, desceria?
Além disso, Yui era linda, muito mais que a própria Carol. Corpo escultural, uma deusa nipônica. Sem dúvida o Matsumoto conhecia bem aquele corpo. Não, Carol não era páreo para ela. Tinha somente seu 1.58 m, cabelos castanhos curtos e um pouco ondulados, olhos também castanhos, lábios finos e alguns pneuzinhos aqui e ali mostrando que ela não era nenhum pouco perfeita.
- Ano... Karoru-chan, você está aí? – Jun de repente a despertou de seus devaneios.
- Hai! Gomen, eu fiquei um pouco distraída. Aconteceu alguma coisa para você ter ligado?
-Não, não. Eu só quero saber se já posso ir aí no hotel te buscar.
- Err... Matsujun... to esperando a Débora, que ainda não está pronta. Pode ser daqui uns dez minutinhos? Daí, contando que você vai demorar mais uns dez ou quinze minutos pra estar aqui, acredito que ela já terminou. Você e o Nino vêm juntos?
- Não sei dele. Desde que saiu da conversa com o Kitagawa-san hoje ele está meio estranho, não quis falar muito com ninguém. Ele e a Débora-san vão jantar só os dois, né?
- Hai! Etto... ele deve ter combinado com ela então.
Nesse momento, Débora saiu do elevador, belamente vestida com uma calça marrom, uma blusinha manga-longa branca e com um casaquinho amarelo-bebê de linha, combinando com as sandálias de salto. Estava maquiada, mas nada exagerado, e tudo, desde a sombra até o batom, simples variações dos três tons das peças de roupas. Os cabelos caiam soltos nos ombros e ela trazia consigo uma pequena bolsinha de mão, também marrom, no tom da calça.
Não estava sorridente, mas pelo olhar, Carol soube que também não estava triste. Quando Nino ligara a chamando para jantar só o dois e relatar a conversa que tivera com o BIG BOSS, ele estava bem desanimado, Débora contou. Mas ela não ficara desanimada como o noivo, mesmo depois de saber que o Johnny Kitagawa não queria de forma alguma um casamento de algum de “seus meninos” em um país estrangeiro.
Carol voltou a falar com Jun:
- Ela já apareceu. Espera só um minutinho – tapou o bocal do aparelho e se dirigiu à amiga – O Nino vem te buscar que horas?
Débora olhou no relógio.
- A gente marcou pra daqui cinco minutos. É o Matsujun? Ele já quer vir? Diz pra ele que pode vir. O Kazu deve estar chegando.
- A Dé disse que o Nino está vindo – ela voltou a falar com Jun – Pode vir já, se quiser.
- Então, espere que daqui a uns dez minutos eu to aí. Jya!
- Jya.

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