- Moshi-moshi – Débora atendeu o celular; era uma chamada de
Ninomiya.
Caroline estava no banho.
Elas tinham acabado de jantar e subiram para o quarto. Estavam exaustas de
tanto caminhar, e esgotaram com a memória do cartão da câmera fotográfica de
tantas fotos que tiraram, além de terem gastado o equivalente a quase mil
reais. Débora não via a hora dela mesma poder tomar uma ducha e cair na cama.
- Oi amor. Konbanwa!
- Konbanwa! Já está em casa?
- Não mesmo. Quem
dera! Liguei para saber como foi seu dia. Passearam muito?
- Hai! Ah, Kazu! Conhecemos o bairro comercial, entramos no meiuo da
muvuca. Tóquio é linda! Tiramos muitas fotos e compramos muito.
- Muitas compras?
Então você gosta de gastar, né, Deb?
- Gosto sim, hahaha. –
ela riu, jogando a cabeça, caindo deitada na cama – Mas fique traquilo, que sou
uma garota muito ajuizada, viu? Conheço sua fama de mão-de-vaca, Kazu!
- Mão-de-vaca, eu?
Quem espalhou essa blasfêmia? – ele ria junto com ela. – Mas é bom mesmo
que você tenha juízo!
- Eu tenho, te garanto!
Agora, e seu dia, como foi?
- Normal. Como sempre.
Reuniões, gravações, sessão de fotos...
- E pra você o dia ainda
não acabou, né?
- Não. E parece que
não vai acabar tão cedo. Eu e os meninos acabamos de voltar do jantar. Ano... sabe o que eu estava pensando?
- Nani?
- Nós vamos nos casar,
você já falou com seus pais, eu já falei com os meus, e já conseguimos a
permissão do Johnny Kitagawa. Demo...
se você vai ficar aqui até nosso casamento, como ficou sua passagem? Já
verificou isso?
- Ainda não. Quando você
vai falar com o Johnny-san?
- Pedi uma reunião com
ele amanhã de manhã.
- Então me ligue depois
de falar com ele. Se o casamento for mesmo no Brasil...
- Vai ser, Deb –
Nino interrompeu.
- Se for mesmo no Brasil
– Débora continuou, sem ligar para a interrupção – Então eu posso transferir
essa passagem para mim mesma futuramente. Se não for... bem, vejo então o que
eu posso fazer.
- Vai ser mesmo no
Brasil. É importante para você, foi a primeira coisa que você me pediu. Vou
realizar isso pra você.
- Não, Kazu. Você é muito
mais importante para mim. O local do casamento pouco importa, contanto que seja
com você.
- Demo, e os seus pais?
- Se eles tiverem que vir
para cá... bom, depois conversamos sobre isso.
- Etto ne... hontou ni... daijoubu
desu ka?
- Hai! Daijoubu, daijoubu.
Não se preocupe. Agora eu vou tomar banho, que a Carol já terminou. Jya ne.
- Jya.
Depois que Débora
desligou o celular, ela foi tomar seu banho.
Caroline já saíra e
penteava os cabelos. Desde a conversa delas na praça, ela temia o momento que
tivesse que falar com Matsumoto Jun outra vez. Por mais que ela não fosse uma
pessoa que chorava com facilidade, nos últimos dias estivera chorando demais e
temia que isso acontecesse novamente ao ouvir a voz dele.
Pensava nisso enquanto
penteava os cabelos molhados em frente ao espelho. Quando será que falaria com
ele outra vez?
Como se lesse os
pensamentos dela, seu celular tocou. Ela atendeu esperando, por algum
motivo, que fosse Jun, mesmo sabendo que era improvável, afinal ele já ligara
para ela naquele dia.
- Moshi-moshi. Karoru-chan?
Matsumoto Jun desu.
Era ele afinal.
- Ah! Konbanwa.
- Konbanwa. Estou ligando porque aquele
Nino baka falou com a Débora-san agora mesmo, e nem comentou. Estou com
planos para amanhã à noite!
- Ano... e o que você está planejando? – Carol sentou-se na cama,
ainda segurando o pente, sua voz um pouco trêmula; seu coração batia
descompassadamente e ela sentia tremores de ansiedade por dentro.
- Daijoubu?
- Hai!
-É que sua voz está
diferente.
Diferente? Como assim
ele conhece minha voz tão bem? Como ele sabe que está diferente?, Caroline
se perguntou.
- Nandemonai.
- Uhm. Karoru-chan, eu pensei em convidar você e
a Débora-san para jantar amanhã, comigo e com os outros.
- Demo... vocês não estarão ocupados? – ela soltou o pente na cama e
passou a mão pelos cabelos, um pouco nervosa.
Carol ficou em silêncio
por alguns segundos. Afinal, não planejara ter que encará-lo ao lado dos outros
membros do Arashi tão rápido. Esperava poder olhar para ele, da próxima vez que
o visse, sem muita gente em volta. Queria poder analisar as reações dele. De
repente, algo lhe ocorreu.
- E Uemura Yui-san?
- Ela... viajou.
- Majide? Quando?
- Ontem. Mas, enfim,
vocês aceitam jantar conosco? Não estaremos ocupados. Ashita, se tudo der certo, o trabalho vai
terminar no meio da tarde!
- So ka. Etto... por mim
ok, mas tenho que falar com a Dé.
- Fale com ela e
depois confirma, ok?
- Hai! Ano...
- Karoru-chan, tenho que desligar agora. Gomen
ne. Estão esperando por mim.
- Daijoubu. Acabei de sair do banho, a Débora está lá agora. Vamos
jantar.
- Mata ashita ne.
- Mata.
***
A reunião que Ninomiya Kazunari marcara com Johnny seria naquela manhã. Todos estavam reunidos na sala do Arashi na JE, e ele não parava de roer as unhas.
- Calma, Kazu-chan! –
disse Ohno, sentando-se a seu lado no sofá.
- Eu estou calmo Oh-chan!
- Não está não. – Aiba
comentou casualmente, sentado em um puff. – Desde que você chegou, não
tira esse dedo da boca. Sua unha já deve ter desaparecido!
- Hahahaha, é isso aí
Aiba-chan! – Sho entrou no assunto; ele estava sentado no outro puff –
Você está muito nervoso, meu amigo. Johnny-san não é nenhum monstro. Tenho
certeza que você não estava assim quando falou com ele sobre seu noivado.
- Claro que não, baka! – Nino estava nervoso sim, embora
não quisesse admitir, e os comentários dos amigos estavam-no irritando – Mas
não é a mesma coisa, né? Eu prometi pra Deb que a gente ia se casar no Brasil,
mas sei que isso é muito mais improvável de acontecer. Se ele proibir uma união
fora do Nihon, eu não sei o que
farei.
- Nino, não precisa ficar
bravo – Jun disse, sentado na poltrona no canto da sala – Sua situação é bem
melhor que a minha, que estou apaixonado e nem pude confessar ainda. A
Débora-san, por acaso, disse que não se casaria se o casamento não fosse no
Brasil?
- Pelo contrário,
Jun-pon. Ela disse que vai se casar comigo em qualquer lugar.
- Etto ne, não vejo qual a razão de seu nervosismo, nem porque você
está tão bravo.
- Não estou bravo.
Nesse momento, ouvem-se
três toques consecutivos na porta e um assistente entrou, curvando-se:
- Sumimasen. Ninomiya-san, por favor, venha comigo. Kitagawa-san está
te esperando.
- Hai! – Nino prontamente ficou em pé – Minna, torçam por mim, onegaishimasu!
- Hai – responderam os quatro em uníssono e Nino seguiu o assistente,
fechando a porta atrás de si.
Todos ficaram em silêncio
por alguns minutos. Jun foi o primeiro a voltar a falar:
- Minna, hoje nós vamos jantar com as meninas.
- A Débora-san e a Karorine-san?
- Hai!
- Gomen ne, Matsujun. Eu vou jantar na casa dos meus pais dessa vez –
disse o Riida.
- Ore mo. – disse Sho - Minha mãe quer que eu vá lá já faz algum
tempo, pois faz quase um mês que não visito eles, e não consigo ter tempo pra
jantar com eles todo dia.
- Ano... e você, Aiba-chan?
Ele não respondeu de
primeira, concentrado na leitura de um mangá. Quando Jun o chamou novamente,
ele olhou e perguntou:
- É comigo? Doushita no?
- Você poderá ir jantar
conosco hoje? Eu, você, o Nino, a Débora-san e a Karoru-chan?
- Ih, Jun-chan, eu vou
sobrar! Dois casais e eu no meio? O Riida
e o Sho-chan também vão?
- Masaki, você não estava
prestando atenção? – perguntou Sho, rindo da cara de desentendido do amigo. –
Eu e o Riida não poderemos, vamos
comer com nossos pais.
- Você, Oh-chan, os pais
dele e os seus?
- Não, hahahaha. Cada um
com seus pais.
Aiba ficou em silêncio
por alguns segundos, olhando para os três. Finalmente respondeu:
- Então, Jun-chan, eu não
vou. Gomen, demo...
- Nande? – pergunotu Jun – Você não quer ir por qual motivo?
- E ficar sobrando,
enquanto vocês quatro ficam tendo conversas de casal?
- Que casal? Cara, que eu
saiba, só o Nino está junto da Débora-san aí.
- Ah, Matsujun! A gente
sabe – ele fez um gesto com as mãos indicando os outros dois – que você gosta
da Karoru-chan.
- Hai! – Ohno concordou – E falando nisso, já tomou alguma decisão?
Jun não respondeu de
imediato. Ele realmente havia pensado muito sobre aquilo desde a conversa que
ele teve com os quatro, na segunda à noite. Sabia que terminar com Yui àquela
altura do campeonato não era nada muito ajuizado e provavelmente acarretaria
problemas, mas ele não podia simplesmente ignorar seu coração.
Ainda não estava muito
certo de que atitude tomar, nem o que seria melhor de verdade. Mas ele queria
ter um momento a sós com Caroline, pelo menos mais uma vez, antes de ela ir
embora.
- Uhm... não sei ainda –
ele finalmente abriu a boca – Sei que eu não posso tomar nenhuma atitude
insensata, e sei que qualquer besteira que eu faça pode prejudiar não só eu,
mas o Arashi todo.
- Ano... Jun-kun? – Sho levantou-se do puff e foi até onde
amigo estava – Eu sei, eu imagino, o quanto deve ser complicado a sua situação.
Mas veja bem... nem sempre é a cabeça que tem razão, você sabe – tocando no
braço dele – Nesse caso, talvez não seja, não sei. Mas você precisa decidir
logo.
- Hai!
- Isso mesmo, Matsujun –
o Riida também se levantou do sofá e
se aproximou – seja rápido e consciente. O tempo urge, e no fim da semana ela
irá embora.
***
− Moshi-moshi. Matsumoto desu. Karoru-chan?
− Hai! Você ligou para o meu celular, hahahaha. – ela riu, mas na
verdade estava um pouco tensa.
Carol estava sentada no
sofá do hall do hotel, com roupas de passeio, esperando Débora terminar
de se trocar e descer. Ambas iam jantar fora naquele dia, mas com pessoas
diferentes. No fim, o jantar em grupo que Jun arquitetara, com todo o Arashi e
as duas, não deu certo. Nem Ohno, ou Aiba, ou Sho, poderiam ir e Nino decidiu
que sairia pra jantar somente com a noiva, pra contar a ela nos mínimos
detalhes sobre a conversa que tivera com Johnny Kitagawa.
Ou seja: Caroline e Jun
iam sair sozinhos para jantar. Yui estava viajando e isso a preocupava. Por
isso estava tensa.
Às vezes ela ainda se
pegava achando que era tudo um sonho. Ela e sua melhor amiga juntas no Nihon, e quem estava com elas desde a
chegada na segunda-feira passada eram aqueles de quem elas eram fãs absolutas
há quatro anos! Parecia mesmo impossível de ser verdade... tantas fãs no Brasil
que nem sequer podiam ir a um show deles e elas não só tinham ido como
ganharam, ganharam as entradas do próprio Matsumoto Jun para assistir ao
show de camarote! E agora, depois de uma semana lá, tanta coisa acontecera que
Carol achava que ia acabar acordando em sua casa no Brasil e descobrindo que
nada daquilo era real. O medo de que isso acontecesse realmente a assustava um
pouco.
Era Jun no telefone
novamente. Nos últimos dois dias, ele ligara três vezes e sempre agia, ou ao
menos tentava, como se tudo estivesse normal entre eles. Chamava-a de Karoru
como sempre chamara nas cartas e não parecia que alguma coisa mudara desde a conversa
deles no domingo. Mas, no fundo de sua voz do outro lado da linha, ela
percebia certa tensão. Ele também estava tenso por algum motivo.
Por mais que Carol
tivesse decidido o que fazer a respeito de seu amor impossível, ela ainda
trazia a corrente com o coração sobre o peito. Não conseguira ainda tirá-lo do
pescoço, pois ela ficara ali durante tantos anos que se tornara muito importante
para ela e muito especial. Até mesmo chegou a deixá-la sobre a pia do banheiro
quando se arrumava, mas não conseguiu ficar sem ela e a colocou de volta. O
jeito seria mesmo entregar depois.
Provavelmente também
teria que relembrar Jun da exitência da chave, que ele já devia ter se
esquecido. Também, ela pretendia dar uma mínima explicação, ao dizer que ele
devia dá-la, ou o próprio pingente de coração, para Yui.
Cada vez que pensava
nisso seu coração sangrava. Imaginar outra usando um coração que era seu a
machucava muito. Carol deixara que um amor de fã, uma admiração, se tornasse um
amor real. Um amor que nunca daria certo. A consciência disso pesava em seu
peito. Jun já pertencia a outra mulher, isso era fato consumado.
A única justificativa
para Yui ter ido viajar sem mais nem menos era ela e Jun estarem ainda meio
brigados por causa do ocorrido no sábado. Carol sabia que o motivo da viagem
era ela, o que a fez se sentir ainda mais culpada por estar sendo a causa da
discórdia entre os dois.
Mesmo brigados, eles
ainda eram namorados. Ela sabia que, apesar de pegar muito no pé dele e ser
muito ciumenta, era evidente que Yui gostava mesmo de Jun. Carol sabia disso, o
que ficara ainda mais claro depois do que ela lhe falara, de todas as ofensas
que proferira e das ameaças que fizera. Quem não gostasse realmente, não
desceria tão baixo assim por um homem, desceria?
Além disso, Yui era
linda, muito mais que a própria Carol. Corpo escultural, uma deusa nipônica.
Sem dúvida o Matsumoto conhecia bem aquele corpo. Não, Carol não era páreo para
ela. Tinha somente seu 1.58 m, cabelos castanhos curtos e um pouco ondulados,
olhos também castanhos, lábios finos e alguns pneuzinhos aqui e ali mostrando
que ela não era nenhum pouco perfeita.
- Ano... Karoru-chan, você
está aí? – Jun de repente a despertou de seus devaneios.
- Hai! Gomen, eu fiquei um
pouco distraída. Aconteceu alguma coisa para você ter ligado?
-Não, não. Eu só quero
saber se já posso ir aí no hotel te buscar.
- Err... Matsujun... to
esperando a Débora, que ainda não está pronta. Pode ser daqui uns dez
minutinhos? Daí, contando que você vai demorar mais uns dez ou quinze minutos
pra estar aqui, acredito que ela já terminou. Você e o Nino vêm juntos?
- Não sei dele. Desde
que saiu da conversa com o Kitagawa-san hoje ele está meio estranho, não quis
falar muito com ninguém. Ele e a Débora-san vão jantar só os dois, né?
- Hai! Etto... ele deve ter
combinado com ela então.
Nesse momento, Débora
saiu do elevador, belamente vestida com uma calça marrom, uma blusinha
manga-longa branca e com um casaquinho amarelo-bebê de linha, combinando com as
sandálias de salto. Estava maquiada, mas nada exagerado, e tudo, desde a sombra
até o batom, simples variações dos três tons das peças de roupas. Os cabelos
caiam soltos nos ombros e ela trazia consigo uma pequena bolsinha de mão,
também marrom, no tom da calça.
Não estava sorridente,
mas pelo olhar, Carol soube que também não estava triste. Quando Nino ligara a
chamando para jantar só o dois e relatar a conversa que tivera com o BIG BOSS,
ele estava bem desanimado, Débora contou. Mas ela não ficara desanimada como o
noivo, mesmo depois de saber que o Johnny Kitagawa não queria de forma alguma
um casamento de algum de “seus meninos” em um país estrangeiro.
Carol voltou a falar com
Jun:
- Ela já apareceu. Espera
só um minutinho – tapou o bocal do aparelho e se dirigiu à amiga – O Nino vem
te buscar que horas?
Débora olhou no relógio.
- A gente marcou pra
daqui cinco minutos. É o Matsujun? Ele já quer vir? Diz pra ele que pode vir. O
Kazu deve estar chegando.
- A Dé disse que o Nino
está vindo – ela voltou a falar com Jun – Pode vir já, se quiser.
- Então, espere que
daqui a uns dez minutos eu to aí. Jya!
- Jya.
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