Uemura Yui não faltou no
serviço aquele dia. Falou por telefone com seu chefe de seção e pediu para
tirar uns dias de folga. Ela precisava pensar e tinha que ser longe dali, então
não poderia ir trabalhar. Como ela tinha horas extras, esperava conseguir pegar
quatro dias, só teria que estar de volta ao Jornal na sexta-feira. Então, falou
com ele na segunda mesmo, antes de sair de casa.
Depois de ter sido
abandonada no domingo o dia todo, na segunda ela acordou decidida a ir embora.
Passaria alguns dias fora, mas não pensou em ir para a casa dos pais. Em vez disso,
fora para Chiba, no litoral, e depois de quase três horas de carro, ela
finalmente chegou. Iria se hospedar na pousada onde ela costumava ficar com os
pais na adolescência.
Aproveitaria
aqueles dias de solidão para pensar em sua vida. Ser namorada do Matsumoto Jun
nunca estivera exatamente em seus planos. Na verdade, dos membros do Arashi,
era de quem ela menos gostava, mas por causa de sua profissão de jornalista,
teve que cobrir shows e apresentações e tinha que ser imparcial com relação aos
cinco.
Ela então se mudou
para um prédio para morar sozinha, e logo quem era seu vizinho? Matsumoto Jun.
Eles começaram a conversar periodicamente, sempre que se viam no prédio, e
quando ele pela primeira vez a chamou para um encontro, ela quase recusou, mas
uma colega sua da revista, Nozomi-san, que ficou sabendo do convite, não
permitiu que ela recusasse. E, depois do primeiro encontro, outros se repetiram
e ela acabou se apaixonando, mesmo sem querer.
Agora, depois de mais de
um ano juntos, não conseguia mais entender o namorado. Primeiro, logo no
início, ele escondeu dela a história das cartas. Mais recentemente,
simplesmente deu as entradas do show para alguém que ele nem conhecia. E então,
combinou de ir pegar as turistas no aeroporto e só contou para ela no dia
anterior.
Além de tudo isso, desde
que elas chegaram, ele estava estranho. Não atendia a seus telefonemas de
primeira nem respondia suas mensagens. E agora, ficou o fim de semana todo a
evitando. Droga, Matsumoto, ela pensou, o que está acontecendo com
você?
Yui estava no pequeno
restaurante da pousada, jantando. Ela estava exausta. Assim que chegara a
Chiba, fora almoçar num restaurante à beira-mar meio vazio por ser início de
semana, e depois decidiu dar um passeio na praia, tentando refrescar as ideias.
Ele ligara para ela em todo o tempo, mas Yui não atendeu uma vez sequer. Ao
invés disso, colocou o celular no silencioso, dentro da bolsa, e deixou que
tocasse.
Andando pela areia, ela
tentava pôr ordem nos pensamentos. Será que fora muito dura com a estrangeira?
Afinal, ela ia embora dali a alguns dias apenas, não ia? Agora, já não era mais
ela que a preocupava, mas o próprio Jun. E se ele estivesse mesmo apaixonado
por outra, como ela suspeitava?
Ela não era masoquista,
não mesmo. Não iria ficar com um homem só por interesse ou por estar
apaixonada por ele. Para um relacionamento dar certo, é necessário
que haja uma troca de sentimentos, e se essa troca deixar de existir, se ele
não estiver mais apaixonado por ela, então não poderão mais ficar
juntos. Simples assim.
Claro que ela sofreria se
o namoro terminasse, pois ainda era apaixonada por Jun. Mas era muito racional,
não movida somente por sentimentos, e não queria se “amarrar” a alguém que não
gostava mais dela para sofrer à toa. Derrubaria algumas lágrimas por um tempo,
mas não ficaria presa ao passado. Doía pensar nisso, mas era a melhor solução,
se Matsumoto gostasse mesmo daquela gaijin.
O que mais matava os
neurônios de Yui era que a burajirujin
nem bonita era. Não tinha sal nem açúcar. Era uma pessoa tão sem graça.
Racionalmente falando, nunca que alguém em sã consciência a trocaria por aquela
coisa. Bom, talvez alguém trocasse, mas não o Matsumoto Jun, o eterno DoS,
super exigente, perfeccionista em tudo o que fazia e tudo o mais. Se ele
realmente tivesse escolhido a outra, então Yui não sabia nada de seu
namorado, mesmo depois de tanto tempo de namoro.
Viu o sol se pôr e foi
para a pousada. Não fizera reservas, foi uma decisão de última hora ir para
aquela cidade, então apostava na sorte que em geral a acompanhava, pois sabia
que aquela era uma pousada disputada, mas como era segunda, ela esperava ter
quartos vagos.
Realmente, tinha quartos
vagos, como ela supôs. Fez o check-in e acertou para ficar até
quinta-feira, pagando já 50% do valor da estadia. Subiu para seu quarto e
ajeitou suas coisas. Perguntava-se se Matsumoto tinha encontrado o bilhete que
ela deixara. Para encontrá-lo, ele precisaria ter entrado em seu apartamento
com a chave que ela lhe dera dois meses depois que começaram o namoro. O que,
em absoluto, ele não gostava de fazer e só duas vezes, em todo aquele tempo,
ele usara aquela chave, por mais que Yui dissesse que seu apartamento também
era dele.
Tomou uma ducha rápida e
desceu para comer, estava com muita fome mesmo, parecia não ter se alimentado
direito, o que não era verdade, pois comera muito bem no almoço.
Os donos da pousada a
conheciam e sabiam também que ela namorava o Matsumoto do Arashi, pois ela já
aparecera junto dele na TV e também em algumas reportagens aqui e ali. Como
eram um “casal oficial”, não era tão estranho vê-los juntos.
A esposa (os donos eram
um casal) veio até ela quando Yui estava sentada sozinha a uma mesa mais
retirada da “muvuca”. Mesmo sendo início da semana, tinha bastante gente por
lá.
- Yui-chan, hisashuiburi! A última vez que te vi,
você contou que tinha começado a namorar. Veio sozinha né?
- Hai. – ela sorriu, olhando para a mulher.
- E seus pais?
- Eles estão bem. Não
falei para eles que vinha para cá.
- So ka. E Matsumoto-san?
- Ele também não sabe que
estou aqui.
- Ah. – coçando o queixo,
confusa – Não quero ser intrometida, mas aconteceu algo? Vocês ainda estão
juntos, né?
- Hai, Machiko-san. – o olhar dela, antes sorridente, agora
entristeceu – Mas infelizmente, não sei por quanto tempo.
- O que aconteceu,
Yui-chan?
- Nandemonai.
- Oras, claro que
aconteceu algo! Seus olhos dizem isso!
- Nada demais,
Machiko-san. Por enquanto, se não se importar, não quero falar nisso.
- Etto... daijoubu, Yui-chan
– fazendo sinal para um garçom e se dirigindo a ele, quando se aproximou –
Atenda essa moça, onegai.
- Hai! – ela respondeu.
Machiko-san deu tchau
para Yui e se afastou, voltando ao balcão do bar.
***
Matsumoto Jun estava
preparando espaguete na manteiga, pois já que todos iriam jantar lá, o mínimo
que ele podia oferecer era boa comida.
Fazia quinze minutos que
falara com os meninos e fora em seguida preparar a refeição. Ninomiya, que
disse que chegaria em dez minutos, não tinha aparecido ainda.
Esse prato era rápido e
fácil de fazer, além de muito gostoso. Com um vinho tinto seco então, ficava
ainda melhor!
Enquanto preparava tudo,
o bilhete de Yui não saía de sua cabeça. Será que ela estava terminando tudo?
Pelo jeito ela tomara uma decisão – alguma decisão – antes dele próprio.
Mas, ao que parece, a possibilidade daquele bilhete significar o fim do namoro
deles não estava afetando-o tanto quanto era de se esperar.
Claro que ele ficara
surpreso, até mesmo muito surpreso, mas mesmo assim ele não ficara
propriamente triste. Só se sentiu frustrado por não ter ele mesmo decidido alguma
coisa e falado decentemente com ela antes dela viajar. Contudo, não podia
evitar sentir certa expectativa e até mesmo felicidade. Se ele não estivesse
mais com Yui, teria uma chance de ele conseguir se acertar com a Karoru-chan.
Por um instante, ele se esqueceu completamente que a distância entre Brasil e
Japão é grande. Muito grande.
No momento em que
colocava o espaguete na panela para misturá-lo à manteiga, a campainha tocou.
Com pressa para que a manteiga não esfriasse, secando as mãos no avental, ele
foi até a porta e a abriu. Nem olhou direito quem era, mas pelo canto do olho
viu que era o Riida, antes de voltar
correndo para a cozinha.
- OH-CHAN! – ele gritou
para o outro, que ficara para trás. – VEM CÁ. TO TERMINANDO O JANTAR. – mexendo
o espaguete com uma grande colher de pau.
- Calma, Matsujun, não
precisa gritar que eu não sou surdo, hahaha. – Ohno entrava na cozinha – Estou
aqui já – e puxou uma cadeira para se sentar. – O cheiro é bom! O que você está
preparando aí?
- Espaguete na manteiga.
E vinho.
- É um jantar! Só para
nós dois? – Ohno piscou o olho para o mais novo, com um sorriso maroto, de um
jeito conspirador.
- Claro que não! Baka! – Jun riu, enquanto colocava o
espaguete na vasilha de inox e espalhava aqui e ali as folhas de manjericão. –
Eu chamei os outros também.
Cobriu a vasilha com
papel filme e a guardou no forno. Em seguida, tirou o avental, o dobrou e
guardou na gaveta do armário. Abriu a porta da repartição onde ficavam os
pratos.
- Vamos, me ajude a
arrumar a mesa, Oh-chan! Tomara que eles não cheguem muito tarde. Massa
requentada é horrível!
Quando ele disse isso,
ouviu-se outro toque na campainha. Na verdade, outros toques, como se alguém
estivesse musicando. Ele já viu tudo! Só podia ser...
- Aiba-chan!!! Pare com
isso!!! Estamos num prédio, esqueceu? Eu tenho vizinhos em todos
os lados – Jun abriu a porta, com o olhar um pouco irritado.
- Ah, Jun-chan, eu nem
fiz muito barulho. Para você de ser chato!
Antes de Jun fechar
novamente a porta, Nino e Sho apareceram seguindo pelo corredor.
- Yo! – Sho gritou, apressando o passo e puxando Nino consigo.
- Vocês vieram juntos?
- Não – foi Nino que
respondeu. – Nos encontramos na entrada do prédio. A janta ta pronta, Jun-pon?
- Hahaha! – Jun deu um
tapinha de leve no ombro do amigo e fechou a porta. – Hai! Vocês chegaram bem na hora! Vamos comer logo pra não esfriar!
- Hummm, que cheiro bom
Jun-chan! - Aiba comentou - Eu fiz um lanche agora há pouco, mas to achando que
vou jantar, comer um pouquinho do que quer que seja que você vez.
- O que é Jun-pon? – Nino
já se encaminhava para a copa. – Realmente tem um cheiro maravilhoso!
- Espaguete na manteiga.
– Oh-chan respondeu, colocando os talheres na mesa.
- Pega um vinho no bar,
Sho-chan, onegai.
Jun voltou a pegar os
pratos, que deixara sobre o balcão para atender a porta. Puxou Aiba consigo
para pegar as taças e Sho escolheu uma garrafa de vinho. Nino ficou belamente sentado
à mesa.
Quando finalmente Jun
trouxe a vasilha da cozinha, todos se sentaram para comer. Ele abriu o vinho e
serviu uma porção do espaguete para cada um. Em seguida, serviu para si
próprio e se sentou.
- Jun-chan, você me ligou
porque tinha algo pra falar. O que é?
- Depois, Aiba-chan.
Agora, vamos comer!
Ao som de uma música
calma eles comeram e beberam vinho. Aiba comeu somente aquela porção, afinal já
havia jantado. Os outros todos repetiram uma vez, mas Nino repetiu duas. Depois
de quarenta minutos, a vasilha estava vazia, assim como a garrafa de vinho.
- Vamos pra sala, minna! – Jun chamou, ficando em
pé. – Lá eu mostro para vocês.
- Mostra o quê? – quis
saber Sho.
- Você já vai saber.
Todos se sentaram nos
sofás e Matsumoto Jun tirou o bilhete do bolso. Estendeu para Sho, que estava
ao seu lado, e este estendeu para Aiba, que entregou para Nino e este para
Ohno. Todos leram em silêncio, formando suas próprias considerações sobre o que
estava escrito.
- E aí, o que acharam? –
Jun perguntou, olhando para cada um por alguns segundos.
- Uhm... – Oh-chan coçou
o queixo, pensativo. – Eu acho... que a Yui-chan é mais esperta do que você
imagina.
- Hai! – afirmou Sho – Ficou evidente, por esse bilhete, que ela entendeu
algo, ou está prestes a entender.
- Eu sei disso. Indo
embora assim, ela antecipou uma decisão minha... mas antes queria ouvir vocês.
- Quer ouvir a gente
sobre o que, Jun-chan? – Aiba perguntou, sem entender.
- Eu... ano... acho que ficou claro... droga,
não gosto de ter que reconhecer isso!
- Fale, Matsujun –
incentivou o líder do Arashi.
Jun se sentiu levemente
enrubescido, as bochechas começaram a esquentar. Ele não era assim, não ficava
envergonhado à toa. Sempre fora dono de si. Mas, por algum motivo, sentiu uma
grande timidez invadi-lo. Por fim, passados alguns minutos, ele disse:
- Ano... acho que todos sabem... que eu sinto alguma coisa
pela Karoru-chan, né?
Os quatro concordaram com
a cabeça, e Nino disse:
- Você não sente apenas alguma
coisa, você está apaixonado pela Karorine-san!
Eu... acho que talvez
posso mesmo estar.
- Você só acha, Matsujun?
– Oh-chan fez a pergunta, em tom retórico, olhando para o mais novo.
- Matsujun... você está
muito triste por que a Yui-chan te deixou? – Aiba questionou.
- Na verdade, acho até
que senti certo alívio!
- Nande?
- Porque talvez... eu
consiga fazer alguma coisa nesse tempo em que a Karoru-chan ainda ficará
no Nihon... sem a Yui por perto.
- Matsujun, como você é
insensível! – Sho exclamou.
- Não sou não, Sho-chan.
Eu conheço bem a Yui, eu acho, e se ela realmente entendeu, ela não vai
querer levar essa relação adiante, pois ela não gosta de ser a segunda, ou ser
deixada de lado.
- Mas você já parou pra
pensar, Jun-chan – Aiba se manifestou – o quanto a Yui-chan deve estar sofrendo
com isso tudo?
- Já pensei nisso sim
Aiba-chan. Mas pensa comigo, ela vai sofrer muito mais se continuarmos juntos,
mesmo se eu estiver (na hipótese de eu realmente estar) apaixonado pela Karoru-chan.
- Você está, meu amigo –
o Riida disse, com olhar complacente.
- É, pensando por esse
lado... – Aiba se pôs a refletir por alguns segundos - ... faz sentido o que
você disse.
- Demo... Jun... e como fica o caso com Johnny Kitagawa, as fãs e
tudo o mais? – foi Sho quem levantou a hipótese - Ninguém vai aceitar fácil que
você terminou com a renomada jornalista Uemura Yui para ficar com uma burajirujin, uma plebeia. Nisso
você já pensou?
- Não.
- Então pense Jun. Isso
precisa ser bem considerado antes de você tomar qualquer decisão. Pense bem.
Mas saiba que seja qual for sua decisão, eu irei te apoiar. Somos uma equipe.
- Nós vamos te
apoiar – disseram os outros em uníssono.
- Não somos apenas um
grupo de artistas, colegas de profissão que por acaso trabalham juntos. Somos
amigos uns dos outros. E estivemos juntos sempre, nos acertos e nas burradas de
cada um. Vamos continuar juntos.
- Isso mesmo, Oh-chan –
Nino concordou. – Jun-pon, eu pedi uma moça em casamento em menos de uma semana
que a conheço. Não duvido que você está realmente apaixonado pela Karorine-san. E você ainda troca cartas
com ela há um tempão!
- Mas nunca falamos de
romance ou coisa assim nas cartas... demo...
- Nani? – Aiba perguntou, quando Jun ficou em silêncio.
- Demo... teve aquele pingente de chave...
- A chave do coração que
ela carrega na correntinha no pescoço... – comentou Sho. – Aliás, hoje fui
almoçar naquele meu restaurante favorito e quem eu encontrei? A Karorine-san! Ela estava sozinha, né?
Nino levou Débora-san para conhecer sua mãe. Daí, como ela estava sozinha e eu
também, almoçamos juntos.
- Majide? – Jun olhava para o amigo. – Ela comentou algo sobre mim?
- Jun-kun, você está
parecendo um adolescente apaixonado! Hahaha. Não, ela não falou de você, muito
menos eu toquei no assunto, mas reparei de primeira que ela trazia a corrente
do coração no pescoço. Acho que ela fica direto com essa corrente, né?
Todos ficaram em silêncio
por alguns minutos, apenas ouvindo Eyes On Me, da Kanon, que tocava ao fundo.
Finalmente Nino disse algo:
- Escutem-me, todos! Eu
também quero contar uma coisa, e vou aproveitar essa reuniãozinha que o Jun-pon
armou.
- Nino, fica pra próxima,
eu tenho que ir. Tem o Zero hoje. –
disse Sho, ficando em pé.
- Sho-chan, é rapidinho. Agora
são 9h20, prometo que concluirei em dez minutos.
- Trem certeza? – Nino concordo
com a cabeça e Sho voltou a se sentar.
- Você também, Nino-chan?
– Ohno disse.
- Nino... você ia encontrar
sua mãe, né? – lembrou Aiba – E aí, como foi?
- É sobre isso que quero
falar.
Nino, que estava sentado
no sofá ao lado de Ohno, se levantou. Deu alguns pigarros enquanto decidia
exatamente o que dizer. Mas antes que pudesse abrir a boca, este lhe falou:
- Algo saiu errado, Nino?
Você apresentou a Débora-san pra sua mãe?
- E para meu pai também.
A okaasan chamou o otousan para almoçar.
E ele contou o que tinha
acontecido. Relatou as afrontas que seu pai fizera à Débora, da discussão que
eles tiveram, de como ele ficara irritado com o pai e de como Débora pareceu
ter ficado mal, mesmo querendo se mostrar alegre e normal, como se nada tivesse
acontecido.
No fim da história de
Nino, ele concluiu dizendo:
- Estou com medo, minna.
Medo de quem meu pai tenha assustado a Deb. Medo de que ela desista de mim.
- Ela não vai desistir,
Kazu – Ohno disse, ficando em pé em frente ao amigo e segurando firme e
carinhosamente seu ombro.
- Não vai mesmo – os
outros concordaram.
***
Depois que Débora contara
toda a história de como tinha sido seu almoço de domingo com a família do
noivo; depois de ela pôr em dúvida aquela decisão súbita de casar; depois dela
chorar e se lamentar sobre “O que vai ser de mim sem o Kazu?”, ela foi tomar
banho.
Caroline dissera para a
amiga que ela não precisa “Ficar sem o Kazu”. Se o amava mesmo, devia ficar com
ele, e provar ao pai dele o valor que ela tinha. Carol acreditava no poder do
amor e nos milagres que ele podia fazer. Das duas, sempre fora a mais romântica.
Ela sempre acreditou totalmente na força de um coração sincero. Por isso, não
concordava com o fato de a amiga desistir de um amor assim, que não acontece
duas vezes, simplesmente porque encontrou algumas dificuldades ao fazer a
primeira curva.
Naquele dia não desceram
para jantar. Fizeram pedidos por telefone a um restaurante chinês que tinha
perto do hotel e que tinha sido recomendado. Depois que comeram, Dé somente
vestiu o pijama e disse que ia dormir, estava com a mente muito carregada,
cheia de pensamentos e indecisão e precisava descansar. Carol ficou vendo o
resto de um filme na TV por mais meia hora.
Quando desligou o
aparelho e apagou o abajur, os pensamentos que evitara ter durante o dia
invadiram sua mente, ao fechar os olhos para tentar pegar no sono.
Com os olhos fechados, a
imagem que viu por trás das pálpebras foi a de Matsumoto Jun lhe sorrindo e
pedindo para ela ficar. Achou que ia desfalecer quando ele pronunciou as
palavras “promete, por mim”. Foi o que fez ir embora qualquer resquício de
dúvida que ela tinha em ficar até a data pré-marcada no Nihon. Ele, com aquele belo sorriso, mostrando os dentes brilhantes
de tão brancos, sempre que olhasse para ela naquela semana, dificilmente teria
algum pedido negado. Carol teria que ter muita força de vontade para se manter
firme.
Ela se perguntava o que
faria no dia seguinte, se o encontrasse. Na verdade, o que faria da próxima vez
que o visse. Sabia que precisava ter juízo, e não se entregar completamente a
uma paixão que ela sabia que estava fadada ao fracasso. O vôo para o Brasil era
no próximo sábado à noite e ela não podia mudar isso. Nem que quisesse.
Porque as férias acabavam
na terça-feira, e ela chegaria em casa na segunda. Então, teria que trabalhar
novamente. Não era independente como Débora. Morava com os pais e com seu
salário, precisava ajudar em casa e, além disso, sua faculdade terminaria
somente no próximo ano. Faltara toda a semana anterior e faltaria também essa
que entrava, aproveitando as semanas antes das provas. Mas não poderia faltar
mais, pois a primeira prova seria na segunda mesmo, à noite.
Ter que se separar do Jun
fazia doer seu coração. Ela aconselhara a amiga a não desistir tão fácil de um
amor, mas era o que ela estava disposta a fazer. Como iria se prender a ele, um
homem comprometido, e além do mais, completamente fora da sua realidade? Ela
era uma moça normal, como qualquer outra, estudante, que trabalhava de sol a
sol e ganhava muito menos do que ele. Não nascera para namorar um superstar.
Quando ele escreveu na
carta que estava namorando Uemura Yui, ela, apesar de sentir já naquele tempo
uma ponta de ciúmes, mas não admitir nem para si mesma, ficou maravilhada.
Afinal, ela era uma jornalista reconhecida e Carol sempre lia na internet as
matérias que ela escrevia, muitas sobre o Arashi. Mas Carol nunca desconfiara
que seria possível Uemura namorar algum deles.
Foi pensando nisso que,
aos poucos, seu raciocínio começou a falhar e, dentro de alguns minutos, seus
olhos se fecharam e ela adormeceu, para acordar somente na manhã seguinte.