Caroline voltou a se
sentar. Era só o que faltava! Débora passou dos limites. Ela levou Jun para
dentro do quarto.
O que ela queria
afinal? Primeiro pedindo para ele aparecer logo cedo, porque ela só podia ter
pedido a ele, era a única explicação para que ele aparecesse do nada no
hotel. Mas o porquê disso, Carol não sabia, mas desconfiava.
A amiga acreditava
que ela estava apaixonada por Matsumoto. Além disso, não queria que ela fosse
embora antes da hora, mas seus argumentos não valeram de nada. Então, Dé contou
todo o plano de voltar para o Brasil às pressas pra ele e ele apareceu ali para
impedí-la. Por que ele? Simples. Porque Débora acreditava que ele sendo o ichiban de Caroline e ela estando
apaixonada e tudo o mais, ele era o único a quem ela não negaria um pedido.
Para Carol foi
fácil chegar a essa conclusão. Bastou alguns minutos de reflexão e ela
conseguiu juntar os pauzinhos.
Mas se Débora
achava que com isso ia conseguir fazer com que ela mudasse de ideia, estava
muito enganada.
Passados dez
minutos desde que ouvira os passos, tudo que Carol podia identificar eram
sussurros, mas não conseguia entender nada. De repente, a conversa cessou e ela
ouviu a porta da sacada sendo aberta e passos se distanciando, depois a porta
novamente se fechando.
Fez-se silêncio por
cinco minutos talvez e ela ouviu Débora chamar:
− Pode vir,
Matsujun!
E novamente o som
da porta da sacada se abrindo e se fechando em seguida. Então, ela ouviu
novamente os sussurros indecifráveis, passos pelo corredor, uma leve risada de
Dé e o abrir e fechar da porta do quarto. Depois, silêncio novamente.
Ótimo, ela
pensou, ele deve ter ido embora. Bom, vou sair daqui e pegar meu celular.
Caroline se
levantou e, quando abriu a porta, deu de cara com Matsumoto Jun.
***
Quando eles entraram no
quarto, Jun pensou que possivelmente Caroline sairia do banheiro e pararia com
aquela brincadeira infantil de cão e gato. Mas eles não ouviram nada vindo do
outro cômodo.
Jun então quis ir embora.
Sentia-se meio bobo ali, num lugar que aparentemente não era bem vindo. Ao
parar ligeiramente no corredor, antes de Débora o puxar pela mão, ele pensou em
abrir mão daquilo tudo. Afinal, parecia que Caroline não queria nada com ele
mesmo e já deixara isso muito claro, evitando-o desde o dia anterior. Estava
pronto para dar meia volta e sair pela porta que entrara quando Débora o
arrastou para dentro e o fez sentar-se em uma das duas camas, enquanto ela
sentava em outra. Somente então eles notaram a mala pronta e já fechada de
Carol.
− É a mala da Karoru-chan,
né Dé? Acho que ela já se decidiu – comentou, passando a mão pelos cabelos.
Depois, deu um tapinha
ligeiro nas pernas e disse, pondo-se em pé:
− Acho que não tenho mais
nada pra fazer aqui. Gomen ne,
Débora-san – ela fez uma careta quando novamente ele a chamou de maneira formal
– mas estou perdendo tempo. Não posso fazer nada por ela, se ela já decidiu. –
se encaminhando para a porta do quarto.
− Não, Matsujun! – Dé o
segurou pelo cotovelo – Você não pode. A Carol... tá muito chateada, entenda
isso, faz uma forcinha. Tenho certeza que se vocês conversarem, as coisas se
ajeitam!
Lentamente, ele voltou a
se sentar. É, ela tinha razão. De qualquer forma, não queria que Caroline fosse
embora já. Queria ter mais algum tempo com ela. Para consertar a burrada de
Yui. Mas principalmente para entender o que realmente sentia.
− Mas ela não quer falar
comigo.
− Ela está com medo, Jun
– Débora novamente usou um tom mais maternal – mas ela quer sim. Só que ela tem
medo de que, se conversar com você, ela tenha que encarar o fato de estar
apaixonada.
− Nani? – ele passou a mão pelo rosto e piscou os olhos – Apaixonada?
− É – Dé fazia que sim
com a cabeça, enquanto falava – Desde o início eu suspeitei que isso fosse
acontecer. E, bem, a verdade é que quando você primeiro nos deu os ingressos e
depois cantou aquela música pra ela lá no show...
− Cantei? – Jun
interrompeu, olhando-a com cara de dúvida e espanto, como se não soubesse
perfeitamente o que tinha feito.
− Errr... bem... ela
acredita que você cantou. One Love.
Eu também pensei que...
− Ahh, sim, ela me pediu
numa carta, né? – mais uma vez, ele tentou falar como se aquilo não tivesse
nada a ver, mas dessa vez, suas palavras saíram um pouco inseguras, suas
bochechas enrubesceram um pouco e ele desviou ligeiramente o olhar.
Débora olhou a cena e riu
consigo mesma. É, pelo jeito Carol tinha razão. Ele cantou para ela. A quem ele
queria enganar, ficado vermelho daquele jeito?
− Sim Jun. Por acaso, ela
comentou na carta, e por acaso vocês cantaram no show, e por acaso você sorriu
para ela enquanto cantava, e por acaso também você ficou inseguro agora.
− Não fiquei inseguro –
ele retrucou e ela sorriu.
− Ficou sim. Acho que
vocês precisam conversar mesmo. Bom, eu vou descer e fazer o desjejum. Já que
eu acordei cedo, o jeito é me alimentar né? Minha barriga tá roncando...
− Você e o Nino combinam
bem – Jun comentou, com um sorriso leve.
− Acho que sim. Tomara
né! É nisso que aposto, aceitando me casar com ele assim, sem mais nem menos.
De qualquer forma, eu vou descer, e você fica aqui. Quem sabe nessa uma hora
que deixarei vocês sozinhos, ela não resolve sair do banheiro? Daí vocês
acertam os ponteiros.
− Hai.
− Pra isso, preciso me
trocar. Vá lá fora, na sacada, e espere até eu te chamar!
***
− Matsu... Matsumoto-san?
– Carol parou assim que o viu.
Ele estava sentado na sua
cama, e ao lado dele estava o celular com o strap do tour de
2012. Mas pelo visto ele não mexeu no aparelho. Mas, mesmo assim, não havia
meios de Carol ir até ele sem que Jun a impedisse.
Ele olhou devagar para
ela e instantaneamente fechou a cara numa expressão de reprovação forçada, com
certo humor brincalhão.
− Eu já disse pra você
não me chamar assim, não disse? – ele tinha as mãos na cintura e imediatamente
ficou em pé e foi até ela, parando a apenas um passo de distância. – Por que
está fugindo de mim, Karoru-chan?
− Eu... eu...? – de
repente ela ficou confusa e não sabia o que dizer. Ele estava muito perto, se
ela esticasse o braço poderia tocar em sua face.
Observou-o melhor. Aquele
rosto que ela tanto amava – como fã, mas mais que isso, agora ela não tinha
mais dúvidas -, que ela vira tantas vezes em fotos, revistas, pôsteres,
encartes de CD’s e DVD’s, que era o mais belo rosto que já vira em toda a vida,
com aquelas pintinhas próximas aos lábios, aqueles olhos maravilhosos e aquele
sorriso apaixonante. Aquele rosto estava bem diante dela. Aqueles olhos a
olhavam intensamente. Aqueles lábios carnudos sorriam para ela. Caroline mais
uma vez naquela semana achou que estava sonhando. Passou a mão pelos olhos e
piscou repetidas vezes para se certificar que não era uma visão.
Naqueles poucos minutos
de silêncio, Matsumoto também a observou. Vestia uma roupa simples: jeans,
uma blusinha meia manga e sapatilhas. Não estava maquiada, como nunca estava
desde que chegara ao Nihon, mas nem
mesmo o batom usual tinha sobre os lábios. Sua aparência era cansada e tinha os
olhos fundos. Jun imaginou o quanto ela já chorara aquela manhã, e por quê.
Não, não era uma garota
bonita. Não era modelo nem seria capa de revista algum dia. Mas tinha uma
beleza singular, que ele notara desde o primeiro instante. Tinha um sorriso
encantador, mas naquele momento não sorria e tinha os olhos baixos, mas ele
pôde notar que ela também o olhava atentamente.
Para quebrar aquela
quietude que se tornou constrangedora, ele a incitou a falar. Antes, quando ele
perguntou por que ela fugia dele, ela não respondeu.
− Vamos, fale, Karoru-chan.
Fiquei sabendo que você pretende ir embora hoje. Por que isso agora?
− Débora te contou isto?
Eu sabia! Ela é mesmo uma linguaruda! – Carol disse, rapidamente voltando a si.
− Sim, ela contou. Não
era pra contar? Você ia embora para o Burajiru
e ia esconder isso de mim?
− Ano... eu... não ia esconder nada.
− Só não ia me contar né?
E a gente nunca mais ia se falar? Era esse seu plano? Olha, Karoru-chan
– ele voltou a se sentar na cama e a puxou para se sentar ao seu lado, e quando
ela quis levantar, ele segurou seu braço – Você não pode fazer isso, está bem?
Não adiante a viagem.
− Eu já me decidi
Matsumo... – ele a olhou de cenho franzido e ela rapidamente se corrigiu – Eu
já me decidi Jun. É melhor eu voltar.
− Melhor?
− Sim. Uemura-san acha
que sou um estorvo. Eu não devia estar aqui. Não quero atrapalhar ninguém.
− Yamete! Não quero ouvir você falando isso! – Jun, que ainda
segurava seu braço, num ato-reflexo o apertou levemente, imprimindo certa
pressão com os dedos que fez com que Carol contraísse os músculos. Ele
imediatamente a soltou.
− Gomen! Machucou?
− Iie... – ela fez um gesto negativo com as mãos - Não foi nada.
− So...
etto ne, Karoru-chan. Pare
de falar isso, você não é um estorvo.
Ela calou e olhou para
baixo. Suas mãos repousavam sobre as pernas e joelhos. Elas estavam tão
próximas às mãos de Jun que ambos quase se tocavam.
De repente, Caroline
sentiu uma vontade imensa de ceder. Ela gostou de ouvir da boca dele que ela
não era um estorvo, e queria acreditar nisso. Mas sabia que a namorada oficial
dele era Yui, e ela não tinha espaço nessa história. Quando voltasse ao Brasil,
estaria tudo acabado.
Então, não fazia sentido
ela querer se interpor entre eles. Não fazia sentido ela atender ao pedido de
Jun àquela altura. Muita gente ia ficar insatisfeita se ela fosse a causa de
sequer uma suspeita de alguma indisposição entre Jun e Yui, especialmente
Johnny Kitagawa, que já aprovara o relacionamento deles e o casamento futuro
era esperado, até mesmo pelas fãs.
Além disso, se ela
ficasse, tudo o que conseguiria era se machucar mais. Chorar mais. Já estava
cansada de chorar e sofrer. Desde a visita inesperada, fora isso que fizera.
Por isso pegou a mão dele, num movimento lento e tímido, e, olhando-o nos olhos
diretamente, disse:
− Eu não posso Jun. Não
posso ficar mais, você não entende? É melhor mesmo eu ir imediatamente.
Ele apertou de leve as
pontas dos dedos da mão que segurava a sua e negou com a cabeça.
− Já disse que não. Não
mesmo. Por favor, não faça isso.
Caroline deixou que ele
segurasse sua mão e sentiu novamente as lágrimas inundarem seus olhos quando
ele pediu com aquele semblante entristecido e cheio de pesar. Quis poder
abraçá-lo. Pensou que se estivesse no Brasil e fizesse algo assim, seria
normal, mas ali naquele país, era melhor não arriscar e ser mal interpretada.
Como não havia outra coisa a fazer, deixou apenas que ele lhe segurasse a mão
enquanto a água quente escorria por sua face. Com a cabeça baixa, ela se forçou
a dizer:
− Eu... preciso...
ligar... no... aeroporto... e... transferir... o... vôo. – sua voz saiu
entrecortada pelos soluços contidos.
Carol estendeu a mão
livre para pegar o celular, mas Jun a impediu, pegando o aparelho antes dela e
erguendo-o acima da cabeça.
− Você não vai fazer
isso! Eu já disse que não, e quando digo algo, é definitivo – ele olhou para
ela com o olhar severo, meio DoS, nervoso por causa das lágrimas repentinas.
Ele nunca soube lidar direito como uma mulher chorando, e isso o irritava, se
sentia sem ação.
− Você não manda em mim!
Me dá o celular, por favor – ela se esticou sobre ele, suas pernas se tocaram e
seus rostos ficaram muito próximos, o que a fez enrubescer.
Sentindo o embaraço dela,
e também o seu próprio, Jun abaixou a mão e se pôs em pé, mas não soltou o
aparelho. Olhou bem para Carol, que ficou sentada na cama, com os olhos
vermelhos de chorar.
− Se eu te devolver o
celular, você me promete uma coisa?
− Me dá o celular, por
favor.
− Promete?
− Me dá, Jun. – a voz
dela falhou, como se de repente ela fosse chorar de novo, mas se controlou e
não deixou que outra lágrima caísse. Estendeu a mão para ele, com a palma
aberta.
Jun pousou a mão com o
aparelho na palma dela, mas a manteve fechada, envolvendo o telefone. Insistiu
mais uma vez:
− Promete?
Ela suspirou. Já
imaginava o que ele queria que ela prometesse. E nesse instante, decidiu que
não queria mais ser forte. Decidiu que queria simplesmente viver com ele por
mais alguns dias, nem que fosse somente mais uma semana. Mesmo sendo apenas
como amigos, ou até mesmo como uma simples relação de artista e fã. Ela fez um
gesto afirmativo com a cabeça.
− Promete que não vai
transferir a passagem? Que não vai embora agora?
Carol não respondeu.
− Promete? Por mim?
− Uhum.
− Mesmo?
− Uhm.
− Posso abrir a mão?
− Pode.
Jun olhou nos olhos dela
por alguns segundos e viu que ela não estava mentindo. Viu nos olhos dela que
ela não estava esperando apenas que ele virasse as costas para fazer a ligação.
Então, ele abriu a mão.
Nesse
momento, Débora abriu a porta e entrou no quarto.
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