E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 25 de agosto de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 27


Uemura Yui não faltou no serviço aquele dia. Falou por telefone com seu chefe de seção e pediu para tirar uns dias de folga. Ela precisava pensar e tinha que ser longe dali, então não poderia ir trabalhar. Como ela tinha horas extras, esperava conseguir pegar quatro dias, só teria que estar de volta ao Jornal na sexta-feira. Então, falou com ele na segunda mesmo, antes de sair de casa.
 Depois de ter sido abandonada no domingo o dia todo, na segunda ela acordou decidida a ir embora. Passaria alguns dias fora, mas não pensou em ir para a casa dos pais. Em vez disso, fora para Chiba, no litoral, e depois de quase três horas de carro, ela finalmente chegou. Iria se hospedar na pousada onde ela costumava ficar com os pais na adolescência.
 Aproveitaria aqueles dias de solidão para pensar em sua vida. Ser namorada do Matsumoto Jun nunca estivera exatamente em seus planos. Na verdade, dos membros do Arashi, era de quem ela menos gostava, mas por causa de sua profissão de jornalista, teve que cobrir shows e apresentações e tinha que ser imparcial com relação aos cinco.
 Ela então se mudou para um prédio para morar sozinha, e logo quem era seu vizinho? Matsumoto Jun. Eles começaram a conversar periodicamente, sempre que se viam no prédio, e quando ele pela primeira vez a chamou para um encontro, ela quase recusou, mas uma colega sua da revista, Nozomi-san, que ficou sabendo do convite, não permitiu que ela recusasse. E, depois do primeiro encontro, outros se repetiram e ela acabou se apaixonando, mesmo sem querer.
Agora, depois de mais de um ano juntos, não conseguia mais entender o namorado. Primeiro, logo no início, ele escondeu dela a história das cartas. Mais recentemente, simplesmente deu as entradas do show para alguém que ele nem conhecia. E então, combinou de ir pegar as turistas no aeroporto e só contou para ela no dia anterior.
Além de tudo isso, desde que elas chegaram, ele estava estranho. Não atendia a seus telefonemas de primeira nem respondia suas mensagens. E agora, ficou o fim de semana todo a evitando. Droga, Matsumoto, ela pensou, o que está acontecendo com você?
Yui estava no pequeno restaurante da pousada, jantando. Ela estava exausta. Assim que chegara a Chiba, fora almoçar num restaurante à beira-mar meio vazio por ser início de semana, e depois decidiu dar um passeio na praia, tentando refrescar as ideias. Ele ligara para ela em todo o tempo, mas Yui não atendeu uma vez sequer. Ao invés disso, colocou o celular no silencioso, dentro da bolsa, e deixou que tocasse.
Andando pela areia, ela tentava pôr ordem nos pensamentos. Será que fora muito dura com a estrangeira? Afinal, ela ia embora dali a alguns dias apenas, não ia? Agora, já não era mais ela que a preocupava, mas o próprio Jun. E se ele estivesse mesmo apaixonado por outra, como ela suspeitava?
Ela não era masoquista, não mesmo. Não iria ficar com um homem só por interesse ou por estar apaixonada por ele. Para um relacionamento dar certo, é necessário que haja uma troca de sentimentos, e se essa troca deixar de existir, se ele não estiver mais apaixonado por ela, então não poderão mais ficar juntos. Simples assim.
Claro que ela sofreria se o namoro terminasse, pois ainda era apaixonada por Jun. Mas era muito racional, não movida somente por sentimentos, e não queria se “amarrar” a alguém que não gostava mais dela para sofrer à toa. Derrubaria algumas lágrimas por um tempo, mas não ficaria presa ao passado. Doía pensar nisso, mas era a melhor solução, se Matsumoto gostasse mesmo daquela gaijin.
O que mais matava os neurônios de Yui era que a burajirujin nem bonita era. Não tinha sal nem açúcar. Era uma pessoa tão sem graça. Racionalmente falando, nunca que alguém em sã consciência a trocaria por aquela coisa. Bom, talvez alguém trocasse, mas não o Matsumoto Jun, o eterno DoS, super exigente, perfeccionista em tudo o que fazia e tudo o mais. Se ele realmente tivesse escolhido a outra, então Yui não sabia nada de seu namorado, mesmo depois de tanto tempo de namoro.
Viu o sol se pôr e foi para a pousada. Não fizera reservas, foi uma decisão de última hora ir para aquela cidade, então apostava na sorte que em geral a acompanhava, pois sabia que aquela era uma pousada disputada, mas como era segunda, ela esperava ter quartos vagos.
Realmente, tinha quartos vagos, como ela supôs. Fez o check-in e acertou para ficar até quinta-feira, pagando já 50% do valor da estadia. Subiu para seu quarto e ajeitou suas coisas. Perguntava-se se Matsumoto tinha encontrado o bilhete que ela deixara. Para encontrá-lo, ele precisaria ter entrado em seu apartamento com a chave que ela lhe dera dois meses depois que começaram o namoro. O que, em absoluto, ele não gostava de fazer e só duas vezes, em todo aquele tempo, ele usara aquela chave, por mais que Yui dissesse que seu apartamento também era dele.
Tomou uma ducha rápida e desceu para comer, estava com muita fome mesmo, parecia não ter se alimentado direito, o que não era verdade, pois comera muito bem no almoço.
Os donos da pousada a conheciam e sabiam também que ela namorava o Matsumoto do Arashi, pois ela já aparecera junto dele na TV e também em algumas reportagens aqui e ali. Como eram um “casal oficial”, não era tão estranho vê-los juntos.
A esposa (os donos eram um casal) veio até ela quando Yui estava sentada sozinha a uma mesa mais retirada da “muvuca”. Mesmo sendo início da semana, tinha bastante gente por lá.
- Yui-chan, hisashuiburi! A última vez que te vi, você contou que tinha começado a namorar. Veio sozinha né?
- Hai. – ela sorriu, olhando para a mulher.
- E seus pais?
- Eles estão bem. Não falei para eles que vinha para cá.
- So ka. E Matsumoto-san?
- Ele também não sabe que estou aqui.
- Ah. – coçando o queixo, confusa – Não quero ser intrometida, mas aconteceu algo? Vocês ainda estão juntos, né?
- Hai, Machiko-san. – o olhar dela, antes sorridente, agora entristeceu – Mas infelizmente, não sei por quanto tempo.
- O que aconteceu, Yui-chan?
- Nandemonai.

- Oras, claro que aconteceu algo! Seus olhos dizem isso!
- Nada demais, Machiko-san. Por enquanto, se não se importar, não quero falar nisso.
- Etto... daijoubu, Yui-chan – fazendo sinal para um garçom e se dirigindo a ele, quando se aproximou – Atenda essa moça, onegai.
- Hai! – ela respondeu.
Machiko-san deu tchau para Yui e se afastou, voltando ao balcão do bar.

***

Matsumoto Jun estava preparando espaguete na manteiga, pois já que todos iriam jantar lá, o mínimo que ele podia oferecer era boa comida.
Fazia quinze minutos que falara com os meninos e fora em seguida preparar a refeição. Ninomiya, que disse que chegaria em dez minutos, não tinha aparecido ainda.
Esse prato era rápido e fácil de fazer, além de muito gostoso. Com um vinho tinto seco então, ficava ainda melhor!
Enquanto preparava tudo, o bilhete de Yui não saía de sua cabeça. Será que ela estava terminando tudo? Pelo jeito ela tomara uma decisão – alguma decisão – antes dele próprio. Mas, ao que parece, a possibilidade daquele bilhete significar o fim do namoro deles não estava afetando-o tanto quanto era de se esperar.
Claro que ele ficara surpreso, até mesmo muito surpreso, mas mesmo assim ele não ficara propriamente triste. Só se sentiu frustrado por não ter ele mesmo decidido alguma coisa e falado decentemente com ela antes dela viajar. Contudo, não podia evitar sentir certa expectativa e até mesmo felicidade. Se ele não estivesse mais com Yui, teria uma chance de ele conseguir se acertar com a Karoru-chan. Por um instante, ele se esqueceu completamente que a distância entre Brasil e Japão é grande. Muito grande.
No momento em que colocava o espaguete na panela para misturá-lo à manteiga, a campainha tocou. Com pressa para que a manteiga não esfriasse, secando as mãos no avental, ele foi até a porta e a abriu. Nem olhou direito quem era, mas pelo canto do olho viu que era o Riida, antes de voltar correndo para a cozinha.
- OH-CHAN! – ele gritou para o outro, que ficara para trás. – VEM CÁ. TO TERMINANDO O JANTAR. – mexendo o espaguete com uma grande colher de pau. 
- Calma, Matsujun, não precisa gritar que eu não sou surdo, hahaha. – Ohno entrava na cozinha – Estou aqui já – e puxou uma cadeira para se sentar. – O cheiro é bom! O que você está preparando aí?
- Espaguete na manteiga. E vinho.
- É um jantar! Só para nós dois? – Ohno piscou o olho para o mais novo, com um sorriso maroto, de um jeito conspirador.
- Claro que não! Baka! – Jun riu, enquanto colocava o espaguete na vasilha de inox e espalhava aqui e ali as folhas de manjericão. – Eu chamei os outros também.
Cobriu a vasilha com papel filme e a guardou no forno. Em seguida, tirou o avental, o dobrou e guardou na gaveta do armário. Abriu a porta da repartição onde ficavam os pratos.
- Vamos, me ajude a arrumar a mesa, Oh-chan! Tomara que eles não cheguem muito tarde. Massa requentada é horrível!
Quando ele disse isso, ouviu-se outro toque na campainha. Na verdade, outros toques, como se alguém estivesse musicando. Ele já viu tudo! Só podia ser...
- Aiba-chan!!! Pare com isso!!! Estamos num prédio, esqueceu? Eu tenho vizinhos em todos os lados – Jun abriu a porta, com o olhar um pouco irritado.
- Ah, Jun-chan, eu nem fiz muito barulho. Para você de ser chato!
Antes de Jun fechar novamente a porta, Nino e Sho apareceram seguindo pelo corredor.
- Yo! – Sho gritou, apressando o passo e puxando Nino consigo.
- Vocês vieram juntos?
- Não – foi Nino que respondeu. – Nos encontramos na entrada do prédio. A janta ta pronta, Jun-pon?
- Hahaha! – Jun deu um tapinha de leve no ombro do amigo e fechou a porta. – Hai! Vocês chegaram bem na hora! Vamos comer logo pra não esfriar!
- Hummm, que cheiro bom Jun-chan! - Aiba comentou - Eu fiz um lanche agora há pouco, mas to achando que vou jantar, comer um pouquinho do que quer que seja que você vez.
- O que é Jun-pon? – Nino já se encaminhava para a copa. – Realmente tem um cheiro maravilhoso!
- Espaguete na manteiga. – Oh-chan respondeu, colocando os talheres na mesa.
- Pega um vinho no bar, Sho-chan, onegai.
Jun voltou a pegar os pratos, que deixara sobre o balcão para atender a porta. Puxou Aiba consigo para pegar as taças e Sho escolheu uma garrafa de vinho. Nino ficou belamente sentado à mesa.
Quando finalmente Jun trouxe a vasilha da cozinha, todos se sentaram para comer. Ele abriu o vinho e serviu uma porção do espaguete para cada um.  Em seguida, serviu para si próprio e se sentou.
- Jun-chan, você me ligou porque tinha algo pra falar. O que é?
- Depois, Aiba-chan. Agora, vamos comer!
Ao som de uma música calma eles comeram e beberam vinho. Aiba comeu somente aquela porção, afinal já havia jantado. Os outros todos repetiram uma vez, mas Nino repetiu duas. Depois de quarenta minutos, a vasilha estava vazia, assim como a garrafa de vinho.
- Vamos pra sala, minna! – Jun chamou, ficando em pé.  – Lá eu mostro para vocês.
- Mostra o quê? – quis saber Sho.
- Você já vai saber.
Todos se sentaram nos sofás e Matsumoto Jun tirou o bilhete do bolso. Estendeu para Sho, que estava ao seu lado, e este estendeu para Aiba, que entregou para Nino e este para Ohno. Todos leram em silêncio, formando suas próprias considerações sobre o que estava escrito.
- E aí, o que acharam? – Jun perguntou, olhando para cada um por alguns segundos.
- Uhm... – Oh-chan coçou o queixo, pensativo. – Eu acho... que a Yui-chan é mais esperta do que você imagina. 
- Hai! – afirmou Sho – Ficou evidente, por esse bilhete, que ela entendeu algo, ou está prestes a entender.
- Eu sei disso. Indo embora assim, ela antecipou uma decisão minha... mas antes queria ouvir vocês.
- Quer ouvir a gente sobre o que, Jun-chan? – Aiba perguntou, sem entender.
- Eu... ano... acho que ficou claro... droga, não gosto de ter que reconhecer isso!
- Fale, Matsujun – incentivou o líder do Arashi.
Jun se sentiu levemente enrubescido, as bochechas começaram a esquentar. Ele não era assim, não ficava envergonhado à toa. Sempre fora dono de si. Mas, por algum motivo, sentiu uma grande timidez invadi-lo. Por fim, passados alguns minutos, ele disse:
- Ano... acho que todos sabem... que eu sinto alguma coisa pela Karoru-chan, né?
Os quatro concordaram com a cabeça, e Nino disse:
- Você não sente apenas alguma coisa, você está apaixonado pela Karorine-san!
Eu... acho que talvez posso mesmo estar.
- Você só acha, Matsujun? – Oh-chan fez a pergunta, em tom retórico, olhando para o mais novo.
- Matsujun... você está muito triste por que a Yui-chan te deixou? – Aiba questionou.
- Na verdade, acho até que senti certo alívio!
- Nande?
- Porque talvez... eu consiga fazer alguma coisa nesse tempo em que a Karoru-chan ainda ficará no Nihon... sem a Yui por perto.
- Matsujun, como você é insensível! – Sho exclamou.
- Não sou não, Sho-chan. Eu conheço bem a Yui, eu acho, e se ela realmente entendeu, ela não vai querer levar essa relação adiante, pois ela não gosta de ser a segunda, ou ser deixada de lado.
- Mas você já parou pra pensar, Jun-chan – Aiba se manifestou – o quanto a Yui-chan deve estar sofrendo com isso tudo?
- Já pensei nisso sim Aiba-chan. Mas pensa comigo, ela vai sofrer muito mais se continuarmos juntos, mesmo se eu estiver (na hipótese de eu realmente estar) apaixonado pela Karoru-chan.
- Você está, meu amigo – o Riida disse, com olhar complacente.
- É, pensando por esse lado... – Aiba se pôs a refletir por alguns segundos - ... faz sentido o que você disse.
- Demo... Jun... e como fica o caso com Johnny Kitagawa, as fãs e tudo o mais? – foi Sho quem levantou a hipótese - Ninguém vai aceitar fácil que você terminou com a renomada jornalista Uemura Yui para ficar com uma burajirujin, uma plebeia. Nisso você já pensou?
- Não.
- Então pense Jun. Isso precisa ser bem considerado antes de você tomar qualquer decisão. Pense bem. Mas saiba que seja qual for sua decisão, eu irei te apoiar. Somos uma equipe.
- Nós vamos te apoiar – disseram os outros em uníssono.
- Não somos apenas um grupo de artistas, colegas de profissão que por acaso trabalham juntos. Somos amigos uns dos outros. E estivemos juntos sempre, nos acertos e nas burradas de cada um. Vamos continuar juntos. 
- Isso mesmo, Oh-chan – Nino concordou. – Jun-pon, eu pedi uma moça em casamento em menos de uma semana que a conheço. Não duvido que você está realmente apaixonado pela Karorine-san. E você ainda troca cartas com ela há um tempão!
- Mas nunca falamos de romance ou coisa assim nas cartas... demo...
- Nani? – Aiba perguntou, quando Jun ficou em silêncio.
- Demo... teve aquele pingente de chave...
- A chave do coração que ela carrega na correntinha no pescoço... – comentou Sho. – Aliás, hoje fui almoçar naquele meu restaurante favorito e quem eu encontrei? A Karorine-san! Ela estava sozinha, né? Nino levou Débora-san para conhecer sua mãe. Daí, como ela estava sozinha e eu também, almoçamos juntos.
- Majide? – Jun olhava para o amigo. – Ela comentou algo sobre mim?
- Jun-kun, você está parecendo um adolescente apaixonado! Hahaha. Não, ela não falou de você, muito menos eu toquei no assunto, mas reparei de primeira que ela trazia a corrente do coração no pescoço. Acho que ela fica direto com essa corrente, né?
Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo Eyes On Me, da Kanon, que tocava ao fundo. Finalmente Nino disse algo:
- Escutem-me, todos! Eu também quero contar uma coisa, e vou aproveitar essa reuniãozinha que o Jun-pon armou.
- Nino, fica pra próxima, eu tenho que ir. Tem o Zero hoje. – disse Sho, ficando em pé.
- Sho-chan, é rapidinho. Agora são 9h20, prometo que concluirei em dez minutos.
- Trem certeza? – Nino concordo com a cabeça e Sho voltou a se sentar.
- Você também, Nino-chan? – Ohno disse.
- Nino... você ia encontrar sua mãe, né? – lembrou Aiba – E aí, como foi?
- É sobre isso que quero falar.
Nino, que estava sentado no sofá ao lado de Ohno, se levantou. Deu alguns pigarros enquanto decidia exatamente o que dizer. Mas antes que pudesse abrir a boca, este lhe falou:
- Algo saiu errado, Nino? Você apresentou a Débora-san pra sua mãe?
- E para meu pai também. A okaasan chamou o otousan para almoçar.
E ele contou o que tinha acontecido. Relatou as afrontas que seu pai fizera à Débora, da discussão que eles tiveram, de como ele ficara irritado com o pai e de como Débora pareceu ter ficado mal, mesmo querendo se mostrar alegre e normal, como se nada tivesse acontecido.
No fim da história de Nino, ele concluiu dizendo:
- Estou com medo, minna. Medo de quem meu pai tenha assustado a Deb. Medo de que ela desista de mim.
- Ela não vai desistir, Kazu – Ohno disse, ficando em pé em frente ao amigo e segurando firme e carinhosamente seu ombro.
- Não vai mesmo – os outros concordaram.

***
  
Depois que Débora contara toda a história de como tinha sido seu almoço de domingo com a família do noivo; depois de ela pôr em dúvida aquela decisão súbita de casar; depois dela chorar e se lamentar sobre “O que vai ser de mim sem o Kazu?”, ela foi tomar banho.
Caroline dissera para a amiga que ela não precisa “Ficar sem o Kazu”. Se o amava mesmo, devia ficar com ele, e provar ao pai dele o valor que ela tinha. Carol acreditava no poder do amor e nos milagres que ele podia fazer. Das duas, sempre fora a mais romântica. Ela sempre acreditou totalmente na força de um coração sincero. Por isso, não concordava com o fato de a amiga desistir de um amor assim, que não acontece duas vezes, simplesmente porque encontrou algumas dificuldades ao fazer a primeira curva. 
Naquele dia não desceram para jantar. Fizeram pedidos por telefone a um restaurante chinês que tinha perto do hotel e que tinha sido recomendado. Depois que comeram, Dé somente vestiu o pijama e disse que ia dormir, estava com a mente muito carregada, cheia de pensamentos e indecisão e precisava descansar. Carol ficou vendo o resto de um filme na TV por mais meia hora.
Quando desligou o aparelho e apagou o abajur, os pensamentos que evitara ter durante o dia invadiram sua mente, ao fechar os olhos para tentar pegar no sono.
Com os olhos fechados, a imagem que viu por trás das pálpebras foi a de Matsumoto Jun lhe sorrindo e pedindo para ela ficar. Achou que ia desfalecer quando ele pronunciou as palavras “promete, por mim”. Foi o que fez ir embora qualquer resquício de dúvida que ela tinha em ficar até a data pré-marcada no Nihon. Ele, com aquele belo sorriso, mostrando os dentes brilhantes de tão brancos, sempre que olhasse para ela naquela semana, dificilmente teria algum pedido negado. Carol teria que ter muita força de vontade para se manter firme.
Ela se perguntava o que faria no dia seguinte, se o encontrasse. Na verdade, o que faria da próxima vez que o visse. Sabia que precisava ter juízo, e não se entregar completamente a uma paixão que ela sabia que estava fadada ao fracasso. O vôo para o Brasil era no próximo sábado à noite e ela não podia mudar isso. Nem que quisesse.
Porque as férias acabavam na terça-feira, e ela chegaria em casa na segunda. Então, teria que trabalhar novamente. Não era independente como Débora. Morava com os pais e com seu salário, precisava ajudar em casa e, além disso, sua faculdade terminaria somente no próximo ano. Faltara toda a semana anterior e faltaria também essa que entrava, aproveitando as semanas antes das provas. Mas não poderia faltar mais, pois a primeira prova seria na segunda mesmo, à noite.
Ter que se separar do Jun fazia doer seu coração. Ela aconselhara a amiga a não desistir tão fácil de um amor, mas era o que ela estava disposta a fazer. Como iria se prender a ele, um homem comprometido, e além do mais, completamente fora da sua realidade? Ela era uma moça normal, como qualquer outra, estudante, que trabalhava de sol a sol e ganhava muito menos do que ele. Não nascera para namorar um superstar.
Quando ele escreveu na carta que estava namorando Uemura Yui, ela, apesar de sentir já naquele tempo uma ponta de ciúmes, mas não admitir nem para si mesma, ficou maravilhada. Afinal, ela era uma jornalista reconhecida e Carol sempre lia na internet as matérias que ela escrevia, muitas sobre o Arashi. Mas Carol nunca desconfiara que seria possível Uemura namorar algum deles.
Foi pensando nisso que, aos poucos, seu raciocínio começou a falhar e, dentro de alguns minutos, seus olhos se fecharam e ela adormeceu, para acordar somente na manhã seguinte.

Nenhum comentário: