Yui estava deitada no
sofá, toda encolhida. Sentia muita raiva, medo e alguma tristeza, mas não
chorava. Ela era durona.
O que foi aquilo? Por que
Matsumoto agiu com tanta ferocidade? Ela não fizera nada de errado. Só protegeu
o que era dela. Estava no seu direito.
Não queria ter contado tudo
a ele, mas quando Jun insistia em saber de algo, ai de quem se recusasse a
falar. Ela sabia disso e bastou ele falar com aquele tom autoritário de
superioridade que ela não pôde fazer nada além de contar.
Mas ele não gostou
nadinha do que ouviu. Ficou bravo com ela, gritou e agiu como nunca fizera
desde que começaram a namorar. Até apontou o dedo na sua cara! Então, a
expulsou do apartamento dele e saiu em disparada para o hotel da infeliz.
Cretino! Ele não deveria
ter expulsado Yui! Era a outra que ele tinha que expulsar...
Olhou no relógio sobre o rack
ao lado da televisão. Já quase meia noite e meia e ele ainda não voltara. O que
ele estava fazendo até essa hora?
***
Ele ainda não fora embora
e Débora não pôde voltar pra dentro do quarto. Depois de contar sobre o noivado
e de Jun fazer os comentários já esperados de incredulidade primeiro, depois
resignação, aceitação e por fim concordância e contentamento, ela disse:
– Jun, você não vai
voltar para sua casa?
Ele baixou os olhos com
pesar, esquecendo rapidamente Nino, Dé e o noivado, e perguntou:
– Você está me mandando
embora? Não vou poder mesmo falar com a Karoru-chan?
– Ah Jun, não estou te
mandando embora. – ela sorriu, sentindo compaixão dele.
Aquele que era a diva do
Arashi, sempre pomposo e estonteante em toda a sua glória, sempre cheio de
confiança e dono de si, completamente dono da razão e que sempre fazia valer
sua vontade; aquele que era conhecido até no ocidente como o famoso DoS,
naquele momento tinha um olhar triste e confuso.
– Não estou mandando você
embora. Só acho que já está tarde e hoje você teve um dia cansativo, com o show
e tudo o mais. Eu acho que a Carol já dormiu, de qualquer forma.
De repente, ocorreu a
Débora que tinha um jeito de fazer a amiga desistir de viajar no dia seguinte.
Não sabia se daria certo, mas só saberia se tentasse. Torcendo para não estar
fazendo nenhuma besteira, mas sabedora de que precisava fazer aquilo, falou:
– Matsujun... eu vou te
contar uma coisa. Mas você me promete que depois vai embora?
Ele olhou para os olhos
dela, meio desconfiado, mas concordou com a cabeça.
– Ano... – ela prosseguiu – você promete também que voltará amanhã
cedo? – Débora perguntou, mas se arrependeu logo em seguida.
O que é isso, Débora?,
ela refletiu consigo mesma, Onde já se viu, pedir pra ele voltar? A Carol dá
outro chá de cadeira nele aí já viu!
– Ok. Agora que você
falou... eu estou cansado mesmo. Volto amanhã sim. Pode falar.
Débora olhou para ele
espantada. Não esperava que ele concordasse tão facilmente. Respondeu:
– Eu vou falar. Mas
deixa-me primeiro ver uma coisa lá dentro.
Antes de contar os planos
de Caroline, quis se certificar que a amiga dormia e que ela não ia escutar.
Afinal, conhecendo-a tão bem, sabia que ela não ia querer contar a ele seus
planos de partir no domingo. Fechou a porta rapidamente e foi até a cama. Sim,
ela dormia profundamente. Não deve ter aguentado esperar a conversa dos dois
acabar e pegou no sono, ainda com a toalha enrolada nos cabelos.
Débora voltou e encontrou
Jun Matsumoto parado esperando, encostado na parede do lado esquerdo da porta.
Quando ela chegou, ele novamente se adiantou e ficou de frente para ela.
– Bom, talvez a Caroline
não goste do que vou falar agora, mas ela está dormindo e não vai ouvir.
– Fale.
– Antes de mais nada.
Você... errr... – ela hesitou em fazer a pergunta, com medo de que estivesse
totalmente errada e sendo precipitada.
– Continue. – Jun pediu,
ansioso.
– Bom... você... por
acaso... sente algo a mais pela Carol?
– Como assim? Acho que
não entendi bem.
Débora revirou os olhos e
pensou em como ele era devagar para entender as coisas. Nunca imaginara que teria
que explicar uma coisa dessas. Prosseguiu:
– Algo diferente,
como gostar.
– É claro que eu gosto
dela!
Isso verdadeiramente a
surpreendeu. Ele disse aquilo com tanta naturalidade! Débora até ficou sem
fala.
– Uhm... eu... quer
dizer...
– Nani?
– Eu quero dizer...
gostar de gostar. Mais que amizade, mais que gostar de um amigo. Você...
– Eu acho... que entendi
– ele passou a mão pelos cabelos. O que podia dizer? – Eu... na verdade... não
sei direito o que sinto. Sei que sinto alguma coisa. O Riida disse que estou apaixonado.
– Ele disse? Então vocês
conversaram sobre isso?
– Mais ou menos... mas me
diz... você queria contar alguma coisa, né?
– Hai! – Débora dessa vez fechou a porta, mas sem trancar, e se
enconstou nela – Se conheço bem a Caroline, e sei que conheço, então eu posso
afirmar que ela também sente algo por você, e é mais do que somente uma amor
platônico de uma fã.
Jun fez um gesto com a
mão para ela continuar e ela prosseguiu:
– Por causa de tudo que
aconteceu hoje... - e murmurando para si mesma - tomara que ela não fique muito
brava de eu contar – De qualquer forma – Dé falou novamente para ele – com tudo
que a sua namorada – idiota, infeliz e imbecil, acrescentou em pensamento
– disse, a Carol... decidiu ir embora amanhã, voltar para o Brasil. Eu não
concordo com isso, já tentei convencê-la do contrário, mas não adiantou.
Matsumoto olhou
preocupado e avançou alguns passos em direção à porta, como se quisesse abrir e
entrar. De repente, seu coração começou a acelerar e ele sentiu as mãos suarem.
Como assim ela iria embora assim, sem nem sequer conversar com ele?
Débora colocou a mão
sobre a maçaneta impedindo a ação de Jun e continuou:
– Mas acalme-se, Matsujun!
– ela segurou a mão dele como uma mãe que quer tranquilizar o filho – Eu acho
que ela não vai a lugar nenhum, se você pedir para ela ficar. Por isso eu pedi
para você voltar aqui amanhã cedo. Para tentar falar com ela e fazê-la
desistir. Afinal, ela veio para ficar duas semanas, não só uma, né? Ela não
pode deixar que ninguém atrapalhe. Desculpe falar, mas essa sua namorada não
tem muita noção de nada. As palavras dela foram muito ofensivas e machucaram
mesmo a Carol. Ela chorou muito por isso já.
– Eu sei. Queria poder me
desculpar com ela por isso tudo – Jun voltou a relaxar – Mas farei como você
disse. Amanhã estarei aqui!
Ele se endireitou na
postura de alguém que está pronto para sair.
– Dé... você tem certeza
que não dá pra eu falar com ela agora?
Débora sorriu e
respondeu:
– Ela está dormindo,
Matsujun.
– Então... mata ashita Dé! Oyasumi – Jun se virou para o corredor.
– Mata! Oyasuminasai.
Quando ele entrou no
elevador, Débora entrou no quarto e trancou a porta. Olhou no relógio de pulso:
já quase 1h da madrugada! Pegou o celular para ligar para sua mãe e contar as
novidades.
Carol dormia tão
profundoamente que não se deu conta de nada. Nem ouviu toda a empolgação na voz
da amiga quando a mãe, depois de quase meia hora de conversa (a conta, com
absoluta certeza, seria exorbitante, mas Débora sabia que precisava fazer
aquela ligação), aceitou toda aquela história de casamento e que sua filha só
voltaria para casa dali a alguns meses. Ou a euforia quando seu pai disse que
ia começar a mexer os pauzinhos para terem uma belíssima cerimônia matrimonial
e uma festa completa (“mas, por favor, sem muito alarde por causa das fãs aí do
Brasil”, pediu Dé).
***
Os meninos já estavam
esgotados e queriam somente se jogar numa cama gostosa e dormir. De preferência
o resto da noite e seguir dormindo durante grande parte do dia seguinte, já que
era domingo.
Saíram do bar e cada um
tomou o rumo de casa, combinando de se encontrarem para o almoço na casa de Ohno
à 1h da tarde. Este disse que ligaria para o Matsujun chamando-o.
Nino levantou a hipótese
de chamarem Caroline e Débora também, mas Aiba achou melhor não, seriam só
eles. Os outros concordaram. Afinal, tinham assunto para uma semana de
conversa. Como eram três contra um, Kazunari teve que aceitar também. Mas assim
que chegou em casa ligou para sua noiva.
Noiva. Cada vez que ele
pensava nisso, no que fizera, na decisão que tomara, um sorriso involuntário se
formava em seus lábios. Tivera medo que Débora não o aceitasse nem quisesse
nada com ele. Temia que ela fosse somente uma admiradora e que ele estivesse
totalmente enganado e sendo completamente impetuoso e precipitado.
Já sofrera muito por amor
e sabia que podia sofrer de novo. E também sabia que corria um grande risco de
se indispor com o chefe. Os escândalos envolvendo o Arashi haviam cessado há
algum tempo, mas ele já fora muito atingido. Contudo, sabia que, se não
arriscasse, dali a uma semana ela a embora e ela nunca mais teria uma chance.
Era pior conviver com esse tipo de arrependimento do que com qualquer outra
coisa.
Então, quando ela o
recebeu de coração aberto, ele ficou tão feliz que seria capaz de enfrentar o
mundo e vencer, para poder viver esse amor. Ficou mais feliz ainda quando
inadvertidamente Johnny disse amém para a relação deles.
Discou o número do
celular de Deb sentado na cama, já com a toalha no ombro, sem camisa, pronto
para o banho. Ela atendeu no quinto toque e ele achou que ela estava dormindo.
− Não, não, Kazu! Eu
estava saindo do banho.
− Oh! É tarde, achei que
estaria dormindo já. Liguei apenas para dar boa noite. E também perguntar:
falou com seus pais?
− Uhm, hai! E... imagina! – ela tinha a voz
cheia de empolgação – Eles aceitaram numa boa! Meu pai até se ofereceu para ir
preparando as coisas, pra gente poder ficar mais sossegado e, quando formos pra
lá, não fazermos tudo na correria.
− Mas você se lembra do
que o Kitagawa disse né? Ele nos aceitou, mas pediu discrição.
Ele a ouviu rindo.
− Hahahaha. Sim, sim,
eu me lembro. Pedi para serem discretos, fique tranquilo, Kazu!
− Ótimo! Fiquei muito
feliz em saber que eles concordaram! – ele ficou em pé e se dirigiu ao banheiro
- Deb, tenho que desligar agora. Ainda vou tomar banho e to super cansado!
− Daijoubu. A gente se vê amanhã, né?
− Claro!
− Bom. Tenho um monte
de coisas para contar! Ah, o Matsujun esteve aqui, queria falar com a Carol,
mas ela não quis falar com ele.
− Eu sei, linda. Falei
com ele mais cedo. Ele disse que estava aí e que estava falando com você.
− So desu ka? – ela pareceu
refletir por uma fração de segundos. – Hai, hai. Agora me lembro. Bom, vai tomar banho então, e
dorme direitinho. Descanse, viu? Oyasumi.
− Oyasuminasai.
Ambos
desligaram ao mesmo tempo, com um sorriso que ia de orelha a orelha.
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