Na manhã seguinte, o
celular de Carol vibrou no criado-mudo ao lado de sua cama, acordando-a às
6h30. Abriu os olhos e sentiu que algo apertava seus cabelos. Pôs a mão na
cabeça e percebeu então que ainda estava com a toalha. Arrancou-a com um só
puxão e sentiu os fios ainda úmidos, pois eles permaneceram a noite inteira
enrolados e abafados na toalha.
Planejara, antes de pegar
no sono na noite anterior, enquanto Jun e Dé conversavam, que ia ligar no
aeroporto logo cedo. Então, com isso em mente, queria já ter feito a ligação e
a transferência da data do vôo quando Débora acordasse, assim não haveria mais
como a amiga criar objeções.
Levantou-se e viu que ela
dormia ainda. Não sabia a que horas Jun fora embora, nem a que horas Débora
dormira. Não sabia se ela tinha conseguido falar com os pais no Brasil. Não
sabia muitas coisas. Só esperava que ela não tivesse falado demais.
Com esses pensamentos,
dirigiu-se ao banheiro. Sentia ainda os olhos pesados de sono e sabia que só
conseguiria despertar totalmente se tomasse uma ducha rápida. E também queria
dar um trato naquele cabelo.
Enquanto se despia e entrava
embaixo da água corrente, ela mais uma vez refletiu sobre os últimos
acontecimentos e não pôde evitar que seus olhos se enchessem de lágrimas.
Sentiu-as correr por sua face, misturando-se à água que caía do chuveiro.
Ela sentia o peso das
palavras que UemuraYui pronunciara para ela na tarde do dia anterior, e podia
compreender a verdade nelas. Em tudo. Ela era mesmo um estorvo, um peso na vida
de Jun. Ela não devia estar ali. Mas, ah, como sentiria falta dele! E saber que
tinha que partir sem dar adeus deixava tudo pior.
Caroline, até então,
nunca aceitara que poderia estar de fato apaixonada. Mesmo quando Dé a alertou,
ela levou na esportiva e não deu muito crédito. Afinal, ela era brasileira,
morava do outro lado do mundo, era turista num país estranho. Uma moça normal
de 23 anos, no último ano da faculdade, que trabalhava e se dedicava para ser
uma profissional de sucesso. Como, ela se perguntava a todo instante, como
ela deixara que isso acontecesse?
Ainda bem que sua mãe,
nos últimos quatro anos, não perguntara sobre a chave que lhe dera há tanto
tempo. Se ela tivesse perguntado, que resposta Caroline teria dado? Será que
diria: “Eu mandei para o Matsumoto Jun, o cantor do Arashi”? Mas então, se ela
tivesse perguntado por que Carol fizera isso, ela teria sido obrigada a fazer
uma maior análise do real motivo de ter enviado a chave para o Japão.
Agora que sabia, que admitia
para si mesma que estava apaixonada, a dor de tudo era muito maior. Ficou
uns cinco minutos encarando as gotas, olhando para cima e deixando as lágrimas
serem levadas, até que se sentiu mais calma e finalmente fechou a torneira.
Saiu do banheiro, depois
de se vestir, com a outra toalha enrolada nos cabelos curtos, e resolveu
arrumar sua bagagem antes de ligar no aeroporto. Afinal, o que ela jogara
dentro da mala ontem, depois que Débora chegou, estava em completa desordem, e
se ela tinha a intenção de levar de volta tudo o que trouxera, era melhor
reorganizar as coisas na imensa mala de Marcela.
Sentou-se na beirada do
colchão e, embalada pela respiração constante e tranquila da amiga que dormia,
Carol começou a dobrar peça por peça de roupa. Mas, afinal, as trocas mais ao
fundo da mala não haviam nem sido mexidas. Trouxe roupa mais que suficiente
para duas semanas, mas para apenas uma, era roupa demais.
Enquanto dobrava, ia
olhando aquilo que não usara e pensou: No fim, não vesti nada de bom. Deixei
as peças mais bonitas para a última semana, depois do show, quando faríamos
realmente um passeio de turistas por Tóquio. Ergueu ante os olhos um belo
vestido florido, de alcinhas, todo rodado, ideal para um passeio ao ar livre, e
o casaco beje de linha que trouxera para usar com ele. Embaixo do vestido,
dobrado, estava um sobre-tudo Jeans, que ela costumava usar com qualquer
roupa para proteger do frio; um traje muito bonito, mas que também não teve
oportunidade de usar. Saias, blusinhas e moletons, meias, botas e sandálias,
calças e camisetas. Tudo isso ia voltar intocado para dentro de seu
guarda-roupa no Brasil.
Ela suspirou e continuou
a tarefa de dobrar, guardar, organizar.
Quando pegou a bolsa com
os goods que ganhara para ajeitar dentro da mala, não resistiu e pegou a uchiwa
do Jun, aproximou dos lábios e beijou a fotografia dele. Olhou para a foto dos
cinco juntos sorrindo na outra uchiwa, acarinhou a face de cada um e,
com um sorriso triste, beijou a ponta dos dedos e soprou, como fazemos quando
damos adeus.
A camiseta usada no show
ainda estava jogada ao lado da cama. Ela esticou o braço para pegá-la e, no
momento que a tocou, como magia, veio a sua memória cada momento daquele
concerto maravilhoso que elas tinham visto. Jun proporcionara essa alegria a
elas. Um momento fugaz de felicidade que foi arrastado por um vento forte,
totalmente inesperado, mas capaz de mudar tão drasticamente e tão rapidamente o
rumo das coisas.
A lembrança mais forte, a
que permaneceria inalterada em sua memória por anos, décadas, enquanto ela
vivesse, foi aquela que, ao revivê-la com perfeição em sua mente, a fez chorar
novamente, em silêncio, e ensopar a camiseta que segurava. Essa era a lembrança
deles cantando a música. Dele cantando a música, e sorrindo para ela.
A visão tão vívida daquele momento tão mágico a fez soluçar baixinho e deixar o
que estava fazendo por dez minutos ou mais e ficar firmemente agarrada ao
pedaço de pano em suas mãos, de olhos fechados e o rosto escondido entre as
dobras da camisa.
E pensar que o show tinha
sido somente há dois dias! Ela não fazia ideia do que aconteceria então. Não
imaginava que estaria ali fazendo a mala antes da hora, nem que teria que
viajar sozinha.
Respirou fundo, secou os
olhos com a barra da blusa que estava usando, dobrou a camiseta molhada de suas
lágrimas, guardou na bolsa, que tinha o kanji
do Arashi e o nome do tour impressos,
deu uma última olhada, suspirou mais uma vez e guardou na mala, fechando o
zíper.
Decidiu então ligar no
aeroporto para fazer a transferência. Pegou o celular que deixara no
criado-mudo e, enquanto discava, ouviu duas leves batidas na porta.
A amiga não se mexeu na
cama. Carol foi até o banheiro, jogou uma água no rosto para disfarçar os olhos
vermelhos de chorar, e foi abrir a porta. Quem será a essa hora da manhã?
Olhou no relógio: não eram nem 8h. Como era seu costume antes de abrir qualquer
porta, seja de casa ou ali do hotel, ela espiou pelo olho mágico, achando que
era algum funcionário.
Mas não era.
***
Quando Matsumoto Jun
chegou a seu apartamento, depois que fora embora do hotel, vira por baixo da
porta que a luz do apartamento da namorada, vizinho do seu, ainda estava acesa,
mas não queria falar com ela. Tinha muito em que pensar e ainda estava
completamente bravo e muito irritado.
Depois que já estava
dentro do quarto, ouviu um toque na campainha. Foi até o olho mágico e espiou.
Era ela. Ele simplesmente fingiu que não viu e foi tomar banho. Estava tão
exausto que assim que saiu do chuveiro, vestiu somente o short de
dormir, uma camiseta e caiu na cama. Ativou o alarme para logo cedo e em menos
de cinco minutos dormia profundamente. Durante a noite, teve sonhos com Caroline:
ela no aeroporto e ele correndo atrás para impedí-la de ir embora, porque ela
se dirigia às pressas à sala de embarque.
Na manhã seguinte, ele
acordou às 7h com o toque do despertador. Já não se recordava direito do sonho,
tão profundamente dormira. Estava com muito sono ainda e quis ficar mais tempo
na cama, naquele domingo. No momento em que levou a mão à mesa de cabeceira
para desligar o aparelho que gritava insistentemente, ele se lembrou do que
Débora disse na noite anterior. Sentou-se na cama. É, tinha que levantar.
Ficou em pé, se
espreguiçou e foi ao banheiro fazer a higiene matinal. A ducha foi tão rápida
quanto a que tomou ainda no Kokuritsu no dia anterior. Olhou as horas e viu que
ainda dava tempo para engolir alguma coisa.
Depois do rápido desjejum,
ele pegou as chaves do carro sobre a mesinha de centro na sala e abriu a porta.
Deu de cara com Uemura Yui esperando de braços cruzados, vestida ainda com a
mesma roupa de quando ele falara com ela, com cara de poucos amigos.
− Onde o senhor está indo
a essa hora, Matsumoto? – ela dava tapinhas no chão com a ponta do pé direito,
impaciente – Sei bem que hoje é sua folga!
Jun não gostou de
encontrá-la ali. Quis passar reto por ela, ignorando-a como fez à noite, mas
ela segurou seu cotovelo.
− Eu falei com você!! –
ela deu um meio grito, falando entre dentes – Você não ouviu, Matsujun?
Ele odiava quando ela
fazia aquilo, falando o apelido dele daquela forma. Era como se o diminuísse.
Ela fazia isso sempre que queria a atenção dele, e sempre que estava brava.
Bom, com certeza ela conseguiu sua atenção. Virou-se, olhou-a nos olhos e
gritou:
− ME SOLTA YUI!
Os olhos de Jun estavam
arregalados e ela soltou no mesmo instante. Mas ainda sustentava o olhar.
− Por que você não me
atendeu ontem? – ela perguntou.
− Por que você não
entrou? Tem a chave, não tem? Eu te dei, depois de tanta insistência sua, não
dei?
− Tenho a chave sim. Mas
queria que você abrisse para mim.
Ele revirou os olhos com
impaciência e disse:
− Agora não. Depois a
gente conversa.
− Depois quando?
− Depois, não sei, hoje
ainda talvez. Mas espere que eu te chame!
− E se você não chamar?
− EU VOU CHAMAR! – ele
gritou novamente, já seguindo pelo corredor e a deixando sozinha – NÃO DUVIDE
DE MIM!!!
− EI, ONDE VOCÊ VAI? –
ela gritou de volta.
− NÃO TE INTERESSA! – e
entrou no elevador.
Dentro do carro, ele
abriu o porta-luvas e pegou óculos escuros e um boné cinza com detalhes em
azul. No dia anterior, esquecera dos artefatos usados para disfarce. Lembrou-se
somente quando adentrou o hotel, mas ainda bem que apenas um ou dois turistas
estrangeiros vagavam pelo hall e sequer sabiam quem ele era, além dos
funcionários que o reconheceram, mas foram muito discretos.
Ele normalmente nunca se
esqueceria de se disfarçar, já que odiava as fofocas alheias de quem não tinha
o que fazer a não ser ficar atrás de gente famosa. Esses abutres eram loucos
para vê-lo pisar em algum cocô de cachorro e estampar na primeira página de uma
revista. Mas a pressa fora tanta ao sair do seu prédio depois da discussão com
Yui que nem pensou nisso.
Contudo, naquela manhã
ele se lembrou, e os óculos, além de esconder seus olhos, eram muito
necessários naquele dia em que o sol brilhava forte num céu azul perfeito. Já
não estava quente como nos dois dias anteriores, finalmente começava a parecer
outono de verdade, com aquela brisa ainda suave que sacudia as folhas das
árvores.
Como à noite, havia pouco
movimento e quase ninguém o reconheceu, a não ser a recepcionista que sorriu
derretida quando ele pediu para ir até o quarto, com o seu olhar mais sedutor e
o sorriso que arrebatou milhares de fãs mundo afora. Ela instantaneamente
concordou em deixá-lo subir para visitar um hóspede àquela hora de uma manhã de
domingo, quando as pessoas inteligentes deveriam estar dormindo.
Ele chegou ao sexto
andar, parou em frente ao quarto 397 e deu dois toques rápidos na porta.
Provavelmente elas ainda estavam dormindo e não viriam abrir. Se fosse assim,
ele estava preparado para ficar esperando. Ficaria sentado ao lado da porta no
carpete ouvindo música com fones de ouvido, já previamente enrolados no bolso
de trás das calças.
Tirou os óculos, pôs no
bolso, olhou no olho mágico para ver se conseguia enxergar algum movimento e se
surpreendeu quando deu de cara com outro olho espiando de volta. Um olho que
demorou alguns segundos para reconhecer. O olho de Caroline.
***
Ela voltou em disparada
para junto das camas, deixando Matsumoto plantado na porta esperando que alguém
abrisse. Mas Carol não queria, não podia falar com ele. Talvez ele insistisse
de vê-la, mas não deixaria isso acontecer sem antes transferir a passagem.
Droga! O que ele fazia
ali a essa hora? Isso era coisa de Débora, sem dúvida. Ela aprontara alguma.
Droga, droga, droga! Sua amiga teria muito a explicar, mas antes, ia
dispensá-lo. Porque Caroline não faria isso. Sequer daria as caras.
Decidida, largou o
celular em cima de sua cama e começou a sacudir a amiga e gritar:
− EI, DÉBORA, VAMOS,
ACORDE!!!
Ela se revirou na cama,
mas não parecia ter realmente ouvido alguma coisa e continuou dormindo. Carol
gritou novamente:
− VAMOS LOGO! ACORDE!
SABE QUEM ESTÁ AQUI?
Nesse instante, a outra
abriu os olhos e com a voz rouca de sono perguntou:
− Quem está aqui? O
Kazunari?
− NÃO, NÃO É O KAZUNARI!
− Então por que me
acordou Carol? Que horas são? – olhou para o relógio sobre o criado-mudo. -
Ainda é muito cedo! Vou voltar a dormir! Boa noite! - Débora colocou o
travesseiro sobre a cabeça e puxou o lençol.
− A senhorita não vai
dormir não – Carol tirou o lençol e o travesseiro de cima dela. – Não é o
Ninomiya Kazunari que está aqui, mas mesmo assim só pode ser visita para
você – ela disse com a voz consternada e recheada de ironia – porque para
mim não é.
Débora olhou para ela e
estava pronta para dar um xingo quando viu o rosto irado da amiga e calou. Ao
invés disso, resolveu perguntar quem era.
− Mas então quem é? –
coçou a cabeça – Você não está falando do...está?
− Sim, estou. E olhe
aqui, trate de dar um jeito de ele ir embora. Inventa alguma coisa. Sei lá, diz
que eu fugi no meio da noite sem deixar pista. Qualquer coisa serve. Não posso
vê-lo, Débora! Achei que você entendesse isso.
Débora ia responder, mas
não teve tempo, porque Caroline entrou no banheiro, batendo a porta. Então, sem
saber o que fazer, ela se levantou, passou um pente nos cabelos, vestiu um
roupão por cima da camisola e abriu uma fresta da porta, tomando cuidado para
que Jun visse somente sua cabeça (ela morreria de vergonha se ele a visse com
as roupas de dormir – já era vergonha suficiente ter que encará-lo com a cara
de sonâmbula que ela estava).
− Ohayou gozaimasu. – ela não conseguiu imprimir muito entusiasmo na
frase, ainda estava com muito sono, mas conseguiu sorrir de leve.
− Ohayou, Dé! Eu te acordei?
− Na verdade não. – Foi
a sua Karoru-chan querida, acrescentou em pensamento. – Você veio cedo
mesmo, né?
− Hai! Não podia chegar tarde, né?
− Uhum.
− Ano... foi Karoru-chan que espiou antes, não foi? Por que
ela não abriu a porta?
***
Ele ouvira os gritos de
Caroline, mas não conseguiu entender as palavras. Pelo tom de voz, notou que
ela estava brava, e depois de distinguir duas vozes falando normalmente, ele
ouviu uma porta batendo.
Será que ela ainda não
queria falar com ele?
Quando estava quase
batendo novamente na porta, ela se abriu e o rosto sonolento de Débora apareceu
num pequeno espaço.
***
− Etto ne, Matsujun... a Carol... ela está no banheiro agora. Não
pode falar com você.
− Então foi isso – Jun
recostou-se na parede, ficando fora do raio de visão de Débora, que ainda
estava dentro do quarto, só deixando aparecer a cabeça.
− Isso o quê? – Jun não
respondeu – Hein, Matsujun? Foi isso o quê?
Depois de um minuto ou
dois de silêncio, ele disse:
− Eu ouvi uma porta
batendo. Ela está se escondendo de mim?
− Não, claro que não. –
Débora forçava o pescoço para poder alcançá-lo com o olhar, mas não queria sair
de trás da porta.
Jun, vendo seu esforço,
desencostou-se da parede e ficou de frente para ela.
− Gomen, gomen, Dé. – ele
esboçou um sorriso. – Você também está se escondendo de mim?
− Nani? – ela olhou para ele – Não, não. Eu só... bem...
− Você está se escondendo
aí atrás dessa porta...
− Ah, isso! É porque...
bem... eu estou de camisola e roupão... – ela se sentiu enrubescer e abaixou o
rosto – Acabei de acordar e se você me ver nesse estado, o que vai pensar de
mim?
− Deixa de ser boba! –
ele puxou a porta com força, desprendendo as mãos dela, e olhou de cima abaixo
o roupão de ursinho, segurando o riso. Era tão fofo! Tão a cara dela! – Viu,
não morreu – agora rindo de verdade.
− Não ria de mim! –
Débora ficou mais cheia de vergonha ainda e tentou novamente puxar a porta para
si, mas ele a segurou aberta.
− Não estou rindo de
você, estou rindo da situação.
− Sei.
− É isso mesmo! Agora me
diz: ela está se escondendo mesmo de mim né?
− Não está. É que eu
acho... – Dé se interrompeu, pensando na reação da amiga ao acordá-la. – Acho
que ela não queria... que você soubesse que ela quer ir embora hoje. Mas, já
que você me viu, vamos entrar? Ela também não poderá ficar o dia todo no
banheiro. Daí, quando ela sair vocês conversam.
Então, pela primeira vez,
Jun adentrou o quarto de hotel. Mesmo não sendo uma casa nem nada, somente um
quarto onde elas estavam hospedadas, ele sentiu como se estivesse invadindo a
intimidade de Caroline e Débora. Hesitou no meio do corredor e parou.
− Ué, você não vem? – Dé
o puxou pela mão e ele a seguiu.
***
Caroline não conseguia
acreditar. Débora, sua melhor amiga, se virara contra ela, não é possível!
Trazer o Matsujun ao hotel de manhã cedo, onde já se viu! Só podia mesmo ser
alguma trama da cabeça de vento que ela era!
Sentada de pernas
cruzadas no chão do banheiro, não se deu nem ao trabalho de fingir que tomava
banho dessa vez. Simplesmente ficou sentada ali, pensando. Trancara a porta,
então não poderia ser surpreendida por ninguém. Apoiou o cotovelo direito no
joelho dobrado, e com a mão sob o queixo, pôs-se a refletir.
O que estava acontecendo?
Por que Jun fora até ali? O que ele e Dé estavam tramando afinal? Porque,
definitivamente, ela sabia que eles estavam tramando alguma coisa.
Milhares de perguntas
fervilhavam em sua mente e, devido ao estômago ainda vazio, às lágrimas que já
derrubara aquela manhã e a todos aqueles pontos de interrogação no seu cérebro,
sua cabeça começou a doer. Massageou as têmporas com as mãos e suspirou. Decidiu
ligar para o aeroporto de uma vez por todas, antes que não conseguisse mais, ou
por falta de oportunidade ou perda de determinação. Afinal, vê-lo mesmo que por
um mísero instante, e mesmo assim somente o olho dele, já causara reviravoltas
em seu estômago e ela sentiu um aperto no coração. Sabia que se demorasse muito
para mudar a data e hora de seu vôo para o Brasil, logo não teria mais coragem
de fazê-lo.
Levou a mão ao bolso de
trás do jeans para pegar o celular, mas não o encontrou. Então se
lembrou. Droga! Deixara-o sobre a cama ao entrar às pressas no banheiro.
Pensou em sair para
pegá-lo. Débora devia ter mandado Jun embora e voltado a dormir, pois não
conseguia ouvir nada. Chegou mesmo a ficar em pé e se aproximar da porta. Mas
quando ia girar a chave e abrir a maçaneta, ouviu passos no corredor. Passos de
duas pessoas. Seu coração parou de bater por quase meio minuto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário