Sho e Aiba olhavam
abobalhados enquanto Ohno ria e comentava:
– Eu já suspeitava Kazu!
Eles estavam no pub
há quase uma hora e nada de Matsumoto chegar. De tanto o Riida insistir, Nino acabou contanto tudo, desde o encontro com
Débora na noite anterior. Queria esperar o Jun, mas Aiba disse:
– Do jeito que ele saiu,
parecia muito bravo, e acho que tem uns ponteiros para acertar com a Yui-chan,
embora eu não saiba o que é. Ele deve demorar, ou nem voltar.
Nino então foi facilmente
convencido. Os outros três fizeram silêncio absoluto, todos eles bebericando um
copo de cerveja. Ele disse que gostou dela desde que a vira, e desde que ela
foi tão natural pulando em seu pescoço daquele jeito no primeiro dia delas no Nihon. Daí para a paixão total foi um
pulo. Nunca acreditara muito em amor à primeira vista, mas fora mais ou
menos isso que acontecera com ambos, apesar de ela achar que se tratava de
simples amor de fã, a declaração de amor dele para ela provou que o sentimento
que ambos estavam sentindo era bem maior.
Quando falou do noivado e
da conversa que tiveram com Kitagawa naquela mesma tarde, Sho se manifestou:
– Ora, então você estava
com Kitagawa-san enquanto a gente esperava ansiosamente por você antes do show?
– Isso mesmo. Mas deixe-me
continuar...
E ele continuou narrando
a história, que ao todo não gastou mais que meia hora do tempo deles ali. No
fim, Oh-chan era o único que ria. Os outros dois estavam com os olhares sérios
e preocupados.
Afinal, o que era aquilo?
Ninomiya tinha ficado noivo. Isso mesmo. Noivo. Sakurai e Aiba já tinham
falado, né? Que achavam que era o Matsujun que ia casar primeiro... mas os anos
foram passando e, mesmo sendo o único com namorada oficial, ele não tinha
decidido se casar ainda. Mas o Nino? Quem diria...
E o Arashi? Como ficava
nessa história? Será que o Kazu-chan ia parar com eles? Ia deixá-los de lado?
Não, isso não. Kitagawa tinha aceitado aquela história, então não teria nenhum
problema. O Arashi era os cinco, não podia ter um membro a menos.
Nino, como um leitor de
pensamentos, respondeu à pergunta muda, mas que não queria calar:
– Mas não se preocupem,
eu NUNCA vou deixar vocês! O Arashi faz parte de mim. E vocês são meus melhores
amigos desde... desde... bom, faz tempo, hahahaha!
Os dois então relaxaram um
pouco e sorriram junto com o Riida,
que deixou o copo em cima da mesa e, com as mãos na cintura, disse:
– Você não lembra? Está
desmemoriado, Nino?
Então, todos os quatro
começaram a rir. O pequeno clima de tensão rapidamente se dissolveu. Aiba
passou o braço pelos ombros de Nino enquanto riam.
– Estou feliz por você!
Então era com ela que você falou no celular? Àquela hora, você saiu de perto de
nós para não ouvirmos, né? Hahahaha.
– Sim – Nino ficou
vermelho e tímido de repente, mas não se soltou do abraço do amigo. – Foi para
ela que eu liguei.
– Minna, vamos brindar!!!
– Sho gritou.
Todos pegaram os
respectivos copos e fizeram um brinde à felicidade de Ninomiya Kazunari.
– Kanpai!
***
Enquanto dirigia
apressadamente para o hotel, Jun só conseguia pensar em tudo que Yui lhe
contara e na discussão que tiveram. Não sabia se ia conseguir continuar com o
namoro daquele jeito.
Como ela foi capaz de
proferir aquelas atrocidades todas e ainda se achar na razão? Chamara Karorine de nomes horrendos! Ele sabia
que ela era desbocada, mas dessa vez, passou de todos os limites. Ofendeu,
pior, ultrajou uma amiga tão querida e tão especial para ele.
Ouvira em silêncio tudo o
que ela relatou e sentia a cada segundo o sangue ferver ainda mais nas veias. A
raiva chegou ao extremo quando ela finalmente terminou de falar, com a ameaça que
fizera quando deixou o quarto de Karorine.
Ele, que estava ainda sentado até aquele minuto, levantou de um salto e,
encarando Yui que ainda estava sentada, segurou firme nos ombros dela, a
obrigando a olhar bem dentro dos seus olhos coléricos.
– POR QUE TUDO ISSO,
UEMURA YUI, PODE ME DIZER??? – ele a sacudia e tinha o rosto vermelho enquanto
gritava – O QUE FOI ISSO TUDO?
Ela olhava para ele e
pela primeira vez naquela noite Jun notou alguma insegurança. Ele percebeu
quando ela fraquejou e se encolheu sob a pressão de suas mãos. Uemura Yui
estava assustada. Nunca vira o namorado daquele jeito antes.
– Calma, amor... vamos
conv...
– NADA DE CONVERSA!!! –
Jun não deixou que ela concluísse – VOU LÁ NO HOTEL AGORA TENTAR CONSERTAR O
ESTRAGO QUE VOCÊ FEZ! - apontando o dedo para ela.
– Mas...
– SEM MAS! – Jun soltou
os ombros dela e baixou um pouco o tom de voz para prosseguir – Eu vou sair
agora e você, Yui, vai para sua casa e fica quietinha lá. Depois a gente
conversa.
Yui então foi, ainda com
o olhar assustado, para seu apartamento e ele seguiu em disparada.
***
Carol tinha finalmente se
acalmado. Não chorava mais nem estava deprimida ou coisa assim. Já eram quase
11h da noite e as duas conversavam sentadas na cama sobre o noivado repentino
de Débora. Ela ainda achava que a amiga estava se precipitando, se casando com
um homem que sempre foi somente seu “ídolo pop”. Dé sempre foi fã, desde que
ela tinha lhe apresentado o Arashi, mas nunca achou que o amor dela podia ser
tornar algo diferente em tão pouco tempo.
Então ela tentava
convencer a amiga que se casar “assim, no susto, é loucura total!”. Mas Débora
insistia que estava totalmente certa de seus sentimentos pelo Kazunari e certa
dos dele também. Sendo assim, não precisava ficar enrolando, iam casar e
pronto! Só restou a Carol sorrir e dizer:
– Ok, você venceu! Eu só
posso mesmo ficar feliz por você. Mas ainda acho que você tem que voltar
comigo.
– Não, Carol. A gente
conversou – Débora segurou as mãos da amiga – Vou ficar aqui pra gente poder se
conhecer melhor... e daqui alguns meses, quando a turnê acabar, vamos para o
Brasil e nos casamos.
– Bom, mas e se seus pais
quiserem que você volte?
– Eu não vou voltar
agora, já decidi, e sei que eles vão aceitar. Se não aceitarem, bom, paciência,
porque eu vou ficar. Já sou adulta Carol, há alguns anos, pago minhas
contas, moro sozinha, me sustento, enfim. Mas também não quero brigar com eles.
Então, estou torcendo para eles não criarem nenhuma objeção. De qualquer
forma... – ela fez uma pausa e olhou para a amiga fingindo que estava brava e
apontando o dedo indicador – nós ainda temos uma semana juntas, não é
dona Caroline?
– Ah, Dé... – Carol
revirou os olhos e olhou para as mãos, que caiam sobre o colchão – eu quero ir
embora amanhã, você sabe. Teria ido hoje, mas você não deixou.
– É claro que eu
não deixei! Nem vou deixar amanhã também.
– Amanhã de manhã já vou
ligar no aeroporto e ver se tem um vôo para amanhã à noite.
Quando Débora ia
retrucar, alguém bateu na porta.
– Ah! Deve ser o Nino –
disse Débora, se levantando da cama – Deixa que eu atendo.
Caroline somente pensou: Uhm,
acho que não, eles sempre saem depois de um show, não é? De qualquer forma, nós
estamos recebendo muitas visitas noturnas, né?. Ela sorriu, se perguntando
quem era.
Débora espiou pelo olho
mágico e deu um pulo. Era ninguém menos que Matsumoto Jun em pessoa! Vestindo jeans
e uma camisa, sem boné, sem óculos para esconder seu rosto. Ele estava
completamente sem disfarce algum.
Ela já não gritava mais
ao vê-los, nem surtava ou coisa assim. Apesar de ainda achá-los mais lindos a
cada dia que passava. Depois de uma semana, eles já eram “íntimos”. O que a
assustou foi ele estar ali, não Nino, e sozinho. Olhou novamente no olho mágico
e gritou para Carol:
– É o Matsujun! Ele está
sozinho.
Caroline, de repente,
sentiu um frio na barriga e já não podia mais falar com ele. Não, não podia
mesmo, e ia embora em segredo. Porque achava que nunca mais conseguiria olhá-lo
com naturalidade, nunca mais ia conseguir conversar com ele. Nunca mais ia
ouvir Arashi nem procurar fotos na internet, nem ver shows, nem vídeos, nem
nada. Afinal, não conseguiria mais sequer olhar para o rosto dele, o sorriso
dele numa imagem, sem se lembrar do beijo que ele lhe dera na face, no sorriso
do show, na música que ele cantou. Não conseguiria olhá-lo sem se lembrar das
palavras de Yui. E, pior que tudo: ela estava mesmo apaixonada por Matsumoto
Jun.
Respondeu:
– Pergunte o que ele
quer. Não posso vê-lo Dé, você entende isso?
Débora, olhando a amiga
por cima do ombro e dando de ombros, abriu a porta.
– Konbanwa, Matsujun.
Ele estendeu a mão para
cumprimentá-la e ela avançou e pousou um beijo em sua bochecha. Jun retribuiu o
beijo, sorrindo do jeito da burajirujin.
Mas Débora notou que por trás do sorriso, havia um rosto cansado e
entristecido. Tinha os olhos ainda vermelhos de cólera. Contudo, já não estava
mais bravo. A raiva dera lugar ao pesar e rapidamente o sorriso se desfez num
olhar de preocupação.
– Konbanwa, Débora-san. Ano... Queria falar com Karoru-chan,
ela está acordada?
– Jun, me chame de Dé,
está bem? – Débora ouviu o barulho do chuveiro e imaginou que esta seria a
desculpa mais convincente; não queria ter que mentir para ele. – Uhm, a Carol
está no banho.
– Daijoubu, eu espero. – Jun ficou parado na porta, não disposto a ir
embora.
– Ano... sabe, acho que ela não quer... não pode... no momento...
falar com você – Débora estava confusa, ela não sabia o que fazer com ele
parado bem ali na sua frente. Seria falta de educação fechar a porta,
né?
– Etto ne, Débo... Dé? Por que ela não pode ou não quer falar comigo?
Débora deu uma olhada
discreta para trás e já não viu mais as pernas de Caroline saindo da cama. Ela
devia mesmo ter entrado no banheiro. Resolveu contar tudo – ou quase
tudo. Saiu e encostou a porta atrás de si.
É, talvez fosse melhor
mesmo ele saber a verdade.
– Jun, tenho que contar
uma coisa... – ela começou, olhando para os pés.
– Eu sei, Dé. – Jun
interrompeu. Com tristeza na voz, disse: – Você ia falar que Yui esteve aqui,
né?
Débora não se espantou de
ele saber, afinal Kazunari tinha dito que contou a ele. Continuou:
– É, ela esteve sim. E
falou coisas horríveis para a Carol.
– Eu também sei disso –
dessa vez, Débora arregalou os olhos. Nem Nino sabia o que Uemura Yui tinha
dito.
Ele prosseguiu, mudando o
peso do corpo de um pé para o outro:
– Eu... obriguei Yui a me
contar tudo. A gente discutiu e eu achei um absurdo e uma atitude totalmente
desnecessária o que ela fez!. – Ele brigou com ela, Dédora refletiu, então
isso explica o olhar. - Vim aqui exatamente por isso. Quero me desculpar...
– Matsujun, eu acho –
Débora interrompeu e pareceu pensar por um instante, temerosa de dizer o que
tinha em mente – Eu acho que agora não é uma boa hora.
– Ela está brava comigo?
Eu sei que a Yui passou dos limites...
– Não é isso, claro que
ela não está brava com você, só precisa pensar no momento. Caroline está no
banho e também já está tarde. Por falar nisso – ela deu um sorriso – não
deveria estar com os outros? Kazu-chan não te contou?
Nessa hora o celular dele
tocou e ele pediu licença para atender. Foi até a janela no fim do corredor.
Era exatamente o Nino,
perguntando se afinal ele não ia para o pub. Ele respondeu que não, que
tinha um problema a resolver, ainda com a voz recheada de tristeza, mas o outro
não notou. E perguntou qual a novidade que ele tinha para contar.
– Novidade? – Jun
podia ouvir as risadas dos outros quando Nino disse aquilo. Pelo jeito, havia
mesmo uma novidade.
– Isso mesmo.
Débora-san... digo, a Dé... me disse que você tem algo para contar.
– Como assim ela
disse? Onde você está agora?
– Estou no hotel. Yui fez
uma grande besteira e pelo jeito a Karoru-chan não quer falar comigo.
Então, a Dé me recebeu.
– Você está no hotel?
Foi a Deb que te disse que tem uma novidade?
– Deb?? É, pelo jeito tem
alguma coisa pra contar mesmo. Bom, vou desligar agora, estava conversando com
ela. Talvez então eu descubra a novidade. Jya!
– Ano... Matsujun?
– Hai!
– Ano... – ele ficou uns dez segundos em silêncio, e Jun
ouviu o Riida gritar ao fundo “Fala
para ele Nino!” – eu acho melhor deixar a Deb contar.
– Daijoubu. Jya ne! Depois
a gente se fala melhor.
– Hum... jya! – e Matsumoto ouviu o
clique: ele havia desligado.
Jun também desligou e
colocou o aparelho no bolso da calça. Foi até Débora, que o esperava na porta,
já novamente aberta. Parou, pôs as mãos nos bolsos e começou a se embalar sobre
os calcanhares. Ainda podia ouvir o som do chuveiro.
– Era o Nino. Ele
confirmou a história da novidade e disse pra você contar. Então, manda ver.
***
Caroline não podia
conversar com ele.
Ela não estava mais
tomando banho. Demorou somente cinco minutos embaixo do chuveiro: o tempo que
esperava ser o suficiente para que Jun se decidisse a ir embora. Mero engano.
Quando saiu do chuveiro e fechou a torneira, ela ainda ouvia as vozes dele e de
Débora conversando. Voltou a ligar o chuveiro e se encostou, com a toalha
enrolada no corpo, na porta do banheiro.
Esperou por uns dez ou
quinze minutos, ouvindo atentamente, mas a conversa continuou.
Sobre o que será que
falavam? Será que era sobre ela? Débora não falaria que ela queria ir embora no
dia seguinte, falaria? Se ele ficasse sabendo disso, era capaz de querer
impedi-la.
Não, ela refletiu,
não tem motivo algum para ele me impedir. Eu não sou especial. Apenas uma
fã, como outras milhares mundo afora. Não, eu não sou diferente de ninguém.
Mas... ela lutou
contra esse pensamento o tempo todo desde que Yui foi embora do hotel naquela
tarde, eu sentirei muita falta dele. Era como... para mim, era certo já que
todo mês eu recebia uma carta. E... aiai, viu, eu o amo tanto! Achei que...
ela se esforçava para não ter esses pensamentos, e nesse momento fez uma
careta, porque mesmo tentando, não conseguia evitar.
Eu achava que eu era
somente uma fã. Mas... acho que me enganei. Me enganei de uma maneira horrível!
Eu já devia ter percebido a diferença. Provavelmente, já era diferente desde
quando eu mandei a chave. Carol fechou a mão sobre o coração que repousava
na correntinha em seu peito. Ela fechou os olhos e se lembrou da mãe falando
com uma Caroline que não passava de uma criança.
– Carol, guarde esse
coração, pois aqui – ela mostrou o pingente – e aqui – nesse momento ela tocou
o lado esquerdo do peito da filha – só entra quem tem a chave.
Abriu os olhos e a imagem
se desfez. Segurou o coração com mais força.
Aqui só entra quem tem a
chave. E a chave... bem, ela dera a chave para Jun há alguns anos já.
Suspirou. Novamente
entendeu.
Ouviu uma risada discreta
dele, logo seguida pela voz de Débora. Afinal, ele ainda estava lá. Mas seu
“banho” já estava longo demais. Fechou a torneira e se vestiu rapidamente,
abrindo a porta, mas tendo cuidado para ele não vê-la.
É, de fato ela não podia
conversar com ele. Sequer podia olhá-lo.
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