E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 23 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 17


Capítulo 17

Depois de três horas, os meninos do Arashi, exaustos e felizes - bom, nem todos tão felizes assim - foram para os fundos do palco. Todos ensopados de suor, necessitavam de um banho com urgência - e dessa vez, eram todos mesmo.
Só havia dois chuveiros em um único banheiro, com um biombo comum de madeira separando-os, então eles tiraram a sorte para ver quem iria primeiro pra ducha. Matsumoto Jun quase enfartou quando não foi o primeiro nem o segundo, tendo que ficar sentado com o Riida e Nino, esperando enquanto Aiba e Sho tiravam o suor do corpo.
- Coisa rápida! Já já chega sua vez, Matsujun - Sho piscou um olho enquanto entrava no banheiro.
Jun sentou meio carrancudo num canto no chão, com os joelhos encostados no peito e olhando para um ponto fixo na parede oposta ao lugar onde estava, e os outros dois ficaram no sofá. Ohno disse:
- Nino, quando você vai contar a novidade?
- Hã? - ele olhou para os lados, como quem não estava entendendo.
- Oras! Não se faça de desentendido - Ohno sorriu e se recostou no sofá.
- Não estou fazendo nada - Kazunari olhava para as mãos unidas sobre o colo e disfarçava um sorriso.
- Sei. Fale logo. Eu notei sua felicidade meio "suspeita".
Nino olhou para o Jun no chão, que não olhava para eles e nem sequer prestava atenção na pequena conversa. Não foi a primeira vez desde o começo daquela semana que se perguntava o que estava acontecendo com ele. Não chegou a uma conclusão definitiva, mas achou que ele estava diferente, assim como o Riida também notara. Mas o que Kazunari não notou foi que aquela diferença se devia ao mesmo estado de espírito que ele estava experimentando com Débora. O que o deixava curioso, pois o amigo nunca se comportara de modo diferente assim antes.
Ele teve menos de um minuto para pensar em tudo isso antes de novamente ser pressionado.
- Kazu, vai falar ou não? Somos amigos cara, manda.
- Bom, Oh-chan, realmente aconteceu alguma coisa - ele esboçou um sorriso maroto. - Mas eu vou contar depois, quando estivermos os cinco juntos.
- Tem a ver com seu atraso, né?
- Hai! – e ele pegou seu DS que estava embaixo da almofada às suas costas, ligando-o e começando a jogar.
Ele não tem jeito mesmo, pensou o líder, sacudindo a cabeça e fechando os olhos, com um bocejo de puro cansaço.
Nesse instante, Aiba, somente de bermuda jeans e o peito ainda molhado, saiu do banheiro com os cabelos pingando sobre os ombros. Ainda se ouvia o som vindo do outro chuveiro, o que indicava que Sakurai Sho ainda estava no banho.
- Eu também quero saber! - ele, que ouvira as últimas frases, comentou.
Ohno abriu um olho e encarou Aiba. Seu tempo foi recorde, não fazia nem dez minutos que estavam no camarim.
Jun imediatamente levantou-se e dirigiu-se à porta.
- Pode ir também, Oh-chan, eu fico por último. – Nino não desviou a atenção do jogo.
Ohno se levantou e, pegando sua toalha que estava em cima de uma cadeira, seguiu atrás de Matsumoto, que já seguira para o banheiro, e bem quando ele abria a porta, Sho saiu. Jun entrou e nem olhou pra ele.
- O que aconteceu? - ele apontou para as costas, e todos entenderam que se referia a Jun.
Os dois deram de ombros. Sho e Aiba entraram na salinha ligada ao camarim para terminar de se vestir, deixando que o Nino ficasse sozinho, jogando, todo suado, louco por uma boa ducha, mas feliz da vida.

***

Yui saiu apressada quando eles terminavam de cantar e caminhavam para o fundo do palco, pois não queria enfrentar a multidão toda que se deslocaria a seguir. Em todo concerto era assim, parecia que todos esperavam dez minutos em silêncio numa última esperança de que os cinco voltassem para cantar uma última música pela quarta vez. Como isso nunca acontecia, então era como se todos levantassem de seus lugares ao mesmo tempo e se dirigissem aos vários portões de uma só vez, como se tivessem tomado a decisão conjunta de ir para casa.
Ela nunca fazia parte dessa multidão. Já sabedora de qual era a última música cantada, nos últimos acordes ela se punha em pé e começava a se dirigir discretamente para os fundos do palco, onde normalmente encontrava com os garotos no camarim, para poder cumprimentá-los e dar um beijo em Matsumoto.
Dessa vez não seria diferente. Yui arrumou a bolsa no ombro e começou a andar. Todos ali sabiam que ela era namorada de Jun, e todos a respeitavam como tal. Durante o tempo que estava com ele, praticamente impôs o respeito que esperava que tivessem, e mostrou-se digna do posto que ocupava.
Era discreta, não fazia estardalhaço e nunca teve que ser repreendida por mau comportamento. Uma das condições impostas por Kitagawa quando ela e Jun oficializaram o namoro foi “garantir a boa imagem, imaculada” e nunca dar vazão a fofocas indevidas e pequenos escândalos. Ela cumpria seu papel, mas não no aeroporto segunda-feira, quando acabou abusando um pouco do lugar que conquistara, ao fazer charme e deixar clara sua posição como namorada de Matsumoto Jun para as duas visitantes.
Outra vez que dera lugar a fofocas foi no hotel essa tarde, mas Caroline era ingênua e lerda o suficiente para não fazer nada. Não, nem a suspeita vaga que ela tivera quando Jun ligou antes do show, de que talvez ela pudesse ter dado com a língua nos dentes, tinha algum fundamento. Afinal, a garota não ficara completamente sem ação quando Yui falou todas aquelas verdades? Ficou apenas chorando indefesa na cama, não ficou? Então... não precisava se preocupar, daquela fonte não sairia nenhum material para nenhum escândalo.
Enquanto os seguranças e staffs abriam caminho para ela, Yui pensava no que Matsumoto tinha de tão urgente para falar. Será que ele, pela primeira vez, a levaria para o pub? Bem que ela queria ir junto uma vez que fosse. Parou em frente à porta do camarim e bateu, depois de uma pequena caminhada de uns dez minutos.
− Quem é? – gritou a voz de Aiba Masaki.
− Sou eu, Aiba-chan! Posso entrar?
− Espera só um pouquinho, Yui-chan!
Ela esperou por dez minutos, sentada na cadeira que tinha ao lado da porta. Foi Sakurai quem a abriu, com os cabelos molhados, calça jeans, camiseta e pés descalços. Sorriu para ela, que de pronto ficou em pé.
Yo! – Sakurai disse, erguendo um pouco a mão esquerda na frente de Yui, que deu um tapinha e retribuiu o sorriso.
Mas logo ela deixou de sorrir. Matsumoto estava em pé de frente para a porta da sala lateral atrás de Sho, e quando a viu, praticamente correu e a encarou pelas costas do amigo.
− Yui, você não precisa nem entrar. Vamos sair JÁ! Para meu apartamento! Precisamos conversar. É muito sério!
Ele avançou alguns passos, olhou para os amigos por sobre os ombros e disse:
− Eu e Yui temos um probleminha a resolver. Vão ao pub sem mim, talvez eu vá mais tarde, não sei.
Pegou o braço de Yui e a puxou pelo corredor.

***

Caroline pegou no sono novamente, depois de chorar por um tempão, deitada na cama, com a cabeça no colo de Débora.
Dé ficou olhando enquanto a amiga dormia e torcendo para o show acabar logo e Kazunari ligar. Já eram quase 9h da noite. Queria falar logo com ele. Contar sobre Yui e convencê-lo a desmascará-la para Jun.
Quando seu celular tocou, ela estava quase dormindo também, encostada na cabeceira, com Carol ainda deitada em seu colo. Até pegar no sono, ela manteve firme sua posição de voltar para o Brasil o quanto antes.
Estendeu o braço por cima do corpo da amiga e pegou o aparelho dentro da bolsa.
Moshi-moshi!
Deb, sou eu, o Nino. Como vai minha linda?
Ano... bem, eu acho – Débora sentiu corar e suas bochechas esquentaram; ela não se acostumara ainda que tinha alguém para chamá-la de linda.
 – Por que você acha? Aconteceu alguma coisa?
 – Sim e não. Na verdade, a Yui, a namorada do Matsujun, esteve aqui hoje.
 – É, eu sei, ela estava saindo com o carro na hora que eu deixei você.
 – Você a viu?
 – Hai!
 – E ela viu você?
 – Acho que não, ela parecia estar com muita pressa. É sobre isso que queria falar. Acho que o Jun-pon suspeita de algo...
– Ela veio até aqui – Débora interrompeu – para brigar. Ela falou poucas e boas pra Carol. Ah, que vontade de dar uma surra naquela imbecil!
Calma Deb... eu que comentei com o Jun que a tinha visto no hotel, e pelo jeito ele ficou irritado e tinha um jeito de quem desconfia de alguma coisa. Ele vai cuidar dela, não precisa ficar nervosa amor.
– Repete isso.
O quê? Amor?
– Ahan.
– Ahhh, Deb, hahahaha! Você é meu amor!
Débora ficou ainda mais corada e deu graças a Deus por Caroline estar dormindo e não vê-la naquele estado. Ela deu um sorriso enorme e seu coração começou a bater forte dentro do peito.
Ela ainda não se recuperara completamente dos acontecimentos daquela tarde, mas tinha temporariamente esquecido de tudo em função do que aconteceu com Carol. Mas agora que ele estava falando com ela novamente, tudo voltou.
O encontro com Kitagawa-san foi o mais tenso de tudo. Nino simplesmente a arrastou até a JE e dispensou todos os seguranças e funcionários que queriam interrompê-lo e impedir que ele adentrasse o escritório do chefe sem permissão. Enquanto isso, Dé tremia como vara verde de tanto medo. Já ouvira horrores sobre o BIG BOSS.
Mas, para surpresa de ambos, ele não foi tão relutante assim e acabou aceitando. Sim, ele aceitou que Ninomiya Kazunari ia se casar com uma estrangeira. Só pediu descrição da parte deles, e bom senso para que as fãs não fossem muito impactadas negativamente com a notícia. Afinal, se isso acontecesse não ia ser bom para a reputação dele, nem do Arashi como um todo.
Deb? – Nino chamou do outro lado da linha, despertando-a de seus pensamentos.
Ela sorriu e respondeu:
Hai! Estou sim, meu amor!
– O que você disse? – ele sorriu.
– Eu disse que ESTOU AQUI SIM MEU AMOR!
Agora ele riu mesmo. Ela gritou a frase, pra dar bastante ênfase. E nisso, Carol se remexeu na cama e acordou.
– Kazu, tenho que desligar. A Carol acordou. Acho que foi culpa do meu grito.
Ele riu ainda mais do outro lado.
Sem dúvida foi! Hahahaha. Ela estava dormindo? Depois você vai me contar direitinho o que a Yui disse, ok?
– Ok, eu conto.
Você já contou pra Karoru-chan que estamos... noivos?
– Não, nem tive tempo ainda, mas vou contar! Agora deixa eu desligar.
Ta. Jya ne, minha flor.
Jya.
Carol estava encarando-a, olhando de baixo, com os olhos inchados de tanto chorar e o rosto vermelho do sono.
– Quem era? Kazu-chan? – perguntou.
Débora se fez de desentendida.
– Caramba! Você dorme, hein!
– Sim, durmo. Era o Kazu-chan?
Débora riu da amiga, a curiosidade transparecia em sua voz. Carol sorriu de volta, se sentando. Sentia-se melhor. Vendo a amiga se empolgando e deixando o sorriso se espalhar pela sua face e alcançarem seus olhos que brilhavam, esqueceu por um momento o que acontecera.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 16


Capítulo 16

O celular dela tocou quando ela estava manobrando para conseguir estacionar o carro na única vaga disponível num raio de 1km do Estádio.
 Yui simplesmente ignorou e continuou girando freneticamente o volante.
 Dois segundos depois que parou de tocar, ele começou de novo. Yui olhou para sua bolsa no banco do passageiro, soltou o ar por entre os dentes, com olhar de tédio, e pegou o celular. No visor aparecia: Matsumoto.
 O que será que ele quer a essa hora?, pensou enquanto atendia. Ela já estacionara mais ou menos o carro, então desligou e cruzou as pernas.
 − Moshi-moshi. Jun, amor?
 − Yui, onde você está agora? – ele perguntou, com tom de poucos amigos.
 − Acabei de chegar ao Kokuritsu. Demorei uns dez minutos pra achar uma vaga. Estou saindo do carro. Desculpe não ter...
 − Shhh! Onde você estava?
 Yui se remexeu no assento. Que pergunta descabida era aquela? Ela ligara dizendo que iria se atrasar.
 − Estava na revista.
 − Não estava e eu sei que não estava! Yui, você me enrol...
 Ela ouviu um berro ao fundo, provavelmente de um dos staffs, avisando que faltavam apenas vinte minutos para o início da apresentação. Jun se interrompeu no meio da frase e mudou a conversa.
 − De qualquer forma, Uemura Yui, nós teremos uma conversa séria depois do show, viu? – e desligou. 
 O que foi aquilo? Ela não entendeu nada. Mas por algum motivo teve um mal pressentimento.  Será que ele desconfiava de alguma coisa? Será que aquela burajirujin, além de baka, era fofoqueira?
 Suspirou e largou o aparelho na bolsa aberta. Ligou novamente o carro e terminou de estacionar. Depois saiu em direção a entrada sacudindo a cabeça. Não, impossível. Ela não teria ligado para ele, teria?
 Contudo, era a única justificativa para ele ter ligado e falado daquele jeito com ela.

***

− Carol, por favor, me conte o que houve – pediu Débora – Você está quieta desde que cheguei, faz quase vinte minutos!
Caroline estava abraçada à amiga, ainda sentada no vaso sanitário, e Dé estava em pé ao seu lado. Não derrubava lágrimas nem emitia som algum; se não fosse pelo respirar constante, alguém poderia dizer que ela estava em estado de choque ou coisa assim.
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Pequeno flashback [3]

Yui foi entrando no quarto como se fosse a dona do hotel e empurrando-a até ela cair sentada na cama. E depois palavras rudes, gritos e ofensas. E ela, Caroline Ferraz, novamente não abriu a boca, não conseguiu se defender, não disse nada, só escutou, e a certa altura, lágrimas começaram a rolar por sua face enquanto a invasora, Uemura Yui, disparava uma rajada de flechas venenosas.
Quem Caroline pensava que era? Por que escolhera o Matsumoto, seu Matsumoto, para atormentar? Por que fora até o Nihon? Já não era mais do que o suficiente a ridícula troca de cartas? Aliás, Yui já falara um monte pra ele largar essas malditas cartas, esquecer essa fã burajirujin baka.
Mas não, não Matsumoto Jun. Ele colocara uma coisa na cabeça e quando isso acontecia, ele era teimoso. Teimoso como uma mula! Baka ele também, que ficou dando corda pra Caroline! Desde aquela primeira carta, ele nunca deveria ter respondido! Devia era ter fingido que nada tinha acontecido e pronto, com certeza a vida seria muito mais bonita assim, muito mais feliz. Ele estaria satisfeito com Yui. Sem intromissão de ninguém. NINGUÉM, ouviu bem?
E daí, se “Karoru-chan e Débora-san” não tivessem inventado a porcaria da história de “viajarem para o Nihon de férias, aquele é um país lindo e ainda podemos tentar ir num show do Arashi”, Jun nunca havia cantado música nenhuma pra mulher nenhuma que não fosse a sua namorada!
− O que você...? – Carol tentou argumentar nesse ponto. Yui notara a música que Jun cantara pra ela, afinal.
Mas a outra não a deixou continuar.
− Cala a boca! Quem fala aqui sou eu. Você só escuta!
E continuou lançando farpas. Caroline era feia, sem graça, nunca que o Matsumoto ia olhar pra ela. Ela era retardada se acreditava que ele ia ficar com ela por muito tempo.
− Ele não... – Carol tentou outra vez. E Yui novamente a fez calar.
Urusai! Já disse!
Mas o pequeno escândalo, o showzinho particular de Uemura Yui, estava no fim. Ela ameaçou Carol se tentasse “chegar perto do MEU namorado!”. Encaminhou-se até a porta e com ar totalmente arrogante e completamente dona da verdade, ela lançou para Carol, que estava ainda sentada na cama e chorando, seu último dardo recheado de veneno:
− Se você se aproximar dele, eu te pico em pedacinhos! Me ouviu? PE-DA-CI-NHOS!!!
E saiu batendo a porta.
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− Carol...... – Débora tentou de novo, ainda abraçando a outra, que estava com a cabeça apoiada em sua barriga – fala alguma coisa!
Caroline finalmente fez um movimento. Afastou a amiga, ficou em pé e foi para fora do banheiro. Começou a arrumar a mala que estava no fundo do quarto, mecanicamente pegando as peças de roupa e jogando dentro dela. Sussurrou:
− Dé, eu tenho que voltar para o Brasil.
Débora olhou desacreditada enquanto ela jogava as coisas na mala.
− O quê?
− Isso mesmo. Tenho que voltar. Eu me pergunto: que diabos eu vim fazer aqui?
− Para tudo! – Débora elevou a voz e em dois passos gigantes alcançou Carol. – Você NÃO tem que voltar, e nem PODE voltar. As passagens já estão compradas, esqueceu?
− Eu tenho que dar um jeito. Preciso ir embora daqui. Não quero atrapalhar mais.
− Atrapalhar o quê? Não estou te entendendo... – Débora se sentou em uma das camas e obrigou Carol a fazer o mesmo – Quero que me explique.
De repente, ela começou a falar. Instantaneamente seus olhos ficaram vermelhos e, ameaçaram chorar; alguns segundos depois ela desabou em lágrimas. Fazia tempo que Débora não a via chorar tanto.
− Eu atrapalhei sim. Desde que mandei aquela carta idiota pela primeira vez! Eu sou mesmo uma imbecil! To atrapalhando a vida do Matsujun desde então! Ele me respondeu sempre, todas as vezes, e ainda foi super bondoso comigo....- corrigindo - conosco! Mas será que eu não notei que estou o obrigando a me aceitar em sua vida? Sou uma idiota completa! Yui tem razão. Eles podem ser muito felizes e não precisam de mim para interferir nesta felicidade. Eu tenho que sumir! Eu vou embora!
Agora ela soluçava e suas palavras saiam entrecortadas. Ela deitou na cama, em posição fetal, e voltou a sussurrar:
− Eu preciso ir Dé. Ela tem razão. Eu preciso mesmo ir. O que eu vim fazer aqui? Eu preciso ir. Yui está certa. 
Débora deitou ao lado da amiga e a envolveu com os braços, tentando confortá-la.
− O que aconteceu, Carol? Conte pra mim, conte direitinho. Vamos, eu quero te ajudar. Tire essa ideia da cabeça, você não vai a lugar algum. O que ela te fez? Ela te bateu? Ela brigou com você?
Caroline ficou novamente em silêncio por alguns minutos, e finalmente disse:
− Eu vou te contar Dé.
Secou as lágrimas, se sentou e começou a falar, contar tudinho, desde a hora em que Débora saíra pra almoçar.

***

− E foi isso – ela concluiu, depois de quase uma hora de conversa.
Nessa uma hora, Carol tinha chorado muito. Débora ficara muito indignada e queria ligar para Nino, para ele falar com o Matsujun. Mas eles estavam no show.
Bom, mas quando ele ligasse para ela, ela falaria e exigiria uma atitude. Sua amiga não podia ficar assim. Ela tinha sido agredida, não fisicamente, mas a ferida que Yui abrira era profunda e não parava de sangrar.
Ela esquecera toda a felicidade daquela tarde quando vira a amiga daquele jeito. Até do anel em seu dedo se esquecera. Mas assim que Carol se acalmasse um pouco e desistisse da ideia maluca de pegar o primeiro avião para o Brasil, ela lembraria do anel e contaria a sua história.
Um anel. De noivado. Kazunari tinha posto um anel de noivado em sua mão. Ela ainda não acreditava.
Ele tivera todo aquele problema com namorada no passado, e sofrera pra caramba. Johnny não se compadeceu. Viu-o chorando e não disse nada. Superprotegia “seus meninos”, como um pai muito coruja que não quer nunca que os filhos saiam do ninho. Mesmo que eles sofram com isso. Mesmo que eles almejem por mais independência.
Por isso, Nino não pensou muito quando resolveu assumir Débora como sua namorada oficial. Como sua noiva. Como futura esposa. Afinal, ele já tinha mais do que a idade suficiente para casar. E não queria mais que o Kitagawa-san nem ninguém metesse o bedelho.
Ele não ia largar o Arashi. Não enquanto vivesse. Para ele, aqueles quatro amigos eram mais que irmãos, eram pedaços de si. Se esse era o medo de Johnny e das fãs, era infundado, porque ele nunca poderia se desfazer do Arashi, assim como jamais poderia se desfazer de algum órgão vital.
Mas queria poder viver também, ter um amor. Tudo isso ele explicou para Débora depois que acabaram a refeição.
Dessa vez, ele deixou um pouco a “pão-durice” de lado e a levou num lugar chique, reservado, pois queria privacidade. Pegou então a caixinha com o anel e fez o pedido. Simples assim.
− Deb, não sei se você pode aceitar isso, mas estou arriscando tudo – ele disse – Daisuki dayo, estou completamente apaixonado! Aishiteiru yo! Não achei que isso pudesse acontecer, não comigo.
Débora olhou para ele e seus olhos brilharam com as lágrimas que brotaram no momento exato que ela respondeu:
− Eu aceito me casar com você, Ninomiya Kazunari!
O sorriso dele, quando ela disse as palavras mágicas, foi de orelha a orelha. Não podia se conter de tanta felicidade!
− Ano... eu... eu... claro que a gente não vai casar agora. Não dá, com a tour e tudo o mais, e também você tem uma vida no Burajiru, né – ele disse – Mas realmente estou muito feliz!
Ele pegou a mão dela que estava estendida sobre a mesa e colocou o anel no dedo anelar. 
− É... – Débora pareceu refletir por um momento – eu realmente... mas sinceramente – ela parecia escolher com cuidado as palavras – eu não tenho nada que me prenda lá. Terminei a faculdade ano passado, trabalho num escritório de advocacia, mas creio que isso eu posso fazer por aqui também...
− E seus pais? Amigos? – Nino parecia preocupado com isso. Pensou muito sob esse aspecto antes de fazer aquele pedido inusitado.
− Ano... eu acho que... eles vão aceitar sim. Eles, meus amigos, meus pais, são gente boa, só querem minha felicidade. Mas... acho que, quando chegar a hora, meus pais vão querer que a gente se case no Brasil.
− Hahahaha! – ele riu – Sim, sim, não seja por isso! Se esse é o único empecilho, não é mais. Vamos nos casar no Brasil! Agora... – ele fez uma pequena pausa e olhou para o relógio – Vamos conversar com o querido Johnny Kitagawa!

***

Durante todo o show, Jun só conseguia pensar no que Nino dissera. Yui estava no hotel onde Caroline e Débora estavam hospedadas! Fazendo o quê? Por quê?
Ela estava sentada no mesmo lugar de sempre. Era toda sorrisos, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse ligado antes do show começar. Como se tudo estivesse normal!
Sua vontade era sair do palco e ir até ela, puxá-la para um lugar reservado e arrancar tudo dela, palavra por palavra. Mas não podia. Primeiro que uma atitude impensada dessa iria ferir profundamente os sentimentos de milhares de fãs que tinham ido até ali para vê-lo e aos outros. Segundo que isso não seria nada bom para sua imagem, nem para a imagem do Arashi. Terceiro que iria ser demitido no ato se fizesse algo assim.
Mas bem que ele queria! Estava tão tomado por esse pensamento que sorria falsamente enquanto dançava, a primeira vez em anos, senão desde o início da carreira, que seu sorriso não era natural e sim forçado. Não era por mal, não tinha a intenção de ser falso, mas não conseguia relaxar.
Nem notou a felicidade espontânea do outro membro mais novo. Kazu estava mais empolgado que o normal e a felicidade piscava em seus olhos. Ohno já notara, e queria muito que o show acabasse para poder conversar com o amigo e saber dele o motivo de tanta alegria. Ele sabia que tinha algo a ver com o almoço com Débora-san e o atraso antes do concerto.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 15


Capítulo 15

Ninomiya Kazunari apareceu no hotel para pegar Débora meio dia em ponto. Ela acabara de sair do banho quando ele bateu na porta do quarto. Novamente aquele boné, em uma tentativa frustrada de esconder o rosto. E um sorriso de orelha à orelha.
− Uhm... ohayou! – ele se adiantou para dar um beijinho na bochecha de Carol quando ela abriu a porta.
Ohayou! – ela retribuiu o beijinho dessa vez. É, em tão pouco tempo Dé tinha contaminado o rapaz com os modos de cumprimento brasileiros.
− Deb está?
Demorou alguns segundos para relacionar o nome à pessoa; ela ainda não se acostumara com o novo apelido da amiga.
Hai! – respondeu, enquanto Débora aparecia às suas costas, já vestida para sair, maquiada, com os cabelos molhados do banho.
Ikimasho ka? – Dé se adiantou e, passando a frente de Carol, pegou a mão de Ninomiya.
Ikimasho! – Nino segurou a mão dela, aproximou os lábios de seu rosto e tocou-lhe levemente a bochecha. – Jya ne, Karorine-san.
− Volto antes das 3h. – disse Débora - Jya!
Sem esperar pela resposta de Caroline, os dois seguiram pelo corredor até o elevador, e em menos de um minuto, já tinham ido embora. Pareciam um casal de namorados, com as mãos entrelaçadas daquele jeito. O que a Débora está pensando afinal?, ela refletiu enquanto fechava a porta.
Ficaria sozinha. Almoçaria sozinha. Carol olhou no relógio e por hábito resolveu que ia descer para almoçar, embora tivesse comido alguns biscoitos doces enquanto Dé estava no banho. Mesmo assim, achou que seria de bom tom descer para comer. Além do mais, queria ver algum movimento, já que sequer saíra daquele quarto ainda.
No restaurante, se sentou a uma mesa de canto. O garçom, que já estava se acostumando com a presença dela e da amiga, estranhou que ela estivesse sozinha e comentou isso. Ao que ela simplesmente respondeu:
− Ela foi almoçar com um amigo.
Carol fez o pedido e o rapaz saiu em direção à cozinha. Ela então pôs a mão sobre o queixo e apoiou o cotovelo na mesa. Pôs-se a pensar. Por Deus, ela só fazia isso nos últimos dias! Pensar! Não sabia como ainda seu cérebro não havia fundido! Isso era um mistério para ela.
A conclusão tão óbvia que ela enxergara aquela manhã devia tê-la reconfortado de alguma maneira. Dar-se conta de que elas iam embora afinal deveria tê-la aliviado de alguma forma, mas não. Pelo contrário, deixou-a triste. Será que veria Matsujun de novo? Provavelmente não. Então, voltaria a ser somente mais uma fã brasileira dentre milhares que seguiam a vida do cantor por reportagens, matérias jornalísticas e o viam em fotos e vídeos.
Será que dali a alguns anos, ou mesmo meses, ouviria a notícia do casamento dele e de Yui? Será que então ele se lembraria de Caroline? Será que ainda trocariam cartas?
A ideia de continuar trocando cartas indefinidamente era estranha agora que o conhecera. Agora que ele a conhecera. É, talvez aquela viagem ao Nihon fosse o fim da amizade dos dois, afinal.
De repente, Carol foi tomada por uma sensação horrível de perda e uma tristeza descomunal a atingiu. Sentiu os olhos encherem de lágrimas ao praticamente ver a cena. Ela e Dé no aeroporto, com os meninos, talvez a Yui também. Ela dizendo “adeus” para Matsumoto Jun pela última vez.
O garçom voltou com sua comida quando uma única lágrima solitária escorreu por sua face.
 − Arigatou. – ela disse, secando a bochecha e os olhos com as costas da mão enquanto ele deixava o prato na sua frente.
 − Ano... aconteceu alguma coisa com a senhorita? Não está se sentindo bem? – o moço parou e ficou olhando para ela, com um sorriso complacente e olhar um pouco ansioso. Ele não entendia as lágrimas femininas nem gostava de ter de lidar com elas.
 − Nandemonai. – Carol sacudiu as mãos e sorriu, como para mostrar que estava bem.  
 Ele saiu e ela se distraiu um pouco da tristeza repentina e se focou no alimento que tinha adiante dos olhos. Já não estava mais chorando.
 Ela não gostava de chorar na frente dos outros. Isto a tornava frágil. Fazia-a parecer vulnerável. Então, engoliu todo o desalento que sentia. Mas ela chorara ontem no show, e aquilo não pareceu incomodá-la. O sorriso de Jun ofuscava todo o resto.
 Ah, de novo ele! Caroline tinha que parar com isso logo, antes que a coisa toda piorasse. Débora havia lhe alertado. Dissera aquilo, né? Que ela ia acabar se apaixonando pelo Jun. Carol estremeceu ao pensar que isso podia estar acontecendo, e deixou cair um pedaço de pepino novamente no prato.
 Mas Débora já não tinha mais moral nenhuma para dar conselhos. Lá estava ela agora, com o Ninomiya, almoçando, e os dois estavam apaixonados. No fim, foi exatamente isso, ela deixou que seu amor pelo ichiban virasse um amor de verdade. Oras, então Débora não tinha mais direito algum de palpitar!
 Deixou o prato vazio na mesa, se levantou e sem nem olhar para os lados, seguiu direto para o elevador. Ainda bem que ele estava parado no térreo!

***

Yui pegou o celular e ligou. Chamou uma, duas, três, quatro vezes, até que seu namorado atendeu.
Moshi-moshi!
Yui, amor, estava com saudades... – ele disse, mas sua voz não demonstrava todo o entusiasmo que ele queria.
Ela revirou os olhos. Por que ele não era simplesmente sincero? Mas resolveu entrar no jogo e disse, toda melosa:
− Eu também, vida! Vocês já estão no estádio? Ah, é uma pena, mas não conseguirei sair daqui antes das 5h da tarde. Então terei que ir direto, sem nem poder passar no camarim pra te dar um beijo.
Uhm. Por que vai sair tão em cima da hora? – sua voz era indiferente, como se não importasse se ela ia chegar a tempo pro show, se chegaria atrasada ou se nem ia.
Yui sentiu a raiva aumentar e quis matar a “fulaninha”. Sabia que ela tinha culpa no cartório, só não sabia qual a extensão dessa culpa.
−Surgiram uns probleminhas aqui, e meu chefe pediu pra eu ficar um pouco mais.
Tá bom então, eu entendo. Que pena né? A gente se vê depois do show então?
Hai! – ela respondeu, enquanto procurava a chave do carro na bolsa.
Jya ne Yui. Kisus.
Kisus – ela desligou o celular e jogou dentro da bolsa aberta, pendurada no braço, enquanto com a mão livre abria a porta.
Ela já planejara seu itinerário. Olhou no relógio. Eram 3h ainda, dava tempo. Tudo que ela queria era dizer umas verdades. Queria que a burajirujin ouvisse o que ela, Uemura Yui, tinha a dizer.

***

Carol estava no quarto. Dorminhoca como era, e para evitar pensar besteiras, ela simplesmente se jogou na cama depois do almoço. Remexeu-se, se espreguiçou e olhou no relógio. Débora já devia ter chegado.
Ficou em pé e com um longo bocejo caminhou até o banheiro. Estava com a cara toda babada do lado que ficou de encontro ao travesseiro. Olhou-se no espelho: além de babada, estava toda amassada e vermelha. Abriu a torneira, uniu as mãos em concha e jogou água no rosto.
Enquanto se enxugava, alguém bateu na porta. Será que a Débora esqueceu o cartão?, pensou enquanto ia até a porta. Olhou pelo olho mágico e não acreditou. Parada ali, estava Uemura Yui, a namorada de Matsumoto Jun.

***

Quando Débora entrou no hotel, Yui estava indo embora. Passou por ela sem olhá-la e saiu batendo o pé. O manobrista já trouxera o carro e deixou a chave na ignição com a porta aberta, então ela somente entrou e arrancou, pisando fundo no acelerador.
Nino, que estava com o carro estacionado atrás do dela, olhou espantado, mas não disse nada, já estava dando partida também. Eram quase 5h e ele dissera que estaria no Estádio às 3h. Se não chegasse em cinco minutos, estaria ferrado. Se é que já não estava ferrado. Matsujun devia estar cuspindo fogo pelas ventas. Mandou um beijinho para Deb e foi embora.
Débora seguiu apressada para o quarto, ela sabia (na verdade, ela sentia mais do que sabia) que Uemura Yui foi até o hotel por causa de Carol. Estava preocupada com a amiga. Desde o princípio achara que essa namorada do Matsumoto não era lá muito boazinha. De repente, teve medo que ela tivesse brigado com Caroline, batido nela ou algo assim. Sem paciência para esperar pelo elevador, correu escadas acima e logo estava parada, ofegante, em frente à porta do quarto procurando o cartão na bolsa.  
Achou o cartão, abriu a porta e avançou, gritando:
− Carol! Carol!
− Calma, Dé, to aqui no banheiro – Carol respondeu com a voz meio falha de quem ainda estava se recuperando de um golpe. 
Ela correu para o banheiro e encontrou a amiga sentada na tampa do vaso sanitário, com as pernas dobradas, como índio, os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça descansando nas mãos. Tinha os olhos vermelhos e brilhantes de quem andara chorando.
Débora foi até a amiga e a abraçou.
− Carol, o que aconteceu?

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− Cadê o Ninomiya?! – Matsumoto Jun andava de um lado para o outro, passando as mãos nos cabelos a cada cinco segundos.
− Matsujun, assim você vai fazer um buraco no chão – disse Ohno, e os quatro riram.
− Ele disse 3h! Já são mais de 5h!
− Eu sei – Sho também estava preocupado.  Faltava menos de meia hora para o show começar.
− Ele deve estar chegando – comentou Aiba, aparentado uma calma que ele na verdade não tinha, pois sempre ficava muito nervoso antes de um concerto, ainda mais com um integrante faltando.
− Eu vou tentar mais uma vez! – Jun pegou novamente o celular.
Na última hora, tinham ligado umas 20 vezes e Nino não atendia ao telefone. Chamava até cair na caixa postal. 
Quando Matsumoto ia praguejar novamente, já que caíra outra vez na caixa postal, Ninomiya adentrou o camarim.
Minna! Konichiwa! – ele ergueu a mão direita em cumprimento.
Jun fuzilou o amigo com os olhos.
− Onde o senhor estava, Ninomiya Kazunari?
− Estou vindo do hotel agora, fui deixar a Deb...bora-san.
A cólera de Jun passou e ele foi assaltado por uma esperança fugidia. Queria que Caroline o visse cantando novamente, mas não conseguira ingressos para os dois shows.
Ano... – Jun sentiu o calor da ansiedade subir e temeu que tivesse deixado transparecer. Tentou parecer casual – Você viu a Karoru-chan? Ela... e Débora-san... vêm?
− Não vêm, você sabe, não tinha mais ingressos, nem nada. Mas não a vi não – Kazu caminhou calmamente para o sofá; ainda faltavam vinte minutos e ele queria descansar um pouco.
− Só que eu vi outra pessoa lá – continuou – Yui-san estava saindo apressada quando deixei a Deb. – ele falou Deb na frente de todos e nem notou.
Jun arregalou os olhos, encarando o outro desacreditado:
− Êeeee? A Yui???