Capítulo 11
Débora foi obrigada a
ficar calada durante o jantar. Carol foi taxativa ao falar para a amiga:
- Eu não gosto de
tagarelar enquanto como!
Revirando os olhos
e se sentando à mesa, Débora conformou-se em ficar em silêncio e conter a
empolgação por hora.
Eram quase 23h
quando subiram novamente ao quarto. Débora pulou no pescoço de Caroline logo
que entraram, com medo de que esta mudasse novamente de ideia e viesse com
alguma desculpa do tipo “tenho que tomar banho”.
− Ahhh!!!
Caroool!!!
− Tá, Dé! Pode
falar agora, sou “toda ouvidos” – ela riu da amiga.
− FOI LINDO, NÃO
FOI? - Dé gritou no seu ouvido.
− Foi sim!
Carol lembrou-se do
Arashi cantando One Love e da cara de surpresa, e dúvida, de Yui; estremeceu
involuntariamente.
− O que foi? -
Débora a soltou – Por que você tremeu? Foi lindo! Não é motivo pra tremer...
tudo isso é felicidade? Veja – ela pegou a mão de Carol e a colocou sobre o
peito esquerdo – Meu coração está acelerado até agora. Mas não estou tremendo
que nem você. Sou capaz de jurar que não foi de felicidade...
Agora Débora olhava
para a amiga com curiosidade enquanto ela abria o maior de todos os sorrisos
que dera aquela noite e dizia:
− Nada, Dé.
Felicidade mesmo!
− Você não me
engana...
− Vamos Dé! Esquece
isso. Libere sua empolgação! Você passou quase todo o tempo com a aparência de
quem ia estourar se não falasse.
Débora não precisou
de outro incentivo. Ia estourar mesmo, se não desse mais um gritinho naquele
exato momento. Quando fez isso, Caroline abruptamente tapou sua boca com a mão,
abafando o grito.
− Shhhhh, silêncio,
não precisa gritar. Não quer problemas, quer? Daqui a pouco algum hóspede vai
reclamar da menina louca que não para de dar gritos histéricos.
Débora tapou sua
própria boca com os dedos indicadores cruzados e disse:
− Não vou mais
gritar, eu prometo.
Carol então foi se
sentar na cama, resignada, e disse:
− Pode falar Dé,
sério. Agora eu vou escutar – ela prometeu.
− Não diga que eu
estou louca...
Débora se
interrompeu, pensou por alguns segundos e comentou num sussurro, como quem
falava consigo mesmo:
− Bom, talvez eu
esteja mesmo meio louca, mas isso é só um detalhe – olhou para Carol –
Hoje, não foi só você quem ganhou sorrisinhos e músicas.
− Eu não sei... que
sorrisinho?
− Não seja boba,
Carol. Eu vi o Jun te olhando, e vi que ele sorriu pra você. Eu sei
que você também viu.
− E daí? – Caroline
deu de ombros, numa atitude, claramente falsa, de quem fazia pouco caso.
− Bom, e daí que eu
também ganhei um sorriso lindo no show hoje. Você não viu?
− Não vi. De quem?
− Oras de quem? Ninomiya Kazunari.
***
Ele estava deitado em sua
cama, todas as luzes apegadas, olhando para o teto. O quarto era fracamente
iluminado pelas luzes da cidade que entravam pela janela, fazendo desenhos
estranhos nas paredes, com sombras disformes.
Jun voltara do
apartamento de Yui há mais de uma hora. Ela quis que ele ficasse lá, mas ele
desconversou, alegando que estava muito cansado, o que era verdade.
Ele ficou meia hora
em baixo do chuveiro. Precisava refrescar a cabeça para clarear as ideias. Por
que vira Caroline quando beijou a namorada? Aiai, ele já não entendia mais
nada. Saiu do banho tão frustrado quanto entrara e simplesmente se jogou na
cama, depois de se secar de qualquer jeito – estava verdadeiramente quente,
embora fosse pleno outono, então ele não ligou de deixar o corpo meio seco meio
molhado – e vestir o short curto que usava como pijama em noites quentes
como aquela.
Kararu-chan
sempre fora sua amiga, somente isso. Ele não a conhecia a não ser por cartas e
a primeira vez que se encontraram pessoalmente foi há menos de uma semana! E
ela nem era uma mulher estonteante em toda a sua glória como Yui, com certeza.
Qualquer um veria isso. Ela era tão sem graça. Mas mesmo assim, ele
notou nela uma beleza que não notara em mais ninguém.
Ela era baixinha,
dava no seu ombro. Jun percebeu que ela não usava nenhuma maquiagem
normalmente, e quando usava, era somente um batom discreto. E seu cabelo
era curto. Em compensação, a amiga que veio junto com ela era alta como Yui,
cabelos caindo em cascata preta sobre os ombros e sempre tinha o rosto pintado
não só com batom, mas lápis e sombra também.
Pensar na namorada
fez sua cabeça doer e seu coração apertar. Depois daquele beijo desesperado,
ele não conseguira parar de pensar em Caroline e quando Yui pediu para ele
ficar, tudo o que ele pôde fazer foi negar dizendo que estava quebrado e
dolorido de tanto pular no show. Ela acreditou e nem insistiu, só fez um
biquinho de quem ficou um pouco sentida, mas deixou que ele fosse sem discutir.
Ele a beijou outra
vez antes de sair. Tentou parecer natural, mas a verdade é que ele se sentia
culpado por não ter conseguido atingir seu objetivo aquela noite, que era fazer
as pazes com ela e pensar somente nela, encher-se somente dela e deixá-la
feliz. Suspirou tristonho quando já estava do lado de fora.
Agora, enquanto
pensava nisso olhando as sombras distorcidas no teto, ele suspirou novamente e
se sentou na cama, abaixando a cabeça e pressionando-a com as mãos, terminando
de descabelar seu cabelo já muito despenteado. Pensou: “Eu tenho que parar com
isso! O que está acontecendo comigo afinal? Desse jeito, vou acabar magoando
alguém”.
E então aconteceu
de novo. Ele fechou os olhos e viu com perfeição a imagem de Karoru-chan
em sua mente, chorando enquanto sorria, radiante, com a camiseta da tour
que ele dera para ela e Débora no dia anterior e o pingente de coração
repousando sobre o peito.
Aquela imagem fez
com que ele levantasse de um pulo e fosse até o interruptor acender a luz. Como
se tivesse finalmente entendido algo... uma relação profunda entre o pingente
de coração que ela carregava numa corrente envolvendo o pescoço desde que
chegara e o pingente que ela lhe mandara tanto tempo atrás. Uma chave, um
coração... só não conseguia entender direito essa relação.
Com isso em mente,
foi até a cômoda na extremidade do quarto e abriu gaveta por gaveta. Na
primeira tinha revistas, CD’s e DVD’s, além de algumas fotos e cartas de fãs –
mas não as de Karoru-chan, que estavam guardadas separadamente, numa
caixinha em seu guarda-roupa - e alguns objetos aleatórios, tudo enfileiradinho
e muito organizado. Ele olhou pacientemente entre cada objeto ali guardado, mas
não achou o que procurava.
Na segunda gaveta
só havia roupas: camisetas, cuecas e meias. Essa já estava um pouco bagunçada,
com as peças todas misturadas: o que permanecia intacto ao fundo era a pequena
pilha com as camisetas perfeitamente dobradas. Dessa vez ele simplesmente
revirou os pequenos montes, não se importando em bagunçar o que já estava
bagunçado. Frustrado por ali também não encontrar o que procurava, pôs a mão
entre as camisetas, mas também não achou nada.
Quando abriu a
terceira gaveta, já sabia que não estava nela. Afinal, era a Lei de Murphy, ele
só ia encontrar na última. Mas mesmo assim olhou entre cada peça de roupa, cada
bolso de bermuda, cada suéter. Contudo, como ele previu, não achou.
Por fim, na quarta
gaveta, escondida entre os diversos documentos, ele achou: a chave. Sorriu
enquanto olhava para o pequeno pingente, e lhe ocorreu que com certeza aquela
chave cabia na fechadura daquele coração.
Então entendeu. E seu
sorriso se desfez em preocupação e espanto. E Jun se perguntava: “por que eu?
Por que ela me escolheu? Ah Karoru... e Yui... o que vou fazer?”
Enquanto pensava assim, a
campainha tocou, despertando-o da estupefação que o surpreendera quando
finalmente chegou ao conhecimento. Olhou para o relógio de sobre o criado mudo:
quase 1h da madrugada. Quem seria a uma hora dessas?
***
− Ele olhou para você?? –
Caroline olhava a amiga, completamente estupefata – Ele sorriu para você?
Débora se sentou ao lado
dela na cama, cruzou os braços e fez beicinho.
− Não sei qual é o
espanto. O Matsujun também olhou e sorriu para você.
Caroline sentiu as
bochechas esquentarem e ergueu as mãos automaticamente, escondendo-as. Ela
sabia que tinham ficado vermelhas.
− Ora, Carol, não precisa
ter vergonha! – Débora sorriu de lado, com o olhar travesso. – Eu vi.
Foi na hora de One Love. Afinal, acho que você conseguiu fisgar o coração do
garoto, porque deu pra notar né – ela revirou os olhos e abanou as mãos – que
essa música foi cantada porque você pediu!
− Dé, magina! Fisguei
nada. Ele tem a Yui. E eu... eu... – “Eu o que, Caroline?” – ah, não vim aqui
pra fisgar ninguém. Continue de onde parou. O Nino te olhou, sorriu e o que
mais?
− Ah, Carol, como você é
insensível! – Débora deu um tapinha no ombro da amiga. – Só isso, né? Você
pensou o quê? Que depois disso ele se declarou para mim? “Ah, Débora-san, eu te
amo”? Nem falamos com ninguém depois do show. E eu não acho nem espero
que um dia ele me dirá isso.
Débora se jogou para trás
e deitou na cama. Puxou Carol, que se desequilibrou e quase caiu. Ambas
começaram a gargalhar.
Quando olhavam para o
rosto uma da outra, riam ainda mais.
***
− Agora é você quem vai
embora, Kazu? – perguntou Aiba – Ih, tá todo mundo debandando cedo hoje... não
é, Sho-chan?
Sho estava tão entretido
em seu... décimo, talvez?... copo de cerveja que nem ouviu. Ohno, que bebera a
mesma quantidade que ele ou até mais, sorriu ao ver a expressão de perdido e
alheio a tudo do amigo e o cutucou.
− O quê? Ahn?– Sho passou
a mão livre pelos olhos, balançando a cabeça, enquanto a outra ainda segurava o
copo.
− O Aiba falou com você,
sabe – Ohno relaxou na cadeira, jogando a cabeça para trás e deixando os braços
caírem ao lado do corpo.
− O que foi?
− Nada não – foi Nino quem
respondeu, ficando em pé, deixando um punhado de notas sobre a mesa e sorrindo
maroto – Eu só pensei numa coisa aqui. Vou indo então.
− Mas já? – Sho perguntou
espantado.
− Já, né. Senão fica
muito tarde.
− Tarde? Tarde pra quê?
Acho que... não é nem meia noite – Aiba comentou, olhando no relógio de pulso.
Sho concordou com a
cabeça. Ohno continuou de olhos fechados, deitado para trás na cadeira.
− É, tarde – Kazunari
sorriu misterioso – Uhm, então, minna,
jya ne!
− Então tá – disse Sho – Jya!
− Jya! – disse Aiba.
Ohno somente levantou uma
das mãos e fez um “v” com os dedos. Depois, acenou o tchau para o amigo, que
apenas murmurou “até mais pra você também, Riida”
e seguiu para a porta, rindo sozinho de sua piada que ninguém ouviu.
Nem meia hora se passou
quando Ohno se pôs subitamente em pé e anunciou:
− Eu também to saindo.
− Ahhhhhhhh!!! –
Lamentaram Aiba e Sho em uníssono – Você também já vai??
Aiba continuou:
− Desse jeito, nem tem
graça ficarmos aqui, né Sho-chan?
− Acho que não – Sho
também ficou em pé – e to com sono também, o dia foi longo. As vezes parece que
eu nunca me acostumo, hahahahaha!
− É verdade, né – Aiba
também se levantou – hahahahaha! Acho que também não me acostumo. Você
vai para casa, Riida? – se virando
para Ohno, que remexia na carteira para pegar o dinheiro.
− Não vou não. Acho que
vou... – ele já pegara o dinheiro e colocava novamente a carteira no bolso de
trás de calça; se interrompeu no meio da frase e olhou as horas, não era nem 1h
ainda, faltavam 20 minutos – na casa do Jun.
− Ah – fez Aiba – Podemos
ir junto? Será que ele não está na casa da Yui?
− Não, acho que não. Na
verdade, é por isso que quero conversar com ele – ele ficou pensativo por
alguns segundos – Nos vemos amanhã, ok?
− Hai!!! – Sho e Aiba, em uníssono novamente.
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