E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

domingo, 17 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 11


Capítulo 11

Débora foi obrigada a ficar calada durante o jantar. Carol foi taxativa ao falar para a amiga:
 - Eu não gosto de tagarelar enquanto como!
 Revirando os olhos e se sentando à mesa, Débora conformou-se em ficar em silêncio e conter a empolgação por hora.
 Eram quase 23h quando subiram novamente ao quarto. Débora pulou no pescoço de Caroline logo que entraram, com medo de que esta mudasse novamente de ideia e viesse com alguma desculpa do tipo “tenho que tomar banho”.
 − Ahhh!!! Caroool!!!
 − Tá, Dé! Pode falar agora, sou “toda ouvidos” – ela riu da amiga.
 − FOI LINDO, NÃO FOI? - Dé gritou no seu ouvido.
 − Foi sim!
 Carol lembrou-se do Arashi cantando One Love e da cara de surpresa, e dúvida, de Yui; estremeceu involuntariamente.
 − O que foi? - Débora a soltou – Por que você tremeu? Foi lindo! Não é motivo pra tremer... tudo isso é felicidade? Veja – ela pegou a mão de Carol e a colocou sobre o peito esquerdo – Meu coração está acelerado até agora. Mas não estou tremendo que nem você. Sou capaz de jurar que não foi de felicidade...
 Agora Débora olhava para a amiga com curiosidade enquanto ela abria o maior de todos os sorrisos que dera aquela noite e dizia:
 − Nada, Dé. Felicidade mesmo!
 − Você não me engana...
 − Vamos Dé! Esquece isso. Libere sua empolgação! Você passou quase todo o tempo com a aparência de quem ia estourar se não falasse.
 Débora não precisou de outro incentivo. Ia estourar mesmo, se não desse mais um gritinho naquele exato momento. Quando fez isso, Caroline abruptamente tapou sua boca com a mão, abafando o grito.
 − Shhhhh, silêncio, não precisa gritar. Não quer problemas, quer? Daqui a pouco algum hóspede vai reclamar da menina louca que não para de dar gritos histéricos.
 Débora tapou sua própria boca com os dedos indicadores cruzados e disse: 
 − Não vou mais gritar, eu prometo.
 Carol então foi se sentar na cama, resignada, e disse:
 − Pode falar Dé, sério. Agora eu vou escutar – ela prometeu.
 − Não diga que eu estou louca...
 Débora se interrompeu, pensou por alguns segundos e comentou num sussurro, como quem falava consigo mesmo:
 − Bom, talvez eu esteja mesmo meio louca, mas isso é só um detalhe – olhou para Carol – Hoje, não foi só você quem ganhou sorrisinhos e músicas.
 − Eu não sei... que sorrisinho?
 − Não seja boba, Carol. Eu vi o Jun te olhando, e vi que ele sorriu pra você. Eu sei que você também viu.  
 − E daí? – Caroline deu de ombros, numa atitude, claramente falsa, de quem fazia pouco caso.
 − Bom, e daí que eu também ganhei um sorriso lindo no show hoje. Você não viu?
 − Não vi. De quem?
 − Oras de quem? Ninomiya Kazunari.

***

Ele estava deitado em sua cama, todas as luzes apegadas, olhando para o teto. O quarto era fracamente iluminado pelas luzes da cidade que entravam pela janela, fazendo desenhos estranhos nas paredes, com sombras disformes.
 Jun voltara do apartamento de Yui há mais de uma hora. Ela quis que ele ficasse lá, mas ele desconversou, alegando que estava muito cansado, o que era verdade.
 Ele ficou meia hora em baixo do chuveiro. Precisava refrescar a cabeça para clarear as ideias. Por que vira Caroline quando beijou a namorada? Aiai, ele já não entendia mais nada. Saiu do banho tão frustrado quanto entrara e simplesmente se jogou na cama, depois de se secar de qualquer jeito – estava verdadeiramente quente, embora fosse pleno outono, então ele não ligou de deixar o corpo meio seco meio molhado – e vestir o short curto que usava como pijama em noites quentes como aquela.
 Kararu-chan sempre fora sua amiga, somente isso. Ele não a conhecia a não ser por cartas e a primeira vez que se encontraram pessoalmente foi há menos de uma semana! E ela nem era uma mulher estonteante em toda a sua glória como Yui, com certeza. Qualquer um veria isso. Ela era tão sem graça. Mas mesmo assim, ele notou nela uma beleza que não notara em mais ninguém.  
 Ela era baixinha, dava no seu ombro. Jun percebeu que ela não usava nenhuma maquiagem normalmente, e quando usava, era somente um batom discreto.  E seu cabelo era curto. Em compensação, a amiga que veio junto com ela era alta como Yui, cabelos caindo em cascata preta sobre os ombros e sempre tinha o rosto pintado não só com batom, mas lápis e sombra também.
 Pensar na namorada fez sua cabeça doer e seu coração apertar. Depois daquele beijo desesperado, ele não conseguira parar de pensar em Caroline e quando Yui pediu para ele ficar, tudo o que ele pôde fazer foi negar dizendo que estava quebrado e dolorido de tanto pular no show. Ela acreditou e nem insistiu, só fez um biquinho de quem ficou um pouco sentida, mas deixou que ele fosse sem discutir.
 Ele a beijou outra vez antes de sair. Tentou parecer natural, mas a verdade é que ele se sentia culpado por não ter conseguido atingir seu objetivo aquela noite, que era fazer as pazes com ela e pensar somente nela, encher-se somente dela e deixá-la feliz. Suspirou tristonho quando já estava do lado de fora.
 Agora, enquanto pensava nisso olhando as sombras distorcidas no teto, ele suspirou novamente e se sentou na cama, abaixando a cabeça e pressionando-a com as mãos, terminando de descabelar seu cabelo já muito despenteado. Pensou: “Eu tenho que parar com isso! O que está acontecendo comigo afinal? Desse jeito, vou acabar magoando alguém”.
 E então aconteceu de novo. Ele fechou os olhos e viu com perfeição a imagem de Karoru-chan em sua mente, chorando enquanto sorria, radiante, com a camiseta da tour que ele dera para ela e Débora no dia anterior e o pingente de coração repousando sobre o peito.
 Aquela imagem fez com que ele levantasse de um pulo e fosse até o interruptor acender a luz. Como se tivesse finalmente entendido algo... uma relação profunda entre o pingente de coração que ela carregava numa corrente envolvendo o pescoço desde que chegara e o pingente que ela lhe mandara tanto tempo atrás. Uma chave, um coração... só não conseguia entender direito essa relação.  
 Com isso em mente, foi até a cômoda na extremidade do quarto e abriu gaveta por gaveta. Na primeira tinha revistas, CD’s e DVD’s, além de algumas fotos e cartas de fãs – mas não as de Karoru-chan, que estavam guardadas separadamente, numa caixinha em seu guarda-roupa - e alguns objetos aleatórios, tudo enfileiradinho e muito organizado. Ele olhou pacientemente entre cada objeto ali guardado, mas não achou o que procurava.
 Na segunda gaveta só havia roupas: camisetas, cuecas e meias. Essa já estava um pouco bagunçada, com as peças todas misturadas: o que permanecia intacto ao fundo era a pequena pilha com as camisetas perfeitamente dobradas. Dessa vez ele simplesmente revirou os pequenos montes, não se importando em bagunçar o que já estava bagunçado. Frustrado por ali também não encontrar o que procurava, pôs a mão entre as camisetas, mas também não achou nada.
 Quando abriu a terceira gaveta, já sabia que não estava nela. Afinal, era a Lei de Murphy, ele só ia encontrar na última. Mas mesmo assim olhou entre cada peça de roupa, cada bolso de bermuda, cada suéter. Contudo, como ele previu, não achou.
Por fim, na quarta gaveta, escondida entre os diversos documentos, ele achou: a chave. Sorriu enquanto olhava para o pequeno pingente, e lhe ocorreu que com certeza aquela chave cabia na fechadura daquele coração.
Então entendeu. E seu sorriso se desfez em preocupação e espanto. E Jun se perguntava: “por que eu? Por que ela me escolheu? Ah Karoru... e Yui... o que vou fazer?”
Enquanto pensava assim, a campainha tocou, despertando-o da estupefação que o surpreendera quando finalmente chegou ao conhecimento. Olhou para o relógio de sobre o criado mudo: quase 1h da madrugada. Quem seria a uma hora dessas?

***

− Ele olhou para você?? – Caroline olhava a amiga, completamente estupefata – Ele sorriu para você?
Débora se sentou ao lado dela na cama, cruzou os braços e fez beicinho.
− Não sei qual é o espanto. O Matsujun também olhou e sorriu para você.
Caroline sentiu as bochechas esquentarem e ergueu as mãos automaticamente, escondendo-as. Ela sabia que tinham ficado vermelhas.
− Ora, Carol, não precisa ter vergonha! – Débora sorriu de lado, com o olhar travesso. – Eu vi. Foi na hora de One Love. Afinal, acho que você conseguiu fisgar o coração do garoto, porque deu pra notar né – ela revirou os olhos e abanou as mãos – que essa música foi cantada porque você pediu!
− Dé, magina! Fisguei nada. Ele tem a Yui. E eu... eu... – “Eu o que, Caroline?” – ah, não vim aqui pra fisgar ninguém. Continue de onde parou. O Nino te olhou, sorriu e o que mais?
− Ah, Carol, como você é insensível! – Débora deu um tapinha no ombro da amiga. – Só isso, né? Você pensou o quê? Que depois disso ele se declarou para mim? “Ah, Débora-san, eu te amo”? Nem falamos com ninguém depois do show.  E eu não acho nem espero que um dia ele me dirá isso.
Débora se jogou para trás e deitou na cama. Puxou Carol, que se desequilibrou e quase caiu. Ambas começaram a gargalhar.
Quando olhavam para o rosto uma da outra, riam ainda mais.      

***

− Agora é você quem vai embora, Kazu? – perguntou Aiba – Ih, tá todo mundo debandando cedo hoje... não é, Sho-chan?
Sho estava tão entretido em seu... décimo, talvez?... copo de cerveja que nem ouviu. Ohno, que bebera a mesma quantidade que ele ou até mais, sorriu ao ver a expressão de perdido e alheio a tudo do amigo e o cutucou.
− O quê? Ahn?– Sho passou a mão livre pelos olhos, balançando a cabeça, enquanto a outra ainda segurava o copo.
− O Aiba falou com você, sabe – Ohno relaxou na cadeira, jogando a cabeça para trás e deixando os braços caírem ao lado do corpo.
− O que foi?
− Nada não – foi Nino quem respondeu, ficando em pé, deixando um punhado de notas sobre a mesa e sorrindo maroto – Eu só pensei numa coisa aqui. Vou indo então.
− Mas já? – Sho perguntou espantado.
− Já, né. Senão fica muito tarde.
− Tarde? Tarde pra quê? Acho que... não é nem meia noite – Aiba comentou, olhando no relógio de pulso.
Sho concordou com a cabeça. Ohno continuou de olhos fechados, deitado para trás na cadeira.
− É, tarde – Kazunari sorriu misterioso – Uhm, então, minna, jya ne!
− Então tá – disse Sho – Jya!
Jya! – disse Aiba.
Ohno somente levantou uma das mãos e fez um “v” com os dedos. Depois, acenou o tchau para o amigo, que apenas murmurou “até mais pra você também, Riida” e seguiu para a porta, rindo sozinho de sua piada que ninguém ouviu.
Nem meia hora se passou quando Ohno se pôs subitamente em pé e anunciou:
− Eu também to saindo.
− Ahhhhhhhh!!! – Lamentaram Aiba e Sho em uníssono – Você também já vai??
Aiba continuou:
− Desse jeito, nem tem graça ficarmos aqui, né Sho-chan?
− Acho que não – Sho também ficou em pé – e to com sono também, o dia foi longo. As vezes parece que eu nunca me acostumo, hahahahaha!
− É verdade, né – Aiba também se levantou – hahahahaha! Acho que também não me acostumo.  Você vai para casa, Riida? – se virando para Ohno, que remexia na carteira para pegar o dinheiro.
− Não vou não. Acho que vou... – ele já pegara o dinheiro e colocava novamente a carteira no bolso de trás de calça; se interrompeu no meio da frase e olhou as horas, não era nem 1h ainda, faltavam 20 minutos – na casa do Jun.
− Ah – fez Aiba – Podemos ir junto? Será que ele não está na casa da Yui?
− Não, acho que não. Na verdade, é por isso que quero conversar com ele – ele ficou pensativo por alguns segundos – Nos vemos amanhã, ok?
Hai!!! – Sho e Aiba, em uníssono novamente.

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