Capítulo 10
Caroline estava sentada sozinha numa poltrona na
recepção, enquanto Débora estava no quarto, tomando banho. Tinham chegado do
show há menos de meia hora. Saíram sem conseguir falar com qualquer dos meninos
e antes que Yui pudesse tecer qualquer comentário.
Precisava pensar, em silêncio, então a solidão daquele
hall, por mais que as pessoas passassem por ela o tempo todo, era mais
adequada que a euforia de Dé. A amiga, desde que saíram do show, não parava de
dar gritinhos histéricos e nem parava de falar do solo do Kazunari. "O
melhor do show, né?", comentou ela, fazendo uma pergunta claramente
retórica.
Mas para Carol, o melhor do show não fora nenhum dos
solos. Embora todos eles tenham sido perfeitos. Embora cada momento do show
tenha sido perfeito. O melhor para ela foi o presente. No momento em que a
música começou a tocar, ela soube que era seu presente. Ela fora egoísta
ao pedir, mas tinha esperanças que ele realizasse seu pedido. E ele realizou.
À medida que seus pensamentos prosseguiam e iam além
do show daquela noite; além do momento de felicidade e gratidão; além das
coisas triviais que aconteceram nesses poucos dias em que estavam no Nihon; além disso tudo, Caroline começou
a perceber que algo não estava certo. Algo não era mais normal.
Isto a preocupava.
Seu amor e admiração de fã foram completados e
modificados quando Matsumoto Jun respondera sua carta, já há quase meia
década. Fora Marcela a primeira a saber, embora não tenha dado tanta
importância ao fato como Dé quando soube. Relembrando, se ajeitou no sofá e
fechou os olhos.
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Pequeno flashback
Primeiro ela tentou ligar para
Débora, mas não conseguiu falar com a amiga, que esquecera o celular em casa ao
sair para a academia. Então ela tentou Marcela, que ainda não era tão
resistente aos novos
surtos arashimaníacos de Carol.
− Alô. Marcela?
− Sim. Oi Carol, como vai? Amanhã você vai lá...
− Marcela! Desculpe interromper, mas
tenho que te contar uma coisa.
− Uhm. Ah tá, pode falar.
Marcela notou o tom apreensivo e urgente da
amiga e começou a sentir uma ponta de ansiedade.
− Sabe o Jun? Jun Matsumoto?
− O que canta naquele grupo, o tal Arashi de quem você
e a Dé tanto falam?
− Ele mesmo.
− Tá. O que tem ele? – Marcela não tinha nenhum interesse,
mas sabia que a amiga estava nervosa pelo que quer que seja que tivesse
acontecido com esse cara. Ficou ouvindo, os olhos semicerrados, pronta a dar
conselhos.
− Ele... ele... ele escreveu uma
carta pra mim.
Carol disse com a voz diminuindo como
num sussurro enquanto falava aquilo, como se fosse tão ridícula a ideia de Jun
Matsumoto escrever uma carta a uma fã, que ela própria ainda não estava
acreditando totalmente.
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Débora desceu correndo pelas escadas. O elevador
estava ocupado e ela não queria esperar. Carol já tivera sua meia hora de
silêncio, e agora ela não aguentava mais, precisava urgentemente
conversar, gritar, sorrir, pular, sorrir de novo e se agarrar ao pescoço da
amiga.
Mas, quando chegou ao hall, Caroline dormia com
a cabeça reclinada sobre o braço do sofá.
Dormia! Como ela conseguiu isso com tanta facilidade?
Depois do show! E naquela noite as duas nem tinham dormido pouco. Então, o sono
da amiga não era em absoluto justificado. Débora estava tão eufórica que não
conseguiria dormir. E a outra ali, ressonava.
Não ia acordá-la, por mais que quisesse companhia para
compartilhar toda aquela energia, toda aquela empolgação. Mas Carol dormia tão
profundamente, tão calmamente, que ela não pôde fazer nada a não ser se sentar
ao lado dela no sofá e esperar que ela acordasse. O que provavelmente não
demoraria tanto assim.
Dé pousou as duas mãos na barriga, alisando em
movimento horizontais, e pensou: “Que fome! Tomara mesmo que ela acorde
logo.”
***
Uemura Yui se surpreendeu quando abriu a porta do
apartamento depois de dois ligeiros toques na campainha e deu de cara com
Matsumoto. Ela achou que ele estava em algum pub comemorando o show com
os amigos do grupo e não voltaria tão cedo. Ela nunca ia nessas comemorações.
Normalmente ia ao camarim ao término dos shows, mas nem isso ela fez, pois com
a discussão do dia anterior, podia ser que ele estivesse bravo ainda e a
destrataria novamente.
Olhou discretamente no relógio em seu pulso enquanto o
cumprimentava apenas dizendo “Oi amor, que surpresa!”. Eram apenas 10h da
noite.
− Konbanwa,
Yui – Jun beijou sua testa enquanto entrava e fechava a porta atrás de si – Por
que se surpreendeu? Não posso vir na casa de minha namorada?
− Claro Jun! – Yui o puxou para perto de si e o
abraçou – Senti sua falta.
− E eu... – Jun acariciou a cabeça dela que repousava
em seu peito e retribuiu o abraço.
Por um momento, visualizou as lágrimas de Caroline no
show, mas afastou o pensamento e completou:
− E eu a sua.
Yui se desvencilhou do abraço e o puxou pela mão até o
sofá. Ele sentou e ela subiu em seu colo, ficando de lado sobre as pernas
dele, com os braços em volta de seu pescoço.
− Achei que ouviria Shake It! no show hoje... –
Yui sussurrou em seu ouvido.
− Não podia fazer isso, Yui. Eu tinha um novo solo pra
estrear e não me deixariam mudá-lo assim, sem justificativa – Jun respondeu.
Ele sentiu certo peso na consciência, mas o que disse
não era mentira. Ele realmente tinha um solo novo que precisava apresentar. Mas
o que não queria admitir, nem para si mesmo, que na verdade ele não quis
cantá-lo para ela.
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Pequeno flashback [2]
− Você já vai embora Jun-kun? -
perguntou Sho, sentado confortavelmente, bebericando um copo de cerveja.
− Ahan. Estou cansado – Jun pegou
o casaco que largara no encosto da cadeira, já segurando a chave do carro.
− Mas acabamos de chegar Jun-pon!
– reclamou Nino.
− Eu sei. Mas vou indo de qualquer
jeito. Tenho que falar com a Yui. – ele já se dirigia à porta - Mata ne, minna! – ele acenou por cima do
ombro.
Ohno correu a seu encalço e segurou
de leve seu cotovelo.
− Matsujun, espera aí um minutinho.
Foi pra ela não foi?
Jun parou e olhou para o amigo com
cara de interrogação.
− Foi pra ela que cantamos – Ohno
continuou, e dessa vez afirmou, não perguntou - One Love. Karorine-san. Eu a vi chorando e sorrindo, e você
olhando para ela discretamente e sorrindo de volta. Lembrei da carta na hora.
Jun sorriu de leve e comentou:
− Você tem boa memória, Riida.
− Eu tenho. Por que, Jun?
− Não sei direito o porquê. Mas
agora eu preciso mesmo ir.
− Hai. – Ohno largou o cotovelo de
Jun – Você precisa mesmo falar com a Yui, eu acho. Ela nem apareceu hoje no
camarim. Vocês brigaram ou algo assim?
Jun apenas movimentou a cabeça
para cima e para baixo, numa afirmativa.
− Conversa mesmo com ela. Vocês se
gostam tanto. Não é bom que fiquem brigando. E depois me conta tudo direito tá,
essa história da carta e por que você cantou para Karorine-san.
− Mas eu não sei por que, Oh-chan.
− Então acho que eu terei que te
dizer. Acredito que eu sei o porquê.
− O que quer dizer? – Jun olhou para
o amigo espantado, com os olhos arregalados.
− Não importa agora Matsujun. Vai
lá se acertar com sua namorada! – Ohno deu um tapinha em suas costas e o
empurrou em direção à porta.
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− Eu vou cantar agora para você.
− Eu queria ver você cantar no show.
Em 2011, quando você cantou esse solo, eu não estava. A gente nem se conhecia!
−Gomen
ne, Yui.
− Mas agora, eu não preciso que você cante – ela
aproximou mais o rosto do dele, ainda sentada em seu colo. Ele pousou uma mão
no ombro dela e a outra em sua perna.
− E o que quer então?
− Quero que me beije.
Matsumoto subiu a mão que estava sobre o ombro dela,
segurou-a pela nuca e encostou seus lábios nos dela com suavidade. Fechou os
olhos e, por trás de suas pálpebras, surgiu a imagem de Caroline com a camiseta
da tour e a bela corrente de coração pousando sobre seu peito. Ficou um
tanto assustado com que acabara de ver.
Tirou a mão da perna de Yui e, ainda com os olhos
fechados, segurou sua cabeça para beijá-la com mais intensidade. Ela retribuiu
o beijo, mal sabendo que o namorado estava desesperadamente tentando apagar a
imagem de uma outra pessoa de sua mente. E, entregando-se ao momento,
uniu as mãos em volta do pescoço de Jun.
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