E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 16 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 10


Capítulo 10

Caroline estava sentada sozinha numa poltrona na recepção, enquanto Débora estava no quarto, tomando banho. Tinham chegado do show há menos de meia hora. Saíram sem conseguir falar com qualquer dos meninos e antes que Yui pudesse tecer qualquer comentário.
Precisava pensar, em silêncio, então a solidão daquele hall, por mais que as pessoas passassem por ela o tempo todo, era mais adequada que a euforia de Dé. A amiga, desde que saíram do show, não parava de dar gritinhos histéricos e nem parava de falar do solo do Kazunari. "O melhor do show, né?", comentou ela, fazendo uma pergunta claramente retórica.
Mas para Carol, o melhor do show não fora nenhum dos solos. Embora todos eles tenham sido perfeitos. Embora cada momento do show tenha sido perfeito. O melhor para ela foi o presente. No momento em que a música começou a tocar, ela soube que era seu presente. Ela fora egoísta ao pedir, mas tinha esperanças que ele realizasse seu pedido. E ele realizou.
À medida que seus pensamentos prosseguiam e iam além do show daquela noite; além do momento de felicidade e gratidão; além das coisas triviais que aconteceram nesses poucos dias em que estavam no Nihon; além disso tudo, Caroline começou a perceber que algo não estava certo. Algo não era mais normal. Isto a preocupava.
Seu amor e admiração de fã foram completados e modificados quando Matsumoto Jun respondera sua carta, já há quase meia década. Fora Marcela a primeira a saber, embora não tenha dado tanta importância ao fato como Dé quando soube. Relembrando, se ajeitou no sofá e fechou os olhos. 

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Pequeno flashback

Primeiro ela tentou ligar para Débora, mas não conseguiu falar com a amiga, que esquecera o celular em casa ao sair para a academia. Então ela tentou Marcela, que ainda não era tão resistente aos novos surtos arashimaníacos de Carol.
− Alô. Marcela?
Sim. Oi Carol, como vai? Amanhã você vai lá...
− Marcela! Desculpe interromper, mas tenho que te contar uma coisa.
Uhm. Ah tá, pode falar.
 Marcela notou o tom apreensivo e urgente da amiga e começou a sentir uma ponta de ansiedade.
− Sabe o Jun? Jun Matsumoto?
O que canta naquele grupo, o tal Arashi de quem você e a Dé tanto falam?
− Ele mesmo.
Tá. O que tem ele? – Marcela não tinha nenhum interesse, mas sabia que a amiga estava nervosa pelo que quer que seja que tivesse acontecido com esse cara. Ficou ouvindo, os olhos semicerrados, pronta a dar conselhos.
− Ele... ele... ele escreveu uma carta pra mim.
Carol disse com a voz diminuindo como num sussurro enquanto falava aquilo, como se fosse tão ridícula a ideia de Jun Matsumoto escrever uma carta a uma fã, que ela própria ainda não estava acreditando totalmente.
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Débora desceu correndo pelas escadas. O elevador estava ocupado e ela não queria esperar. Carol já tivera sua meia hora de silêncio, e agora ela não aguentava mais, precisava urgentemente conversar, gritar, sorrir, pular, sorrir de novo e se agarrar ao pescoço da amiga.
Mas, quando chegou ao hall, Caroline dormia com a cabeça reclinada sobre o braço do sofá.
Dormia! Como ela conseguiu isso com tanta facilidade? Depois do show! E naquela noite as duas nem tinham dormido pouco. Então, o sono da amiga não era em absoluto justificado. Débora estava tão eufórica que não conseguiria dormir. E a outra ali, ressonava.
Não ia acordá-la, por mais que quisesse companhia para compartilhar toda aquela energia, toda aquela empolgação. Mas Carol dormia tão profundamente, tão calmamente, que ela não pôde fazer nada a não ser se sentar ao lado dela no sofá e esperar que ela acordasse. O que provavelmente não demoraria tanto assim.
Dé pousou as duas mãos na barriga, alisando em movimento horizontais, e pensou: “Que fome! Tomara mesmo que ela acorde logo.”

***

Uemura Yui se surpreendeu quando abriu a porta do apartamento depois de dois ligeiros toques na campainha e deu de cara com Matsumoto. Ela achou que ele estava em algum pub comemorando o show com os amigos do grupo e não voltaria tão cedo. Ela nunca ia nessas comemorações. Normalmente ia ao camarim ao término dos shows, mas nem isso ela fez, pois com a discussão do dia anterior, podia ser que ele estivesse bravo ainda e a destrataria novamente.  
Olhou discretamente no relógio em seu pulso enquanto o cumprimentava apenas dizendo “Oi amor, que surpresa!”. Eram apenas 10h da noite.
Konbanwa, Yui – Jun beijou sua testa enquanto entrava e fechava a porta atrás de si – Por que se surpreendeu? Não posso vir na casa de minha namorada?
− Claro Jun! – Yui o puxou para perto de si e o abraçou – Senti sua falta.
− E eu... – Jun acariciou a cabeça dela que repousava em seu peito e retribuiu o abraço. 
Por um momento, visualizou as lágrimas de Caroline no show, mas afastou o pensamento e completou: 
− E eu a sua.
Yui se desvencilhou do abraço e o puxou pela mão até o sofá.  Ele sentou e ela subiu em seu colo, ficando de lado sobre as pernas dele, com os braços em volta de seu pescoço. 
− Achei que ouviria Shake It! no show hoje... – Yui sussurrou em seu ouvido.
− Não podia fazer isso, Yui. Eu tinha um novo solo pra estrear e não me deixariam mudá-lo assim, sem justificativa – Jun respondeu.
Ele sentiu certo peso na consciência, mas o que disse não era mentira. Ele realmente tinha um solo novo que precisava apresentar. Mas o que não queria admitir, nem para si mesmo, que na verdade ele não quis cantá-lo para ela.   

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Pequeno flashback [2]

Você já vai embora Jun-kun? - perguntou Sho, sentado confortavelmente, bebericando um copo de cerveja.
Ahan. Estou cansado – Jun pegou o casaco que largara no encosto da cadeira, já segurando a chave do carro.
Mas acabamos de chegar Jun-pon! – reclamou Nino.
Eu sei. Mas vou indo de qualquer jeito. Tenho que falar com a Yui. – ele já se dirigia à porta - Mata ne, minna! – ele acenou por cima do ombro.
Ohno correu a seu encalço e segurou de leve seu cotovelo.
Matsujun, espera aí um minutinho. Foi pra ela não foi?
Jun parou e olhou para o amigo com cara de interrogação.
Foi pra ela que cantamos – Ohno continuou, e dessa vez afirmou, não perguntou - One Love. Karorine-san. Eu a vi chorando e sorrindo, e você olhando para ela discretamente e sorrindo de volta. Lembrei da carta na hora.
Jun sorriu de leve e comentou:
Você tem boa memória, Riida.
Eu tenho. Por que, Jun?
Não sei direito o porquê. Mas agora eu preciso mesmo ir.
Hai. – Ohno largou o cotovelo de Jun – Você precisa mesmo falar com a Yui, eu acho. Ela nem apareceu hoje no camarim. Vocês brigaram ou algo assim?
 Jun apenas movimentou a cabeça para cima e para baixo, numa afirmativa.
Conversa mesmo com ela. Vocês se gostam tanto. Não é bom que fiquem brigando. E depois me conta tudo direito tá, essa história da carta e por que você cantou para Karorine-san.
Mas eu não sei por que, Oh-chan.
Então acho que eu terei que te dizer. Acredito que eu sei o porquê.
O que quer dizer? – Jun olhou para o amigo espantado, com os olhos arregalados.
Não importa agora Matsujun. Vai lá se acertar com sua namorada! – Ohno deu um tapinha em suas costas e o empurrou em direção à porta.
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− Eu vou cantar agora para você.
− Eu queria ver você cantar no show. Em 2011, quando você cantou esse solo, eu não estava. A gente nem se conhecia!
Gomen ne, Yui.
− Mas agora, eu não preciso que você cante – ela aproximou mais o rosto do dele, ainda sentada em seu colo. Ele pousou uma mão no ombro dela e a outra em sua perna.
− E o que quer então?
− Quero que me beije.
Matsumoto subiu a mão que estava sobre o ombro dela, segurou-a pela nuca e encostou seus lábios nos dela com suavidade. Fechou os olhos e, por trás de suas pálpebras, surgiu a imagem de Caroline com a camiseta da tour e a bela corrente de coração pousando sobre seu peito. Ficou um tanto assustado com que acabara de ver.
Tirou a mão da perna de Yui e, ainda com os olhos fechados, segurou sua cabeça para beijá-la com mais intensidade. Ela retribuiu o beijo, mal sabendo que o namorado estava desesperadamente tentando apagar a imagem de uma outra pessoa de sua mente. E, entregando-se ao momento, uniu as mãos em volta do pescoço de Jun. 

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