Capítulo 2
Depois da entrevista para o programa, os cinco resolveram ir comer alguma
coisa. Nino decidiu o restaurante. Claro que não era um restaurante caro.
Aliás, ele até preferia ter ido pra casa, mas só tinha miojo e ele estava
verdadeiramente com fome, então o miojo não bastava.
Quando já estavam todos sentados e tinham feito seus pedidos, Jun disse:
− Hei minna! Olhem só, eu
recebi hoje uma carta do Burajiru! –
tirando a carta do bolso, a tradução também estava no envelope.
− Quem mandou? – Aiba perguntou.
− Uma moça chamada Karorine.
Não sei por que ela mandou essa carta, mas já providenciei a tradução – ele
colocou o envelope em cima da mesa, que Ohno pegou e começou a ler em voz alta.
***
O que ela escrevera fora o seguinte:
Konnichiwa, Jun Matsumoto!
Como vai?
Resolvi escrever essa carta como um passatempo, a princípio nem pensei
em enviá-la. Não acho mesmo que chegará até você ou que você vai ler. De
qualquer forma, depois de pronta, decidi colocar no correio. Antes era só a ideia
de colocar no papel o que você e o Arashi são pra mim, mas depois não resisti à
hipótese de que talvez eu conseguisse fazer meus sentimentos te alcançarem. (Eu
acrescentei esse parágrafo, depois que já havia escrito a carta.)
Jun... quer dizer, Matsumoto-san, você entrou na minha vida no finalzinho
do ano passado, quando então eu vi o dorama Hana Yori Dango somente por
curiosidade. Sério, que Domyoji é aquele, você interpretou perfeitamente bem,
meus parabéns! Mas enfim, uma coisa puxou outra e acabei descobrindo que as
músicas do dorama são cantadas por um grupo chamado Arashi e que você faz parte
desse grupo, então foi um pulo pra eu me apaixonar completamente.
Mas daí a te conhecer e aos outros, a distância é quilomértrica! Por
isso resolvi escrever a carta. Assim, mesmo que você nunca leia isso aqui,
posso me sentir um pouco mais perto. Tudo que queria era poder estar aí bem do
seu ladinho! Se tudo der certo, eu e a Dé queremos ir para o Japão em 2014,
como turistas mesmo, e se a sorte estiver do nosso lado, quem sabe ir a um
show?
Ah, a Dé é a minha melhor amiga, Débora Fonseca é o nome dela. Só pra
esclerecer.
Você é muito lindo, sabia?Quem vê pensa que minha história de amor por
você é antiga... Não, não, ela é super recente né. Mas é que, bem, esse amor
evoluiu tão rápido...
Que é isso? Assim os outros vão ficar enciumados! Diz pra eles que os
amo também, mas meu ichiban
mesmo é você e só você. Mas, talvez... o Nino se console ao saber que tem uma
moça aqui que o ama muito. A Débora.
Ahan, ela gamou completamente no Kazu-chan desde que viu o jeito lindo
e meigo e maravilhoso e perfeito (tá, parei) de ele atuar em Ryuusei no Kizuna, Yamada Tarou
Monogatari, dentre outros. Quando ouviu Niji então, ela delirou.
Diz pro Sho-chan (sou muito íntima?? Hihi) pro Aiba e pro Ohno que
eles ocupam um lugar muito especial no nosso coração. Pra eles não ficarem
triste não!
O caso é que a Débora é Jun’s
bait também, sabia? Mas ela acabou migrando pro Ninomiya depois. E ela com
certeza, assim como eu, ama MUITO o Arashi! Tudo bem, foi eu quem praticamente
obrigou a coitada a ver Hanadan, mas daí, adivinha? Ela apaixonou também!
A.R.A.S.H.I for dream… nosso
hino de todo dia, desde que conhecemos vocês. Aliás, nossos dias são muito mais
felizes e nosso mundo muito mais bonito com vocês e suas músicas.
Ah. Desculpe a intimidade, hahahaha! É que nós, as arashians brasileiras, temos um carinho
tão grande, mas tão grande, que não conseguimos mais ficar cheias de
formalidades. E também, o sangue brasileiro que corre em nossas veias nos faz
assim, mais espontâneas. Ou seja, eu falo Jun mesmo, como se fossêmos amigos de
berço. Mas, se isso te constrange, ou aos outros, gomen, não o farei novamente.
Beijos.
Na esperança que você leia essa carta.
Carol Ferraz.
***
− ... e é isso – Ohno concluiu a leitura.
− O que vai fazer com isso, Matsujun? – Ninomiya indagou.
− Acho que vou responder.
Os outros quatro caíram na risada, não acreditando que ele tinha levado
tão a sério a carta de uma fã burajirujin
que ele sequer entendia. Matsumoto apenas sussurrou to falando sério e
começou a comer. O garçom trouxera os pedidos enquanto Ohno lia a carta.
***
Outubro de 2014
Os pais e os dois amigos mais chegados de Carol e Débora estavam
reunidos no saguão do Aeroporto Internacional de Guarulhos para se despedir.
Finalmente chegara o dia de irem para o Japão. Ficariam lá duas semanas apenas,
mas ficaram mais de dois anos se preparando e programando a viagem.
− Chegou o grande dia! – Débora exclamou, toda empolgada, pronta
pra embarcar.
− O show é que dia? – perguntou dona Marta, mãe de Carol.
− Dia 24! Bom, é daqui a seis dias. – Caroline respondeu.
− Dia 24 no Brasil ou no Japão? – Fábio, amigo das meninas, que
adorava provocá-las quando o assunto era o país do outro lado do mundo, indagou
só para ver a cara delas.
− No Brasil e no Japão! – gritaram as duas, rindo. – Aqui
apenas serão algumas horas mais cedo! Hahahahaha! Fugiu da escola é?
− Eu até hoje tenho dificuldade em calcular fuso-horário – Marcela
comentou.
Marcela e Fábio eram os amigos das meninas. Desde que as duas
viciaram na cultura nipônica e no tal Arashi, elas não falavam de outra coisa e
os dois até se sentiam deslocados e deixados de lado. Até mesmo japonês elas
estudaram e, em quase quatro anos, conversavam perfeitamente entre si em outra
língua.
Carol trocava correspondência com um japa desse grupo Arashi. Como
ela conseguira essa façanha era um mistério. Afinal ela escrevera em português
para um astro japonês e, surpreendentemente, contra todas as “leis da
natureza”, ele respondeu no mês seguinte. Em japonês!
Quando a primeira carta chegou, ainda em abril de 2011, Carol teve
que correr atrás de alguém que traduzisse para ela.
***
A primeira carta de Matsumoto:
Haikei Karorine-san
Não sei o porquê de a senhorita ter escrito uma
carta para mim, mas deu pra entender que admira não só a mim, mas também
aos outros membros do Arashi. Agradeço pelo carinho! Arigatou gozaimasu!
Não ligo de a senhorita me chamar informalmente. Mas
posso tomar a liberdade de chamá-la de “Você”, assim como os burajirujin, né?
Gostei muito da sua carta. Quem a leu para nós no
restaurante foi o Riida.
Imagino que deva saber quem é. Eu fiquei verdadeiramente
surpreso. É bom saber que temos fãs espalhados pelo mundo todo.
Confesso que sua carta me intrigou e fiquei muito
feliz, por isso logo providenciei um meio para eu entendê-la, já que eu não falo,
nem leio ou escrevo em porutugarugo.
Não costumamos responder cartas de fãs e admiradores, pois temos
um tempo bastante corrido, mas nós recebemos suas cartas sim, não se preocupem!
Então, decidi responder dessa vez. Fiz bem? Mas, como vê, está
em nihongo. Espero que você
consiga entender ou pelo menos encontrar um meio para fazê-lo, assim como fiz.
Você e sua amiga querem vir ao Nihon em 2014? Que divertido seria se
conseguissem mesmo ir a um show!
Posso lhe perguntar uma coisa... Karoru? Posso lhe chamar deste jeito, já que você assinou a carta
assim? Então, o que quero lhe perguntar, Karoru-san, é: o que é
aquele pingente de chave? Para que ele serve? Imagino que seja pra colocar numa
corrente, num colar, estou certo? Esta chave tem algum significado?
Não sei se você irá receber esta carta, assim como você não sabia que
eu iria receber a sua. Mas estou enviando mesmo assim. Espero que meu
agradecimento possa lhe alcançar, como seus sentimentos me alcançaram. Espero
que possamos ser amigos.
Até outra vez.
Matsumoto Jun.
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