E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

domingo, 17 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 13


Capítulo 13

Quanto Ninomiya saiu, fechando a porta atrás de si, Carol foi até ela e a trancou. Ouviu o barulho do chuveiro ligado no banheiro, mas sabia muito bem que Débora não estava tomando banho. Foi só uma desculpa para ela driblar qualquer pergunta antes de ter certeza que Nino tinha ido embora.
Caminhando devagar, Caroline se aproximou da porta do banheiro e deu três batidas ligeiras.
− Pode entrar, Carol, deixei a porta destrancada.
− Você não está tomando banho que eu sei. Então desliga esse chuveiro e venha aqui me contar essa história de "Deb"  e "até amanhã Nino".
− Ai Carol! Entre aqui – Débora reclamou, mas fechou o chuveiro.
− Não, já estou sentada na cama.
Débora saiu do banheiro e caminhou até onde Caroline estava. Não tomara banho, sequer trocara de roupa. Tinha o olhar sério e tímido, mas o fundo de seus olhos revelava uma felicidade extrema. O que deixou a outra ainda mais curiosa. O que será que ela e Kazunari conversaram? Por que ele fora até lá àquela hora? Olhou novamente o relógio no criado-mudo: 1h20 da madrugada.
 − Agora, a senhora vai me explicar direitinho o que você e o senhor Ninomiya tanto conversaram – Carol pronunciou as palavras somente quando Débora se sentou a seu lado.
 Ela não estava brava ou irritada com a amiga, mas sabia que tinha direito a uma explicação. Estava curiosa e suspeitava que algo, provavelmente algo bom tinha acontecido, para deixar Débora assim, com a felicidade transparecendo no olhar. Em suas palavras, mais que um pedido, havia uma ordem.
 Débora olhou para as mãos que estavam pousadas no colo. Ela própria não sabia por onde começar, não conseguia ainda acreditar completamente, estava tentando digerir tudo aquilo.  Se perguntava como chegara àquele ponto. Quando foi que perdera o controle sobre seus sentimentos únicos de fã?
 − Não adianta enrolar. Desembucha, Dé! – Caroline estava impaciente.
 − Err... – ela começou, sem erguer os olhos – o Kazu... Ninomiya-san... ele queria conversar comigo.
 − Sim, isso eu sei. Ele mesmo disse isso quando bateu na nossa porta.
 − Ah, Carol... tô tão feliz! – e Débora levantou subitamente a cabeça e havia lágrimas em seus olhos e um sorriso que ia de orelha a orelha.
 Caroline, sem entender muito bem o motivo de tudo aquilo, o sorriso, as lágrimas, tanta felicidade, somente abriu os braços para receber a amiga. Dé não pensou duas vezes; a abraçou e agora as lágrimas não eram mais somente isso. Eram um choro convulsivo, repleto de soluços que logo ensopou o ombro de Caroline.
 − Shhhhh – Carol fazia carinho na cabeça da outra – shhhh. Vamos, Dé, me conte! O que houve? O que o Nino te disse?
 Débora se recompôs, ou tentou. Saiu do abraço e se sentou no meio da cama, com as pernas cruzadas. Secou as lágrimas com as mãos, deixando as bochechas lambuzadas com água salgada. Respirou fundo e falou:
 − O Nino... – deu uma última fungada e respirou fundo – ele veio aqui... lembra do que nós estávamos falando antes dele chegar?
 Carol fez que sim com a cabeça, olhando ansiosa a menina a sua frente.
 Débora era sua melhor amiga desde a adolescência. Sempre foi mais extravagante, mais espalhafatosa. Nunca tinha vergonha de nada e, ao contrário dela, não era tímida.
 Era Débora quem levantava o ânimo de Carol e lhe incentivava a sorrir quando alguém a fazia chorar. Ela sempre dizia, com as mãos na cintura como uma mãe ensinando algo muito importante para a filha: “Você é grande, Caroline Ferraz. Não se deixe abalar por quem é menor que você. Não dê tanta importância para quem na verdade não significa nada”.
 Quando Carol começou a se interessar por doramas e cultura japonesa, Dé foi a única que entendeu seu entusiasmo e quis compartilhá-lo. Marcela e Fábio não quiseram saber e seus pais não ligavam, muito menos sua irmã mais nova, adolescente ainda, que tinha seus próprios ídolos pops que quase sempre eram sinônimos de cantores americanos.
 Hana Yori Dango foi seu sexto dorama, mas foi o primeiro de Débora, e ela se apaixonou pelo Doumiyouji quase tanto quanto Caroline. Depois assistiram Yamada Tarou Monogatari juntas e descobriram o Sho Sakurai e o Kazunari Ninomiya. Os seguintes foram Maou, Ryuusei no Kizuna, Smile, My Girl, e a paixão pelo Arashi era totalmente inevitável a essa altura do campeonato. Foi quando ela teve a ideia maluca de escrever aquela carta.
 Agora, quase quatro anos depois, elas estavam ali em Tóquio, Japão. Há quilômetros de casa. Tão perto do maravilhoso grupo que tanto amavam. E Kazunari, integrante desse grupo, acabara de sair do hotel onde estavam hospedadas. Depois de ter uma conversa que se prolongara por mais de uma hora.
 Carol pensou em tudo isso numa fração de segundo enquanto Débora dava outra respirada:
 − Então... lembra que eu disse que ele sorriu para mim no show?
 − Sim, eu lembro. Daí, eu quase caí da cama e nós duas começamos a gargalhar.
 − Uhum... quase isso – Débora ficou pensativa por alguns poucos segundos – Lembra? Eu disse que ele não se declarou pra mim e nunca ia fazer isso, que era muito improvável?
 − Ahn... lembro, acho.
 − Bom, ele chegou aqui em seguida, né? Completamente de surpresa.
 − Sim – Carol se remexeu na cama, ainda olhando para a amiga – Não estou entendendo muito bem aonde você quer chegar.
 − Espere. Você logo vai entender – Débora fez uma pequena pausa – Ele disse que... queria falar comigo. Descemos para o hall, um do lado do outro, ambos de cabeça baixa. Confesso que eu estava meio envergonhada.
 As duas se olharam e sorriram nesse ponto. Elas sabiam que Dé nunca sentia vergonha de nada e já dera mais de um escândalo com o próprio Kazunari.
 − Estou falando sério – Débora continuou – Dessa vez eu estava mesmo envergonhada. Ele não disse nada, mas quando chegamos perto do sofá ali onde você pegou no sono antes, sabe? – ela olhou para a amiga, que confirmou com a cabeça – Ele puxou minha mão e sentamos um ao lado do outro! Nossas pernas até se encostavam um pouquinho...
 Nessa hora, Dé ficou com as bochechas levemente coradas e sorriu como quem se sente pouco à vontade. Carol olhava para ela pasma pelo que ouvira. Afinal, Ninomiya era tímido, não era? E com todos aqueles rolos com namoradas no passado, que chegara até ao conhecimento dos milhares de fãs brasileiras, ele era meio “apático” em relação a isso né? E agora, do nada, ele chegava querendo conversar e até pegou a mão de Débora sem aviso algum?!
 Vendo o olhar confuso e desacreditado da amiga, Débora somente abaixou e levantou a cabeça devagar, compartilhando dos mesmos pensamentos dela. Elas se conheciam há tanto tempo e tão bem que se falavam apenas com o olhar. Naquele momento, o de Carol era de descrédito.
 − Eu sei. Eu também não consigo entender. – Dé continuou – Olhei para ele com a dúvida escancarada no olhar. Ele me olhou e sorriu. Beijou minha mão, a que ele segurava. Isso mesmo, ele beijou minha mão! E disse: “Ah , Deb, eu estou apaixonado por você”.

***

− Ah, Riida! – Jun estava inconsolável – O que eu vou fazer?
Os dois agora estavam sentados na cama do quarto de Matsumoto. Novamente as sombras brincavam no teto, com as luzes todas do apartamento apagadas. Depois de muita discussão, de Jun bater o pé e continuar afirmando que amava Yui e não a outra, Ohno desistiu. Ele conhecia o amigo muito bem para saber que quando ele fincava o pé, era difícil demovê-lo do lugar.
Toda a conversa de quase duas horas bastara por uma noite, e ambos estavam moídos de sono, então não valia mais a pena continuarem gastando saliva se não estavam dizendo coisa com coisa. Além do mais, Ohno bebera demais e por mais que ele não ficasse bêbado com facilidade, o álcool no seu organismo já não o deixava mais raciocinar; embora ele tenha conseguido por grande parte da noite manter sua linha de raciocínio, agora ela se tornava uma camada tênue de fumaça sobre seu cérebro.
Estavam sentados, ambos encostados na parede e com as pernas esticadas sobre o colchão.
− Eu não sei o que você fará Matsujun. Mas sei que eu vou para casa. Estou quebrado de sono.
Ohno se pôs em pé e foi até o interruptor, acendendo a luz. Os dois colocaram as mãos sobre os olhos, bloqueando a claridade, já que haviam se acostumado com a escuridão.
− Eu acho... – ele comentou, em tom casual – que você devia reconhecer logo que está apaixonado pelo Karorine-san.
− Mas eu não estou! – Jun levantou de um salto – Eu não posso estar. Eu NÃO estarei!
− Sim, você está. Isto é cada vez mais evidente. Só você não quer enxergar.
Ohno foi até o outro e colocou a mão em seu ombro.
− Jun, ninguém precisa se machucar. Cara, você não precisa magoar ninguém se fizer as coisas do jeito certo.
− E qual é o jeito certo, Oh-chan?
− Acho que você já sabe qual é o jeito certo. Analise bem os fatos. Só você tem a chave do coração de Karorine-san. Ela a deu a você. Só você pode entrar, só você tem como abrir. Agora – ele largou o outro e se dirigiu para fora do quarto – vem abrir a porta para mim, já que só você tem a chave do seu apartamento.
Os dois riram da piada e se encaminharam para a porta.

***

Yui ficou alguns minutos na sala, sentada sozinha no sofá, depois que Matsumoto foi embora. Ele estava estranho, ela pôde notar isso. Dobrou os joelhos e circundou as pernas com os braços, de forma a abraçá-las.
Enquanto pensava nos motivos que havia para o comportamento atípico dele, ela fechou os olhos e, embalada num último pensamento, Eu tenho certeza que aquela infeliz tem tudo a ver com isso, ela tombou deitada no sofá.
Seu sono foi embalado por sonhos pouco agradáveis e quando acordou, passado das 4h da madrugada, seu corpo doía. Ela foi para o quarto e os sonhos continuaram na cama.
Quando abriu os olhos às 7h da manhã, acordada pelo despertador, ela se sentou na cama assustada, mas com o olhar de quem finalmente entendeu. Ela chorara porque ele cantou para ela no show!
"Matsumoto baka! Como ele pôde fazer isso? Eu peço show após show para ele cantar e ele, no fim, cantou para aquela outra idiota como ele!" Yui estava tão cheia de raiva que pensou em entrar no apartamento dele e tirar satisfações imediatamente, e não perderia a chance de ir até o hotel onde aquelazinha estava hospedada e ia bater nela até dizer chega.
Ela se levantou da cama e começou a procurar o que vestir para ir trabalhar, já que só folgava no domingo. Enquanto se trocava, pensou melhor e decidiu se acertar com Matsumoto depois de sair da revista no fim do dia.
Tomou um gole de leite direto da caixa e pegou algumas torradas. Não estava com disposição para preparar uma refeição melhor.
Saiu apressada do apartamento, jogou o casaco no banco de trás do carro, para o caso de esfriar durante o dia – embora no dia anterior tivesse feito um calor infernal e recorde, em pleno outono. Girou a chave, engatou a primeira e arrancou.

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