Capítulo 13
Quanto Ninomiya saiu, fechando a
porta atrás de si, Carol foi até ela e a trancou. Ouviu o barulho do chuveiro
ligado no banheiro, mas sabia muito bem que Débora não estava tomando banho.
Foi só uma desculpa para ela driblar qualquer pergunta antes de ter certeza que
Nino tinha ido embora.
Caminhando devagar, Caroline se
aproximou da porta do banheiro e deu três batidas ligeiras.
− Pode entrar, Carol, deixei a porta
destrancada.
− Você não está tomando banho que eu
sei. Então desliga esse chuveiro e venha aqui me contar essa história de
"Deb" e "até amanhã Nino".
− Ai Carol! Entre aqui – Débora reclamou,
mas fechou o chuveiro.
− Não, já estou sentada na cama.
Débora saiu do banheiro e caminhou
até onde Caroline estava. Não tomara banho, sequer trocara de roupa. Tinha o
olhar sério e tímido, mas o fundo de seus olhos revelava uma felicidade
extrema. O que deixou a outra ainda mais curiosa. O que será que ela e Kazunari
conversaram? Por que ele fora até lá àquela hora? Olhou novamente o relógio no
criado-mudo: 1h20 da madrugada.
− Agora, a senhora vai me
explicar direitinho o que você e o senhor Ninomiya tanto conversaram – Carol
pronunciou as palavras somente quando Débora se sentou a seu lado.
Ela não estava brava ou
irritada com a amiga, mas sabia que tinha direito a uma explicação. Estava
curiosa e suspeitava que algo, provavelmente algo bom tinha acontecido, para
deixar Débora assim, com a felicidade transparecendo no olhar. Em suas
palavras, mais que um pedido, havia uma ordem.
Débora olhou para as mãos que
estavam pousadas no colo. Ela própria não sabia por onde começar, não conseguia
ainda acreditar completamente, estava tentando digerir tudo aquilo. Se
perguntava como chegara àquele ponto. Quando foi que perdera o controle sobre
seus sentimentos únicos de fã?
− Não adianta enrolar.
Desembucha, Dé! – Caroline estava impaciente.
− Err... – ela começou, sem
erguer os olhos – o Kazu... Ninomiya-san... ele queria conversar comigo.
− Sim, isso eu sei. Ele mesmo
disse isso quando bateu na nossa porta.
− Ah, Carol... tô tão feliz! –
e Débora levantou subitamente a cabeça e havia lágrimas em seus olhos e um
sorriso que ia de orelha a orelha.
Caroline, sem entender muito
bem o motivo de tudo aquilo, o sorriso, as lágrimas, tanta felicidade, somente
abriu os braços para receber a amiga. Dé não pensou duas vezes; a abraçou e
agora as lágrimas não eram mais somente isso. Eram um choro convulsivo, repleto
de soluços que logo ensopou o ombro de Caroline.
− Shhhhh – Carol fazia carinho
na cabeça da outra – shhhh. Vamos, Dé, me conte! O que houve? O que o Nino te
disse?
Débora se recompôs, ou tentou.
Saiu do abraço e se sentou no meio da cama, com as pernas cruzadas. Secou as
lágrimas com as mãos, deixando as bochechas lambuzadas com água salgada.
Respirou fundo e falou:
− O Nino... – deu uma última
fungada e respirou fundo – ele veio aqui... lembra do que nós estávamos falando
antes dele chegar?
Carol fez que sim com a
cabeça, olhando ansiosa a menina a sua frente.
Débora era sua melhor amiga
desde a adolescência. Sempre foi mais extravagante, mais espalhafatosa. Nunca
tinha vergonha de nada e, ao contrário dela, não era tímida.
Era Débora quem levantava o
ânimo de Carol e lhe incentivava a sorrir quando alguém a fazia chorar. Ela
sempre dizia, com as mãos na cintura como uma mãe ensinando algo muito
importante para a filha: “Você é grande, Caroline Ferraz. Não se deixe abalar
por quem é menor que você. Não dê tanta importância para quem na verdade não
significa nada”.
Quando Carol começou a se
interessar por doramas e cultura japonesa, Dé foi a única que entendeu seu
entusiasmo e quis compartilhá-lo. Marcela e Fábio não quiseram saber e seus
pais não ligavam, muito menos sua irmã mais nova, adolescente ainda, que tinha
seus próprios ídolos pops que quase sempre eram sinônimos de cantores
americanos.
Hana Yori Dango foi seu sexto dorama, mas foi o primeiro de Débora,
e ela se apaixonou pelo Doumiyouji quase tanto quanto Caroline. Depois assistiram
Yamada Tarou Monogatari juntas e
descobriram o Sho Sakurai e o Kazunari Ninomiya. Os seguintes foram Maou, Ryuusei no Kizuna, Smile,
My Girl, e a paixão pelo Arashi era
totalmente inevitável a essa altura do campeonato. Foi quando ela teve a ideia
maluca de escrever aquela carta.
Agora, quase quatro anos
depois, elas estavam ali em Tóquio, Japão. Há quilômetros de casa. Tão perto do
maravilhoso grupo que tanto amavam. E Kazunari, integrante desse grupo, acabara
de sair do hotel onde estavam hospedadas. Depois de ter uma conversa que se
prolongara por mais de uma hora.
Carol pensou em tudo isso numa
fração de segundo enquanto Débora dava outra respirada:
− Então... lembra que eu disse
que ele sorriu para mim no show?
− Sim, eu lembro. Daí, eu
quase caí da cama e nós duas começamos a gargalhar.
− Uhum... quase isso – Débora
ficou pensativa por alguns poucos segundos – Lembra? Eu disse que ele não se
declarou pra mim e nunca ia fazer isso, que era muito improvável?
− Ahn... lembro, acho.
− Bom, ele chegou aqui
em seguida, né? Completamente de surpresa.
− Sim – Carol se remexeu na
cama, ainda olhando para a amiga – Não estou entendendo muito bem aonde você
quer chegar.
− Espere. Você logo vai
entender – Débora fez uma pequena pausa – Ele disse que... queria falar comigo.
Descemos para o hall, um do lado do outro, ambos de cabeça baixa.
Confesso que eu estava meio envergonhada.
As duas se olharam e sorriram
nesse ponto. Elas sabiam que Dé nunca sentia vergonha de nada e já dera mais de
um escândalo com o próprio Kazunari.
− Estou falando sério – Débora
continuou – Dessa vez eu estava mesmo envergonhada. Ele não disse nada,
mas quando chegamos perto do sofá ali onde você pegou no sono antes, sabe? –
ela olhou para a amiga, que confirmou com a cabeça – Ele puxou minha mão e sentamos
um ao lado do outro! Nossas pernas até se encostavam um pouquinho...
Nessa hora, Dé ficou com as
bochechas levemente coradas e sorriu como quem se sente pouco à vontade. Carol
olhava para ela pasma pelo que ouvira. Afinal, Ninomiya era tímido, não era? E
com todos aqueles rolos com namoradas no passado, que chegara até ao
conhecimento dos milhares de fãs brasileiras, ele era meio “apático” em relação
a isso né? E agora, do nada, ele chegava querendo conversar e até pegou a
mão de Débora sem aviso algum?!
Vendo o olhar confuso e
desacreditado da amiga, Débora somente abaixou e levantou a cabeça devagar,
compartilhando dos mesmos pensamentos dela. Elas se conheciam há tanto tempo e
tão bem que se falavam apenas com o olhar. Naquele momento, o de Carol era de
descrédito.
− Eu sei. Eu também não
consigo entender. – Dé continuou – Olhei para ele com a dúvida escancarada no
olhar. Ele me olhou e sorriu. Beijou minha mão, a que ele segurava. Isso mesmo,
ele beijou minha mão! E disse: “Ah , Deb, eu estou apaixonado por você”.
***
− Ah, Riida! – Jun estava inconsolável – O que eu vou fazer?
Os dois agora estavam sentados na
cama do quarto de Matsumoto. Novamente as sombras brincavam no teto, com as
luzes todas do apartamento apagadas. Depois de muita discussão, de Jun bater o
pé e continuar afirmando que amava Yui e não a outra, Ohno desistiu. Ele
conhecia o amigo muito bem para saber que quando ele fincava o pé, era difícil
demovê-lo do lugar.
Toda a conversa de quase duas horas
bastara por uma noite, e ambos estavam moídos de sono, então não valia mais a
pena continuarem gastando saliva se não estavam dizendo coisa com coisa. Além
do mais, Ohno bebera demais e por mais que ele não ficasse bêbado com
facilidade, o álcool no seu organismo já não o deixava mais raciocinar; embora
ele tenha conseguido por grande parte da noite manter sua linha de raciocínio,
agora ela se tornava uma camada tênue de fumaça sobre seu cérebro.
Estavam sentados, ambos encostados
na parede e com as pernas esticadas sobre o colchão.
− Eu não sei o que você fará
Matsujun. Mas sei que eu vou para casa. Estou quebrado de sono.
Ohno se pôs em pé e foi até o
interruptor, acendendo a luz. Os dois colocaram as mãos sobre os olhos,
bloqueando a claridade, já que haviam se acostumado com a escuridão.
− Eu acho... – ele comentou, em tom
casual – que você devia reconhecer logo que está apaixonado pelo Karorine-san.
− Mas eu não estou! – Jun
levantou de um salto – Eu não posso estar. Eu NÃO estarei!
− Sim, você está. Isto é cada vez
mais evidente. Só você não quer enxergar.
Ohno foi até o outro e colocou a mão
em seu ombro.
− Jun, ninguém precisa se machucar.
Cara, você não precisa magoar ninguém se fizer as coisas do jeito certo.
− E qual é o jeito certo, Oh-chan?
− Acho que você já sabe qual é o
jeito certo. Analise bem os fatos. Só você tem a chave do coração de Karorine-san.
Ela a deu a você. Só você pode entrar, só você tem como abrir. Agora – ele
largou o outro e se dirigiu para fora do quarto – vem abrir a porta para mim,
já que só você tem a chave do seu apartamento.
Os dois riram da piada e se
encaminharam para a porta.
***
Yui ficou alguns minutos na sala,
sentada sozinha no sofá, depois que Matsumoto foi embora. Ele estava estranho,
ela pôde notar isso. Dobrou os joelhos e circundou as pernas com os braços, de
forma a abraçá-las.
Enquanto pensava nos motivos que
havia para o comportamento atípico dele, ela fechou os olhos e, embalada num
último pensamento, Eu tenho certeza que aquela infeliz tem tudo a ver
com isso, ela tombou deitada no sofá.
Seu sono foi embalado por sonhos
pouco agradáveis e quando acordou, passado das 4h da madrugada, seu corpo doía.
Ela foi para o quarto e os sonhos continuaram na cama.
Quando abriu os olhos às 7h da
manhã, acordada pelo despertador, ela se sentou na cama assustada, mas com o
olhar de quem finalmente entendeu. Ela chorara porque ele cantou
para ela no show!
"Matsumoto baka! Como ele pôde fazer isso? Eu peço show após show para ele
cantar e ele, no fim, cantou para aquela outra idiota como ele!" Yui
estava tão cheia de raiva que pensou em entrar no apartamento dele e tirar
satisfações imediatamente, e não perderia a chance de ir até o hotel onde
aquelazinha estava hospedada e ia bater nela até dizer chega.
Ela se levantou da cama e começou a
procurar o que vestir para ir trabalhar, já que só folgava no domingo. Enquanto
se trocava, pensou melhor e decidiu se acertar com Matsumoto depois de sair da
revista no fim do dia.
Tomou um gole de leite direto da
caixa e pegou algumas torradas. Não estava com disposição para preparar uma
refeição melhor.
Saiu apressada do apartamento, jogou
o casaco no banco de trás do carro, para o caso de esfriar durante o dia –
embora no dia anterior tivesse feito um calor infernal e recorde, em pleno
outono. Girou a chave, engatou a primeira e arrancou.
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