Capítulo 7
Yui estava aflita. Era
segunda-feira à noite e ela acabara de chegar em seu apartamento. O dia foi
exaustivo na redação da revista, mas em nenhum momento sequer ela conseguiu
tirar da cabeça o encontro no aeroporto pela manhã.
O que foi aquilo
afinal? Matsumoto ficou todo irritado com ela e agiu estranho. Como se ela não
estivesse ali. Ele analisou aquelazinha dos pés à cabeça sem pudor algum e
ficou embasbacado olhando direto para o pescoço dela. Por quê? Ela nem era
bonita... o que então encantou tanto seu namorado?
Matsumoto contou
sobre Caroline somente depois que eles já estavam juntos. Por que ele
escondeu? Sabia que ela, Yui, ficaria magoada? Afinal, ela realmente ficou
magoada e a princípio não a aceitou. Onde já se viu, um astro, um deus
nipônico como ele, a perfeição encarnada como ele, trocar cartas com
uma desconhecida que vivia do outro lado do mundo!! Por quatro anos!!
Cada vez que pensava nisto, Yui se irritava ainda mais.
Mas Matsumoto
deixou claro que, se Yui realmente gostava dele e queria namorá-lo, então tinha
que aceitar sim senhora sua amizade com Karorine-san. Ela não tinha
outra opção senão se submeter aquilo. Àquela competição injusta.
Carol estava
tomando o espaço na vida do astro; aquele mesmo espaço que pertencia a ela.
Yui via Jun muito
além de um artista e era extremamente dominadora. Para ela era irracional
alguém manter contato tão profundamente, através de cartas, com outra pessoa,
que nem fala o mesmo idioma e ainda dizer que é uma simples amizade.
Saber disso a
preocupava ainda mais. Quando pedira para ler as cartas da brasileira, ele não
deixou! Ele. Não. Deixou. Por Deus, como assim?? Ela tinha esse direito,
não tinha? Mas tudo que ele deixou foi ela ler as primeiras, de 2011 e 2012. Só
essas. A conclusão óbvia a que ela chegou foi que só podia haver algo muito
comprometedor nas outras cartas. Isso só aumentou a desconfiança e o desejo de
que, de repente, Caroline sofresse um acidente e desaparecesse do mapa.
Não que ela tivesse
essa gana assassina normalmente, não tinha. Mas era impossível que desejasse
que uma ameaça constante como essa “estrangeira” continuasse viva.
Yui se deitou no
braço do sofá com as mãos embaixo da cabeça e os pés caídos de lado e ligou a
televisão. Mas não conseguia se concentrar, esperando ansiosamente que Jun
ligasse ou viesse até seu apartamento. Ela ligara para o celular dele algumas
vezes, mas ele não atendeu, algumas vezes chamava, outras caía direto na caixa
postal. Então, antes de dirigir-se à sua própria porta, ela verificou se ele
estava em casa, mas como ela desconfiava, ele ainda não chegara. Em tempo de
shows, muitas vezes o Arashi ficava ensaiando até mais de meia-noite ou 1h da
madrugada. E ela ficava sozinha por noites seguidas...
Pensou por um
instante nas duas recém-chegadas. Jun dissera que as levaria para almoçar
quando deixou Yui no trabalho, ainda mal-humorado e irritado com o
comportamento dela naquela manhã. Ela esperava que eles não tivessem feito nada
além disso e o almoço tenha sido rápido. Enquanto seus pensamentos vagavam por
esses caminhos, ela adormeceu antes mesmo de se dar conta. Dali a três horas,
quando acordasse, se daria conta que Jun não ligara, ligaria para ele
novamente, mas cairia na caixa postal outra vez. E que ela estava morta de
fome.
***
Carol e Débora, depois do
maravilhoso almoço de frutos do mar naquele belíssimo e superconfortável e
aconchegante restaurante, foram convidadas para assistir ao ensaio dos meninos,
mas nenhum deles soube afirmar com certeza em qual horário que esse ensaio
acabaria. Como elas ainda estavam com sono, e ainda tinham que desfazer as
malas e também entrar em contato com os pais no Brasil, educadamente recusaram
e dessa vez foi Nino quem se dispôs a levá-las de volta.
Débora tagarelou durante
os quinze minutos do rastaurante até o hotel, quase sem nem parar para
respirar. Primeiro ela quase voou novamente no pescoço do Kazunari quando ele
anunciou que podia dar uma carona a elas, pois Matsumoto queria chegar antes no
estádio. Mas durante a curta viagem, se conteve e somente riu animada e falou
pelos cotovelos. Contou em detalhes como aconteceu sua paixão por ele, ao
elegê-lo como ichiban, e em momento
algum desprivilegiou os demais membros, mas deixou claro que para ela Ninomiya
Kazunari era top forever, como ela mesma disse.
Caroline, que fora no
banco de trás, para ceder à amiga o assento ao lado do motorista, a ouvia
falando tanto e ria baixinho, fazendo comentários esporádicos. De sua mente,
não saía a imagem de Jun, seu belo rosto e sorriso encantador, e mesmo depois
de uma hora e meia, ela ainda sentia com perfeição seus lábios na bochecha
dela.
Às 1h55 da tarde ele as
deixou na porta de entrada do hotel e nem desceu do carro, vendo que teria que
voar, o que era impossível em uma metrópole como Tóquio numa hora daquelas. Mas
se ele se atrasasse demais, teria problemas.
As duas dormiram a tarde
toda , até porque não poderiam fazer as ligações para o Brasil àquela hora,
elas sabiam que lá era madrugada. Caroline tinha que ligar antes dos pais
saírem de casa para o trabalho, às 7h30 da manhã. Já Débora não precisaria se
preocupar tanto, já que sua mãe ficava em casa toda a manhã. Então, quando dona
Marta atendeu, ela tinha a voz ainda sonolenta. Acabara de acordar.
- Alô. Carol, é você?
Achei que não ia ligar mais. Podia ter ligado quando chegou, não é?
- Oi pra você também mãe
- Carol sufocou um sorriso - Eu até ia ligar, mas acabou passando. Gomen ne.
- Uhm. Fale em
português comigo, por favor. Como você está? Como foi a viagem? E Débora?
Caroline pensou em Jun
dizendo o san após o nome e sorriu.
- A viagem foi boa mãe.
Débora ainda dorme. Acho que demoraremos alguns dias para nos acostumar com o
fuso-horário. Daí, quando estivermos nos acostumando,
vamos embora né...
vamos embora né...
- É... E o tal
Matsujun, foi encontrar vocês afinal?
- Foi sim, no aeroporto.
E hoje ele nos levou para almoçar e ainda pagou. Fomos com ele e todos do
Arashi.
- Bom, tenho que fazer
o café para mim e seu pai. De qualquer forma, precisamos mesmo desligar, senão
a conta do telefone vai às alturas. Beijos. Se cuida. Te amo.
- Também te amo mãe.
Tchau. Dá um beijo no pai por mim.
Caroline olhou para a
amiga enquanto deixava o celular sobre a mesinha de cabeceira. Dé ainda dormia
profundamente. Não iria acordá-la, como pensou em fazer. Deitou-se novamente e
ligou a televisão. Rodou pelos canais, mas não se interessou por nada em
especial, então desligou novamente o aparelho e resolveu ir tomar uma ducha.
***
***
O ensaio fora exaustivo,
mas prazeroso. Repassaram todas as músicas, ansiosos por novamente fazer um bom
trabalho no show que se aproximava. Mesmo a tour tendo começado algum
tempo antes, aquele com certeza era o mais esperado. O mais desejado. E nada, nada,
podia dar errado.
Os meninos estavam
felizes. Era a sétima vez que eles tinham o previlégio de se apresentar no Kokuritsu, só não eram oito porque em
2012 outro grupo se apresentou lá, mas desde 2008 eles “dominavam”. Além disso,
era a comemoração pelos 15 anos do grupo e eles preparavam um espetáculo
grandioso. Com a magestade do estádio a favor deles, com certeza seriam os dois
melhores concertos de toda a tour. Mal podiam esperar!
Jun estava especialmente
empolgado, pois ali, naquele show, Caroline estaria.
Acabado o ensaio, cada um
foi para sua casa. Quando Jun seguiu para seu apartamento, no terceiro andar do
prédio, pensou em bater na porta de Yui, mas desistiu quando estava quase dando
o primeiro toque na porta de madeira. Olhou para o celular e viu que tinha 10
ligações perdidas dela e por fim uma mensagem que dizia:
"Por que não me
atende? Quero desejar um bom ensaio e dizer para você não se esquecer que te
amo muito. Uemura Yui."
Ele estava respondendo,
mas também desistiu. Por fim, fechou o celular, revirando os olhos. Calmamente,
dirigiu-se à sua porta, pegando a chave no bolso. Estava irritado com ela. Ela
fora muito impertinente aquele dia, no aeroporto. Ficara se enroscando nele na
frente de todo mundo e disse coisas desagradáveis e completamente
desnecessárias.
Então,
já completamente esquecido de Yui, foi tomar banho para dormir; estava muito
cansado, o corpo quase entorpecido. Olhou no relógio de pulso: 1h da madrugada.
Pensou: Será que Karoru-chan... já está dormindo?
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