Capítulo 5
No quarto do hotel...
− Carol do céu!! O
Matsujun é muito mais lindo pessoalmente! – Débora estava histérica. Desde que
chegaram ao hotel, ela só ficava dando tapas e beliscões em si mesma: “Isto
é um sonho??!!” ;“Ai!! Não, isto não é um sonho!!”, massageando o
braço.
Matsumoto Jun havia
descarregado as malas. Deixou as meninas fazendo o check-in e seguiu
para a reunião.
Do aeroporto até lá
haviam sido quase vinte minutos, embora a distância fosse pequena, pois o
trânsito da segunda-feira estava insustentável. Até em Tóquio é tudo igual,
pensou Caroline, ao se lembrar de todos os congestionamentos que já havia
enfrentado no Brasil.
Do jeito que as palavras
de Yui durante o caminho soavam como praga, seria bem capaz do cantor se
atrasar para o compromisso.
Carol e Débora se viraram
como podiam e botaram em prática o que haviam aprendido em nihongo. Entendiam praticamente tudo e quase sempre tinham as
respostas na ponta da língua.
Cerca de meia hora
depois, antes mesmo das 9h, elas estavam já instaladas no quarto que iriam
dividir pelas próximas duas semanas.
Apesar da histeria e do
berreiro de Débora, Carol não conseguia parar de pensar no que acontecera no
aeroporto. Sim, Jun notara o pingente, e pelo olhar observador dele em seu
pescoço, ela adivinhou logo que ele relacionara a chave ao colar. Ela se
arrependera assim que mandara a chave com a primeira carta, e como ele nunca
mais tocou no assunto depois de sua primeira resposta inesperada, ela não fez
questão nenhuma de relembrá-lo.
É claro que ela também
beirava a histeria e por dentro sentia que explodiria de felicidade, mas ao
mesmo tempo não conseguia se sentir completamente em paz. Por que ela não
deixara em casa essa bendita corrente? Por que tinha que andar com ela para
onde quer que fosse? Podia ter deixado no Brasil e assim talvez Jun nem sequer
recordasse.
Aquela era uma corrente
que ganhou de sua mãe quando havia completado dez anos. Viera com os dois
pingentes, o coração e a chave. Poderia ser usada por uma pessoa só, assim como
poderia ser dado um dos pingentes para alguém. Sua mãe disse para ela entregar
a chave para a pessoa certa no dia certo, no futuro, quando fosse mais velha. “Não
entendi, mamãe.” ; “Você entenderá um dia, Carol.” Desde então,
Carol não tirou mais a corrente do pescoço e guardou a chave como seu bem mais
precioso.
Obviamente, quando
crescera, Caroline entendeu as palavras de sua mãe, mas nunca soube quem era a
pessoa certa nem nunca chegara o momento de dar a chave a alguém. Ela decidiu
dar junto com a chave uma corrente prateada como a dela, quando o momento chegasse.
Os anos se passaram e a chave ainda continuava com ela.
Até que conheceu o Arashi
e escreveu aquela primeira carta para Matsumoto Jun, incrédula de que chegaria
até ele. Por achar que Jun não receberia a carta, colocou a chave junto no envelope,
sem a corrente. Era tão bom para ela ser fã do grupo; ela era muito
apaixonada pelos cinco, mas o mais novo deles era especial.
Em seu íntimo pensou por
que não? Ela sabia que a possibilidade da chave se perder mundo afora era
grande, mas seu amor e admiração por ele era tão maior que realmente acreditou
que ele era a pessoa a quem deveria entregar o pingente.
O que não esperava era a
reação de Jun ao receber o presente com a carta. Diante das perguntas dele em
relação ao pingente, Carol, envergonhada, resolveu dar uma resposta meio vaga
com medo do que ele pensaria dela se ela contasse a verdadeira história. O
assunto então foi esquecido.
− Carol! – chamou Débora.
Mas ela continuou perdida
em pensamentos e não ouviu a amiga.
− Ei, Carol! – Débora disse,
balançando Carol, que parecia estar dormindo de olhos abertos.
− Gomen, gomen. Estava
distraída. – disfarçando.
− Eu notei. Sabe, você
não me parece muito feliz por estarmos no Nihon!
Poxa! Conhecemos o Matsujun e ainda temos a possibilidade de conhecer os outros
quatro!
− Eu estou feliz, estou
mesmo. Meu coração parece que vai explodir.
− Carol, eu te conheço! –
afirmou Débora com autoridade - Conheço há mais de dez anos. Você está
estranha, desde que chegamos. O que houve?
− Nada demais. É só
que... – ela mesma se interrompeu.
− Fala! Não guarde
segredos de mim, poxa. Sou sua melhor amiga né.
− Só que... acho que Jun
viu o colar. O coração.
− E o que isso tem de
mais?
− Você se esqueceu? Eu
mandei a chave para ele!
− Ah, a chave... – Débora
ficou pensativa.
Depois de alguns
segundos, falou:
− Mas você também! Podia
ter deixado em casa se não queria que ele visse.
− O que vou falar se ele
tocar no assunto?
− Fale a verdade. Mas
acho que ele não dirá nada.
− Como pode ter certeza?
− Não sei. Palpite.
As duas conversavam uma
de frente para a outra. As camas estavam dispostas lado a lado, ambas de
solteiro, e elas estavam sentadas cada uma na sua. Débora se deitou pra trás,
agarrou o travesseiro e disse:
− Senhorita Caroline, se
você continuar pensando tanto e se preocupando à toa, seu cérebro vai fundir! –
bocejando – Uhm, estou com sono. Vou tirar uma soneca. Matsujun disse que nos
ligaria quando fosse almoçar para irmos com ele e os outros. Temos quase 3
horas de sono.
− Aiai! – e Carol também
abriu a boca – Também tenho sono. Segundo nosso relógio biológico, que segue o
horário de Brasília, agora são quase 22h – disse com uma risada cansada
enquanto se aconchegava no travesseiro.
Não se passaram nem cinco
minutos e as duas dormiam um sono profundo.
***
No camarim do Arashi na
JE...
− Jun-pon, você foi
buscar aquela garota das cartas no aeroporto hoje de manhã? – Nino perguntou,
jogando-se no sofá e ligando seu Nintendo.
Tinham acabado de voltar
da reunião que o chefe marcara para aquela manhã. Faltavam apenas três dias
para o show e ele queria acertar os últimos detalhes. Na verdade, os últimos
detalhes mesmo só eram acertados no dia anterior ou no próprio dia do show, mas
Johnny era categórico e prezava a organização e a antecipação. Ele era uma
pessoa que não gostava de imprevistos nem lidava com eles com facilidade. Ele
sempre gostava de tomar decisões de antemão.
A reunião durara mais de
uma hora e eles debateram sobre diversos assuntos. Quando terminou, eles
estavam cansados. Às vezes, essas longas conversas e discussões logo cedo
cansavam mais do que uma tour inteira. Estavam liberados até às 14h,
quando iriam para o estádio ensaiar.
− Ma-tsu-mo-to! O Nino
falou com você – disse Ohno, bagunçando o cabelo do amigo.
Jun estava sentado no
braço do mesmo sofá em que Kazunari se jogara, em silêncio absoluto desde que
chegara para a reunião logo cedo. Nem palpites dera, logo ele, que sempre
opinava, sempre se preocupava e sempre se
jogava de cabeça para que
tudo saísse conforme o combinado.
− Oi? – ele se virou para
Ohno com o olhar perdido – Falou comigo?
− Hai! – respondeu o
mais velho – falei com você, e o Kazu também falou. Você não ouviu?
− Uhm, não ouvi não – Jun
olhou para Nino ao seu lado – O que você disse? Desculpe, estava pensando em
outra coisa.
− Ok, Jun-kun, pode falar
– disse Aiba, colocando o braço em torno do pescoço do amigo – Fala que nós te
escutamos. O que há de errado?
− Não há nada de errado.
− Você foi buscar a tal Karorine no aeroporto afinal? –
prosseguiu Aiba.
− Fui sim. Yui foi
comigo.
− Hum, entendi. E onde
ela está agora?
− Quem?
− Karorine-san, né.
− Pensei que fosse Yui.
Yui voltou pra casa, acho que ela só foi junto para poder se mostrar. Yui é
assim, vocês sabem, ela ama mostrar pra todo mundo que somos namorados, né? Karoru-chan está num hotel com
Débora-san.
− Débora-san é a fã do
Nino, né? – perguntou Sho, pra entrar na conversa.
Nino já nem mais prestava
atenção depois de ter sido ignorado por Jun. Ele apenas se concentrava em não
perder o jogo.
− Hai. Viu Nino? Prepare
seu melhor sorriso pra ela, ok? – Ohno brincou com o amigo que não desviava os
olhos da tela do game.
− É comigo? – perguntou,
ainda não olhando para ninguém.
− KAZU-CHAN, É COM VOCÊ
SIM!!! – gritou Sho bem perto de seu ouvido, e caiu na gargalhada quando Nino
deu um pulo quase até o teto.
Mas o susto não durou nem
cinco minutos e ele estava novamente concentrado.
− De qualquer forma, eu
as chamei para almoçar. Com nós cinco.
− Yui também, né? –
perguntou Aiba, ainda colado ao pescoço de Matsumoto.
− Não. Hoje ela não pode
ir porque tem trabalho na redação.
Yui era jornalista e às
vezes tinha que passar o horário do almoço na revista para conseguirem concluir
a edição até o fim do dia, quando era uma edição especial e recheada. Claro,
com alguma dose de fofocas e especulação. Afinal, qual a revista que não tem
isso nos dias de hoje?
− Bom, então, ainda é
cedo para irmos almoçar. Temos um tempo pra relaxar – comentou Aiba, soltando
Jun do abraço e deitando-se no puff que tinha em um dos cantos.
− Isso! Relaxar! – e Ohno
também se jogou em outro puff que tinha ali.
− Isso! Relaxar! – Sho
falou, imitando o líder. Mas, como não tinha nem sofá nem puff sobrando,
ele teve que se sentar na poltrona mesmo.
Jun ficou apenas olhando
para eles, ainda sentado no mesmo braço de sofá, com os pensamentos cheios de
Caroline. Por que estou pensando nela? Por que fiquei tão preso a ela? Sua beleza
me cativou de um jeito diferente. Ela não é como Yui. Yui... era nela que eu
devia pensar, né?
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