Capítulo 15
Ninomiya Kazunari apareceu
no hotel para pegar Débora meio dia em ponto. Ela acabara de sair do banho
quando ele bateu na porta do quarto. Novamente aquele boné, em uma tentativa
frustrada de esconder o rosto. E um sorriso de orelha à orelha.
− Uhm... ohayou! – ele se adiantou para dar um
beijinho na bochecha de Carol quando ela abriu a porta.
− Ohayou! – ela retribuiu o beijinho dessa vez. É, em tão pouco tempo
Dé tinha contaminado o rapaz com os modos de cumprimento brasileiros.
− Deb está?
Demorou alguns segundos
para relacionar o nome à pessoa; ela ainda não se acostumara com o novo apelido
da amiga.
− Hai! – respondeu, enquanto Débora aparecia às suas costas, já
vestida para sair, maquiada, com os cabelos molhados do banho.
− Ikimasho ka? – Dé se adiantou e, passando a frente de Carol, pegou
a mão de Ninomiya.
− Ikimasho! – Nino segurou a mão dela, aproximou os lábios de seu
rosto e tocou-lhe levemente a bochecha. – Jya
ne, Karorine-san.
− Volto antes das 3h. –
disse Débora - Jya!
Sem esperar pela resposta
de Caroline, os dois seguiram pelo corredor até o elevador, e em menos de um
minuto, já tinham ido embora. Pareciam um casal de namorados, com as mãos
entrelaçadas daquele jeito. O que a Débora está pensando afinal?, ela refletiu
enquanto fechava a porta.
Ficaria sozinha.
Almoçaria sozinha. Carol olhou no relógio e por hábito resolveu que ia descer
para almoçar, embora tivesse comido alguns biscoitos doces enquanto Dé estava
no banho. Mesmo assim, achou que seria de bom tom descer para comer. Além do
mais, queria ver algum movimento, já que sequer saíra daquele quarto ainda.
No restaurante, se sentou
a uma mesa de canto. O garçom, que já estava se acostumando com a presença dela
e da amiga, estranhou que ela estivesse sozinha e comentou isso. Ao que ela
simplesmente respondeu:
− Ela foi almoçar com um
amigo.
Carol fez o pedido e o
rapaz saiu em direção à cozinha. Ela então pôs a mão sobre o queixo e apoiou o
cotovelo na mesa. Pôs-se a pensar. Por Deus, ela só fazia isso nos últimos
dias! Pensar! Não sabia como ainda seu cérebro não havia fundido! Isso era um
mistério para ela.
A conclusão tão óbvia que
ela enxergara aquela manhã devia tê-la reconfortado de alguma maneira. Dar-se
conta de que elas iam embora afinal deveria tê-la aliviado de alguma forma, mas
não. Pelo contrário, deixou-a triste. Será que veria Matsujun de novo?
Provavelmente não. Então, voltaria a ser somente mais uma fã brasileira dentre
milhares que seguiam a vida do cantor por reportagens, matérias jornalísticas e
o viam em fotos e vídeos.
Será que dali a alguns
anos, ou mesmo meses, ouviria a notícia do casamento dele e de Yui? Será que
então ele se lembraria de Caroline? Será que ainda trocariam cartas?
A ideia de continuar
trocando cartas indefinidamente era estranha agora que o conhecera. Agora que ele
a conhecera. É, talvez aquela viagem ao Nihon
fosse o fim da amizade dos dois, afinal.
De repente, Carol foi
tomada por uma sensação horrível de perda e uma tristeza descomunal a atingiu.
Sentiu os olhos encherem de lágrimas ao praticamente ver a cena. Ela e Dé no
aeroporto, com os meninos, talvez a Yui também. Ela dizendo “adeus” para Matsumoto
Jun pela última vez.
O garçom voltou com sua
comida quando uma única lágrima solitária escorreu por sua face.
− Arigatou. – ela disse, secando a
bochecha e os olhos com as costas da mão enquanto ele deixava o prato na sua
frente.
− Ano... aconteceu alguma coisa com a
senhorita? Não está se sentindo bem? – o moço parou e ficou olhando para ela,
com um sorriso complacente e olhar um pouco ansioso. Ele não entendia as
lágrimas femininas nem gostava de ter de lidar com elas.
− Nandemonai. – Carol sacudiu as mãos e
sorriu, como para mostrar que estava bem.
Ele saiu e ela se
distraiu um pouco da tristeza repentina e se focou no alimento que tinha
adiante dos olhos. Já não estava mais chorando.
Ela não gostava de
chorar na frente dos outros. Isto a tornava frágil. Fazia-a parecer vulnerável.
Então, engoliu todo o desalento que sentia. Mas ela chorara ontem no show, e
aquilo não pareceu incomodá-la. O sorriso de Jun ofuscava todo o resto.
Ah, de novo ele!
Caroline tinha que parar com isso logo, antes que a coisa toda piorasse. Débora
havia lhe alertado. Dissera aquilo, né? Que ela ia acabar se apaixonando pelo
Jun. Carol estremeceu ao pensar que isso podia estar acontecendo, e deixou cair
um pedaço de pepino novamente no prato.
Mas Débora já não
tinha mais moral nenhuma para dar conselhos. Lá estava ela agora, com o
Ninomiya, almoçando, e os dois estavam apaixonados. No fim, foi exatamente
isso, ela deixou que seu amor pelo ichiban
virasse um amor de verdade. Oras, então Débora não tinha mais direito
algum de palpitar!
Deixou o prato
vazio na mesa, se levantou e sem nem olhar para os lados, seguiu direto para o
elevador. Ainda bem que ele estava parado no térreo!
***
Yui pegou o celular e
ligou. Chamou uma, duas, três, quatro vezes, até que seu namorado atendeu.
− Moshi-moshi!
−Yui, amor, estava com
saudades... – ele disse, mas sua voz não demonstrava todo o entusiasmo que
ele queria.
Ela revirou os olhos. Por
que ele não era simplesmente sincero? Mas resolveu entrar no jogo e disse, toda
melosa:
− Eu também, vida! Vocês
já estão no estádio? Ah, é uma pena, mas não conseguirei sair daqui antes das
5h da tarde. Então terei que ir direto, sem nem poder passar no camarim pra te
dar um beijo.
− Uhm. Por que vai
sair tão em cima da hora? – sua voz era indiferente, como se não importasse
se ela ia chegar a tempo pro show, se chegaria atrasada ou se nem ia.
Yui sentiu a raiva
aumentar e quis matar a “fulaninha”. Sabia que ela tinha culpa no cartório, só
não sabia qual a extensão dessa culpa.
−Surgiram uns
probleminhas aqui, e meu chefe pediu pra eu ficar um pouco mais.
− Tá bom então, eu
entendo. Que pena né? A gente se vê depois do show então?
− Hai! – ela respondeu, enquanto procurava a chave do carro na bolsa.
− Jya ne Yui. Kisus.
− Kisus – ela desligou o celular e jogou dentro da bolsa aberta,
pendurada no braço, enquanto com a mão livre abria a porta.
Ela já planejara seu
itinerário. Olhou no relógio. Eram 3h ainda, dava tempo. Tudo que ela queria
era dizer umas verdades. Queria que a burajirujin
ouvisse o que ela, Uemura Yui, tinha a dizer.
***
Carol estava no quarto.
Dorminhoca como era, e para evitar pensar besteiras, ela simplesmente se jogou
na cama depois do almoço. Remexeu-se, se espreguiçou e olhou no relógio. Débora
já devia ter chegado.
Ficou em pé e com um
longo bocejo caminhou até o banheiro. Estava com a cara toda babada do lado que
ficou de encontro ao travesseiro. Olhou-se no espelho: além de babada, estava
toda amassada e vermelha. Abriu a torneira, uniu as mãos em concha e jogou água
no rosto.
Enquanto se enxugava,
alguém bateu na porta. Será que a Débora esqueceu o cartão?, pensou
enquanto ia até a porta. Olhou pelo olho mágico e não acreditou. Parada ali,
estava Uemura Yui, a namorada de Matsumoto Jun.
***
Quando Débora entrou no
hotel, Yui estava indo embora. Passou por ela sem olhá-la e saiu batendo o pé.
O manobrista já trouxera o carro e deixou a chave na ignição com a porta
aberta, então ela somente entrou e arrancou, pisando fundo no acelerador.
Nino, que estava com o
carro estacionado atrás do dela, olhou espantado, mas não disse nada, já estava
dando partida também. Eram quase 5h e ele dissera que estaria no Estádio às 3h.
Se não chegasse em cinco minutos, estaria ferrado. Se é que já não estava
ferrado. Matsujun devia estar cuspindo fogo pelas ventas. Mandou um beijinho
para Deb e foi embora.
Débora seguiu apressada
para o quarto, ela sabia (na verdade, ela sentia mais do que sabia)
que Uemura Yui foi até o hotel por causa de Carol. Estava preocupada com a
amiga. Desde o princípio achara que essa namorada do Matsumoto não era lá muito
boazinha. De repente, teve medo que ela tivesse brigado com Caroline, batido
nela ou algo assim. Sem paciência para esperar pelo elevador, correu escadas
acima e logo estava parada, ofegante, em frente à porta do quarto procurando o
cartão na bolsa.
Achou o cartão, abriu a
porta e avançou, gritando:
− Carol! Carol!
− Calma, Dé, to aqui no
banheiro – Carol respondeu com a voz meio falha de quem ainda estava se
recuperando de um golpe.
Ela correu para o
banheiro e encontrou a amiga sentada na tampa do vaso sanitário, com as pernas
dobradas, como índio, os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça descansando
nas mãos. Tinha os olhos vermelhos e brilhantes de quem andara chorando.
Débora foi até a amiga e
a abraçou.
− Carol, o que aconteceu?
***
− Cadê o Ninomiya?! –
Matsumoto Jun andava de um lado para o outro, passando as mãos nos cabelos a
cada cinco segundos.
− Matsujun, assim você
vai fazer um buraco no chão – disse Ohno, e os quatro riram.
− Ele disse 3h! Já são
mais de 5h!
− Eu sei – Sho também
estava preocupado. Faltava menos de meia hora para o show começar.
− Ele deve estar chegando
– comentou Aiba, aparentado uma calma que ele na verdade não tinha, pois sempre
ficava muito nervoso antes de um concerto, ainda mais com um integrante
faltando.
− Eu vou tentar mais uma
vez! – Jun pegou novamente o celular.
Na última hora, tinham
ligado umas 20 vezes e Nino não atendia ao telefone. Chamava até cair na caixa
postal.
Quando Matsumoto ia
praguejar novamente, já que caíra outra vez na caixa postal, Ninomiya adentrou
o camarim.
− Minna! Konichiwa! – ele
ergueu a mão direita em cumprimento.
Jun fuzilou o amigo com
os olhos.
− Onde o senhor estava,
Ninomiya Kazunari?
− Estou vindo do hotel
agora, fui deixar a Deb...bora-san.
A cólera de Jun passou e
ele foi assaltado por uma esperança fugidia. Queria que Caroline o visse
cantando novamente, mas não conseguira ingressos para os dois shows.
− Ano... – Jun sentiu o calor da ansiedade subir e temeu que tivesse
deixado transparecer. Tentou parecer casual – Você viu a Karoru-chan?
Ela... e Débora-san... vêm?
− Não vêm, você sabe, não
tinha mais ingressos, nem nada. Mas não a vi não – Kazu caminhou calmamente
para o sofá; ainda faltavam vinte minutos e ele queria descansar um pouco.
− Só que eu vi outra
pessoa lá – continuou – Yui-san estava saindo apressada quando deixei a Deb. –
ele falou Deb na frente de todos e nem notou.
Jun arregalou os olhos,
encarando o outro desacreditado:
− Êeeee? A Yui???
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