Capítulo 14
No dia seguinte, sábado,
Caroline foi a primeira a acordar, às 11h da manhã. Ela e Débora ficaram
conversando até quase 4h e quando finalmente decidiram dormir, foi instantâneo:
no segundo seguinte, estavam ressonando.
Enquanto a amiga
dormia, Carol decidiu ir tomar banho no intuito de processar as
revelações e surpresas do dia anterior.
O que Dé contou
sobre a conversa que tivera com Kazunari na noite passada ainda ecoava em sua
cabeça. Ele havia se declarado de uma maneira tão inesperada que era até
difícil de acreditar. Antes do sorriso que ele deu no show, nada indicava que
Dé tinha tocado seu coração de qualquer forma.
Mas, pensando
bem, faz algum sentido, ela pensou enquanto ligava o chuveiro e entrava em
baixo d'água que caiu gelada sobre sua pele quente. Faz muito sentido até.
Débora foi tão espontânea desde o primeiro momento. Sem pensar muito pulou
no pescoço do Nino quando o viu pela primeira vez, pondo em prática o que eu
quis fazer com o Matsujun.
Uhm... o Jun. Eu
não podia simplesmente me agarrar a ele, isso vai contra minha natureza, e
ainda por cima... tem a Yui, né? Aiai, Caroline Caroline... onde você tá se
metendo? Cuidado viu, Caroline deu um sorriso nervoso quando fez a si mesma
essa pergunta, ao passar o condicionador nos cabelos.
Bom, ele cantou,
e isso deve significar alguma coisa. Para mim, eu sei. Ele me olhou e sorriu...
ai, espero que a Yui não tenha notado. Poxa vida! Tudo que eu quero
é não magoar o Jun e a Yui. É evidente que eles se amam; bom, pelo menos
nas cartas que ele me mandava transparecia isto.
Droga! Mas então por
que eu to me sentindo assim? Por que de repente eu já não consigo torcer com
sinceridade pela felicidade dele ao lado dela? Será que... será que o que sinto
pelo Jun é...? Mas não pode!
Não, eu não posso
atrapalhar. Não vim aqui pra isso! Daí, Deus me livre, se eu bagunço a vida
dele e simplesmente vou embora, deixando pra trás um pequeno rastro de
infelicidade.
Isso, eu vou embora
daqui a apenas alguns dias. Ótimo ter conhecido o Jun e os meninos, mas pronto,
eu e Dé vamos embora de volta pro Brasil e fim de papo! É isso aí.
Seus pensamentos se
calaram por um instante enquanto ela esfregava os pés, com o corpo inclinado
para frente. Depois, se levantou e quando ia começar a ensaboar o corpo, outro
pensamento, mais horrível que qualquer outro que tivera, até mesmo quando
pensou que talvez poderia atrapalhar a felicidade do Matsujun, surgiu.
− A...
Iniciou o grito, mas
parou assim que abriu a boca e deixou escapar o primeiro som. Não queria
acordar Débora nem assustá-la, o que inevitavelmente aconteceria se ela fosse
despertada do sono por um grito meio desesperado e nervoso vindo do banheiro.
Então, o grito continuou apenas em sua cabeça.
Ahhhhhhh! Não, não,
não! Será que a Débora está tão apaixonada assim pelo Nino que nem se
deu conta?? Eu e ela, no próximo sábado! Nós vamos voltar, droga! Dé, por que
você deu corda pra ele? Só pra dizer adeus e deixá-lo sofrendo?
Tadinho do Kazu-chan!
Débora, baka! O que você vai
fazer agora?
Carol terminou de se
lavar, fechou o chuveiro e se enxugou, ainda resmungando em silêncio. Não era
justo isto que Débora ia fazer afinal! Será que ela realmente não tinha
se dado conta? Ela ia voltar pro Brasil, tinha uma vida lá, família, amigos,
emprego. Saiu do banheiro já vestida, secando os cabelos com a toalha e pronta
para tirar a amiga da cama e fazê-la enxergar a realidade.
Ela não podia permitir que
o Ninomiya Kazunari se apaixonasse ainda mais e sofresse quando as duas
partissem.
− Ei, Dé! – Carol deu uma
leve sacudida na amiga, com a toalha enrolada no cabelo – Acorde!
Débora resmungou algo
ininteligível e se virou para o outro lado, escapando do toque de Caroline.
Esta foi mais firme.
− Acorde, Dé! Preciso
conversar com você!
De repente, Débora sentou
na cama e arregalou os olhos.
− Que horas são?
− 11h30 da manhã – Carol
respondeu, com um pequeno sorriso, e revirou os olhos quando completou:
− O relógio está do seu
lado.
De fato, tinha um relógio
sobre o criado-mudo entre as duas camas. Mas Débora não se lembrou disso, ainda
estava meio dormindo, mas pela pressa insistente da amiga, só podia ser tarde.
Então, ela se lembrou do que tinha combinado com Nino na noite anterior.
− Ahh! O Nino... ele me
chamou pra almoçar hoje!
Carol olhou com cara de
dúvida. Dé não tinha comentado nada disso antes. E em dias de shows, ela achou
que os meninos não tinham tempo para coisas assim tão banais.
− É verdade. Caramba!
Dormi demais, eu tenho que me arrumar! Será que dá tempo de uma ducha?
Ela já estava em pé e
vasculhava a mala atrás de uma roupa legal, descontraída e casual, mas ao mesmo
tempo bem bonita e elegante, bem ao seu estilo. Carol ainda se perguntava se
ele havia se esquecido do show, não era possível que tivesse a convidado para
almoçar neste dia!
***
Estavam os cinco no
apartamento de Sho. Jun ocupava o sofá inteiro, completamente relaxado enquanto
tirava uma soneca, mesmo com os outros rindo e conversando. Ele só conseguira
pegar no sono quase duas horas depois que o Riida
fora embora. Ficou refletindo, deitado novamente no escuro, em toda a conversa
que tiveram. E quando finalmente dormiu, teve sonhos (ou seriam pesadelos?) com
Yui flagrando ele junto de Carol e suas lágrimas de tristeza e ódio. Conclusão:
acordou às 10h, ainda com muito sono, e quando chegou ao apartamento, a
primeira coisa que fez foi se jogar no sofá.
Nino estava deitado no
chão, no tapete da sala, com Aiba ao seu lado e os outros dois no sofá que
restava. Estavam tendo uma conversa descontraída, e Nino insistentemente falava
das duas estrangeiras. Na verdade, ele falava mais de Débora, mas ainda não
tivera coragem o suficiente para contar a nenhum deles o que fizera na noite
anterior, nem mesmo para o Ohno. Mas a cada cinco minutos olhava
disfarçadamente no relógio. Ainda eram 11h, ainda tinha tempo até meio dia,
quando marcara de pegar Deb no hotel.
Aliás, era bom ele
arranjar um bom motivo para sair assim, para almoçar com uma turista, no dia do
show. Mas talvez falasse simplesmente a verdade.
Ohno caiu na cama, do
mesmo jeito que estava quando chegou do apartamento do Matsujun, e em questão
de uma fração de segundo, roncava alto. Acordara somente no dia seguinte, às
9h30 da manhã, tomara um banho, se livrando daquela roupa que cheirava a suor,
bebida e cigarro, e fora para a casa de Sho, onde eles tinham combinado de
ficar até ir para o Estádio, para o segundo show.
E agora, completamente
desperto, ouvia atentamente o que era falado, ria às vezes e concordava nas
horas certas. Mas a verdade é que notara que o Nino estava estranho, diferente
como o outro membro mais novo do Arashi. Será que ele também estava apaixonado?
Aiba ficou de lado no
tapete, se apoiando sobre o cotovelo, e começou a cutucar Jun, que dormia. Ele,
em seu sono, se remexeu e tentou afastar a mão do Masaki, virando para o
encosto do sofá, e todos eles riram. Sho então saiu do puff e foi
cutucá-lo também. Jun acordou e se sentou.
− O que vocês estão
fazendo, Aibaka e Sho-chan baka? –
ele fez cara de bravo e lutou com os braços, para afastar os dois, que
insistiam em cutucá-lo e riam cada vez mais.
Sua atitude tão típica e
seu olhar tão irônico e bravo fez Nino e Ohno se juntarem aos outros dois.
− Parem! – Jun gritou e
rapidamente saiu do sofá e foi para longe do alcance das mãos.
Sua intenção era brigar
com eles, mas vendo as expressões felizes, não se controlou e sorriu. Em menos
de dois minutos, estava gargalhando com todos.
− Acordou, bela
adormecida? – Sho perguntou, em meio a uma risada.
Nisso, Nino novamente
olhou no relógio e deu um salto.
− Rapazes, tenho que ir!
É quase meio –dia!
− E daí, Kazu? – Jun
olhou para ele, já não mais gargalhando, mas ainda com um sorriso no rosto e a
essa altura, com o rosto ruborizado e coberto de gotículas de suor.
− Tem que ir pra onde? –
quis saber Aiba.
− Ano...
Nino não sabia direito o
que responder. Sabia que não iam entender se ele dissesse de uma hora pra outra
que estava apaixonado. Ainda mais por uma “desconhecida”.
− Vamos, Kazu-chan! –
Ohno disse – É a Débora-san?
Nino olhou para o Riida pasmo. Como ele sabia? Ohno
percebeu sua confusão.
− Calma! É que...Você
falou muito dela hoje, né? – ele apressou-se em explicar.
− E... eu... falei? –
Nino gaguejou. Droga, Oh-chan! Quanto será que eu falei sem perceber?,
completou em pensamento.
− Débora-san?? – os pares
de olhos restantes se voltaram para ele, espantados.
− Errr... – e agora? Nino
não sabia o que fazer – Uhm, hai. Hai, hai!
- Ele não teve alternativa a não ser concordar – Vou almoçar com ela.
− O quê? – quatro vozes
gritaram juntas.
− Depois eu explico. Vou
direto para o Estádio, às 3h. A gente se vê lá – ele se encaminhou para a
porta – Já está em cima da hora... – resmungou, balançando a cabeça e
chacoalhando a chave do carro com a mão.
***
Yui sairia mais cedo
aquele dia também, então tinha que deixar tudo pronto para a segunda-feira
seguinte.
Enquanto revisava a matéria
para a edição daquela semana, que ela escrevera no dia anterior, tudo o que
conseguia pensar era em Matsumoto e a burajirujin.
O que ele pensava afinal? Que ela, Uemura Yui, uma jornalista renomada, que
tinha um feeling todo especial para coisas inesperadas, não ia entender?
Droga!
Ele era muito baka mesmo! Demorou um pouco, mas ela
entendeu. A música fora para ela, afinal! Por quê? E justo One Love, que tinha uma letra tão
poderosa. Uma verdadeira declaração de amor que ele cantou. Seu
Matsumoto Jun. Cantou para outra!
Ahhh! Ele com certeza ia
ter que se explicar!! Yui sentiu a raiva crescer dentro de si e
inconscientemente começou a amassar a folha de papel em sua mão.
− Uemura-san! – seu chefe
entrou na sala – O que está fazendo?
Nesse momento, Yui
despertou de seu devaneio e notou que a folha amassada era o artigo que estava
revisando. Relaxou os dedos e soltou a folha sobre a mesa.
− Ano... nada demais, eu acho. Desculpe, termino aqui em cinco
minutos.
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