Capítulo 4
Carol notou que Jun estava com o
olhar congelado na corrente em seu pescoço e, como num ato-reflexo, levou sua
mão até o pingente, deixando a mala solta, que acabou caindo no chão por causa
do peso.
− Carol! Sua mala! – Débora se
esforçou para levantá-la – Aff ! O que você tem aqui dentro? Chumbo?
Caroline ignorou o comentário da
amiga, tirou a mão do colar e segurou novamente a mala. Jun a observava
atentamente enquanto fazia isto.
A moça era bem bonita; ele não havia
prestado tanta atenção no quesito “beleza” naquela foto que ela havia mandado um
tempo atrás. Ela não devia ter mais que 1.60m de altura; tinha os cabelos
castanhos curtos e levemente cacheados, olhos também castanhos e uma pele clara
que parecia tão macia que fez Jun sentir o desejo de tocá-la.
Ele estava boquiaberto. Nunca vira
uma moça com beleza assim tão simples.
Não estava de maquiagem e parecia
estar bastante cansada, pois passou 24 horas dentro do avião. Mesmo assim, ela
parecia tão bela ao que seus olhos enxergavam... para ele, era uma beleza tão
natural que independia de aparatos externos.
− Ano... Matsujun né? Hajimemashite – Débora adiantou-se e deu
um beijinho na bochecha dele, enquanto Caroline levantava a mala. O susto do
beijo repentino e inesperado tirou-o de seus devaneios.
− Hai, Matsumoto desu. – ele respondeu, surpreso com o que aquela
garota fizera, tratando-o com toda aquela intimidade mesmo sem conhecê-lo – Hajimemashite. Acho que... você é
Débora-san, não é?
− Hai, hai – Débora esticou o pescoço para ver Yui que estava mais
atrás.
Débora ia perguntar quem era e
cumprimentá-la, embora já deduzisse que era a Yui de quem sua amiga
havia falado, mas Carol acabou interrompendo o momento:
− Sumimasen – parando
ao lado de Débora, ereta, com a mala apoiada em sua perna – Eu sou Caroline
Ferraz, hajimemashite! – curvando-se
e dizendo em seguida: - Que mal educada eu sou, deixando a mala cair desse
jeito e nem dando atenção a vocês que vieram nos buscar aqui tão cedo!
− Olá! Errr... Karorine-san. – disse Jun desconcertado.
− Nossa, quanta formalidade! –
comentou Débora – Não é, Jun? – e deu um tapinha no ombro dele.
Jun pôs a mão sobre onde recebera o
tapa e ficou olhando para ela com cara de quem não entendeu nada.
Yui olhou feio para Débora, pois não
gostou nenhum pouco da atitude dela.
− E você é íntima demais, espalhafatosa
e muito informal, não acha? – Carol disse, dando um sorriso amarelo para Jun e
empurrando delicadamente a amiga.
Yui observava tudo em silêncio com
olhar aborrecido; sua expressão era de “poucos amigos”.
Carol sorriu simpaticamente para
quebrar o gelo e novamente voltou a falar:
– A propósito,
– olhando a moça - você deve ser Yui-san, né? Hajimemashite Ferraz Caroline desu. Yoroshiku onegaishimasu. – curvando-se e olhando de lado para que
Débora fizesse o mesmo.
Yui olhou as duas e retribuiu
educadamente o gesto, mas não havia gostado das amigas gaijins que Jun
havia arranjado. “Por que meu namorado teve que se envolver com elas?”
pensou.
Depois do cumprimento e, em um ato
de provocação, agarrou-se à Jun igual a um gato com o novelo de lã e sussurrou
de modo que as duas pudessem ouvir:
− Amor, olha a hora! Já
são quase 8h e você tem reunião com Johnny-san às 8h30 né? – manhosa.
− Yui, eu já lhe disse que não quero
que você me agarre assim em público! – Matsumoto tirando nervosamente as mãos
dela – Isto é um aeroporto! Eu sei muito bem que tenho uma reunião, não precisa
me avisar!
A moça ficou sem graça com a
situação e surpresa por ele ter ficado daquele jeito. Afastou-se um pouco e
ficou com um olhar que misturava tristeza e raiva.
Débora, olhando o caso,
pensou: “Tadinha! Como o Matsujun trata mal a pobrezinha”.
Carol, incomodada com aquilo e não
querendo mais atrapalhar Jun, falou:
- Bom, é melhor irmos logo, não?
Em menos de dez minutos estavam na
saída do aeroporto. Jun empurrando o carrinho com as malas, as duas a seu lado
conversando e Yui um pouco atrás. Ela não conseguia entender o que elas
faziam ali e porque seu namorado se envolvera com elas.
Como Johnny Kitagawa permitira isto?
Ele era como uma águia com garras de ferro que protege o ninho contra
aproveitadores. Fora um sacrifício para ela e Matsumoto terem a permissão
dele para namorar, mas permitir que umas fulaninhas enxeridas se
envolvessem... como era possível??
− Matsumoto-san... – começou Carol,
mas Jun imediatamente a interrompeu, largando o carrinho e olhando para ela.
− Apenas Jun, por favor – e virou-se
para Débora – Ensine a ela que sou apenas o Matsujun. O mesmo que ela viu em
fotos nos últimos anos. Com certeza, a Karoru
não me chamava de san, não é?
− Não, não mesmo! – Débora respondeu,
sorrindo ao notar que Carol corava intensamente.
− Ok. Jun... – Caroline testou, em
voz baixa – Jun, então – em voz mais alta, já falando para ele – se você
preferir, eu e a Dé pegamos um táxi.
− Não! – ele quase gritou.
O que Caroline estava falando? Ele
não iria deixá-las no meio do caminho; havia ido para recepcioná-las e
guiá-las. Yui deve ter amedontrado as meninas com seu ciúme excessivo e seu
sentimento de posse sobre ele.
– Vim hoje até aqui não somente para
cumprimentá-las no aeroporto, mas para fazer o serviço completo, né?
− Mas e sua reunião?
− É só 8h30, temos tempo! Isso é
história da Yui. Não vou me atrasar só por levá-las até o hotel.
Dizendo isso, ele novamente começou
a conduzir o carrinho e voltaram todos a andar. Foram até o carro no
estacionamento e ele colocou as bagagens no porta-malas.
Obviamente, Yui seguiu na frente, no
banco do passageiro ao lado de Matsumoto. As duas garotas foram atrás, sem
dizer nada a viagem toda. Jun até tentou descontrair um pouco e tentar
aproximar as três, mas era notório que nenhuma delas queria essa aproximação.
Caroline pensava apenas que deveria
sim se tornar amiga de Yui, mas algo a impedia. Pensar nela como a namorada do
Jun a incomodava, mas ela não sabia ao certo o porquê. Ficara
realmente feliz quando soubera que ele estava namorando e ainda mais feliz ao
saber que Johnny-san permitira, pois ouvia horrores a respeito dos cantores
ligados à JE serem privados da vida amorosa. Mas agora... bem, já não estava
mais feliz, não completamente. Débora já a alertara sobre isso. Fãs que acabam
confundindo o sentimento de fã com um sentimento mais sólido e mais próximo de
algo real. Isso estava acontecendo com ela?
Débora, por sua vez, pensava na
amiga antes de qualquer outra coisa e não tentaria ficar amiguinha de Yui a
ponto de magoar Carol de alguma forma. Não que Caroline tivesse dito qualquer
coisa contra Yui alguma vez na vida. Muito pelo contrário, ela vibrara em cada
momento e disse até que queria ser convidada para o casamento, uma vez em
carta, por brincadeira. Mas Débora notou que ela não queria muito papo com a
namorada de Jun; talvez fosse apenas um desconforto inicial, então ela, como
melhor amiga de Carol, não daria muita conversa à outra também.
E sobre Yui... ela não conseguia
deixar de pensar que aquelas duas brasileiras eram absolutas intrusas na vida
dela e de Matsumoto. Não queria ficar muito próxima a elas, somente as iria
aturar enquanto ficassem no Japão, já que seu namorado se oferecera para fazer
companhia a elas e “servir de guia turístico” durante as duas semanas
que estariam no Nihon. Então,
não ia simplesmente fazer a vontade dele e se aproximar.
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