E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sábado, 9 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 4


Capítulo 4

Carol notou que Jun estava com o olhar congelado na corrente em seu pescoço e, como num ato-reflexo, levou sua mão até o pingente, deixando a mala solta, que acabou caindo no chão por causa do peso.
− Carol! Sua mala! – Débora se esforçou para levantá-la – Aff ! O que você tem aqui dentro? Chumbo?
Caroline ignorou o comentário da amiga, tirou a mão do colar e segurou novamente a mala. Jun a observava atentamente enquanto fazia isto.
A moça era bem bonita; ele não havia prestado tanta atenção no quesito “beleza” naquela foto que ela havia mandado um tempo atrás. Ela não devia ter mais que 1.60m de altura; tinha os cabelos castanhos curtos e levemente cacheados, olhos também castanhos e uma pele clara que parecia tão macia que fez Jun sentir o desejo de tocá-la.
Ele estava boquiaberto. Nunca vira uma moça com beleza assim tão simples.
Não estava de maquiagem e parecia estar bastante cansada, pois passou 24 horas dentro do avião. Mesmo assim, ela parecia tão bela ao que seus olhos enxergavam... para ele, era uma beleza tão natural que independia de aparatos externos.
− Ano... Matsujun né? Hajimemashite – Débora adiantou-se e deu um beijinho na bochecha dele, enquanto Caroline levantava a mala. O susto do beijo repentino e inesperado tirou-o de seus devaneios.
Hai, Matsumoto desu. – ele respondeu, surpreso com o que aquela garota fizera, tratando-o com toda aquela intimidade mesmo sem conhecê-lo – Hajimemashite. Acho que... você é Débora-san, não é?
Hai, hai – Débora esticou o pescoço para ver Yui que estava mais atrás.
Débora ia perguntar quem era e cumprimentá-la, embora já deduzisse que era a Yui de quem sua amiga havia falado, mas Carol acabou interrompendo o momento:
Sumimasen – parando ao lado de Débora, ereta, com a mala apoiada em sua perna – Eu sou Caroline Ferraz, hajimemashite! – curvando-se e dizendo em seguida: - Que mal educada eu sou, deixando a mala cair desse jeito e nem dando atenção a vocês que vieram nos buscar aqui tão cedo!
− Olá!  Errr... Karorine-san. – disse Jun desconcertado.
− Nossa, quanta formalidade! – comentou Débora – Não é, Jun? – e deu um tapinha no ombro dele.  
Jun pôs a mão sobre onde recebera o tapa e ficou olhando para ela com cara de quem não entendeu nada.
Yui olhou feio para Débora, pois não gostou nenhum pouco da atitude dela.
− E você é íntima demais, espalhafatosa e muito informal, não acha? – Carol disse, dando um sorriso amarelo para Jun e empurrando delicadamente a amiga.
Yui observava tudo em silêncio com olhar aborrecido; sua expressão era de “poucos amigos”.
Carol sorriu simpaticamente para quebrar o gelo e novamente voltou a falar:
 – A propósito, –  olhando a moça - você deve ser Yui-san, né? Hajimemashite Ferraz Caroline desu. Yoroshiku onegaishimasu. – curvando-se e olhando de lado para que Débora fizesse o mesmo.
Yui olhou as duas e retribuiu educadamente o gesto, mas não havia gostado das amigas gaijins que Jun havia arranjado. “Por que meu namorado teve que se envolver com elas?” pensou.
Depois do cumprimento e, em um ato de provocação, agarrou-se à Jun igual a um gato com o novelo de lã e sussurrou de modo que as duas pudessem ouvir:
− Amor, olha a hora!  Já são quase 8h e você tem reunião com Johnny-san às 8h30 né? manhosa.
− Yui, eu já lhe disse que não quero que você me agarre assim em público! – Matsumoto tirando nervosamente as mãos dela – Isto é um aeroporto! Eu sei muito bem que tenho uma reunião, não precisa me avisar!
A moça ficou sem graça com a situação e surpresa por ele ter ficado daquele jeito. Afastou-se um pouco e ficou com um olhar que misturava tristeza e raiva.
Débora, olhando o caso, pensou:  “Tadinha! Como o Matsujun trata mal a pobrezinha”.
Carol, incomodada com aquilo e não querendo mais atrapalhar Jun, falou:
- Bom, é melhor irmos logo, não?
Em menos de dez minutos estavam na saída do aeroporto. Jun empurrando o carrinho com as malas, as duas a seu lado conversando e Yui um pouco atrás. Ela não conseguia entender o que elas faziam ali e porque seu namorado se envolvera com elas.
Como Johnny Kitagawa permitira isto? Ele era como uma águia com garras de ferro que protege o ninho contra aproveitadores. Fora um sacrifício para ela e Matsumoto terem a permissão dele para namorar, mas permitir que umas fulaninhas enxeridas se envolvessem... como era possível??
− Matsumoto-san... – começou Carol, mas Jun imediatamente a interrompeu, largando o carrinho e olhando para ela.
− Apenas Jun, por favor – e virou-se para Débora – Ensine a ela que sou apenas o Matsujun. O mesmo que ela viu em fotos nos últimos anos. Com certeza, a Karoru não me chamava de san, não é?
− Não, não mesmo! –  Débora respondeu, sorrindo ao notar que Carol corava intensamente.
− Ok. Jun... – Caroline testou, em voz baixa – Jun, então – em voz mais alta, já falando para ele – se você preferir, eu e a Dé pegamos um táxi.
− Não! – ele quase gritou.
O que Caroline estava falando? Ele não iria deixá-las no meio do caminho; havia ido para recepcioná-las e guiá-las. Yui deve ter amedontrado as meninas com seu ciúme excessivo e seu sentimento de posse sobre ele.
– Vim hoje até aqui não somente para cumprimentá-las no aeroporto, mas para fazer o serviço completo, né?
− Mas e sua reunião?
− É só 8h30, temos tempo! Isso é história da Yui. Não vou me atrasar só por levá-las até o hotel.
Dizendo isso, ele novamente começou a conduzir o carrinho e voltaram todos a andar. Foram até o carro no estacionamento e ele colocou as bagagens no porta-malas.
Obviamente, Yui seguiu na frente, no banco do passageiro ao lado de Matsumoto. As duas garotas foram atrás, sem dizer nada a viagem toda. Jun até tentou descontrair um pouco e tentar aproximar as três, mas era notório que nenhuma delas queria essa aproximação.
Caroline pensava apenas que deveria sim se tornar amiga de Yui, mas algo a impedia. Pensar nela como a namorada do Jun a incomodava, mas ela não sabia ao certo o porquê.  Ficara realmente feliz quando soubera que ele estava namorando e ainda mais feliz ao saber que Johnny-san permitira, pois ouvia horrores a respeito dos cantores ligados à JE serem privados da vida amorosa. Mas agora... bem, já não estava mais feliz, não completamente. Débora já a alertara sobre isso. Fãs que acabam confundindo o sentimento de fã com um sentimento mais sólido e mais próximo de algo real. Isso estava acontecendo com ela?
Débora, por sua vez, pensava na amiga antes de qualquer outra coisa e não tentaria ficar amiguinha de Yui a ponto de magoar Carol de alguma forma. Não que Caroline tivesse dito qualquer coisa contra Yui alguma vez na vida. Muito pelo contrário, ela vibrara em cada momento e disse até que queria ser convidada para o casamento, uma vez em carta, por brincadeira. Mas Débora notou que ela não queria muito papo com a namorada de Jun; talvez fosse apenas um desconforto inicial, então ela, como melhor amiga de Carol, não daria muita conversa à outra também.
E sobre Yui... ela não conseguia deixar de pensar que aquelas duas brasileiras eram absolutas intrusas na vida dela e de Matsumoto. Não queria ficar muito próxima a elas, somente as iria aturar enquanto ficassem no Japão, já que seu namorado se oferecera para fazer companhia a elas e “servir de guia turístico” durante as duas semanas que estariam no Nihon. Então, não ia simplesmente fazer a vontade dele e se aproximar.

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