E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

domingo, 17 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 12


Capítulo 12

Alguém bateu na porta quando elas ainda gargalhavam deitadas e encolhidas na cama de solteiro.
− Pronto, agora... arf, arf... – Caroline ficou em pé, controlando a risada, arfando – você conseguiu! Tenho certeza que alguém veio aqui reclamar de nós.
Débora se sentou no mesmo instante e calou na hora. Com um sorriso largo, descontraído, mas com um pouco de amargura, disse:
− Ei, mas você, dessa vez, também estava fazendo barulho.
Carol foi abrir a porta, passando as mãos pelos cabelos e pela roupa, para dar uma aparência de normalidade ao fato de seu rosto estar vermelho por completo, afogueado, e a testa molhada de suor. Esperava justificar o pequeno escândalo com um rosário de desculpas esfarrapadas quando espiou pelo olho mágico já com a mão na maçaneta. O que viu, ou melhor, quem viu, a deixou completamente sem ação.
Alguém desavisado poderia facilmente não distinguir aquele homem de qualquer outro jovem por aí que anda pelas ruas à noite, sem nada pra fazer. Mas Caroline o reconheceu instantaneamente e, mesmo com aquele boné, ele era tão familiar, tão inconfundível que ela se perguntou como as fãs japonesas não o atacavam a cada cinco minutos nas ruas. Era como se ela tivesse convivido com ele todos os dias nos últimos quatro anos, embora só o tivesse visto em fotos, DVD's de shows de programas de TV.
Débora então se adiantou, deu uma leve empurradinha na amiga e abriu a porta. Parou no mesmo instante, tão perplexa quanto a outra, ou até mais. Olhou estarrecida para ninguém menos que Ninomiya Kazunari.
As duas, ainda estáticas, deram-se as mãos. A de Caroline estava gelada, mas a de Débora suava. O silêncio se prolongou por um ou dois minutos, quando Nino o quebrou, dizendo:
− Errr... posso entrar?
As duas não disseram nada, ainda pasmas. Qual a probabilidade de um astro aparecer na porta de seu quarto de hotel subitamente, o relógio batendo quase meia noite? Nenhuma, se você é uma completa desconhecida, uma pessoa “normal”. Era o que elas eram, normais. E ainda por cima estrangeiras. E ainda por cima tão comuns.
Ele falou de novo, dessa vez avançando um pouco, se aproximando. Falou devagar, sílaba por sílaba, como quem fala para surdos:
− O-lá!!! Me-ni-nas!!! Pos-so en-trar? – ele temia que elas ainda tivessem dificuldades em entender seu japonês.
Carol foi a primeira a sair do estado de dormência. Ficou ereta e abriu passagem a Ninomiya.
− Mas claro!
Ele entrou e ela continuou, enquanto ele soltava o boné que escondia parcialmente seu rosto no aparador do pequeno corredor:
− Como... você chegou até nós? Digo, como descobriu qual é nosso quarto?
− Nada que uma boa conversa não resolva.
Débora não gostou daquela pequena ênfase que ele deu e, finalmente despertada do êxtase, enxugou as mãos na camiseta e piscou os olhos. Essa boa conversa a fez pensar na recepcionista simpática que sempre as atendia. Instantaneamente, um vinco se formou em sua testa, quando lhe ocorreu que ele poderia ter gostado da pequena conversa.
Mas essa distração passou rápido, seguida de imensa admiração e choque.
− Ah, não acredito! - ela gritou.
Os dois olharam para ela ao mesmo tempo. Agora Nino e Carol estavam do lado de dentro do quarto olhando em direção à Débora, ainda na porta. Ela tinha o queixo caído formando um O perfeito com os lábios. Pigarreou:
− Por... que... por que você... por que você está... aqui? - apontou para baixo com o dedo indicador.
Kazunari deu uma risada leve que soou como música aos ouvidos sonhadores dela e disse que viera para conversar. “Com Débora-san”, ele completo

***

Matsumoto Jun caminhou até a porta, impaciente. "Será que é Yui?", ele pensou, "Que péssima hora! Ela não se deu conta de que não ?!". Ele estava ainda atônito com a descoberta que fizera e quando Yui surgiu assim (era ela mesmo? Ele não tinha dúvidas), tocando a campainha, Jun somente ficou irritado com ela, esquecendo toda a culpa que sentia momentos antes.
Levou um susto quando espiou pelo olho mágico e viu ninguém menos que Ohno Satoshi parado do lado de fora, olhando para os pés, com as mãos nos bolsos e assobiando baixinho.
Jun abriu a porta com um solavanco e perguntou, enquanto encarava o amigo que levantou a cabeça e sorriu levemente para ele:
− Satoshi... o que está fazendo aqui?
Ohno passou por ele com a tranquilidade de quem foi simplesmente fazer uma visita e foi se sentar no sofá.
Konbanwa novamente Matsujun! Vim conversar com você - disse enquanto o amigo fechava a porta atrás de si e camihava até o sofá.
− Mas que coisa, Riida! - Jun se sentou de frente para ele, com o olhar cansado - O que faz aqui a essa hora?
− Ver como você está, já disse que vim conversar.
− Sobre o quê? - ele se jogou para trás e fechou os olhos, só então percebendo a exaustão de um dia inteiro de ensaios e preparativos finais, muita dança e suor no show e toda a sobrecarga mental daquela noite.
Beijar uma pensando em outra... Jun balançou imperceptivelmente a cabeça, ainda de olhos fechados. Ohno respondeu à pergunta que ele lhe fizera, depois de quase um minuto de silêncio.
Ano, Matsujun... você está, bem, como posso dizer? – Ohno sussurrou para si mesmo, enquanto buscava as palavras certas – Você está diferente.
− Eu não estou diferente. O que quer dizer? – Jun abriu novamente os olhos e ergueu a cabeça, encarando o líder do Arashi sem entender.
− Err... – Ohno cruzou as pernas e pousou o braço esquerdo na guarda do sofá enquanto com o outro, fazia a famosa pose de “O Pensador”, de Rodin.
Depois de alguns segundos de reflexão, ele finalmente descruzou as pernas e encarou o outro de volta. Parecia ter encontrado a linha de raciocínio que devia seguir.
– Diferente, talvez mais leve, e ao mesmo tempo mais tenso. Como se você estivesse com alguma coisa te incomodando constantemente e não conseguisse achar uma solução, mas gostasse do incômodo. Sem falar que você não tem falado muito com a Yui, pelo menos não como antes. Mesmo no trabalho você sempre ligava para ela, mandava emails... nem ela tem aparecido ultimamente, quase não a temos visto. Hoje à noite você saiu mais cedo, disse que precisava vê-la, mas eu te encontro sozinho em casa, vestido – “ou não muito vestido, que seja” - para dormir. Além disso, no show, eu sei que cantamos One Love para ela, mesmo que os outros não façam ideia disso.
− Tá – agora, Jun olhava de uma maneira petulante para Ohno – E por que isto me faz diferente, como você diz?
Jun não estava gostando muito do rumo da conversa. Oh-chan era sempre caladão, parecia sempre mais distraído que todos juntos, sério, contido. Jun não esperava que ele tivesse notado tanto. Mas o que mais podia esperar do Riida afinal? Ele conhecia, sem dúvida, seus liderados.
Ele não era um líder daqueles que se vê por aí, mandão e presunçoso, ou que se destacava entre a multidão por ter um ou mais “dons especiais”. Ele era somente o líder deles. E eles eram seus liderados não por causa da hierarquia que havia – ou não – nem por causa de uma determinação de alguém superior – Johnny Kitagawa, talvez -, nem porque ele impunha sua autoridade pelo autoritarismo, como muitos líderes faziam. Mas eles eram seus liderados pelo amor, pelo carinho, pela admiração que nutriam entre si.
É claro que ele tinha razão, afinal. Jun estava mesmo diferente, e até aquela noite, não percebera isso, ou não quisera perceber. Mas saber que alguém ali notou o que ele não notara o irritou e somente o que ele fez foi despejar a irritação, proferindo as palavras daquele jeito arrogante que só ele sabia.
Ohno continuou calmo e deu mais um sorriso, respondendo:
− Simplesmente por que você mudou. Desde que Karorine-san chegou, na segunda-feira.
O peso daquelas palavras caiu como se fosse uma tonelada de concreto na cabeça de Matsumoto.
− Ai... – ele gemeu, olhando agora para o chão, já não mais irritado – estou mesmo muito encrencado.
E ele começou a falar. Oh-chan ouvia com atenção, como sempre, no mais absoluto silêncio, apenas sacudindo a cabeça afirmativamente e murmurando pequenas expressões de incentivo, para mostrar que estava ouvindo e estava entendendo o que o amigo contava.
Matsumoto falou por mais de meia hora. Ohno era o único que lera todas as cartas, sem exceção, embora ele tenha comentado sobre cada uma com todos os quatro. Não que houvesse segredos nas cartas, mas Oh-chan fora o único que demonstrou um interesse maior nelas. Ele sabia do pingente também, e tal qual Jun, esquecera dele com o passar dos anos, mas quando vira o coração na corrente de Karorine, ele lembrou instantaneamente. Então, quando Jun falou da suposição sobre a relação entre os dois pingentes, ele somente concordou, pois pensava igual, apesar de ter chegado antes à conclusão.
Jun também contou sobre os pedidos incessantes de Yui para ele cantar Shake It! e que ele na verdade não quis cantar. Foi difícil ter que admitir que ele escolheu presentear Karoru-chan. Falou dos pensamentos que tivera com a burajirujin quando estava com Yui, quando a beijara. Falou da confusão que estas “visões” estavam fazendo em seu cérebro e em seu coração.
Não achara que seria daquele jeito, pois não sabia que ao conhecer a Karorine das cartas, ele se apaixonaria por ela.
− Não! – ele explodiu, pondo-se em pé de um salto. Sua atitude foi tão repentina que assustou o amigo a seu lado no sofá – Eu sou apaixonado pela Yui! Ouviu, Matsumoto Jun? Ela é sua NA-MO-RA-DA! 
− Calma, Matsujun – Ohno tocou o braço do outro, puxando-o levemente para que se sentasse de volta. Jun fez exatamente isso – Não adianta ser assim cara. Não adianta você ficar com a Yui por teimosia. Você era apaixonado por ela, mas isso mudou quando viu Karorine-san no aeroporto, segunda pela manhã. Porque, por tudo que você me contou; por achá-la tão simples e tão linda, mesmo sendo tão diferente de você e do seu padrão de beleza; por ficar tão encantado já no primeiro dia e não parar de falar dela nos intervalos do ensaio; por tudo isso, acho que você já se apaixonou por ela naquele dia.

***

Carol estava quase pegando no sono quando Débora voltou para o quarto. Ela e Ninomiya tinham ido conversar – sabe-se lá o que ele queria falar para ela – no hall, que já estava vazio de hóspedes. Ele deixara seu boné no quarto, já que Débora desceu primeiro e disse que tudo estava deserto, a não ser pelos funcionários do hotel.
Nino entrou no quarto e pegou o boné, que estava sobre o aparador onde ele o colocara. Já estava indo e desejou boa noite a ela e Dé.
Carol então se levantou logo e foi até ele.
Oyasumi, Kazu-chan! – ela sorriu tímida.
Ele a beijou na bochecha e sorriu maroto.
− A Deb diz que devemos fazer assim, hahaha. Jya ne, Karorine-san.
Ela demorou alguns segundos pra perceber que Kazunari chamara Débora por um apelido que nunca ninguém usou. Mas com ela, continuava cheio de formalidades. Olhou para Dé, confusa, que apenas abriu um sorriso amarelo e disse:
− Vou tomar banho. Até amanhã, Nino!
“Até amanhã?”. Carol ficou ainda mais confusa, mas olhou novamente para Nino que ainda estava parado sorrindo e olhando para ela.
− Err... me chame de Carol. Oyasumi.

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