Capítulo 12
Alguém bateu na porta quando elas ainda gargalhavam
deitadas e encolhidas na cama de solteiro.
− Pronto, agora... arf, arf... – Caroline ficou em pé,
controlando a risada, arfando – você conseguiu! Tenho certeza que alguém veio
aqui reclamar de nós.
Débora se sentou no mesmo instante e calou na hora.
Com um sorriso largo, descontraído, mas com um pouco de amargura, disse:
− Ei, mas você, dessa vez, também estava fazendo
barulho.
Carol foi abrir a porta, passando as mãos pelos
cabelos e pela roupa, para dar uma aparência de normalidade ao fato de seu
rosto estar vermelho por completo, afogueado, e a testa molhada de suor.
Esperava justificar o pequeno escândalo com um rosário de desculpas
esfarrapadas quando espiou pelo olho mágico já com a mão na maçaneta. O que
viu, ou melhor, quem viu, a deixou completamente sem ação.
Alguém desavisado poderia facilmente não distinguir
aquele homem de qualquer outro jovem por aí que anda pelas ruas à noite, sem
nada pra fazer. Mas Caroline o reconheceu instantaneamente e, mesmo com aquele
boné, ele era tão familiar, tão inconfundível que ela se perguntou como as fãs
japonesas não o atacavam a cada cinco minutos nas ruas. Era como se ela tivesse
convivido com ele todos os dias nos últimos quatro anos, embora só o tivesse
visto em fotos, DVD's de shows de programas de TV.
Débora então se adiantou, deu uma leve empurradinha na
amiga e abriu a porta. Parou no mesmo instante, tão perplexa quanto a outra, ou
até mais. Olhou estarrecida para ninguém menos que Ninomiya Kazunari.
As duas, ainda estáticas, deram-se as mãos. A de
Caroline estava gelada, mas a de Débora suava. O silêncio se prolongou por um
ou dois minutos, quando Nino o quebrou, dizendo:
− Errr... posso entrar?
As duas não disseram nada, ainda pasmas. Qual a
probabilidade de um astro aparecer na porta de seu quarto de hotel subitamente,
o relógio batendo quase meia noite? Nenhuma, se você é uma completa
desconhecida, uma pessoa “normal”. Era o que elas eram, normais. E ainda por
cima estrangeiras. E ainda por cima tão comuns.
Ele falou de novo, dessa vez avançando um pouco, se
aproximando. Falou devagar, sílaba por sílaba, como quem fala para surdos:
− O-lá!!! Me-ni-nas!!! Pos-so en-trar? – ele temia que
elas ainda tivessem dificuldades em entender seu japonês.
Carol foi a primeira a sair do estado de dormência.
Ficou ereta e abriu passagem a Ninomiya.
− Mas claro!
Ele entrou e ela continuou, enquanto ele soltava o
boné que escondia parcialmente seu rosto no aparador do pequeno corredor:
− Como... você chegou até nós? Digo, como descobriu
qual é nosso quarto?
− Nada que uma boa conversa não resolva.
Débora não gostou daquela pequena ênfase que ele deu
e, finalmente despertada do êxtase, enxugou as mãos na camiseta e piscou os
olhos. Essa boa conversa a fez pensar na recepcionista simpática que
sempre as atendia. Instantaneamente, um vinco se formou em sua testa, quando
lhe ocorreu que ele poderia ter gostado da pequena conversa.
Mas essa distração passou rápido, seguida de imensa
admiração e choque.
− Ah, não acredito! - ela gritou.
Os dois olharam para ela ao mesmo tempo. Agora Nino e
Carol estavam do lado de dentro do quarto olhando em direção à Débora, ainda na
porta. Ela tinha o queixo caído formando um O perfeito com os lábios.
Pigarreou:
− Por... que... por que você... por que você está...
aqui? - apontou para baixo com o dedo indicador.
Kazunari deu uma risada leve que soou como música aos
ouvidos sonhadores dela e disse que viera para conversar. “Com Débora-san”, ele
completo
***
Matsumoto Jun caminhou até a porta, impaciente.
"Será que é Yui?", ele pensou, "Que péssima hora! Ela não se deu
conta de que não dá?!". Ele estava ainda atônito com a descoberta
que fizera e quando Yui surgiu assim (era ela mesmo? Ele não tinha dúvidas),
tocando a campainha, Jun somente ficou irritado com ela, esquecendo toda a culpa
que sentia momentos antes.
Levou um susto quando espiou pelo olho mágico e viu
ninguém menos que Ohno Satoshi parado do lado de fora, olhando para os pés, com
as mãos nos bolsos e assobiando baixinho.
Jun abriu a porta com um solavanco e perguntou,
enquanto encarava o amigo que levantou a cabeça e sorriu levemente para ele:
− Satoshi... o que está fazendo aqui?
Ohno passou por ele com a tranquilidade de quem foi
simplesmente fazer uma visita e foi se sentar no sofá.
− Konbanwa novamente Matsujun! Vim
conversar com você - disse enquanto o amigo fechava a porta atrás de si e
camihava até o sofá.
− Mas que coisa, Riida!
- Jun se sentou de frente para ele, com o olhar cansado - O que faz aqui a essa
hora?
− Ver como você está, já disse que vim conversar.
− Sobre o quê? - ele se jogou para trás e fechou os
olhos, só então percebendo a exaustão de um dia inteiro de ensaios e
preparativos finais, muita dança e suor no show e toda a sobrecarga mental
daquela noite.
Beijar uma pensando em outra... Jun balançou
imperceptivelmente a cabeça, ainda de olhos fechados. Ohno respondeu à pergunta
que ele lhe fizera, depois de quase um minuto de silêncio.
−
Ano, Matsujun... você está, bem, como
posso dizer? – Ohno sussurrou para si mesmo, enquanto buscava as palavras
certas – Você está diferente.
−
Eu não estou diferente. O que quer dizer? – Jun abriu novamente os olhos e
ergueu a cabeça, encarando o líder do Arashi sem entender.
−
Err... – Ohno cruzou as pernas e pousou o braço esquerdo na guarda do sofá
enquanto com o outro, fazia a famosa pose de “O Pensador”, de Rodin.
Depois
de alguns segundos de reflexão, ele finalmente descruzou as pernas e encarou o
outro de volta. Parecia ter encontrado a linha de raciocínio que devia seguir.
–
Diferente, talvez mais leve, e ao mesmo tempo mais tenso. Como se você
estivesse com alguma coisa te incomodando constantemente e não conseguisse
achar uma solução, mas gostasse do incômodo. Sem falar que você não tem
falado muito com a Yui, pelo menos não como antes. Mesmo no trabalho você
sempre ligava para ela, mandava emails... nem ela tem aparecido ultimamente,
quase não a temos visto. Hoje à noite você saiu mais cedo, disse que precisava
vê-la, mas eu te encontro sozinho em casa, vestido – “ou não muito vestido,
que seja” - para dormir. Além disso, no show, eu sei que cantamos One Love para
ela, mesmo que os outros não façam ideia disso.
−
Tá – agora, Jun olhava de uma maneira petulante para Ohno – E por que
isto me faz diferente, como você diz?
Jun
não estava gostando muito do rumo da conversa. Oh-chan era sempre caladão,
parecia sempre mais distraído que todos juntos, sério, contido. Jun não
esperava que ele tivesse notado tanto. Mas o que mais podia esperar do Riida afinal? Ele conhecia, sem dúvida,
seus liderados.
Ele
não era um líder daqueles que se vê por aí, mandão e presunçoso, ou que se
destacava entre a multidão por ter um ou mais “dons especiais”. Ele era somente
o líder deles. E eles eram seus liderados não por causa da hierarquia que havia
– ou não – nem por causa de uma determinação de alguém superior – Johnny
Kitagawa, talvez -, nem porque ele impunha sua autoridade pelo
autoritarismo, como muitos líderes faziam. Mas eles eram seus liderados pelo
amor, pelo carinho, pela admiração que nutriam entre si.
É
claro que ele tinha razão, afinal. Jun estava mesmo diferente, e até aquela
noite, não percebera isso, ou não quisera perceber. Mas saber que alguém ali
notou o que ele não notara o irritou e somente o que ele fez foi despejar a
irritação, proferindo as palavras daquele jeito arrogante que só ele sabia.
Ohno
continuou calmo e deu mais um sorriso, respondendo:
−
Simplesmente por que você mudou. Desde que Karorine-san chegou, na
segunda-feira.
O
peso daquelas palavras caiu como se fosse uma tonelada de concreto na cabeça de
Matsumoto.
−
Ai... – ele gemeu, olhando agora para o chão, já não mais irritado – estou
mesmo muito encrencado.
E
ele começou a falar. Oh-chan ouvia com atenção, como sempre, no mais absoluto
silêncio, apenas sacudindo a cabeça afirmativamente e murmurando pequenas
expressões de incentivo, para mostrar que estava ouvindo e estava entendendo o
que o amigo contava.
Matsumoto
falou por mais de meia hora. Ohno era o único que lera todas as cartas, sem
exceção, embora ele tenha comentado sobre cada uma com todos os quatro. Não que
houvesse segredos nas cartas, mas Oh-chan fora o único que demonstrou um
interesse maior nelas. Ele sabia do pingente também, e tal qual Jun, esquecera
dele com o passar dos anos, mas quando vira o coração na corrente de Karorine,
ele lembrou instantaneamente. Então, quando Jun falou da suposição sobre a
relação entre os dois pingentes, ele somente concordou, pois pensava igual,
apesar de ter chegado antes à conclusão.
Jun
também contou sobre os pedidos incessantes de Yui para ele cantar Shake It!
e que ele na verdade não quis cantar. Foi difícil ter que admitir que ele escolheu
presentear Karoru-chan. Falou dos pensamentos que tivera com a burajirujin
quando estava com Yui, quando a beijara. Falou da confusão que estas “visões”
estavam fazendo em seu cérebro e em seu coração.
Não
achara que seria daquele jeito, pois
não sabia que ao conhecer a Karorine das cartas, ele se
apaixonaria por ela.
−
Não! – ele explodiu, pondo-se em pé de um salto. Sua atitude foi tão repentina
que assustou o amigo a seu lado no sofá – Eu sou apaixonado pela Yui! Ouviu,
Matsumoto Jun? Ela é sua NA-MO-RA-DA!
−
Calma, Matsujun – Ohno tocou o braço do outro, puxando-o levemente para que se
sentasse de volta. Jun fez exatamente isso – Não adianta ser assim cara. Não
adianta você ficar com a Yui por teimosia. Você era apaixonado por ela,
mas isso mudou quando viu Karorine-san
no aeroporto, segunda pela manhã. Porque, por tudo que você me contou; por
achá-la tão simples e tão linda, mesmo sendo tão diferente de você e do seu
padrão de beleza; por ficar tão encantado já no primeiro dia e não parar de
falar dela nos intervalos do ensaio; por tudo isso, acho que você já se apaixonou
por ela naquele dia.
***
Carol
estava quase pegando no sono quando Débora voltou para o quarto. Ela e Ninomiya
tinham ido conversar – sabe-se lá o que ele queria falar para ela
– no hall, que já estava vazio de hóspedes. Ele deixara seu boné no
quarto, já que Débora desceu primeiro e disse que tudo estava deserto, a não
ser pelos funcionários do hotel.
Nino
entrou no quarto e pegou o boné, que estava sobre o aparador onde ele o
colocara. Já estava indo e desejou boa noite a ela e Dé.
Carol
então se levantou logo e foi até ele.
−
Oyasumi, Kazu-chan! – ela sorriu
tímida.
Ele
a beijou na bochecha e sorriu maroto.
−
A Deb diz que devemos fazer assim, hahaha. Jya
ne, Karorine-san.
Ela
demorou alguns segundos pra perceber que Kazunari chamara Débora por um apelido
que nunca ninguém usou. Mas com ela, continuava cheio de formalidades.
Olhou para Dé, confusa, que apenas abriu um sorriso amarelo e disse:
−
Vou tomar banho. Até amanhã, Nino!
“Até
amanhã?”. Carol ficou ainda mais confusa, mas olhou novamente para Nino que
ainda estava parado sorrindo e olhando para ela.
− Err... me chame de Carol. Oyasumi.
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