Capítulo 17
Depois de três horas, os
meninos do Arashi, exaustos e felizes - bom, nem todos tão felizes assim -
foram para os fundos do palco. Todos ensopados de suor, necessitavam de um
banho com urgência - e dessa vez, eram todos mesmo.
Só havia dois chuveiros
em um único banheiro, com um biombo comum de madeira separando-os, então eles
tiraram a sorte para ver quem iria primeiro pra ducha. Matsumoto Jun quase
enfartou quando não foi o primeiro nem o segundo, tendo que ficar
sentado com o Riida e Nino, esperando
enquanto Aiba e Sho tiravam o suor do corpo.
- Coisa rápida! Já já
chega sua vez, Matsujun - Sho piscou um olho enquanto entrava no banheiro.
Jun sentou meio
carrancudo num canto no chão, com os joelhos encostados no peito e olhando para
um ponto fixo na parede oposta ao lugar onde estava, e os outros dois ficaram
no sofá. Ohno disse:
- Nino, quando você vai
contar a novidade?
- Hã? - ele olhou para os
lados, como quem não estava entendendo.
- Oras! Não se faça de
desentendido - Ohno sorriu e se recostou no sofá.
- Não estou fazendo nada
- Kazunari olhava para as mãos unidas sobre o colo e disfarçava um sorriso.
- Sei. Fale logo. Eu
notei sua felicidade meio "suspeita".
Nino olhou para o Jun no
chão, que não olhava para eles e nem sequer prestava atenção na pequena
conversa. Não foi a primeira vez desde o começo daquela semana que se
perguntava o que estava acontecendo com ele. Não chegou a uma conclusão
definitiva, mas achou que ele estava diferente, assim como o Riida também notara. Mas o que Kazunari
não notou foi que aquela diferença se devia ao mesmo estado de espírito
que ele estava experimentando com Débora. O que o deixava curioso, pois o amigo
nunca se comportara de modo diferente assim antes.
Ele teve menos de um
minuto para pensar em tudo isso antes de novamente ser pressionado.
- Kazu, vai falar ou não?
Somos amigos cara, manda.
- Bom, Oh-chan, realmente
aconteceu alguma coisa - ele esboçou um sorriso maroto. - Mas eu vou
contar depois, quando estivermos os cinco juntos.
- Tem a ver com seu
atraso, né?
- Hai! – e ele pegou seu
DS que estava embaixo da almofada às suas costas, ligando-o e começando a
jogar.
Ele não tem jeito
mesmo, pensou o líder, sacudindo a cabeça e fechando os olhos, com um
bocejo de puro cansaço.
Nesse instante, Aiba,
somente de bermuda jeans e o peito ainda molhado, saiu do banheiro com
os cabelos pingando sobre os ombros. Ainda se ouvia o som vindo do outro
chuveiro, o que indicava que Sakurai Sho ainda estava no banho.
- Eu também quero saber!
- ele, que ouvira as últimas frases, comentou.
Ohno abriu um olho e
encarou Aiba. Seu tempo foi recorde, não fazia nem dez minutos que estavam no
camarim.
Jun imediatamente
levantou-se e dirigiu-se à porta.
- Pode ir também,
Oh-chan, eu fico por último. – Nino não desviou a atenção do jogo.
Ohno se levantou e,
pegando sua toalha que estava em cima de uma cadeira, seguiu atrás de
Matsumoto, que já seguira para o banheiro, e bem quando ele abria a porta, Sho
saiu. Jun entrou e nem olhou pra ele.
- O que aconteceu? - ele
apontou para as costas, e todos entenderam que se referia a Jun.
Os dois deram de ombros.
Sho e Aiba entraram na salinha ligada ao camarim para terminar de se vestir,
deixando que o Nino ficasse sozinho, jogando, todo suado, louco por uma boa
ducha, mas feliz da vida.
***
Yui saiu apressada quando
eles terminavam de cantar e caminhavam para o fundo do palco, pois não queria
enfrentar a multidão toda que se deslocaria a seguir. Em todo concerto era
assim, parecia que todos esperavam dez minutos em silêncio numa última
esperança de que os cinco voltassem para cantar uma última música pela quarta
vez. Como isso nunca acontecia, então era como se todos levantassem de seus
lugares ao mesmo tempo e se dirigissem aos vários portões de uma só vez, como
se tivessem tomado a decisão conjunta de ir para casa.
Ela nunca fazia parte
dessa multidão. Já sabedora de qual era a última música cantada, nos últimos
acordes ela se punha em pé e começava a se dirigir discretamente para os fundos
do palco, onde normalmente encontrava com os garotos no camarim, para poder
cumprimentá-los e dar um beijo em Matsumoto.
Dessa vez não seria
diferente. Yui arrumou a bolsa no ombro e começou a andar. Todos ali sabiam que
ela era namorada de Jun, e todos a respeitavam como tal. Durante o tempo que
estava com ele, praticamente impôs o respeito que esperava que tivessem, e
mostrou-se digna do posto que ocupava.
Era discreta, não fazia
estardalhaço e nunca teve que ser repreendida por mau comportamento. Uma das
condições impostas por Kitagawa quando ela e Jun oficializaram o namoro foi
“garantir a boa imagem, imaculada” e nunca dar vazão a fofocas indevidas e
pequenos escândalos. Ela cumpria seu papel, mas não no aeroporto segunda-feira,
quando acabou abusando um pouco do lugar que conquistara, ao fazer charme e
deixar clara sua posição como namorada de Matsumoto Jun para as duas
visitantes.
Outra vez que dera lugar
a fofocas foi no hotel essa tarde, mas Caroline era ingênua e lerda o
suficiente para não fazer nada. Não, nem a suspeita vaga que ela tivera quando
Jun ligou antes do show, de que talvez ela pudesse ter dado com a língua nos
dentes, tinha algum fundamento. Afinal, a garota não ficara completamente sem
ação quando Yui falou todas aquelas verdades? Ficou apenas chorando indefesa na
cama, não ficou? Então... não precisava se preocupar, daquela fonte não sairia
nenhum material para nenhum escândalo.
Enquanto os seguranças e
staffs abriam caminho para ela, Yui pensava no que Matsumoto tinha de tão
urgente para falar. Será que ele, pela primeira vez, a levaria para o pub?
Bem que ela queria ir junto uma vez que fosse. Parou em frente à porta do
camarim e bateu, depois de uma pequena caminhada de uns dez minutos.
− Quem é? – gritou a voz
de Aiba Masaki.
− Sou eu, Aiba-chan!
Posso entrar?
− Espera só um pouquinho,
Yui-chan!
Ela esperou por dez
minutos, sentada na cadeira que tinha ao lado da porta. Foi Sakurai quem a
abriu, com os cabelos molhados, calça jeans, camiseta e pés descalços.
Sorriu para ela, que de pronto ficou em pé.
− Yo! – Sakurai disse, erguendo um pouco a mão esquerda na frente de
Yui, que deu um tapinha e retribuiu o sorriso.
Mas logo ela deixou de
sorrir. Matsumoto estava em pé de frente para a porta da sala lateral atrás de
Sho, e quando a viu, praticamente correu e a encarou pelas costas do amigo.
− Yui, você não precisa
nem entrar. Vamos sair JÁ! Para meu apartamento! Precisamos conversar. É muito
sério!
Ele avançou alguns
passos, olhou para os amigos por sobre os ombros e disse:
− Eu e Yui temos um
probleminha a resolver. Vão ao pub sem mim, talvez eu vá mais tarde, não
sei.
Pegou o braço de Yui e a
puxou pelo corredor.
***
Caroline pegou no sono
novamente, depois de chorar por um tempão, deitada na cama, com a cabeça no
colo de Débora.
Dé ficou olhando enquanto
a amiga dormia e torcendo para o show acabar logo e Kazunari ligar. Já eram
quase 9h da noite. Queria falar logo com ele. Contar sobre Yui e convencê-lo a
desmascará-la para Jun.
Quando seu celular tocou,
ela estava quase dormindo também, encostada na cabeceira, com Carol ainda deitada
em seu colo. Até pegar no sono, ela manteve firme sua posição de voltar para o
Brasil o quanto antes.
Estendeu o braço por cima
do corpo da amiga e pegou o aparelho dentro da bolsa.
– Moshi-moshi!
– Deb, sou eu, o Nino.
Como vai minha linda?
– Ano... bem, eu acho – Débora sentiu corar e suas bochechas
esquentaram; ela não se acostumara ainda que tinha alguém para chamá-la de
linda.
– Por que você
acha? Aconteceu alguma coisa?
– Sim e não. Na
verdade, a Yui, a namorada do Matsujun, esteve aqui hoje.
– É, eu sei, ela
estava saindo com o carro na hora que eu deixei você.
– Você a viu?
– Hai!
– E ela viu você?
– Acho que não,
ela parecia estar com muita pressa. É sobre isso que queria falar. Acho que o
Jun-pon suspeita de algo...
– Ela veio até aqui –
Débora interrompeu – para brigar. Ela falou poucas e boas pra Carol. Ah, que
vontade de dar uma surra naquela imbecil!
– Calma Deb... eu que
comentei com o Jun que a tinha visto no hotel, e pelo jeito ele ficou irritado
e tinha um jeito de quem desconfia de alguma coisa. Ele vai cuidar dela, não
precisa ficar nervosa amor.
– Repete isso.
– O quê? Amor?
– Ahan.
– Ahhh, Deb, hahahaha!
Você é meu amor!
Débora ficou ainda mais
corada e deu graças a Deus por Caroline estar dormindo e não vê-la naquele
estado. Ela deu um sorriso enorme e seu coração começou a bater forte dentro do
peito.
Ela ainda não se
recuperara completamente dos acontecimentos daquela tarde, mas tinha
temporariamente esquecido de tudo em função do que aconteceu com Carol. Mas
agora que ele estava falando com ela novamente, tudo voltou.
O encontro com
Kitagawa-san foi o mais tenso de tudo. Nino simplesmente a arrastou até a JE e
dispensou todos os seguranças e funcionários que queriam interrompê-lo e
impedir que ele adentrasse o escritório do chefe sem permissão. Enquanto isso,
Dé tremia como vara verde de tanto medo. Já ouvira horrores sobre o BIG BOSS.
Mas, para surpresa de
ambos, ele não foi tão relutante assim e acabou aceitando. Sim, ele aceitou que
Ninomiya Kazunari ia se casar com uma estrangeira. Só pediu descrição da parte
deles, e bom senso para que as fãs não fossem muito impactadas negativamente
com a notícia. Afinal, se isso acontecesse não ia ser bom para a reputação
dele, nem do Arashi como um todo.
– Deb? – Nino
chamou do outro lado da linha, despertando-a de seus pensamentos.
Ela sorriu e respondeu:
– Hai! Estou sim, meu amor!
– O que você disse?
– ele sorriu.
– Eu disse que ESTOU AQUI
SIM MEU AMOR!
Agora ele riu mesmo. Ela
gritou a frase, pra dar bastante ênfase. E nisso, Carol se remexeu na cama e
acordou.
– Kazu, tenho que
desligar. A Carol acordou. Acho que foi culpa do meu grito.
Ele riu ainda mais do
outro lado.
– Sem dúvida foi!
Hahahaha. Ela estava dormindo? Depois você vai me contar direitinho o que a Yui
disse, ok?
– Ok, eu conto.
– Você já contou pra Karoru-chan que estamos... noivos?
– Não, nem tive tempo
ainda, mas vou contar! Agora deixa eu desligar.
– Ta. Jya ne, minha flor.
– Jya.
Carol estava encarando-a,
olhando de baixo, com os olhos inchados de tanto chorar e o rosto vermelho do
sono.
– Quem era? Kazu-chan? –
perguntou.
Débora se fez de
desentendida.
– Caramba! Você dorme,
hein!
– Sim, durmo. Era o
Kazu-chan?
Débora riu da amiga, a
curiosidade transparecia em sua voz. Carol sorriu de volta, se sentando.
Sentia-se melhor. Vendo a amiga se empolgando e deixando o sorriso se espalhar
pela sua face e alcançarem seus olhos que brilhavam, esqueceu por um momento o
que acontecera.
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